Cassandra

-Que tempestade dos infernos é essa Wanderley? Perguntou Mauricio, escrivão de plantão da delegacia.

-É rapaz, na previsão do tempo dizia que amanha daria praia.

Políticos e previsão do tempo, nunca podemos confiar. Respondeu Mauricio folheando um jornal de classificados sobre carros.

A atenção dos dois foi desviada para o plantão de um telejornal que trazia noticias sobre a chuva; Uma repórter de cabelos curtos dava à seguinte noticia:

A chuva que castiga a cidade desde o inicio da tarde, é a pior que o estado sofreu nos últimos oitenta anos.

A defesa civil já recebeu varias chamadas de emergência nas ultimas quatro horas....

-É água pra caralho Mauricio, deve ter neguinho morrendo afogado.

Wanderley levantou da cadeira e foi andando em direção a carceragem.

-O que vai fazer?Perguntou Mauricio.

-Vou dar uma olhada nos presos.

- Fonseca está lá ele não pode fazer isso?

- Que foi Mauricio, medo dos trovões é? Perguntou Wanderley caçoando do companheiro, e seguindo em direção a entrada da carceragem.

-A única coisa que me assusta é um bicho chamado sogra, assusta tanto que nem namorada eu tenho. Rebateu Mauricio girando na sua cadeira.

A porta da delegacia foi aberta empurrada por dois agentes federais, no susto Mauricio deu um pulo da cadeira e gritou:

-Cacete! Querem me matar do coração?

-Desculpe disse a agente federal. Estamos numa missão que teve que se interrompida por causa do mau tempo.

Mauricio olhou bem para ela tinha um metro e setenta mais ou menos, cabelos lisos pretos, e um rosto redondo, mesmo uniformizado dava para perceber que ela tinha um belo corpo.

-Policial, está me ouvindo? Perguntou ela.

-Sim..claro. Respondeu ele voltando a prestar atenção nela.

-Sou a Agente Solange, e esse é meu parceiro Agente Magalhães.

-Prazer estendeu a mão para Solange e depois apertou a mão de Magalhães.

-O que posso fazer por vocês? Perguntou ele.

Estamos transportando uma presa e ficamos atolados aqui perto da delegacia, por medida de segurança gostaríamos de colocá-la numa cela individual até que a chuva pare e possamos seguir nosso caminho.

-Olha, até poderia ajudá-los, mas cela individual complica, todas se encontram ocupadas.

-Podemos dar um jeito nisso. Diz Wanderley andando ao lado de Fonseca, se aproximando dos agentes.

-Esse é o Wanderley, o delegado de plantão. Disse Mauricio apontado para o amigo.

- O baixinho é o Fonseca. É o nosso caçula. Entrou no concurso mais recente.

-Realmente uma cela, fica difícil, mas podemos ceder uma sala a vocês. Disse Wanderley cortando Mauricio.

- Não é o ideal, mas diante das circunstanciais, aceitamos. Respondeu Magalhães olhando para Solange, que apenas balançou a cabeça afirmativamente.

-Temos mais dois agentes no carro, vamos buscá-los. Disse Magalhães.

-Estão muito longe?Quis saber Wanderley.

-Antes da esquina. Respondeu Solange, saindo com Magalhães pela porta da delegacia.

Wanderley acompanhou os agentes até a porta e ficou olhando por alguns segundos a chuva torrencial que caia.

Ventava muito. As arvores pareciam dançar na noite. Relâmpagos iluminavam todo o céu, parecia que os deuses estavam fotografando o sofrimento de todos que estavam embaixo.

-Vocês repararam nos cordões deles?Perguntou Fonseca

-A única coisa que eu reparei foi na bunda daquele agente, deliciosa. Respondeu Mauricio enquanto passava a língua por entre os lábios.

- O que está olhando ai fora Wanderley? Perguntou Mauricio, se aproximando da janela.

-Apenas vendo a chuva.... Sussurrou ele.

Wanderley virou para Fonseca e perguntou: Do que estava falando?

- Dos cordões dos federais, os dois usavam uma espécie de colar, com bolinhas azuis. Não repararam mesmo?

Antes que Wanderley e Mauricio pudessem responder, gritos vindos da carceragem chamaram a atenção de todos na sala.

-Que porra é essa? Perguntou Mauricio carregando sua pistola.

Fica ai Mauricio, eu e Fonseca vamos dar uma olhada lá dentro.

A porta que dava para carceragem era uma grande porta de ferro, ao entrarem por ela chegaram ao corredor mal iluminado, e fedorento.

Demoraram a entender o que acontecia, uma dúzia de presos na primeira cela batiam com a cabeça nos ferros das grades, um deles tinha um buraco no crânio suficiente para entrar o punho de Fonseca.

