À procura de bruxas

Dois amigos andavam por uma trilha tortuosa ao anoitecer. Haviam saído por duas noites para acampar próximo ao lago negro que havia na floresta da pequena cidade em que moravam. Chamavam o lago de negro devido às mortes que haviam acontecido no local. Por ser uma cidade muito pequena, ainda conservava as histórias místicas antigas do local, que há muito tempo havia sido palco de tortura às bruxas na época da Inquisição.

O Lago Negro era onde eram jogadas as mulheres acusadas de bruxaria. Era um lago com certa profundidade, e os bispos costumavam dizer que se sobrevivessem, eram bruxas e, se morressem, haviam sido perdoadas de seus pecados. E como a cidade ainda era um local cheio de coisas incompreendidas, como as mortes, os moradores locais afirmavam que era uma cidade amaldiçoada.

O governo local tentou certas vezes, fazer um aterro no lago, local onde acreditavam que saíam as auras mágicas ou restos imortais das bruxas que lá haviam sido jogadas. Porém, nenhuma das tentativas surtiu efeito, pois nunca havia terra suficiente para deter o lago. Parecia que quanto mais terra era jogada, mas terra era sugada. Por isso, o lago ainda lá permanecia, livre para chamar a atenção de jovens investigadores interessados em magia ou apenas curiosos no assunto.

- É sério cara. Tô dizendo. – Adam falou.

- Espero que sim. Não quero estar andando tudo isso à toa. – Daniel respondeu.

- Estou falando. Parece que os espíritos das bruxas ainda vivem submersos no lago. Só isso pode explicar as mortes que aconteceram lá e que não tem resolução. Pense comigo, muitas mulheres que foram jogadas lá podem ter sido mesmo bruxas, mas também podem ter jogado mulheres inocentes lá. Estas, a meu ver, podem não ter prosseguido e atormentam quem vai pro lago e os matam.

- É um tiro no escuro amigo.

- Pode até ser, mas independente disso... Ainda há magia exalando nesse local.

Eles terminaram a conversa e prosseguiram calados na trilha até o lago. Adam acreditava que as mortes haviam sido causadas por espíritos de mulheres inocentes revoltadas com a morte injusta, enquanto Daniel acreditava que podia sim haver magia ali, mas que talvez fosse tudo uma perda de tempo.

Quando chegaram no local com a velha placa escrita com letras apagadas ‘lago negro’, sentiram o ar ficar mais frio e o barulho do vento ficar mais alto. Mas o mais incrível era que não estava ventando. Não pelo menos dentro da clareira onde estavam. Os sons eram tão altos que quase pareciam estar dentro da mente dos rapazes, sussurrando coisas que eles não conseguiam compreender. As árvores por sua vez eram altas e antigas, com enormes cipós caindo da copa, formando longas e escuras cortinas de nada.

- Olhe. Há uma casa ali. – Daniel observou, assustado. – Se há uma casa aqui, como nunca ninguém viu as mortes?

- Está abandonada Dan. Vamos dar uma olhada.

- O quê? Você quer invadir a casa?

- Não vou invadir nada. A casa está abandonada. Quero ver o que há lá dentro. Pode ser importante. – Adam falou e seguiu para dentro da casa. – Você não vem?

- Vou fazer um reconhecimento do local. – ele falou e seguiu na direção oposta.

A cada passo que Daniel dava, mais escura e medonha a floresta parecia. Havia um monte de pedras e árvores, e ambas juntas pareciam formar imagens surreais. Os sons do vento balançando as árvores ainda era audível, mas onde Daniel estava agora, não ventava e não estava mais frio. Na verdade, uma onda de calor percorreu seu corpo. Ele ouviu um som diferente, que parecia de um bicho. Mas conforme ele chegava mais perto, uma silhueta se formava em sua frente. Ele entendeu que era uma mulher e ela chorava.

- Quem é você? – ela perguntou, dando um pulo de susto.

- Não vou machucar você. Eu te ouvi chorando.

- E daí?

- Precisa de ajuda? Está perdida?

- Você não deveria estar aqui. Nunca ouviu as histórias desse lugar?

- Ouvi. Na verdade, foi por isso que vim. Você deve morar naquela casa que parece abandonada. Estou certo? Achei que estava vazia. Me chamo Daniel.

- Belo nome. Daniel. Eu me chamo Azelin.

- Que nome diferente. Você quer voltar?

- Eu estava pensando em ficar aqui... com você, Daniel. – ela falou, lançando ao rapaz um olhar sedutor, ao qual ele não foi capaz de resistir.

Adam não conseguia crer na sorte que havia tido em entrar naquela casa. Diversos livros sobre magia estavam arrumados em estantes, bem como artigos sobre bruxaria. Com certeza aquela casa havia sido base da Inquisição para aprender material de bruxaria. Mas por que não haviam sido queimados? De fato, a casa cheirava a queimada, e alguns livros tinham suas bordas e pontas chamuscadas. Observando melhor, a base estava uma zona. Parecia que uma luta havia acontecido ali, como se os livros tivessem lutado contra o fogo.

