O gato preto

Não se sabe de onde veio. Chegou uma tarde e foi ficando. As crianças que nunca tiveram um bicho de estimação alegraram- se com sua chegada. Os pais detestaram a novidade. Primeiro porque o felino era todo negro e tinha um dos olhos vazado. Segundo porque o animal tinha a péssima mania de deitar nas camas e estava sempre encarando as pessoas com seu único olho são. O bichano não miava nunca, mas fazia uma espécie de chiado que causava irritação. Logo que perceberam sua presença, os adultos tentaram escorraça-lo. Jogaram objetos, deram vassouradas, mas o gato indiferente ao tratamento recebido continuou na casa. Passaram se os meses e apesar de não aceita-lo, todos se acostumaram com a sua presença, porém coisas terríveis começaram a acontecer. A criança que completara três anos regrediu. Voltou a urinar na cama, parou de andar e falar e em pouco tempo faleceu. A menina de nove anos desenvolveu um pavor pela noite, tão grande, que não dormia e nem deixava ninguém dormir. O pai que nunca bebera, tornou-se alcóolatra em pouco tempo, e em seus delírios enxergava inimigos em toda parte. Uma noite ao deixar o boteco onde se embriagara, imaginou estar sendo perseguido e ao correr para escapar, foi atropelado e teve morte instantânea. A mãe diante de tantas tragédias ficou perturbada mentalmente e foi internada no sanatório. A criança de nove anos foi então entregue aos cuidados dos avós maternos. Uma manhã o gato preto apareceu na porta da cozinha, mas antes que a garotinha dele se aproximasse, a avó que era benzedeira e católica fervorosa, com o terço nas mãos começou a rezar. O bichano se arrepiou todo, se transformou em uma sombra comprida e sumiu em um redemoinho. Dias depois em uma cidade próxima, as crianças de um orfanato se encantaram com um gatinho preto que por lá apareceu. O gatinho que era cego de um olho acabou adotado por todos e a cada noite dormia em uma cama. Vânia Lopes 08/08/2012