O barulho das cabeças de encontro às grades era horrível. Outros presos tentavam sem sucesso tirar os companheiros das grades, mas não conseguiam.

Wanderley olhou para as outras três celas, e viu que também acontecia à mesma coisa ,era em uníssono, uma sincronia perfeita. Em cada cela seis presos se jogavam contra as grades.

Wanderley puxou sua pistola e gritou: Parem se afastem das grades!!

Ninguém parecia ouvir o que ele dizia.

Um prisioneiro segurava uma bíblia e gritava em voz alta:

Ô senhor, nos livrai do Maligno, que está solto essa noite.

Sem alternativa Wanderley apontou a arma para o alto e deu três disparos.

Os prisioneiros que não se mutilavam nas grades foram para trás, enquanto que os outros caíram todos ao mesmo tempo no chão.

Tire-nos daqui!! Gritou o homem que orava se aproximando das grades.

Volte para o canto!! Gritou Wanderley.

-Você também esta sendo usado por satanás, mas não conseguira o que deseja. Deus está com a gente essa noite, posso ouvir a voz dele em minha cabeça.

Fonseca que tinha observado tudo em silencio chamou Wanderley no canto e falou.

Wanderley, alguma coisa estranha realmente aconteceu aqui, aposto o que você quiser que aqueles homens estejam mortos.

-Sinto algo estranho acontecendo Wanderley!

-Porra Fonseca, não misture sua religião com o nosso serviço.

- gosto de tu pra caralho, te respeito porque mesmo sendo crente nunca te vi julgando ninguém, agora vai ficar dando papo para viciado?

To te estranhando, cara!! Disse Wanderley, para em seguida dar as costas a Fonseca e ir em direção a saída da carceragem.

E a chuva aumentava. O mar estava tão agitado que invadiu a Avenida Atlântida em Copacabana.

Na região serrana, centenas de pessoas já estavam desabrigadas, algumas escolas nas regiões menos favorecidas do estado já eram usadas para abrigar as vitimas da tempestade.

Todos tinham suas preocupações nesse momento, Wanderley era casado e tinha filhos. Fonseca era noivo,e estava de casamento marcado,somente Mauricio não tinha ninguém.

Perdeu seus pais cedo e nunca foi um rapaz namorador, na sua adolescência era gordo e cheio de espinhas, sua primeira transa só aconteceu quando ele tinha vinte anos, num puteiro. Só teve uma namorada na vida, que o trocou por uma amiga na faculdade.

Em casa não tinha ninguém esperando ele, era só. Gostava de estar só. Não era uma pessoa triste, tinha um bom astral, era o tipo de pessoa que você sempre convida para as suas festas.

Estava pensando em tudo isso quando viu aquela beldade adentrar pela porta.

Usava um vestido preto, seus cabelos eram bem escuros, seus olhos eram tão azuis que dava vontade de mergulhar neles. Seu corpo era esguio, sua pele era tão pálida que ele podia enxergar a veias embaixo dos olhos e as veias do pescoço.

-Onde é a sala onde ela vai ficar? Perguntou Solange.

-Mauricio? Mauricio?

Estava tão alucinado com a beleza da prisioneira que não ouviu os chamados de Solange.

-Sim..Claro,levo vocês lá. Levantou da cadeira sem tirar os olhos da prisioneira, que retribuía o olhar.

-Coloque esse colar Mauricio. Disse um dos agentes que ele não conhecia

-Por quê? Perguntou a um dos agentes que acabará de chegar.

Desculpe, por não ter apresentado vocês. Disse Solange.

-Esse é o Agente Soares, e esse é o Agente Carvalho. Agora estão devidamente apresentados.

Prazer disse Mauricio. Mas porque devo usar isso?

-É uma informação confidencial.. Respondeu Solange.

-Só posso dizer que a para sua segurança.

-To me sentindo em um daqueles filmes americanos. Resmungou Mauricio pegando

o colar.

-Americano não. O correto seria estadunidense. Disse o agente carvalho.

-Quem nasce na Itália é o que? Perguntou para Mauricio.

- Se não for nenhuma pegadinha sua é italiano. Disse Mauricio colocando o colar.

-Exato. Italiano por ter nascido na Itália e Europeu por ter nascido no continente Europeu.

- E o que isso tem haver com os americanos? Perguntou intrigado para o agente carvalho.

-Tudo. Eles são estadunidenses por terem nascidos nos estados unidos, e americanos por terem nascidos no continente americano. Somos todos americanos, mexicanos, brasileiros argentinos...

Tomara que o Osama não te ouça. Disse um sorridente Mauricio, acabando de prender o colar no pescoço.

No caminho da sala encontraram com Wanderley que voltava da carceragem, o seu rosto expressava preocupação.

-O que houve lá? Perguntou Mauricio.

