A MALDIÇÃO DA VILA - COMPLETO

I – Menos um dia

“Como quase todos os dias, a história de alguém começa a um som, e normalmente vem para um despertar”

Era 8hrs quando Dico abriu seus olhos que ainda estavam vermelhos, reflexo da noite anterior, sentia uma enorme dor de cabeça.

- Mais um dia desses e eu juro que eu não levanto – Disse o garoto ficando sentado em sua cama.

- Se depender dos vizinhos aqui, você não levanta nunca mais...

- Oi?

- Oi é breque de boi, seu anormal, você e seus amiguinhos ficam fazendo esses cultos de madrugada. Acha que moramos numa metrópole, Dico? Saímos de São Paulo, justamente pra você sair dessa vida e nem faz dois meses que estamos aqui e já começaram as reclamações!

- Mas mãe, desde quando tomar cerveja e fumar maconha e culto?

- Não tem nem vergonha, não é? Olha, aqui é diferente, esse pessoal aqui é religioso, Dico.

- Pro inferno eles e suas crenças, agora me dá beijinho que vou tomar banho – Dico levanta, da um beijo em sua mãe, e dá uma capengada.

- Não se aguenta nem em pé, já estou vendo você perder esse emprego

- Não será o primeiro – O garoto riu enquanto caminhava.

- Vai perder a casa, seu merda! Você já tem 23 anos!

Enquanto tomava banho Dico pensara “ Vila sem graça do caralho, tudo é tão igual, as mesmas coisas, todos dias a mesma chatice. Preciso de mais ação, aposto que os meninos vão concordar, botar um medo nessa vilazinha de merda”

Dico se aprontava para ir ao trabalho, entrava as 9hrs, e já eram quase 10. A sorte é que a Vila Desiderium era tão pequena que ele podia andar por ela toda em 30 minutos e com direito a parada para um café puro e um pão na chapa no bar do “seu Aloisio”

- Aloisião, me vê aquele pão na chapa e o cafezinho no capricho!

- Dico, o pão na chapa e o café eu até consigo, mas no capricho? Tem que parar de arrumar “essas confusão”

- Por um pão na chapa?

- Não, mas o que vocês e os meninos andam fazendo aqui de noite, rapaz, os vizinhos vem tudo aqui depois falar das garrafas, do resto de maconha, das bituca de cigarro, pelo amor de Deus, fora que o senhor fica doidão e sai sem pagar... – Quando Aloisio iria terminar a frase, foi interrompido por uma voz rouca e velha.

- Vai besta! Essa Vila é amaldiçoada!

- Como disse? – Dico era quem perguntara

- Eu moro aqui há setenta anos e é sempre a mesma coisa, quem vem morar aqui ou morou aqui não consegue se desprender desse lugar, mesmo quem vai, está sempre aqui...

- Quem é o velhinho ali, Aloisio?

- Aquele é o seu Moutinho, está aqui sabe-se desde quando

- Sempre cheio de jovens da idade de vocês – continuou o velho – se se achando os tais, fazendo essas coisas de beber, achando que são donos do mundo. O Velho se levantou, foi até Dico e completou: - Aqui não é cidade grande, nego! Cuidado.

O Velho saiu do bar em direção ao mercado...

- Onde ele está indo?

- Ficar de olho no mercado, melhor em quem está no mercado

- Que safado – disse Dico admirando uma bela garota do outro lado.

- Ela não, Dico! É o rapazinho que é neto dele.

Ambos riram, e Dico se deu conta que já eram 10:40

- Meu caralho, já são 10:40! Aloisião, vou nessa to atrasado! Fui. Dico saiu apressado do bar

- Mas e a conta?

- Depois eu faço pix! – disse o garoto já longe

- Esse moleque é um filho da puta!

Dico, chegou à empresa e sentou em seu posto, trabalhava em uma empresa de empréstimos na vila, a única que havia ali. Olhou para o lado e viu que seu amigo Gus ainda não havia chegado “parece que a carcada não será só em mim”

- E ae maninho – uma cutucada no ombro, e Dico olhou – Teu café ta pago lá no bar

- Sério que você pagou Gus?

