Estranho desejo

Ele cavava a cova recém- coberta. O suor descia lhe pelo pescoço ensopando a camisa. Ao longe uma coruja piava sinistramente, quebrando o silêncio. Uma lua minguante clareava parcialmente o cemitério. Do alto dos pedestais os querubins pareciam desaprovar á violação. O homem em um último esforço puxou para fora o caixão e em seguida retirou de dentro o corpo de uma moça loura. Após cobrir novamente o túmulo, o sujeito enrolou o cadáver em uma lona e o carregou para o carro. Feito isso deu a partida sem olhar para trás.

Jorge tinha um estranho fetiche. Sentia um prazer indescritível ao transar com mulheres mortas. Gostava de desenterrar, lavar, perfumar, vesti-las com belas camisolas e depois passava horas acariciando e fazendo amor com os corpos inanimados.Quando o cheiro pútrido aumentava, ele esquartejava os corpos e enterrava no fundo do quintal. Descobriu a necrofilia quando sua mãe faleceu. Sempre a amou de uma forma diferente. Adorava vê-la arrumada, por isso fez curso de cabelereiro só para ter o prazer de cuidar dos cabelos fartos de sua progenitora. Nunca conheceu o pai e morria de ciúmes de qualquer homem que se aproximasse. Não a deixava trabalhar e quase nunca permitia que saísse de casa. Sempre foi possessivo, e o que era engraçadinho em criança, se tornou um problema na fase adulta. Jorge não se envolvia com nenhuma garota, Não tinha amigos, não parava em nenhum serviço por faltar sempre. Quando estava descontrolado de ciúme, quebrava os móveis e algumas vezes era muito agressivo. Sua mãe tinha um grave distúrbio no coração e por ir raramente ao médico, faleceu uma noite enquanto dormia. Na manhã seguinte quando o filho foi levar-lhe o café da manhã, a encontrou morta.Revoltado por perder-la para a morte, Jorge decidiu que ela não seria enterrada. Permaneceria na companhia dele. Deitou ao seu lado na cama e começou a acaricia-la. No começo não havia malícia no toque, mas logo um desejo forte o dominou e sem poder se controlar consumou o ato sexual. Dias se passaram e o corpo começou a se decompor. Os vizinhos estranharam o mau cheiro e chamaram a polícia. O rapaz teve então que entregar o cadáver da mãe para sepultamento. Desde então ele passou a frequentar enterros e a roubar mulheres mortas do cemitério.

A garota que Jorge havia trazido dessa vez era linda. Sua pele muito branca contrastava com a camisola vermelha. Seus cabelos cumpridos haviam sido cuidadosamente trançados e argolas prateadas adornavam as orelhas delicadas. Na mesinha da cabeceira uma garrafa de vinho estava á espera da comemoração, enquanto o rapaz se preparava para a grande noite. Cheio de desejo ele acendeu o abajur, colocou uma música suave e se deitou ao lado da companheira. No auge do desejo. Jorge percebeu que alguma coisa estava diferente. A moça estava correspondendo ao seu toque. Gemidos de prazer escapavam dos lábios da morta, enquanto mãos geladas o acariciavam. Hirto de medo o moço tentou se soltar, mas nesse momento a defunta começou a apertar sua garganta violentamente. Prestes a morrer Jorge ainda sentiu seus lábios sendo beijados e antes que seus olhos se cerrassem para sempre, viu na porta do quarto sua mãe o observando, enquanto sorria triunfantemente. Vânia Lopes 20/o6/2012