-Acho que temos alguns mortos. Respondeu Wanderley, olhando para a nova prisioneira.

A prisioneira sorria para Wanderley. Solange reparou na troca de olhares dos dois,rapidamente então se agarrou no pescoço de Wanderley ,e nele colocou um dos colares.

- O que você está fazendo? Perguntou ele.

-É um presente meu..Respondeu Solange,dando um tapinha de leve no rosto dele.

-Como eu ia dizendo, parece que tivemos algo parecido com um suicídio coletivo nas celas.

-Onde está o Fonseca? Perguntou Mauricio.

-Lá embaixo, ele acredita que é obra de satanás o que está acontecendo.

Wanderley reparou em toda a extensão do corpo da prisioneira, enquanto dava as informações que lhe eram perguntadas, contou sobre os presos se atirando de cabeças nas grades, mas o que o interessava era a prisioneira que mulher linda, que olhar era aquele? Estava se perguntando.

Depois de um tempo contemplando toda a beleza da prisioneira,reparou que em vez de algemas,ela tinha duas pulseiras muito parecidas com o colar que eles estavam usando,esperou ate chegar à sala que prometerá aos agentes e perguntou:

Qual crime essa mulher cometeu? E se é tão perigosa porque usa essas pulseiras em vez de algemas?

-O agente Soares colocou suas mãos uma em cada ombro de Wanderley e disse:

Digamos que ela cometeu crimes contra a humanidade, não consigo achar nada mais adequado do que isso no momento.

-Que tipos de crimes? Quis saber Mauricio.

Todos os agentes federais ficaram em silêncio, Mauricio olhou para Wanderley e disse:

Já sei, é uma informação confidencial para a nossa segurança!!

Virou-se para o agente carvalho e disse:

Para esse cara crimes contra a humanidade é nascer ameri.. Digo estadunidense!!

Fonseca olhava os corpos no chão, eram três celas e, em cada uma delas seis mortos, será que realmente era um sinal de Deus?

Poderia ser coincidência, mas o numero da besta estava lá, não tinha como negar.

O preso que se chamava Luis continuava gritando na sua cela:

-Vejam irmãos, há tempo para vocês se redimirem dos seus pecados.

Também fui um pecador,matei,cheirei e roubei!! Agora estou nas graças de Deus. Meu coração não está mais fechado para a palavra do senhor, a minha alma já não pertence mais a besta!!

A maioria dos presos não agüentava mais ouvir aquilo, já ameaçavam arrancar a língua de Luis, que continuava forte em seus gritos:

-Não tenho medo de ameaças, Deus há de me proteger!!

Fonseca se aproximou da grade e perguntou:

- Como você tem tanta certeza que é a besta à responsável por tudo isso?

Luis se aproximou da grade e olhou firme para Fonseca Durante um tempo. Respirou fundo e falou:

-Irmão a resposta está no seu coração!

Segurou firme com as duas mãos a grade da cela e continuou:

Liberte-se das duvidas, dos medos, ai você conseguirá ouvir a voz do anjo de deus!

Fonseca se afastou um pouco da cela e disse:

-Vou providenciar para que os corpos sejam retirados da cela. E saiu da carceragem.

Chovia granizo, os relógios marcavam dez da noite, fazia sete horas que a chuva castigava o estado do Rio de Janeiro.

Uma série de relâmpagos atingiu pontos estratégicos de abastecimento de energia do estado, resultando no maior apagão da historia do país, no momento que tudo ficou escuro o grupo de policias conversava em volta da prisioneira que assistia tudo, sentada na sua cadeira com uma expressão calma no rosto.

Fonseca andava de encontro a eles recitando versículos da bíblia, e Luis, Gritava mais alto que o fim estava próximo.

Sem agüentar ouvir mais aquilo, uma briga tomou conta daquela cela.,entre a maioria que não agüentava mais os gritos e a minoria que defendia Luis.Da primeira cela,a briga foi para a segunda e da segunda para a terceira.

Um canivete apareceu no meio da escuridão, e entrou girando nas entranhas de Luis.

Sentindo sua força se esvaindo, Luis tentou segurar a mão forte que o golpeava, não obteve sucesso, sua vida estava no fim. Deus o poupou daquele sofrimento, que todos os outros pagassem por seus pecados.

-Droga só faltava essa! Disse um emburrado Wanderley.

Mauricio na minha gaveta tem vela, pega uma para iluminar essa merda!!

Um relâmpago iluminou a sala, a prisioneira e Mauricio havia desaparecidos.

****

-Onde eles foram parar? Gritou Solange com a arma em punho.

-Eu avisei que ela era diferente demais de todos os outros. Disse Magalhães.

A porta da sala se abriu e todos apontaram a arma para o vulto que entrou.

-Parado ai!Gritou Soares.

- Abaixem essas armas sou eu Fonseca. Falou enquanto se aproximava do grupo.