- Fica em paz, na saída você faz a cerveja

- Cara, falando nisso. Que merda de vila é essa que a gente não pode ficar em paz que esses caralhudos vem falar groselha de nós?

- Ah cara, aqui sempre foi assim, para você ter uma ideia a dona Solange...

- Aquela do empréstimo?

- Ela mesmo

- Que que tem essa puta? – Risadas

- Foi falar para minha mãe que nós estávamos fumando droga no Aloisio

- Não acredito!

- E mais – Gus é interrompido por uma voz imponente ao fundo.

- Dico, Gus? Venham à minha sala agora!

- Vixi! Que é agora

- Ah foda-se, se vier de novo com “aqueles papo” de resultado vou logo dar um tapa na cara.

Os dois se levantaram e foram a sala do chefe.

- Bonito, vocês dois de novo chegando atrasado com essas caras de ontem!

- Mas chefe – Disse Gus

- Mas nada! Porra, é a quinta vez em duas semanas que vocês chegam assim, não aguento mais, essa merda aqui abre as 9hrs, não as 11hrs – Dico deu uma leve risada – Pra você deve ser engraçado não é, Dico? Eu só não mando vocês embora porquê nessa merda de lugar só tem velho retardado e adolescente estúpido, mas não brinquem comigo!

- Ninguém brinca com você não chefe

- É chefe, a gente gosta de ganhar dinheiro também?

- Pelo jeito, de gastar com droga muito mais, não é?

- Até o senhor?

- É uma vila pequena, as pessoas ficam sabendo... Não me interessa mais, vão trabalhar.

Gus e Dico saem da sala...

- Caralho, a gente fica tranquilo, tomando nossa cerveja e começa acontecer tudo isso?

- Gus, to com uma ideia aqui bem legal, vou falar pro pessoal hoje à noite

- Ah! Me conta...

- Depois, a mãe da Ana Lucia está na sua mesa....

II – O Culto

"Após o término do horário do expediente as 17hrs, Dico e Gus vão em direção ao bar de seu Aloísio comemorar o declínio de suas vidas tomando a cerveja rotineira"

- Será que um dia vamos sair dessa vila medíocre e ter uma vida digna? - Desabafa Gus

- Digna, nossa vida pode ser a partir de hoje meu amigo, mas se continuarmos nesse estilo, sendo julgados e sem almejar algo maior, pode ser que isso seja nosso provável destino.

- Então, me fala ai, qual é sua ideia pra gente fazer algo...

- Na hora certa, espera eles chegarem, o Feitosa trará a encomenda

- Isso que eu nunca entendi, ele saiu daqui da vila a anos e sempre está, não é?

- Sim, e tem muito haver com que o seu Mourinho disse hoje...

- Você deu ouvidos aquele velho tarado?

- Ele me disse sobre uma maldição daqui de Desiderium, e vocês nunca tinham me contado

- É porquê ele é um velho bêbado e tarado, quem vai dar atenção a uma pessoa dessa?

- Pode ser, mas se mais pessoas acreditarem nessa maldição? Veja todas as pessoas que estão aqui, permanecem aqui e quando saem, elas voltam.

- O que está querendo dizer com isso?

- Espera, que o Hugo está vindo com seus amigos

- Porque será que ninguém fala deles, não é?

- Porquê é muito mais fácil falar de nós, principalmente porquê eu acabei de chegar e sendo filho de quem sou...

- É, mas sua família nem morava aqui...

- E ai rapaziada – dizia Hugo chegando com seu sotaque fanho – Vão arreliar hoje de novo?

- Arreliar nada – Gus, estava um pouco exaltado

- Só, to brincando, falou pra vocês – Hugo se vira e começa a andar, Dico levanta o braço para bater na cabeça dele, mas é seguro por Gus.

- Maninho, já não basta a gente está sendo tirado de satanista e você ainda vai bater nele?

- Ele me irrita!

