Você conhece esta pessoa?

- Avisei.

- Não lembro.

- Ela tá aqui. veja!

- Como sabem?

- Não sabem, mas vão saber.

- Que horas cê viu isso?

- Hoje cedo. Comprei, abri, fui procurar a noticia do timão e aqui tá ela.

- Poxa. Nem para botarem uma foto mais digna.

- Digna? DIGNA???

- Sem ela morta.

- Como vão ter foto dela viva se acharam ela morta?

-Pondo, Buscando, pegando no álbum de foto da mãe.

- Não tem mãe! Nem nome, nem parente, amante, mãe, marido, ela não existe.

- Mas tá aqui, a foto, acabou de me mostrar, é um desenho?

- Não. É uma anônima. Leu o que tá em cima?

- “Você conhece esta pessoa?”. Conheço. Conhecemos.

- Lê o de baixo.

- Mulher jovem foi encontrada esfaqueada na praia do boqueirão por volta das onze da noite, a identificação não foi possível, impressões digitais não reconhecidas. Culpa sua.

- Sua. Quem mandou ter ataque de ciúme?

- Ficou me botando praga na cabeça, parece que torcia pra que eu fizesse isto.

- Torça para ninguém reconhece-la.

- Só se trouxerem o corno pra cá.

- Ou mandarem á ele esta folha.

- Alguém teria coragem?

- Mistérios movem as pessoas.

- Virou filósofo?

- O tanto de desocupados virando detetives graças à sua fúria.

- Até então ela é uma pobre vítima da violência urbana.

- Por ora. Logo não será a única.

- Como se chama?

- Alguém que acaba de perder o amigo e querendo diminuir a dor alheia.

- Uhum... O senhor disse ter informações sobre minha esposa.

- Tenho, mas, antes, como obteve meu numero?

- Mais um trote, por favor me resp/…

- Responda, sei que está desesperado.

- Mandaram uma carta pra cá, com a aliança dela e um jornal dentro com este número.

- Abriu o jornal?

- No que me ajuda? tem nada nele.

- Abra na página vinte e oito.

- Um tempo. Aberta, mas tem nada, nem é daqui este jornal.

- O que tem no quadro esquerdo inferior?

- Uma foto, nossa, uma foto horrível de um cara morto…

- E em cima? o que está escrito?

- "Você conhece esta pessoa?"

- Conheço. E tenho certeza que ele conhecia sua esposa e o senhor.