-Como vamos saber se ele está falando a verdade se a criatura possui mais truques do que imaginávamos? Perguntou Carvalho a Solange.

-Não temos como saber...

-Não se aproxime mais! Gritou Magalhães já engatilhando sua pistola.

- Que porra é essa! Gritou Wanderley ficando entre o amigo e os agentes.

-Se afaste dele!! Disse Solange.

-Esse pode não ser o seu amigo!! Disse Carvalho.

-Claro que é ele. Está escuro, mas eu o reconheço. Disse Wanderley que a essa altura perdia a paciência com os agentes federais.

Magalhães se aproximou de Wanderley que lhe apontou a arma. – Escute Wanderley, a nossa prisioneira é uma vampira!! Abaixou sua arma e esperou a reação dele.

-Vocês estão todos doidos!! Gritou Wanderley

-Eu acredito Wanderley. Deus estava tentando nos avisar desse agente de satanás o tempo todo.

-lá vem você de novo com essa historia. Disse um contrariado Wanderley.

Gritos vinham da carceragem, parecia que acontecia uma briga generalizada

Wanderley olhou para o teto e resmungou: Só faltava essa!

-Deixe os presos para lá, o que tenho para contar é muito mais importante no momento. Disse Solange.

Wanderley foi até sua mesa e tirou uma lanterna e uma vela. Colocou a vela sobre sua mesa e a ascendeu. Deixando o ambiente com um tom amarelado.

Depois de alguns minutos o barulho que vinha da carceragem parou, Fonseca estava ansioso para voltar lá para ver o que tinha acontecido, esperava encontrar mais mortos, mas alguma coisa lhe dizia que nada iria acontecer a Luis, esse tinha proteção divina.

Todos fizeram uma roda e se sentaram. Solange começou a contar sua história.:

Fazemos parte de um grupo secreto dentro da policia federal que caça vampiros.

O governo brasileiro está ciente da existência deles há muito tempo, Não sei ao certo quando foi descoberto. Mas existem registros de vampiros catalogados pelo exercito desde 1914.

Pouco sabemos, sobre eles, o que aprendemos é que não existem um igual ao outro cada um tem sua peculariedade ,já caçamos vampiros que se tornavam névoa outros que viravam animais,alguns com super força, é difícil ao certo saber quais habilidades eles possuem.

Mais difícil ainda é descobrir as fraquezas, no meu entendimento a fraqueza de um vampiro, está diretamente ligada à vida que ele teve e a seus crédulos. Um vampiro muito antigo, pode realmente ter medo de uma cruz. Enquanto um novato dificilmente fugiria, já que suas crenças são diferentes.

-Está querendo-me dizer que apenas um vampiro que teme Deus fugiria de um símbolo sagrado? Perguntou Fonseca.

-Não é necessariamente isso. Acontece que para os antigos os símbolos de cada religião era considerados sagrados, quando uma pessoa daquela época era transformada em vampiro no seu subconsciente estava a informação de que ele agora era uma criatura das trevas,e como uma criatura das trevas deveria temer esse tipo de símbolo. Respondeu Magalhães.

O que eles tinham em comum era que nenhum deles era capaz de ir de encontro a uma palavra encontrada em um texto apócrifo. Seguiu Solange.

-Que palavra seria essa? Perguntou Wanderley.

-Nenhuma maldição pode ser maior que a benção de Deus. Disse Solange.

Nenhum vampiro consegue atacar quando tem essa palavra presa em seu corpo, ficam totalmente imunes, viram fantoches.

Essas eram as palavras que estavam escritas nas pulseiras que prendiam a criatura, estava escrito em aramaico.

E o que está escrito em nossos colares, e para que serve isso perguntou Wanderley?

Alguns vampiros podem dominar a mente, esse colar nos protege, a escrita nele é uma variação do que está escrito no colar.

-Como foi que vocês chegaram até essa vampira? Perguntou Fonseca.

-Estamos monitorando ela já faz duas semanas.

-Todas as noites ela levava para sua casa uma média de três a sete homens. Disse Solange.

-Ela é prisioneira de seus horários, reparamos que dificilmente ela muda sua rotina. Disse Magalhães.

-Ela sai por volta das 18:00 horas e volta antes das 21:00 horas com sua primeira vitima. Completou Solange.

-E os corpos o que ela faz com eles? Quis saber Wanderley.

Solange colocou a mão no bolso e tirou algumas fotos e as olhou por alguns segundos.

-O que tem nessas fotos? Quis saber Wanderley.

Ignorando a pergunta de Wanderley, Solange continuou explicando:

-Varremos cada canto da casa, até que conseguimos achar uma porta secreta.

-Dentro dessa porta existia uma sala de tamanho médio.

