Versões de um crime

Eu a matei fui ao seu enterro. Não pode ser ela! Devo estar ficando louco, isso explicaria as visões que estou tendo de minha falecida esposa. Algumas noites atrás, bateram a campanhia,quando olhei através das cortinas,vi a morta olhando para a casa de maneira impaciente. Usava as mesmas roupas de quando foi enterrada. O medo dominou-me e numa voz apavorada, gritei por Camille, que era minha atual companheira. Ela me abraçou carinhosamente e olhou na direção apontada por mim, mas disse que ali na calçada não havia ninguém.Também vi a falecida dentro de casa e apesar de não me lembrar oque aconteceu,sei que ela matou Camille.

Casei sem amor. Fui obrigado por meus pais. Eles eram evangélicos e a ideia de Angélica se tornar mãe solteira causava grande constrangimento. Conhecemo-nos na faculdade, ela era de uma beleza impressionante. Muitos dos meus amigos estavam encantados e chegaram até a pedi-la em namoro.Eu estava na fase da curtição e meu único interesse era leva-la para cama. Angélica se apaixonou por mim e fazia de tudo para forçar um relacionamento, mesmo sabendo da minha fama de cafajeste. Ela descobriu meu endereço e fez amizade com meus pais. Angélica era órfã e foi criada por uma tia que nunca teve simpatia por ela, já que sua irmã morrera ao dar a luz. Minha mãe que só tivera um filho tomou de amor pela garota e logo um quarto foi disponibilizado para que ela passasse em nossa casa os finais de semana. Perto dos meus pais, era quietinha e quase nem falava comigo, mas era durante as madrugadas que ela mostrava seu lado safado. Não tinha nenhum pudor ao se entregar. Confesso que eu nunca tive em meus braços, mulher ardente como aquela. Apesar de estar curtindo aqueles momentos, percebi que ela estava se apegando muito e decidi me afastar, ela chorou dizendo que me amava, mas não insistiu. Dias depois meus pais me chamaram para conversar e disseram que Angélica estava grávida. Falei aos meus pais que eu iria apenas assumir o filho, mas eles foram categóricos em dizer que não iriam admitir que a criança pagasse pelo pecado dos pais, que eu teria que me casar. Sempre obedeci e dependi dos meus pais, por isso contra minha vontade me casei. Uma surpresa me esperava Angélica depois de dois meses de casados, confessou que nunca estivera grávida, que mentiu para conseguir me levar ao altar. Quis me separar, mas meus pais outra vez interviram. Disseram que ela não fizera por mal, que tudo foi por amor. Que Deus repudia o divorcio. Quando eu quis fazer prevalecer minha vontade e falei que eu nunca amara Angélica, meu pai foi firme ao dizer que se eu me separasse seria deserdado e que ele não iria continuar pagando meus estudos. Eu estava com vinte e quatro anos, nunca trabalhara. Até a casa onde eu e minha esposa morávamos foi presente dos meus pais. Não tive outra opção, senão continuar casado. Angélica era muito ciumenta e controladora. Mexia no meu celular, revirava meus pertences e bastava uma garota se aproximar de mim, para que ela fizesse escândalo e provocasse uma briga. Não fazíamos mais sexo, pois até nessa hora ela me agredia e dizia que eu estava imaginando que estava transando com outra. Ela entrava no banheiro de repente para ver se eu estava me masturbando enquanto pensava em outra mulher, cheirava minhas camisas e por muitas vezes eu acordei e a vi sentada na cama me olhando. Dizia que me vira sorrindo enquanto dormia e que certamente eu estivera sonhando com um rabo de saia. Minha vida se tornou um inferno e não encontrando uma maneira de mudar essa situação, resolvi mata-la. A convidei para irmos á uma churrascaria e na volta para casa, parei o carro em um local ermo pretextando problema no motor. Pedi que descesse para ajudar e quando ela estava distraída, acertei sua cabeça com um martelo que eu previamente havia escondido na porta malas. Angélica desmaiou logo no primeiro golpe, e como eu já havia planejado a coloquei deitada no asfalto e passei com o carro por cima duas vezes. Vi metade do seu corpo esmagado e com a certeza de que me livrara dela, fui para casa, limpei todos os vestígios do crime e fui dormir tranquilo. (continua) 26/05/2012