Eu sou a morte-parte oito

Mortos não tem saudade, mas sentem uma vontade mórbida de rever os que deixaram para trás. Desde o meu sepultamento que não via meus pais e a curiosidade começou a me espicaçar. Uma sensação estranha me dominou logo que entrei em meu antigo lar. Era como se estivesse violando o ambiente. Não senti o aconchego de antes, era como se até as paredes não me quisessem ali. Quando viva, tive um gato de estimação que era muito apegado a mim, e lá estava ele empoleirado no sofá. Sempre ouvi dizer que os animais são sensíveis. Que enxergam o que a visão humana não vê. Para testar a teoria, me agachei próxima do bichano. Não deu outra! Meu doce gatinho se transformou em uma fera, miando horrivelmente e tentando me acertar com as unhas. Sorria satisfeita enquanto puxava seu rabo, o deixando ainda mais raivoso, quando mamãe veio da cozinha para ver o motivo dos miados. Por causa de sua entrada na sala, eu me distrai e o animal conseguiu me arranhar o ombro. Não senti nenhuma dor, mas soube que havia sido arranhada, por causa do cheiro nauseabundo que se desprendeu de mim. Minha mãe também sentiu o forte odor, pois levou o pano de prato que trazia ao ombro até o nariz e voltou para a cozinha resmungando que ia dar um bom banho no gato. Não ia deixar passar barato aquele arranhão. Eu que em vida, mimei e cuidei tanto daquele ingrato! O bichano despertou minha raiva e ia pagar por isso. Tentei agarrá-lo, mas o peste se esquivou e foi se meter debaixo do sofá onde ficou miando raivoso. Minha mãe veio com a intenção de banhá-lo e tentou pegá-lo, mas o bicho arranhou sua mão. O grito de dor de mamãe foi à gota d’água. Assim que eu a vi entrar no banheiro para limpar o local da ferida ,levantei o sofá ,agarrei o gato e torci gostosamente seu pescoçinho. (fim da oitava parte) 07/04/12