A cabana.

As traças corriam para todos os lados, passando umas por cima das outras, formando quase um tapete vivo. Estavam abaixo de uma peça de madeira bem desgastada, a qual estava abandonada, sei lá por qual razão, no meio da cabana. Revisitar o local, naquelas condições, era uma dor a mais, apesar dela, com o passar deste tempo, ter aprendido a ser um lugar quieto; apenas isso, porém. Sendo silenciosa, mas não auxiliadora — por justiça: não por não querer. Tinha o tamanho de um quarto, e eu sentia, pelos diabos, caberem ali eu e aquele que lá fora corria. O que fariam se um demônio perseguisse vocês? Por burrice, levei a coisa a ponto de cair justamente numa floresta, e, maldição, trilhei de modo a me deparar justamente com a tal cabana, cujo construtor, creiam, foi um parente morto há bastante tempo, mais de cem anos. Ali era uma história: o lenhador, primeiro colono, derrubou as primeiras árvores e lá fez sua morada, a qual ainda era sustentada pela mesma madeira-prima. A casa não chegou a ver, mas tudo mudou: conservaram-na presa na floresta, incólume. E minha história vem quando, depois de um desses passeios às raízes, tomar conhecimento concreto do "recanto". Vejam como sucedeu, que durante uma madrugada eu saí às escondidas, na tramação minha e alguns amigos, para passar, bobeira, horas a fio no inferno da cabana... e essa última informação, digo, foi proposta minha. Cinco de nós, todos firmados: sairíamos quando no primeiro ardor da alvorada. Chegando lá, foi que nos demos conta: que faríamos nessas três, quatro horas? Sortes: um levou cartas; só. Quando enjoados? Um disse, com olhares: quando só temos a nós mesmos, nos tornamos nosso próprio entretenimento. Não entendi, creio que todo mundo interpretou errado. Sempre saem uns mais cedo. Ficamos em três. Por precaução, decidimos: um pouquinho antes não faz diferença. Tomamos os rumos, mas eu, porém, quando tornava, ouvi os passos: atrás alguém vinha. Brincadeira? Quis fingir o desmedo. Realmente, me seguiam. Eu cheguei em casa? Corri às tantas, me trancaram o horizonte e tive de voltar ao lugar, onde lá plantei o que desconhecia. E assim conto como foi, assim parece preludiar: o que me aconteceu, senão o germinar de um ruído?

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 25/09/2023
Código do texto: T7894171
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