- Mas ainda por causa da história da Emma?

- Não só isso, mas é um filho dessa vila escrito, que lugar maldito!

- Pega leve, se não fosse essa vila você não teria me conhecido

- Não ta ajudando – Dico riu – to brincando

- Ta bom, o crápula – Gus, dava uma risadinha sarcástica – Você não teria conhecido a Emma

- Ah, vá se foder Gus, de novo? Já não basta toda essa conversalhada que aconteceu em menos de dois meses...

- De você pegar a irmã dela? – Gus ria demais

- Chega, Gordo!

- Gordo nada, eu sou forte, olha meu musculo!

Os dois riam e o tempo ia passando, até que chegaram Feitosa, Lucio e Emma

- Mas assim? Os três de uma vez

- Se não aguentar, Dico, vai um de cada vez – já chegou retrucando Lucio, rindo alto.

- Hoje, promete hein!

Os garotos ficaram conversando e rindo e quando menos perceberam já era 00:00hrs

- Estou cansado daqui – disse Feitosa - sempre aqui, sempre...

- Por isso, tenho uma ideia pra vocês – Dico fechara seu semblante, de uma pessoa risonha, passara a ter a fisionomia maquiavélica

- Dico, eu conheço esse seu olhar...

“Replicant – Bloodmoon”

- E se a gente, colasse medo nesse lugar?

- Lá vem ele chapado – Disse Emma – vai Dico, conta...

- Vocês mais do que eu, conhecem o Moutinho, certo? – todos acenaram que sim – Ele veio com uma história de uma maldição aqui na vila, sobre quem...

- Ah não, você vai dar ideia pra louco, Dico?

- Escuta, Lucio...E se a gente fizer uma nova maldição? Mas bem mais real?

- Como assim, Dico – Feitosa, estava achando Dico, muito estranho e a música soando completava uma atmosfera um tanto que pesada – Cara, cuidado com o que você vai...

- Matar!

- Matar?

- Mas não de verdade, eles têm medo, acham que somos um culto e se de alguma forma alguém que morresse começasse a profetizar as mortes daqui da vila?

- Dico, isso é ridículo você deveria maneirar na erva – dizia Emma – Alguém morrer, que ideia absurda!

- E quem estaria disposto a matar? – Gus estava um tanto curioso – Digo, nós somos jovens queremos mudar nossa vida, mas matar alguém?

- E porque não? E porquê não pode ser um suicídio?

- E você se mataria?

- Talvez por algo, todos nós nos mataríamos...

- Ah Dico, pelo amor de Deus...

- Espera – Disse Gus – Eu gostei, e se a gente suicidasse o Hugo?

- O Chatinho? – respondeu Feitosa – Dar umas facadas nele, ia ser engraçado

- Ou, vocês estão agindo como realmente um culto – Emma, estava assustada.

- Relaxa, Emma – Gus segurou sua mão – É só brincadeira desse sociopata – Olhou para Dico.

- É, isso – disse Dico olhando para Gus

- Cara, esse tempo que vocês estão trabalhando juntos está me assustando – disse Feitosa – vocês se comunicam por olhar? Que porra que ta acontecendo?

- Feitosa, você não quer se vingar do lugar em que faz você voltar por mais que tente ir pra frente?

- Tenho, mas mesmo que eu e todos aceitem essa ideia absurda de matar alguém, como que pode dar certo?

- Você esqueceu de quem eu sou filho?

- E dai, você só será preso, sua anta!

- E se for eu quem morrer?

- Você já usou drogas demais, Dico, vou embora – Emma não acreditava no que estava ouvindo – usar seu falecido pai? Uma coisa é botar fogo em alguma coisa, isso ai já é loucura...

- Não está mais aqui quem falou – Dico se sentou, a música acabou, e o jovens foram para outros assuntos paralelos.

- Pessoal, o Aloisio já fechou – Disse Gus

- Bora tomar mais uma? Vou ficar até domingo aqui – Feitosa havia chegado na cidade nesta quinta – Vou ficar com a minha mãe

- Amanhã, a gente trabalha e já são 2hr, vamos deixar pra pizza no Gus, amanhã...