Ele estava concentrado em analisar cada detalhe do material daquela base, que não ouviu os passos que se aproximaram do local. Então ouviu uma tossida.

- Daniel você não vai acreditar na nossa sorte. Tem cada material aqui sobre o assunto. É inacreditável. – ele falou sem olhar para trás. Uns segundos se passaram sem Daniel responder. Foi quando Adam sentiu uma língua em sua nuca. Os beijos que se espalhavam por seu pescoço. Quando ele se virou, surpreendeu-se ao ver a bela garota que o beijava. Não que ele esperasse Daniel, mas nunca imaginou ter alguém por ali.

Ele correspondeu às investidas da bela garota insinuante que o beijava com fogo. A garota tinha uma vitalidade quase impossível. A cada investida ela parecia sugar as forças de Adam. A cada investida ele parecia mais cansado. Mas ela era linda e ele não conseguia parar de beijá-la. Ela não deixava.

- Espere. – ele falou após longo tempo.

- O que foi?

- Meu amigo. Você por acaso o viu? – Adam perguntou, ainda inebriado com a beleza da garota. A garota não respondeu nada, apenas avançou para mais um beijo, com um sorriso inquietante no rosto.

Daniel se surpreendeu com o beijo e quando abriu os olhos, viu a imagem do amigo.

- Estou aqui. – a imagem de Daniel falou, mas a voz era a da garota. Adam engoliu em seco. Agora sabia com o que estava lidando e talvez tanta sorte, não fosse mesmo sorte. Daniel avançou para cima de Adam, que pegou uma madeira de estrado jogada ao chão e deu com tudo no fantasma ou sabe-se lá o quê. Mas a madeira atravessou o corpo e a imagem ficou mudando entre a de Daniel e a da garota. O riso gutural enquanto repetia ‘Estou aqui’ deixou Adam assustado e com medo. A imagem avançava com rapidez e Adam corria pela base. Ele encontrou um pote de sal, que derrubou a sua volta. Quando a imagem tentou o esganar, não conseguiu avançar pelo círculo de sal. – ESTOU AQUI ADAM. – a imagem falou com uma voz que mais parecia ter outras cinquenta incontidas.

- O que é você? – Adam perguntou. Com a pergunta, a imagem parou de variar entre Daniel e a garota e se transformou num ser indescritível. Uma mistura de sombra com um monstro. Não era sólido, mas também não era líquido ou gasoso. Os olhos eram de um negro avermelhado.

- Você nem imagina? Sou o que você veio procurar.

- Eu vim procurar bruxas.

- NÃO SEU TOLO! Você veio procurar magia. – a sombra falou.

- E você se define magia?

- Você é tão criança. Você acha mesmo que a bruxaria é uma arte a ser estudada. Não existe isso. Não existe essa magia infantil que você criou em sua cabecinha tola. Essa coisa de usar mágica para fins. NÃO. Existimos nós. A essência mágica em corpos humanos, praticando o que somos.

- Não existiram bruxas? Apenas magia presa em corpos humanos para se auto exercer?

- Chame do que quiser.

- Então você é magia. Você sabe... não, você é tudo o que se aprende nos livros.

- Exato. Tão exato que ainda te acho idiota por achar mesmo que um punhado de sal poderia me parar.

- Mas eu parei.

- Não. Você se parou. Esse punhado de sal não permite que eu não entre aí. Ele não permite que você não saia dele. – a imagem falou. Então alguém entrou na base. Era Daniel. Por um momento Adam se sentiu mais tranquilo, ao ver o amigo, como se ele pudesse ter estado vivo todo esse tempo. Mas então outro Daniel entrou pela porta, e outro e mais outro, de forma que a base se encheu de Daniels.

- AAAAAHH! - ele começou ao gritar. Sentia a pele queimando enquanto a mesma derretia e escorria por sobre ele. – PAAAAREE! – ele pediu. A dor parou, mas então as imagens de Daniel se transformaram em novas sombras, que o atingiram como se fossem lanças sólidas, deixando furos.

Por mais que ele tentasse sair, o sal o impedia. Então ele viu. O verdadeiro Daniel havia sido colocado preso no teto, morto. As sombras se moviam entre elas, e em volta do círculo, colocando fogo por toda a base. Nada que Adam se lembrasse de magia o ajudava, pois ele não tinha ação ali. Ele só podia sentir o fogo o consumindo e então... Água.

Ele não estava mais na base. Ele estava sendo carregado pelas sombras, que eram molhadas. Como se a dor de ter sido queimado não fosse muito, as sombras o empurraram lago abaixo, fazendo-o gritar e se afogar, preparando-o para ser o alimento, deixando a cidade com mais duas mortes sem resolução.

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espero que gostem do conto! não deixem de comentar ;))

Camilla T
Enviado por Camilla T em 21/12/2012
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