Achamos isso dentro dela. Disse estendendo a mão com as fotos para Wanderley.

Wanderley pegou as fotos e Fonseca se aproximou para poder ver também.

Numa das fotos o que parecia ser o resto de uma arcada dentaria estava jogado num canto da sala, em outra uma perna com uma tatuagem em estado de decomposição avançado.

Era horrível, era uma foto pior que a outra.

-Jesus cristo. Disse Fonseca levando a mão à boca.

-Acreditamos que ela se alimente de carne humana.

-Porque vocês não a mataram? Perguntou Wanderley.

-Tentamos, mas sua pele é resistente,é como se fosse de aço.

-Se Mauricio tivesse aqui diria como a do super homem. Disse Wanderley.

O pensamento o fez voltar a se preocupar com o amigo, o que será que teria acontecido a Mauricio? Perguntou-se Wanderley.

-Como não conseguimos matá-la resolvemos prendê-la ate que encontrássemos um jeito de acabar com ela .Disse o agente Carvalho.

-E Mauricio, será que ainda está vivo? Perguntou Fonseca.

-Seu amigo já deve estar morto. Respondeu o Agente Soares.

Mauricio não acreditava no que estava acontecendo, aquela bela mulher estava beijando o seu corpo todo. Estava quase explodindo de prazer.

Tentava passar as mãos no corpo dela, mas ela não deixava. Sussurrava em seu ouvido:

Calma, eu estou no comando.

Desceu com a língua por toda a extensão do corpo dele, enfiando a boca em seu membro ereto.

Mauricio tremia e urrava de prazer:

-Isso,continua,continua...

A bela mulher se levantou e olhou fixamente para Mauricio, que perguntou:

-Porque parou? Fiz algo que não gostou?

- Não, o problema não é você. Respondeu ela com a voz mais angelical que ele já tinha ouvido..

-Claro que sou eu. Respondeu um choroso Mauricio, toda a minha vida fui rejeitado por mulheres, agora que eu achei que tinha encontrado a mulher dos meus sonhos, também sou rejeitado.

A bela mulher agachou no chão, levou as mãos ao rosto e começou a chorar.

Mauricio agachou ao lado dela e perguntou: - Porque está chorando?

-Porque você está mentindo para mim, diz que encontrou o amor da sua vida, mas nem meu nome você fez questão de saber.

-Me desculpe.. É que.... Fui levado pelo momento. Como se chama?

-Cassandra. Respondeu com voz de choro.

-Eu to muito preocupada.

-Porque meu anjo? Perguntou levantando ela do chão.

-Aqueles agentes querem me matar, e vão conseguir, não tenho forças para lutar com eles.

- Não, ninguém vai te fazer mal, só passando por cima de mim. Respondeu enquanto beijava Cassandra.

-Seus amigos se juntaram a eles. Você teria que se livrar deles também. Faria isso por mim?

Cassandra passava o seu dedo indicador pelo peito de Mauricio que a encarou por um momento e respondeu:

-Você tem duvidas?

-Não mais. Respondeu enquanto caia novamente nos braços dele.

Os agentes juntamente com Wanderley e Fonseca decidiram iniciar as buscas na carceragem, estavam curiosos para descobrirem o motivo dos gritos.

Encontraram Luis morto encostado nas grades, à bíblia estava firme na sua mão direita.

Wanderley se aproximou das grades e perguntou:

-Quem fez isso?

Ele mereceu. Gritou alguém em outra cela.

Wanderley e os outros se viraram em direção à voz.

Um homem de meia idade veio em direção à grade e falou:

Ele estava quase arrumando uma rebelião. Alguns presos estavam acreditando nele. Perceberam agora que tudo não passou de papo furado, Deus não estava aqui para impedir a morte dele!

Murmúrios de apoio ecoaram por toda a carceragem. Fonseca percebeu que até os que acreditavam em Luis agora apoiavam sua morte.

-Temos que tirar os corpos das celas. Disse Fonseca.

-Não temos tempo para isso agora Respondeu Wanderley.

O relógio agora marcava meia noite, os agentes procuraram por todos os lugares, mas não

Acharam nenhum sinal de Cassandra e Mauricio.

A chuva diminuiu um pouco sua intensidade. Não ventava mais.

A escuridão persistia, por todo o estado.

Os presos dormiam em suas celas. Foi quando ela apareceu.

Caminhava com seu longo vestido preto pelo corredor da carceragem.

Seus olhos agora não eram mais azuis, estavam mais parecidos com os olhos de um felino.

Tinham assumido uma aparência amarelada.

Parou em frente à cela onde estava o corpo de Luis e sussurrou em seu ouvido palavras em aramaico.

O corpo estremeceu e ela sorriu.

-Ela deve ter fugido. Disse Wanderley.

-Acredito que não. Respondeu Magalhães.

