Santuário das cinzas - I

Santuário das cinzas

Capítulo 1

"[...] pelas campinas

ele é o corcel da meia noite

abre fendas, rompe trilhas

sem parada , nem guarida

sua crina relampeja pela madrugada afora [...]"

(Sergio Cortes)

Uma noite fria.

Era final de Dezembro.

Cheiro forte de cigarro e cerveja impregnados.

O barulho da música alta e do falatório estava misturado aos assovios da ventania.

Acontecia a festa de despedida da faculdade do condado Møre og Romsdal, Sudoeste da Noruega.

Henrik já estava pra lá de embriagado quando pegou o carro e saiu pela estrada, ainda com uma caneca de cerveja na mão. Ao seu lado, sua namorada Judie. Os dois aparentavam ter em média 20 anos de idade.

Henrik dirigia com o farol aceso, sem conseguir enxergar muito bem a pista. Judie parecia assustada no banco ao seu lado. Os dois não falaram nada durante o percurso pela montanha deserta.

Ele era um cara alto e de cabelos loiro escuro. Usava uma jaqueta jeans comum.

Judie era mais branca que ele. Os olhos de um azul muito claro e cabelos compridos loiro vivo que contrastava com seu vestido branco.

O carro desceu a estrada em alta velocidade. Henrik dirigia com uma só mão, enquanto tomava cerveja com a outra.

Passaram por um túnel e imediatamente a escuridão reinou.

Só se viam as luzes do farol no asfalto.

- Henrik, vá com calma. - alertou Judie.

Mas Henrik não respondeu.

O carro saiu do túnel e tudo aconteceu numa rápida sucessão.

- Henrik, eu já disse...

Judie olhou para o lado, mas Henrik não estava no volante. Desaparecera.

- Henrik! - Judie gritou desesperada e olhou para trás pra ver se ele ele estava caído na estrada, mas ele não estava.

O carro agora descia a colina sozinho a uma alta velocidade.

Judie pulou para o banco do motorista, numa tentativa desesperada de freiar o veículo, mas ele desceu colina abaixo por uma estrada de terra deserta e sem iluminação, atropelou uma plantação abandonada e bateu com um grande baque na encosta da colina.

Judie foi jogada a metros de distância barranco a baixo e rolou pelo matagal até que bateu com força em alguma coisa quente.

Houve um grito histérico.

Judie viu uma mulher nua de pele cinzenta flutuando sobre uma grande mesa de pedra. Ouviu vozes e sussurros macabros. Então a imagem se focalizou em sua mente, havia um casal. Ela podia ouvir os gemidos.

"- Você gosta assim?"

Engoliu em seco ao ver o trepa-trepa na sua frente.

Sentiu o corpo queimar de prazer.

" - Isso... Assim..."

Suas pernas estavam úmidas.

POW!

Algo bateu com força em sua cabeça e ela rolou morro abaixo.

Tudo estava escuro...

Ela só sentia a dor na cabeça latejar.

Judie abriu os olhos lentamente. A visão embaçada.

A memória estava fresca. Passou a mão na cabeça e sentiu o enorme galo.

Olhou em volta e se viu cercada por árvores e mato.

Não havia sido um sonho.

Realmente estava a quilômetros de distância montanha abaixo da pista principal.

A única luz era a da lua.

Ela se levantou cambaleando e viu que havia alguém caído a sua frente.

Se aproximou meio tonta.

- Henrik... Henrik... - chegou mais perto para olhar bem o rosto.

E então se assustou.

Era a mesma mulher que havia visto fazendo amor com o homem.

Sua roupa era a mesma e a saia dela ainda estava arreada até os tornozelos.

Estava inconsciente.

Judie tomou o pulso e viu que estava apenas desmaiada.

Então aos poucos se lembrou de suas visões.

E da estranha mulher de pele acizentada sobre a pedra de mármore.

Chegava a ser macabro.

Judie olhou em volta, mas não enxergava nada na escuridão.

Onde estaria Henrik?

Havia algo muito estranho acontecendo. E não era por acaso.

Tinha certeza de que fosse o que fosse.

Ela e a moça desmaiada não estavam sozinhas...

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 14/10/2008
Reeditado em 16/12/2008
Código do texto: T1227244
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