- Eu estarei no Rael amanhã com a Jéssica, mas depois qualquer coisa eu dou um raspão lá – disse Emma

- Eu quero ver se acordo amanhã – Disse Lucio – Toda vez que eu bebo é uma luta – Risadas ao fundo – É sério...

Todos foram embora, Dico tinha uma caminhada um pouco maior até sua casa que ficava um tanto afastada, ao descer a rua viu alguém com um blusão de toca o encarando, achou que estava louco, balançou a cabeça e a pessoa não estava mais ali

“Preciso parar com essas confusão” Pensou ele, se lembrando do Aloisio.

III – Pizzas especiais

“Em um sonho podemos ser quem quisermos? Então, porquê Dico acorda todas as noites gritando por ajuda, as vezes somos atormentados até em nosso descanso”

A sexta-feira, amanheceu nublada, mas sem frio. Hoje é dia de missa as 20hrs na nossa igreja, Hoje é o dia de nossa salvação...

- Mãe, desliga isso, a senhora já não é católica o suficiente?

- Ta vendo Gus, é por isso que não gosto que você ande com esses maltrapilhos

- Nossa, e o que isso tem haver?

- Se eu souber, que vocês andam fazendo cultos

- Vai começar? Sabe que essas pessoas daqui adoram falar dos outros

- Então que não seja de você! Porquê se não, você vai começar a ir a missa comigo e com o seu pai

- Mas mãe...

- Mas nada! Agora vai se arrumar porquê você tem que deixar seu irmão na escola antes de ir ao trabalho

- Você sabe que o Félix já tem 17 anos, neh?

- É 16, e não quero meus filhos largados! Como esses seus amigos

Gus apenas dá as costas chama por Félix, e saem de casa. Não era um caminho nada longo, afinal a vila era percorrida a pé em 20 minutos se não houvesse a parada no Aloisio.

O dia seguiu tranquilo, monótono e sem surpresas. Ao saírem para fumar, viram Hugo e seus amigos tomando alguma coisa no bar do Aloisio.

- Veja só, os caras estão no bar à essa hora, e essas velhas não falam nada!

- Ah Gus, sem maldade? Quero que se foda...

- Você está estranho, foi por causa das conversas de ontem, sobre aquela sua super ideia?

-Não e sim, esse lugar está me causando tanto ódio que não sei explicar nem o porquê me veio uma ideia dessa na cabeça, as vezes me sinto culpado...

- Não fica assim maninho, eu gostei da ideia, não para exercer – eles deram uma pequena risada – Mas daria uma ótima história.

- Ai é que está! Eu não quero escrever a história, eu quero ser a história! Mas nesse lugar eu só serei mais um bosta, como todos...

- Fica em paz, a gente vai sair dessa vila.

- É essa calma que me preocupa, estou aqui há 2 meses e não aguento mais, você está aqui há 22 anos Gus!

- Você acha que é fácil?

- Às vezes vocês fazem parecer que sim...

Gus faz um gesto com a cabeça pensando “Se é o que acha”, mas a verdade é que Gus também estava cansado de tudo aquilo, e quando Dico contava sobre como era São Paulo, Gus brilhava os olhos e tinha cada vez mais vontade de sair daquele lugar, mas era como se uma energia o colocasse ali, sempre ali.

Por volta das 19hr se encontram; Dico, Gus, Feitosa e Lucio.

- Precisamos comprar a cerveja agora, pois tudo aqui vai fechar em 30 minutos para irem à missa – Disse Feitosa.

- Nem me fale, Gus que hora que a sua mãe sai de casa? – Perguntou Lucio

- Daqui uns 30 minutos, eles sempre chegam um pouco mais cedo lá

- O Eduardo, disse que vai fazer a pizza especial pra gente e vai entregar a hora que a gente der um salve

- Ele não vai à missa?

- O Eduardo? Mas fácil eu ir do que ele

- E a Emma?

