Nas trevas. (microconto)

Não me prenderei às descrições, apenas nalgo: estava escuro. Você não consegue imaginar o quão trevoroso estava o lugar. Era como se estívesse, ao mesmo tempo, escalando e caindo no nada; niívago. Porém, isso não seria nada se não tivesse ouvido um quase sussuro — como se um demônio estivesse apagado minha visão e brincasse sadicamente comigo, fazendo seus ruídos ameaçadores, perto, depois longe, para se deliciar com o meu desespero. Certa vez, numa trilha à noite, perdido do grupo, decidi parar no meio da mata para tentar escutar o barulho dos companheiros. O que me ocorreu? Nada mais ouvi além de um chocalho. Cascavel... Muito próxima. Você deve imaginar o quão aflito fiquei, mas consegui me livrar. Foi algo parecido: eu estava num não-lugar, totalmente vulnerável e, como se não fosse infernal o suficiente, ouvindo aquele som de predador oscilando entre o matar ou não. Mas tinha algo pior do que a situação em si: com medo de me mover e, de alguma forma, chamar atenção do ser que sussurrava, tomei a mesma decisão quando na floresta: parei. Fiquei imóvel no meio da escuridão, e nunca soube se morri por causa do monstro ou da minha... covardia?

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 15/08/2023
Código do texto: T7862266
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