Eu sou a morte-parte três

Fui ao meu enterro. Não vou negar que fui movida tanto pelo sofrimento dos meus pais, como também pela curiosidade. Achei tão estranho ver o caixão sendo baixado à sepultura e sendo engolido pela terra, que quis sentir a sensação do sepultamento e penetrei em meu corpo morto. No começo uma paz gostosa me acolheu. Era tão bom ficar ali quietinha sem pensar em nada! De repente o medo de ficar presa embaixo da terra para sempre me atingiu e então voltei à superfície. Sempre fui uma pessoa de ação e a inércia da morte, não combinava comigo. Havia muitas pessoas no cemitério, algumas eu nunca tinha visto antes. Da minha família, poucos compareceram e dentre eles estava uma irmã do meu pai. Essa tia nunca gostou de mim, e agora que eu tinha morrido estava se debulhando em falsas lágrimas. Sem nem um pingo de remorso, me aproximei e puxei com força seu cabelo. Tia Iolanda (era esse seu nome) arregalou os olhos e comentou com uma mulher que estava ao seu lado. Gostei da brincadeira, era muito gostoso ver o pavor estampado em sua face balofa, por isso dei um puxão mais forte desta vez a derrubando. Algumas pessoas se prontificaram em levantá-la e assim que eu a vi de pé dei-lhe um forte empurrão. Na queda tia Iolanda bateu a cabeça na quina de um túmulo e desmaiou. Sorri satisfeita ,estava me vingando de todos os beliscões recebidos dela quando criança. Apesar do galo na testa, minha tia se recuperou rápido e olhando desafiadora para minha mãe, dizendo que ia embora, pois aquele enterro estava amaldiçoado. Mamãe ficou muito magoada com o comentário e passou a soluçar alto. Decidi naquele momento que tia Iolanda não sairia dali com vida. No momento em que minha tia começou a descer para sair do cemitério, estava vindo à direção contrária um carro funerário. Entrei no automóvel e fiz com que o motorista perdesse a direção e a atropelasse. Tia Iolanda teve morte instantânea. Houve muitos gritos e choro, mas não fiquei para me deliciar com o medo dos presentes, porque outra vingança estava a minha espera. (fim da terceira parte) 05/04/12