pesadelo na estação de trem

E era uma tarde nem quente e nem fria. Era uma tarde nem clara e nem escura. Era uma tarde em preto e branco...O chão da estação de trem em que estavam sentados não parecia sujo, frio, quente ou incômodo. Nada ali permitia maiores impressões.

O lugar era amplo e uma parte era a céu aberto. A plataforma de embarque e desembarque era cortada por duas linhas. Dois meninos de aproximadamente 13 anos não permitiam que o local estivesse de todo deserto. Eles riam, falavam, riam, falavam... Eram só dois meninos de 13 anos.

Mesmo com tanto riso, os meninos pareciam temer alguma coisa. Tanto é que olhavam por vezes para os dois que estavam sentados no chão. Olhavam com uma expressão que denotava medo, pareciam pedir socorro. Talvez queriam enxergar o medo nos dois que também estavam sentados no chão, mais como uma forma de ver que não estavam sozinhos naquela situação.

O trem não chegava. Não sabiam há quanto tempo estavam ali, não sabiam que horas eram.

Os meninos estavam certos em olhar para eles. Não pelo fato de que poderiam ajudá-los, mas por que também estavam com medo.Esses a quem os meninos olhavam eram um rapaz e uma moça. A moça olhava para o rapaz e segurava suas mãos em busca de proteção. Ele, mesmo não sentindo que poderia protegê-la, segurava suas mãos fortemente, talvez buscando a tal proteção.

A estação de trem vazia e deserta era o cativeiro dos quatro. Eram reféns do medo que estavam sentindo.

Tentavam se distrair falando sobre alguma coisa, mas o assunto logo acabava, não servindo para distraí-los e nem para diminuir o que estavam sentindo. Também tentavam lembrar alguma música que os fizesse bem, mas isso também era em vão.

De repente, a estação ficou menos deserta. Pela primeira vez se sentiram seguros por ali. Uma freira de aparência jovem apareceu sorridente e falante. A visão de uma pessoa nova na estação os fez bem. Ainda mais sendo uma freira. O casal pensou até que Deus resolveu acabar de vez com o medo deles mandando uma representante.

A jovem religiosa não estava só. Levava um bolo enorme e faltando alguns pedaços na mão. Ela mal podia carregá-lo sozinha, o rapaz perguntou se ela queria ajuda, mas recebeu uma negativa. Carregava aquele bolo para vendê-lo, sem maiores explicações foi logo o oferecendo.

O rapaz e a moça entenderam muito bem que ela queria saber se desejavam um pedaço, mas a fala dela foi algo totalmente incompreensível. De repente, o medo que estavam sentindo antes foi voltando, e isso graças a essa freira que há pouco havia trazido a tal segurança e proteção que buscavam sem sucesso um no outro. Quando pediram que ela repetisse o que havia falado, receberam como resposta novamente algo incompreensível, mas dessa vez com um tom de rispidez na voz.

Não perguntaram novamente o que ela havia dito, mas ela fez questão de falar tudo de novo, dessa vez sem demonstrar alguma irritação. A única coisa que entenderam:

“Os meninos ganham um pedaço de dar inveja nas meninas... 45 centavos”.

Nenhum dos dois estava com fome ou com vontade de comer, mas o rapaz assim mesmo retirou uma moeda do bolso e deu para a freira. Ela olhou com uma expressão de desconfiança para a moeda, colocou-a no bolso e saiu de perto dos dois. Um começou a olhar para o outro e não conseguiam falar nada sobre o ocorrido. Olharam para o bolo, não sentiram vontade alguma de comer “aquilo” e inconscientemente pensaram que podia estar envenenado.

A freira simplesmente sumiu do local. Os dois meninos que estavam por ali também sumiram.

Acordei.