-Ela está brincando conosco esse tempo todo. Não nos teme. Disse Carvalho, enquanto levantava da cadeira.

-Aonde você vai?Quis saber Solange.

-Ao banheiro respondeu ele, indo em direção a porta.

Enquanto observava Carvalho sair da sala, Fonseca perguntou:

-Há quanto tempo vocês caçam vampiros?

Antes da resposta três tiros foram disparados do lado de fora da sala, rompendo o silêncio daquela madrugada.

.

Carvalho andava em direção ao banheiro quando seu celular tocou. Tirou o telefone do bolso, e olhou no identificador de chamadas, era a sua namorada ligando.

-Alô. Disse ele.

-Já está vindo para casa? Perguntou ela.

-Não Alicia, ainda não. Estou tendo problemas no serviço mais te ligo daqui Há...

Reparou no brilho de uma pistola surgindo na escuridão, levou a mão ao seu coldre, mas era tarde de mais, recebeu uma bala na barriga. Caído de bruços no chão, nada pode fazer quando o atirador se aproximou e deu dois tiros na sua cabeça.

Mauricio pegou o celular caído no chão, uma voz feminina falava assustada:

-Emerson? Emerson? Cadê você? Ouvir tiros, tudo bem?

Desligou o telefone e se escondeu. Sabia que os outros iriam vim checar o que aconteceu, e quando chegassem não os receberia com uma simples pistola.

Os presos acordaram com gritos: Levantem pecadores!

Luis estava de pé com sua bíblia na mão. Olhava para o homem que o tinha matado.

Ninguém parecia acreditar naquilo, nas outras celas os presos se amontoavam nas grades para ver o que estava acontecendo.

-Satanás usou suas mãos para me ferir!! Gritou Luis para o seu executor.

-Ajoelhe aos meus pés, e me aceite, se não quiser ir para o inferno!!

Algumas pessoas gritavam: - Aleluia. Nunca deixei de acreditar em você!!

Luis viu que não foram somente os presos da sua cela, todos os presos estavam ajoelhados, todos com exceção de um. Esse olhava fixamente a tudo sentado na sua cama.

-Alguém aqui me ama? Gritou para os presos com os braços estendidos.

-Sim. Todos responderam em uníssono. -Fariam qualquer coisa por mim?

Sim. Respondeu as vozes novamente.

Com um movimento rápido de mãos abriu todas as celas, fez um aceno para todos os presos entraram na cela onde ele estava. Todos caminharam em sua direção.,

Mas o preso que não se ajoelhou continuava sentado na sua cama.

Luis olhava fixamente para ele. Não deveria ter mais do que trinta anos, tinha cabelos curtos e barba por fazer.

Voltou sua atenção aos outros presos e ordenou: Exijo que matem esse desgraçado, apontou seu dedo para o seu executor.

Um primeiro golpe foi desferido na cabeça do executor que caiu de rosto virado para o chão da cela. Alguns pulavam com os dois pés sobre a cabeça dele.

Um preso veio correndo com um extintor de incêndio, que havia pegado no corredor e arremessou sobre a cabeça do executor, que já se encontrava inconsciente.

Parem! Ordenou Luis. Ele já está morto.

Virou-se então para o rapaz sentado na cama e caminhou calmamente na direção dele.

-Qual seu nome rapaz?

-Flavio. Respondeu o rapaz, abaixando a cabeça.

Luis levou sua mão direita até o queixo de Flavio e a levantou de forma rude, o fazendo encará-lo.

-Não acredita em Deus Flavio?

-Até uns trinta minutos atrás eu era ateu. Mas agora não tenho como não acreditar.

Sorrindo Luis perguntou: Então porque não se ajoelha aos meus pés?

-Passei minha vida toda querendo explicações e agora as tenho. Não me ajoelho porque o Deus que eu acredito não é o Deus do medo. O Deus que castiga. Acredito no Deus do amor, sempre pronto a me receber de braços abertos. Você pode ser qualquer coisa, mas Deus você não é!! Disse dando um sorriso para Luis.

Luis soltou o queixo dele andou um pouco pela cela e disse: Então você acredita em outro Deus? Acha que ele pode te proteger de meus poderes?

Flavio respirou fundo e respondeu: Se fosse da vontade dele, poderia!

Luis se aproximou novamente de Flavio e começou a gargalhar: Então ele prefere que você morra?Você quer morrer Flavio?

-Não quero. Mas a morte é apenas um estagio. Talvez minha missão aqui seja mostrar para eles que Deus não é o culpado pela vida que eles escolheram para eles mesmos. Que todos nós somos senhores dos nossos destinos.

-Seu destino pertence a mim miserável: Gritou apontando sua mão para Flavio.

