A Sombra

Estava Luis caminhando, à noite, de volta do trabalho para casa. Já estava tudo escuro e isso o deixava um tanto apavorado. Mas não porque ele tinha medo, mas sim porque morava num bairro perigoso e, justo naquele dia, ele havia recebido seu salário e uma bonificação e seu cartão do banco estava em sua mochila.

A rua que seguia para sua casa estava estranhamente deserta e isso o preocupava ainda mais, mesmo que já fosse tarde.

Porém, de todo modo, ele continuou caminhando, embora suas mãos suassem e sua camisa estivesse começando a ficar encharcada.

Então ele viu. Ele sentiu, melhor dizendo. Sentiu uma presença atrás de si. Mas tudo estava silencioso, a não ser pelo som de seu coração batendo aceleradamente.

Ele não ousou nem olhar para trás. Estava tenso.

Até que sua suspeita se confirmou. Ele olhou para o lado de soslaio e viu refletida no muro a imagem de um homem de pelo menos quase o dobro do seu tamanho.

Pensou em correr, mas ele nunca seria mais rápido, nem ao menos rápido o suficiente. Ele suava gelado. E se corresse? E se o homem estivesse armado?

Ele viu sua vida passar diante dos seus olhos. Se morresse nunca iria conseguir chamar Milena para sair. Nunca viajaria para o Caribe nas férias. Nunca faria o mestrado em Direito, nem o PhD. Nunca compraria a casa própria. Na verdade, nunca faria nado do que gostaria. Sua vida era pacata. Não era infeliz, mas também não era realizado. E talvez morresse justo agora que sua vida estava começando a se endireitar.

Todas as opções pareciam imprudentes e com certeza o resultado seria a morte.

TUM TUM TUM TUM

Fazia o seu coração. Parecia que cada batida eram socos violentos, dados com vontade. Ele sentia dor só de imaginá-la.

Então ele soube. Ele tentou se mexer, mas era tarde demais. Só sentiu a última batida violenta e desesperada do coração, antes de cair morto há apenas dois quarteirões de casa.

- Chamem uma ambulância! – uma mulher que passava gritou.

Porém os enfermeiros nada puderam fazer a não ser levar o corpo do morto para o necrotério do hospital.

- Qual foi a causa? Ele foi encontrado caído por uma vizinha. Seus documentos estavam todos ok na mochila. – perguntou um dos enfermeiros.

- Enfartou. Ele estava com a pressão alta e não resistiu. De qualquer forma é estranho, pois ele não tinha histórico e estava bem de saúde. – falou o legista dando o caso como encerrado.

Nunca saberiam que o que o seguia era, na verdade, sua sombra. Talvez, se ele tivesse tido coragem de olhar para trás, se não tivesse se apavorado tanto, ainda estivesse vivo. Talvez tivesse mesmo vivido para sair com Milena rumo ao Caribe, com um gordo salário na conta. Ou talvez não.

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mais um continho feito aqui no trabalho rsrs! comentem! e obrigada pelas leituras nos outros contos!!