- Vai sair com uma amiga, lá no Rael e depois disse que se der encosta.

Os meninos então pegaram dois engradados de cerveja, tinham exatamente duas horas para comer, beber e fumar na casa de Gus. Ao se encaminharem para a casa de Gus, são abordados por Leandro, uns dos amigos de Hugo

- E ae rapaziada! Vocês não vão à missa?

- Ta doido? Hoje é dia de pizza, você vai?

- Vou sim, a família é sagrada parça, queria que o Hugo pensasse assim, também

- O pau no cu não vai? – Perguntou Lúcio

- Vai nada, esse louco diz que fica de sexta rezando de casa, mas a gente sabe que o que ele faz é ficar chorando pela Emma – Todos caíram na gargalhada – Bom, vejo vocês depois. Leandro seguiu seu caminho á igreja e os meninos para a casa de Gus.

Ao chegarem na casa de Gus, parecia tudo tranquilo e vazio...

- Beleza gente, a casa ta livre, hora do som e vamos começar! – Todos abriram uma cerveja e brindaram.

- Gus? – Uma voz surgiu abrindo a porta da sala

- Félix? O que você está fazendo aqui? Não era pra estar na missa com a mamãe?

- Ele diz mamãe – Sussurrou Lucio para os outros

- Fica quieto Lucio, Félix a mamãe não pode saber da cerveja, vai lá pro seu quarto!

- Mas porquê? Eu tenho 17 anos já! Eu quero participar!

- Você tem 16, e a mamãe não quer isso, mais pra frente...

Félix fechou a porta emburrado.

- Não vejo problemas do seu irmão ficar com a gente – dizia Feitosa – Ele já tem idade de saber o que é certo ou errado

- Feitosa, você e o Dico acham que é a mesma coisa aqui e lá sem São Paulo, mas não é, eu sei o que estou fazendo!

- Ah foda-se! São 20hr à missa começou, e aqui vai começar o som!

“Enigma – Sadness”

Dico, tirara sarro com o começo da música...

Enquanto isso em frente a Igreja, que era amarela com sua cruz de cor vermelha, as pessoas se cumprimentavam como se fossem bons samaritanos, parecia um amor verdadeiro entre eles, perguntavam de suas famílias, riam, alguns já antes da missa falavam mal das vestimentas dos outros. Os sinos tocaram e todos entraram naquele lugar sagrado, cheio de pinturas lindas de santos e de Jesus.

- É uma pena um lugar tão belo e sagrado ser maculado por pessoas tão vis e hipócritas

- Ah você quer falar de hipocrisia, Dico?

- Lucio, por isso não frequento missas, sei de minha hipocrisia e sei que se Deus existir, eu não preciso busca-lo em algum lugar, porquê ele está em mim!

- Cara, esses assuntos são muito abrangentes – Feitosa, tinha sua convicção – Falar disso, não leva a nada e outra, ontem mesmo estávamos falando de assassinar alguém, cara que loucura é essa?

- Então você lembra?

- Se eu lembro? Eu tive até pesadelos com isso – risadas – Porra num dia estamos falando de matar e no outro usando o nome de Deus, Que porra é essa?

- Sei lá, a gente imaginar um crime, botar medo nessa vila, seria interessante – Dizia Gus – Poderíamos escrever uma história

- Então vai, Gus! Vamos ouvir como seria, e quem morreria?

- Vamos começar com Hugo?

- In nomine de Christ, amem!

- Olha esse Dico, eu fico me perguntando como é que ninguém te levou ainda! – Risadas – É sério, você acabou de falar em latim para agradecer que aconteça uma morte!

- Ah, Feitosa...

- É sério, Deus e o diabo devem ter muita raiva de você, por isso te deixam aqui

- Pesado – disse Lucio – Mas o Dico, é meio filho da puta mesmo, não é? E o Gus está a cara dele

- Ah vai se fuder seu baixinho! – Gus quem exclamava

- Pelo menos não sou gordo

- Eu não sou gordo, eu sou forte!

