Sozinha.

Sento-me na cadeira da sala. A escuridão toma conta de minha casa, mas como conheço bem o local, sei onde tudo está. Meus olhos ainda não se acostumaram com a escuridão devastadora. Minha cabeça está girando a toda velocidade, não consigo pensar em uma mesma coisa nem sequer por um minuto. Maldição. Por que eu fui acreditar nele? Por que eu fui me apaixonar por ele? Por que eu deixei que minha vida acabasse por ele? Por que? Estou chorando loucamente. Afasto com o dedo indicador o meu cabelo do rosto.

Por que nada que eu faço da certo? Por que minha vida nunca vai pra frente? Por que eu nunca consigo sair do abismo em que me encontro agora? Nenhum dos meus porquês são respondidos, nenhum compreendido.

Pego a garrafa de um uísque barato que comprei no mercadão e viro na boca. O líquido quente desce queimando minha garganta, mas me sinto aliviada. Sei que este alivio dura não mais que alguns minutos, então bebo novamente, uma dose maior desta vez.

Grito com toda minha força, até todo ar sair de meus pulmões. Vou até o armário da cozinha e pego um álcool e uma caixinha de fósforos. No meu quarto pego um estilete, que outrora era usado para apontar os lápis que eu costumava me maquiar. Nunca mais irei me maquiar, não tenho motivos pra isso. Para aquele que eu sempre procurei ser bela, não quer mais saber de mim. Sinto que estou na beira de um precipício, e que estou prestes a cair.

De volta a sala, derramo o álcool sobre o sofá e crio um caminho molhado entre a este e o rac. Sento-me novamente na cadeira. Acendo o fósforo de o jogo no sofá. De repente a sala ficou exuberantemente clara. Eu sorri ao ver o fogo consumindo o móvel. Com o estilete, cortei profundamente os meus pulsos, urrando de dor. O sangue quente escorria entre meus dedos, minha veia agora esguichava sangue. Ainda gritando, deito-me sobre o sofá em chamas, e fico ali, apenas esperando a morte vir me buscar. Meus gritos não param. Sinto o fogo me envolver, sinto meus cabelos transformarem-se em pó. Então um tenho um vislumbre do rosto dele, o rosto que me causou tanta dor. Só então percebo que ele não está na minha mente, e sim na minha frente, gritando loucamente. Minha casa agora é um musical de gritos frenéticos. Água gelada cai sobre o meu corpo, mas não adianta, Dona Morte chegou primeiro.

Ricardo Coutins
Enviado por Ricardo Coutins em 16/09/2012
Reeditado em 21/01/2014
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