O corpo do Flavio foi invadido pelas chamas. Ele corria de um lado para o outro na cela, se jogou no chão gritava de dor, olhou para o alto e viu dois anjos com quatros pares de asas, entre eles ele viu sua esposa e sua filha de apenas quatros anos que tinham sido mortas durante um assalto, quando voltavam de um shopping; Implorou para levarem somente o carro, mas os assaltantes levaram a mulher e sua filha, descobriu horas depois que a policia interceptou o carro e na troca de tiros sua esposa e filha tinham sido mortas juntamente com os bandidos. Os policias responsáveis foram presos mais liberados um mês depois, com o coração cheio de odeio, culpou Deus por muitas noites, e resolveu ter sua vingança.

Emboscou os policias culpados pela morte de sua família e os matou.

Fora capturado na tarde de ontem, estava na delegacia aguardando transferência para um presídio.

Os anjos se aproximavam dele sua filha sussurrava: bom trabalho papai salvou muitas almas.

Sorriu e a dor não existia mais.

Luis virou para os presos e gritou: Alguém mais ousa me desobedecer?

Um terço dos presos, virou as costas para ele e saiu da cela.

-Vão pagar caro pela desobediência!! Suas veias pareciam que ia saltar do corpo, estava totalmente fora de si.

Apontou sua mão em direção aos homens que o abandonaram, mas nada aconteceu.

-Peguem fogo seus desgraçados!!!

Os outros presos perceberam que Luis estava sem poder, e o cercaram no momento exato que Fonseca entrava sangrando na carceragem com um buraco feito à bala no peito.

O grupo de policias estava próximo ao corpo de Carvalho, Magalhães tentava achar algum sinal vital sem sucesso.

-Está morto. Disse para o grupo.

Descanse em paz companheiro. Disse Soares. Ele ainda não sabia, mas seria a ultima coisa que diria na sua vida.

Mauricio estava atrás da pilastra vendo seus ex-amigos juntos com os agentes.

Apontou a metralhadora na direção deles e começou a atirar.

-O atirador deve estar por aqui ainda. Disse Wanderley.

No momento seguinte ele viu Soares tombando, vitima de uma rajada de metralhadora certeira.

Wanderley estava abrigado atrás de uma mesa, de onde ele estava podia ver o Agente Magalhães, e Solange no chão, virou a cabeça procurando Fonseca, mas não o viu.

Lascas de madeiras caiam sobre seu corpo.

Viu que Solange tentava rastejar para o canto. Estava viva.

Olhou para o canto da parede e viu quando Fonseca se jogou em cima do atirador, descarregando seu pente.

Mauricio não entendia como não tinha visto Fonseca escondido no canto da parede. Recebeu dois tiros no peito por sua falta de atenção, conseguiu apertar o gatilho uma única vez, tinha certeza que tinha acertado ele também.

Fonseca e o atirador estavam caídos no chão. Wanderley correu até eles e descobriu a identidade do atirador.

Solange se aproximou do corpo de Soares no chão e descobriu que ele estava morto, caminhou até Magalhães que estava deitado de bruços, e constatou que não respirava mais.

-Estão os dois mortos. Virou-se para Wanderley e perguntou e Fonseca?

-Está respirando com dificuldades. Respondeu Wanderley ainda em choque por descobrir a identidade do atirador.

-O atirador era o Mauricio? Perguntou ela.

-Sim. Como sabe?

-No fundo você também já sabia. Disse caminhando de encontro a ele.

Wander.. Wanderley! Disse Fonseca numa voz fraca.

-Me ajude a levantar!Disse fazendo força tentando sair do chão.

Não! Respondeu Wanderley. Você está muito ferido.

-Nos dois sabemos que não vou sobreviver.

-Tive uma visão, velho amigo. Tenho uma missão e vou cumpri-la.

Fonseca buscou forças na sua fé e com dificuldades conseguiu levantar.

Wanderley e Solange apenas o observavam.

Apoiou-se na parede e tossiu. Uma grande quantidade de sangue foi expelida por sua boca.

Virou a cabeça para trás e viu que Wanderley e Solange o olhavam assustados.

-Acreditem em Deus, que tudo vai acabar bem. Foi em direção a carceragem.

Enquanto ia para carceragem Mauricio se lembrava da visão que teve há poucos minutos.

Ele viu tudo o que aconteceu na carceragem, viu o demônio agindo como se fosse Deus.

Viu a reação corajosa do rapaz chamado Flavio.

Olhou em volta e descobriu que estava em um lugar que mais parecia um jardim.

O sol estava forte, olhou para frente e viu um homem alto caminhando em sua direção.

O homem alto parou há dois metros de distancia dele e disse:

-Fonseca, não tenho tempo para explicar muita coisa, estou usando meus poderes no limite para deter Cassandra.

Não perca tempo com esse fantoche. Faça o que for preciso, você tem dois minutos para estar lá embaixo e impedir que o homem chamado Luiz, consiga escapar.