- Ou, chega vocês dois, vai Gus conta como seria essa história...

- Espera aí, que o Eduardo chegou com a pizza.

Os garotos então foram até o portão abrir para o Eduardo...

- E ai rapaziada, chegou aquela pizza especial “pá nois”

Todos entraram e o assunto foi meio que esquecido, Eduardo disse que trombara Emma com sua amiga no Rael e que ela viria depois, começaram a lembrar de quando o Dico chegou na vila.

- Não entendo o porquê vocês voltaram para cá

- Parece uma maldição, sempre tem algo ou alguém aqui que faz a gente voltar, Edu.

- “Seh loko” se eu conseguisse sair daqui eu não voltaria mais

- Mas ai é que está, já perceberam que todos falam isso?

- Ai, o Dico come a pizza especial e já começa nessas brisas do Seu Moutinho...

- Então vai Gus, ainda quero saber sua história...

- Vamos lá, imaginem vocês agora que o Hugo tá lá na casa dele agora, e de repente alguém entra lá – o restante prestava atenção como se estivesse na história – Ai, ele escuta o barulho e vai perguntar se é a mãe dele que chegou da missa, imagina aquela voz fanha dele – todos riram – Então ai ele vê que não tem ninguém, acha que foi coisa da cabeça dele e de repente alguém com um fio, ou algo do tipo começa a enforca-lo e ele com aquela voz fininha começa a se estrebuchar parecendo um porco, e antes de morrer o assassino corta o pau dele e põe na boca dele.

- Cara, não que ele não merecesse – dizia Eduardo – Até concordo, mas você deveria passar em um psicólogo, isso ai é pesado.

- Pessoal, a Emma mandou mensagem e pediu se alguém pode ir busca-la no Rael – disse Lúcio, cortando o assunto...

- Eu vou – Disse Dico

- Ah, você vai, então? – Brincou Gus

- Vai começar? Vai lá então...

- To brincando maninho – Um barulho de que alguém havia pisado no quintal – Que foi isso?

- Gus, se você chamou alguém pra matar a gente, Eu mato você – Lucio quem brincara com isso, os meninos saíram e não havia, ninguém

- Ai ta vendo, é o que dá, um fala de assassinato, o outro agradece em latim – Feitosa quem dissertava – Queriam o que?

- Vocês viajam demais – Eduardo, ria muito.

- Bom vou lá, alguém vai comigo?

- Vai na fé Dico, a gente espera aqui, vai que tem um assassino – todos riram

Dico então sai, impressionante como naquela vila não havia quase carros, a vila estava deserta, muito porquê 80% deles estavam na missa.

IV – Um grito sufocado

Dico para em frente a igreja por volta das 21:30hr e pensa “algo tão lindo não merecia coisas tão feias lá dentro”

Em sua casa, Hugo estava deitado em sua cama, de fundo se ouvia a música “me liga, me manda um telegrama, uma carta de amor...” Hugo admirava o retrato de Emma, e enquanto acariciava a foto, pensava “Emma, porquê anda com esses satanistas? Eu poderia te dar tudo meu amor” Sua face mudou para algo mais digamos “tarado” e sua mão esquerda começou a baixar para suas calças, mas antes de que ele pudesse prestar alguma homenagem a Emma, ele ouviu um barulho em seu quintal.

“Mamãe?” pensou ele. Hugo foi até a cozinha e viu que eram 21h45 “Ueh, mas a missa ainda não acabou”

- Mãe? É a senhora? – O silêncio prevalecia – Devo estar ficando louco, oi? Emma? To voltando.

- Doente! – Uma voz sussurrara por trás de Hugo, que arregalou os olhos. Antes que pudesse virar um pedaço de fio foi envolto de seu pescoço e com tamanha força começou a estrangula-lo.

Na casa de Gus, todos conversavam e campainha tocou...

- Devem ser eles

- Não, é só Emma

- Emma, cadê o Dico?

- Vão se foder, meu! Vinte minutos esperando vocês e nada, o Rael fechou e eu vim sozinha pra cá.

