Amizade além-túmulo

A menina tentava desesperadamente se libertar. O ar que chegava aos seus pulmões era pouco para mantê-la respirando, então em um golpe de misericórdia Sheila torceu-lhe o pescoço.

Mudamos para Juaripe no outono passado. Meu pai é delegado de polícia e foi designado para assumir á delegacia local. Odiamos a cidade pequena e sua gente linguaruda. Moramos em uma antiga casa de fazenda,cujo piso de madeira estala a todo minuto.Minha mãe não gosta da casa e reclama da baixa temperatura,mesmo com as lareiras acesas.São ao todo onze cômodos,mas só utilizamos seis.Sempre fui fã de mistérios e essa casa despertou meu interesse.Encontrei no pequeno sótão,algumas fotografias e ao perguntar á uma vizinha soube que as fotos eram da família que viveu aqui há muitos anos atrás.Retratavam um senhor de farto bigode e olhar severo,uma mulher magra de ar assustado,um menininho louro e uma adolescente de longas tranças avermelhadas.A vizinha contou que todos morreram de maneira brutal.A mãe teve a garganta cortada,o pai teve a cabeça estraçalhada por um tiro,o menino foi afogado na banheira e a adolescente enforcada.Investigações foram feitas,mas nunca se soube oque motivou os crimes e nem quem os cometeu.Fomos os únicos com coragem o bastante para viver nessa casa.Meus pais passavam quase todo o tempo fora trabalhando.Ele na delegacia ,ela na biblioteca local.Eu ficava sozinha e não me incomodava com isso. Gosto de solidão e aproveitava para explorar a casa. Havia um quarto onde eu ainda não havia entrado, por estar trancado e não termos a chave. Uma tarde eu vasculhava o sótão quando ouvi um barulho vindo desse quarto, curiosa me aproximei e para minha surpresa a porta estava aberta. Senti os pelos da nuca arrepiarem, e o medo me invadiu. Tive ímpeto de sair correndo, mas a curiosidade foi mais forte e entrei . Ao acender a luz deparei com a garota da foto sentada na cama, sorrindo para mim. Se eu tivesse juízo teria saído naquele instante e ido contar aos meus pais, mas eu não tenho e tinha alguma coisa na menina que me agradava. Aproximei um pouco mais e me apresentei. Ainda sorrindo a garota disse que se chamava Sheila. A partir dessa tarde nos tornamos amigas. Passamos horas brincando, assistindo televisão ou lendo. Meus pais não conseguem vê-la, e para que não me considerem louca somos discretas quando estão em casa. Sheila contou oque aconteceu com sua família. Seu pai era um homem rude que vivia embriagado. Sempre batia na esposa e nos filhos. Na noite em que morreu, o pai havia chegado em casa bêbado, e ao chamar a esposa para que servisse o jantar, soube que ela estava ocupada dando banho no caçulinha. Cheio de ódio ele entrou no banheiro, empurrou a mulher e afogou o garotinho. Revoltada sua mãe foi á cozinha apanhou uma faca afiada e avançou no marido. O homem apesar de embriagado era forte, tomou a faca e cortou a garganta da mulher. Sheila que assistira a tudo foi até o quarto do casal, pegou o revolver na gaveta e atirou na cabeça do pai. Quando teve consciência de que não tinha mais família e de que ficaria sozinha, ela se enforcou.

A morte daquela garota que relatei no inicio foi premeditada. Sheila é muito parecida comigo. Temos um gênio forte e não engolimos desaforo. Ana estava sempre me provocando. Na escola fazia piadinhas quando eu passava, debochava do meu sotaque e ao saber que Lucas era o carinha de quem eu estava afim, começou a paquera-lo. A gota d’água porem foi quando descobri que os dois estavam namorando, naquele momento eu e Sheila decidimos que Ana tinha que morrer. Sabíamos onde ela morava e ficamos de tocaia. Numa manhã quando Ana voltava sozinha da escola eu a atrai para o meio de algumas árvores e lá assisti impassível Sheila mata-la. Foi maravilhoso vê-la se debatendo, tentando se livrar de mãos que ela não via enquanto implorava por minha ajuda. Eu e a minha amiga fantasma gostamos da experiência e já escolhemos a próxima vítima. Nenhuma vingança nos move só o prazer de matar. Vânia Lopes 01/07/2012

Para vc Duda.Se parar de ler meus contos mando a Sheila te pegar.kkkk