Se ele conseguir seus amigos e muitas pessoas inocentes irão morrer antes do nascer do sol.

Aproveite o momento, os presos estão duvidosos sobre os poderes dele.

Mas como faço... E Fonseca estava de volta na sala, não teve tempo de perguntar como faria para chegar até a carceragem, não teria como passar por Mauricio.

Abaixou sua cabeça e orou baixinho.

Resolveu ir pelo canto tinha certeza que não seria visto.

Agora estava quase morrendo, mas faria a sua parte, evitaria o Maximo de mortes desnecessárias essa noite.

Os homens cercaram Luis, um deles gritou: Cadê seus poderes seu messias de araque!!

Fonseca olhou no relógio e viu que faltavam vinte segundos para os dois minutos dados pelo homem alto.

-Aqui está meu poder! Disse Luis fechando os olhos.

Fonseca reparou que o ar estava mudando, os poderes de Luis estavam voltando; sem perder tempo trocou o pente de sua pistola e descarregou em Luiz.

Luiz sentiu o impacto das balas perfurando o seu corpo e cambaleou para frente, olhou para trás e viu Fonseca.

Deu dois passos na direção de Fonseca e caiu morto no chão.

Os presos olhavam para Fonseca que estava banhado em sangue.

Fonseca caminhou em direção a eles apontando sua arma e disse com uma voz fraca:

-Voltem para cela!

Os presos obedeceram em silencio, Fonseca se sentia tonto. Seu tempo estava acabando.

Caminhou devagar ate cada uma das celas e as trancou. Sentou encostado no canto da parede, se sentia muito tonto, enfim sua hora havia chegado.

Cassandra observava tudo, ela tinha reanimado o cadáver; Ligando a sua mente a dele, todas as ações de Luiz foram comandadas por ela.

Teria conseguido criar um caos maior se não fosse por interferências exteriores.

Sabia que tinha alguém muito poderoso vindo, a tempestade significava isso.

Não sentia medo; Era uma criatura muito antiga para temer alguém.

Sobreviveu em Sodoma, sobreviveu o dilúvio; Teve os mais temidos inimigos, e sempre saiu vencedora; Era apenas mais um desafio para ela..

Os outros dois policias iriam sobreviver, resolveu poupar energia para o inimigo que se aproximava.

Os caçadores eram bons, ela demorou de verdade para perceber que estava sendo seguida. Lendo suas mentes descobriu que estava sendo confundida com uma vampira, teve muita raiva, como aqueles insolentes humanos a confundiram com uma espécie tão vulgar?

Todo vampiro já foi humano ela não; Era diferente. Era uma sucubus, um demônio antigo, um demônio do prazer.

Resolveu brincar com eles para ver até onde ia. Era uma pena ter que acabar com a brincadeira tão cedo.

Mas um anjo Serafim estava vindo em sua cola, um Serafim poderoso demais, ela se esconderia, e quando tivesse preparada, derrubaria o anjo.

A energia foi restabelecida por volta das 4:00 horas da manha,logo depois de Wanderley encontrar o corpo de Fonseca na carceragem.

Solange estava pensativa não falou nada durante a noite toda, tinha se levantado da cadeira há meia hora atrás dizendo que iria a seu carro tentar entrar em contato com seus superiores.

Assim que ela voltou Wanderley se aproximou e perguntou:

-Conseguiu?

Ela levantou a cabeça e disse: - Sim.

-O que disseram? Perguntou ele.

Solange o fitou em silencio durante um tempo e disse baixinho: Desculpe...

Levou sua mão a sua pistola e disparou um único tiro na cabeça de Wanderley.

Caminhou até o corpo no chão, e se certificou que não estava mais respirando. Em seguida pegou o celular e fez uma ligação: Primeiro estágio da limpeza completa. Mande os faxineiros.

Cinco minutos depois um furgão encostou na frente da delegacia,homens vestidos com roupas camufladas,e carregando galões de gasolina entraram na delegacia.

Um dos homens com insígnia de capitão se aproximou de Solange que apenas indicou o caminho da carceragem.

Solange foi para a porta da delegacia, e observou a rua totalmente deserta; A noite tinha sido uma loucura, não via à hora de estar em casa.

Cinco minutos depois o Capitão se aproximou dela e disse: Vamos, temos pouco tempo!!

O capitão ascendeu um isqueiro e jogou dentro da carceragem.

Em cinco minutos o fogo havia consumido quase toda delegacia, ocultando o que havia acontecido ali.

Cento e cinqüenta presos haviam sido queimados vivos nessa noite; Não por obra de Cassandra, não por obra de nenhum outro demônio, ou pela vontade de Deus; Foi apenas o homem na sua maneira de fazer as coisas certas.