Eu sou a morte -parte dois

Se existe morto bonzinho, esse não é o meu caso. Após perder a vida de forma tão covarde e violenta eu só queria vingança. Quando meu assassino deixou a casa e se esgueirou pelas sombras, fui atrás. O sujeito morava três bairros depois do meu, em uma casa estilo colonial. Constatei que não se tratava de alguém miserável porque a residência era bem constituída e havia dois carros seminovos na garagem. Não se tratava de um ladrão comum. O homem entrou e se encaminhou para o banheiro onde rapidamente se despiu e começou a se lavar. Ao ouvir o barulho do chuveiro, sua esposa apareceu. Era uma mulher ainda jovem e bonita. Ao deparar com as vestimentas do esposo manchadas de sangue, abriu a porta do Box e indagou:

- Oque foi que você fez dessa vez? De onde veio esse sangue? Sorrindo o homem respondeu:

-O sangue é de uma putinha que tive que apagar. Acredita que ela me mordeu? Olha o machucado em meu rosto!

- Você fala isso sorrindo? Não pensou nas complicações que isso pode nos trazer?

-Fica fria mulher, ninguém me viu.

-Essa mordida foi por acaso ou você tentou violenta-la? O homem desligou o chuveiro e abraçou a mulher.

-O que é isso minha vida, ciúme? Logo você que nunca foi disso! Afastando o marido ela foi deixando o banheiro, enquanto dizia:

-Pouco importa oque você faz na rua, desde que volte inteiro para mim!

-Pois estou inteiro e louco por você. Os dois foram então para o quarto e começaram a se amar. Enojada fui percorrer os outros quartos. Em um dormia uma menina de mais ou menos dez anos e no outro um adolescente de quinze. Ambos dormindo inocentemente. Depois de observá-los por algum tempo resolvi voltar para minha casa, precisava estar ao lado de meus pais naquele momento difícil. A casa estava cheia de gente. Além dos vizinhos, policiais andavam por ali fazendo anotações e aguardando que a perícia acabasse de examinar meu corpo. Em um canto da sala minha mãe chorava desesperada abraçada ao meu pai. Aproximei com a intenção de confortá-los, mas eles não conseguiam me ver. Para me fazer notar derrubei um vaso de cima da mesa, muitos gritaram assustados, mas meus pais estavam tão entregues a sua dor que sequer ergueram a cabeça. Um homem se aproximou pegou minhas mãos e falou baixinho:

-Seu tempo nessa terra acabou você precisa vir comigo.

-Para onde? –perguntei

-Para um lugar de descanso. –Não preciso de descanso. Estou começando agora, meu tempo de vingança! (fim da segunda parte) 05/04/2012