Uma noite de terror

Paulo trabalhava como vendedor-ambulante de uma firma, nas praças de Minas, Mato Grosso e Goiás, havia vários anos. Conseguira uma grande experiência nesse ramo de negócio, além de uma psicologia natural. Bastava examinar a fisionomia, os gestos e até o modo de falar das pessoas para descobrir-lhes as intenções e o caráter.

Certa vez, quando viajava pelo interior de Mato Grosso, teve de pernoitar numa pequena cidade, onde havia uma única pensão e, por sinal, a pior tanto em aspecto como em ambiente que já havia encontrado em suas andanças. Chegou a essa cidadezinha numa segunda-feira, e condução para Cuiabá só no dia seguinte. Ponderou bem a situação e, não encontrando outra alternativa, procurou o dono da pensão e perguntou-lhe se era possível arrumar-lhe um quarto.

- Pois não, disse-lhe o proprietário; é só adiantar o dinheiro.

- Ainda há jantar? Indagou Paulo.

- Não, mas a gente dá um jeito.

Enquanto aguardava o jantar, observou que dois sujeitos mal-encarados, provavelmente hóspedes daquela pensão, observavam-no, cochichando. Paulo percebeu-lhes logo as intenções a seu respeito, mas fez de conta que nada havia desconfiado.

Observava aquela casa quase em ruína, quando lhe apareceu o dono da pensão.

- O jantar já está servido, seu moço, é só não reparar...

Entrou para o refeitório, se é que se pode denominar aquilo de refeitório. Mesas velhas e sujas, cadeiras repregadas e reforçadas com tábuas de caixotes, num péssimo acabamento, uns pratos encardidos.

Quase não comeu e em seguida foi para o quarto.

Ficou assentado na cama, fumou um cigarro e deitou-se. Preocupado, não conseguia conciliar o sono.

À medida que o tempo passava , ia crescendo o medo e, por volta das duas da madrugada, tão amedrontado estava que resolveu , por uma medida de precaução, ocultar-se debaixo da cama e ali ficou aguardando o amanhecer que parecia não chegar. Foi quando ouviu passos no corredor e algumas palavras curtas e abafadas.

- Verifique se ele está dormindo.

-Sim, não há dúvida.

E foram empurrando devagarinho a porta, pois nem chave havia naquele quarto.

- Diabo! O moço não está.

- Deve ter saído.

- Um tanto melhor. Assim agiremos mais à vontade.

Rebuscaram a gaveta da mesa, o guarda-roupa e outros móveis velhos existentes no quarto.

Naquele momento, Paulo começou a suar frio e passou ali os piores momentos da sua vida. Finalmente, para seu alívio ouviu um deles dizendo:

- Não adianta. Deve ter fugido e levado o dinheiro.

- É... o jeito é a gente cair fora.

E saíram.

De manhã, quando Paulo foi ao refeitório, já encontrou os dois caras tomando café. Assim que o viram, entreolharam-se desapontados, denunciando com isso o fracasso da tentativa do roubo.

Paulo despediu-se deles com um sorriso malicioso, que deixou transparecer a sua zombaria, que ele chegaram a perceber.

Lacemar

Sinval
Enviado por Sinval em 09/12/2011
Reeditado em 09/12/2011
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