ACORDA, BRASIL! (EC)
ONDE A SAÚDE E A DOENÇA SE ENCONTRAM
Ali naquele pronto socorro abafado, corredores lotados, macas indo e vindo, gemidos de dor, as duas mulheres observavam. Uma, sorridente, sorriso desdentado na face. A outra, pensativa, triste, preocupada.
- O que você está esperando ainda que aconteça por aqui, Saúde? Não vê que os ventos sopram para meu lado, neste pronto socorro e nos demais postos do SUS? Minha filha, se avie, vá tirando seu time de campo que não há espaço para nós duas aqui. Eu tenho liderado essa lista há tempos e, pelo que você pode perceber, continuarei no topo por muito tempo ainda.
- É... Eu sei, dona Doença, eu sei... Infelizmente, tenho convivido com a senhora e, tristemente, vejo a sua total abrangência em todo o meu sistema neste país. Crianças são mortas pela negligência dos poderes públicos, idosos são menosprezados em seus direitos e, por mais incrível que possa parecer, até hoje, ninguém fez nada para mudar esse quadro de total abandono.
A atendente chama, pela primeira vez, em três horas de espera, naquele corredor mal iluminado e tétrico, o primeiro paciente.
- Alô, dona Doença, favor comparecer ao guichê 03.
- Tá vendo? O que eu lhe disse... Só há lugar para mim aqui. Vá baixar n’outra freguesia, Saúde, se toca!
- Não... Eu ainda tenho um resto de esperança na consciência humana. Isto vai mudar!
A atendente chama, pela segunda vez.
– Saúde, favor apresentar-se ao guichê 02!
Um sorriso no rosto (coisa rara) aquela senhora meio capenga, aparentando um cansaço interminável, vai até o referido local. A atendente, sem lhe dirigir o olhar, carimba um documento e joga no balcão.
- Não temos vaga para a senhora, dona Saúde. Volte mês que vem!
Ao lado, Doença lhe provoca.
- Taí, minha cara, desista, vai... Essa eu já ganhei, como das outras vezes. Espere as próximas eleições, talvez os próximos eleitos olhem para você. A Dilma está prometendo melhorar as coisas, em sua área. O Serra, já foi Ministro, apoiou o Adib Jatene para cobrança do CPMF, quem sabe, agora, ele não se mexe?
- CPMF, quem? Ah, sim! O tal imposto infeliz cobrado dos pobres (mais um) que, disseram, seria para ampliar e aprimorar o meu sistema e, até hoje, não vi nada.
- Ah! Não fique assim, Saúde! Você pode depositar suas últimas esperanças em Marina, por exemplo. Ela não veio de berço humilde (assim como Lula), não é pessoa do povo? Origem humilde, tem o menor patrimônio declarado dos candidatos e os artistas apóiam sua candidatura. Afinal, artista sabe das coisas, não é? (risos).
A atendente chama mais um.
- Dona Saúde, favor comparecer.....
Novo carimbo na guia de internação – NÃO HÁ VAGAS!
Novo chamado, pelo microfone rouco do pronto socorro.
- Dona Doença, por favor...
Dançando na ponta dos pés, tal colibri no jardim, ela se aproxima e, mais uma vez, toma posse da vaga de internação existente. E mais uma, e outra e outras mais...
A essas alturas, dona Saúde, cabisbaixa, foge dali, pela porta dos fundos. Decepcionada, triste, quase sem esperança. Não, ela não pode deixar-se abater assim. Ainda acredita no ser humano, em sua capacidade de gerir o país com sabedoria e justiça. Não importa quem estará lá, seja quem for ela torcerá por ele – ou ela. Não é momento para torcidas fanáticas – como se fosse torcida de futebol – o assunto é sério.
Afinal, não seria ela – a Saúde – uma das prioridades de qualquer governo?
Este texto faz parte do Exercício Criativo:
ACORDA, BRASIL!
(Meu tema: SAÚDE)
Prestigie, conheça os demais participantes;
http://www.encantodasletras.50webs.com/acordabrasil.htm
Ângela Faria de Paula Lima (corrupção)
Ângela Rodrigues Gurgel (distribuição de renda)
Francis Toyama (ecologia)
Laerte Russini (educação)
Maith (assistência social)
Maria Olímpia Alves de Melo (patriotismo)
Maurélio Machado (política)
Meriam Lazaro (qualidade de vida)
Milla Pereira (saúde)
MVA (segurança)
Nena Medeiros (eleições)
Pedro Galuchi (turismo)
Ronaldo Rhusso (símbolos nacionais)
Roseane Ferreira (corrupção)
Zélia Freire (distribuição de renda)