- Mas o Dico foi atrás de você!

- Olha gente, então ele se perdeu nessa super vila, por que ele não apareceu

A corda apertava mais a garganta de Hugo que tentava gritar, mas era tão sufocado que não saia nada, seus olhos já vermelhos de sangue. O que estava atrás dele deu um pequeno sussurro em seu ouvido: - in nomine christ, amem! – Hugo reconheceu a voz, a entidade atrás dele o solta, Hugo cai e sem que pudesse ter qualquer reação, tem sua calça abaixada e seu pênis cortado, antes que pudesse gritar seu órgão genital e posto dentro de sua boca. A entidade de blusa e capuz olha para Hugo que já quase morto não vê o rosto de seu assassino.

O relógio bate 22hr e a entidade corre.

22hrs15 na casa de Gus, toca a campainha, os garotos saem e lá estava Dico, ofegante

- Caralho, Dico! Onde você estava? – Perguntou Lucio

- Eu fui buscar a Emma, mas o Rael estava fechado, não tinha ninguém lá

- Eu não vi você – Disse a garota saindo da casa do Gus – Eu esperei ele fechar para sair

- Correu a maratona? – perguntou feitosa

- Querendo ou não, cansa – dizia Dico, quando novamente escutaram um barulho no quintal – De novo esse barulho?

- Gente, minha mãe está para chegar, hora de acabar o role aqui.

Gus fora avisar seu irmão que iria sair, ao entrar no quarto viu seu irmão embaixo das cobertas suando frio: - Félix, você está bem?

- Estou sim, tive um pesadelo horrível, estou bem...

- Tem certeza?

- Aham

- Está bem, vou dar uma volta com o pessoal, e lembre-se nada de contar pra mamãe

- Pode deixar!

Gus então saiu e foi dar uma volta com seus amigos, no caminho estavam passando pela casa de Hugo, e duas viaturas estavam lá, e eram as duas viaturas que tinha na vila, um pequeno conglomerado de velhos ali estavam tentando ver o que acontecia.

- Eita – Lucio olhou assustado – Será que aconteceu alguma coisa?

- Eu espero que não – Disse Dico de forma fria, puxou um cigarro e ascendeu. Uma mulher olhara fixamente para os seis que estavam do outro lado da rua.

- Foram vocês seus satanistas! Foram vocês! – Enquanto um policial a levava para dentro de casa o outro atravessa a rua...

- O que houve aqui? – perguntou Feitosa

- Parece que alguém matou o rapaz que morava aqui – respondeu o policial – e que mal pergunte, onde vocês estavam?

- Na casa dele – disse Eduardo, apontando para o Gus.

- Va..Nã..- Emma se atrapalhava nas palavras, não conseguia falar.

- Vamos embora – Disse Dico – Não há mais nada pra ver aqui

Enquanto caminhavam, Emma em um surto sai correndo na frente de todos

-Emma, espera! – Gus correu atrás dela, a segurou – Ei, espera, você está louca? Vai correr assim?

- É que, vamo – Emma ainda não completava as frases.

- Dico – dizia Feitosa – Não quero, mas...

- Está achando que fui eu? Você está louco?

- Não disse, nada

- Ei, depois a gente conversa a menina precisa ir pra casa – Disse Eduardo olhando para Gus e Emma.

Os garotos deixaram Emma em sua casa que foi recepcionada por sua irmã Ana Luisa.

- Meu de novo? Real, vocês são foda – disse a garota

- O Ana, não vem com essa não, sua irmã e nós vimos algo zoado – Disse Dico

- É sempre assim, toda vez que ela sai com vocês

- Como se você fosse santa, não é? – Eduardo estava pilhado – Leva sua irmã pra dentro, e ponto.

Ana então segura sua irmã para entrar em casa. Enquanto elas entravam Gus leva suas mãos ao rosto e diz: - Dico, me fala que isso não é verdade! Pelo amor de Deus!

- Vocês devem estar de brincadeira com a minha cara! Vocês acham que eu mataria alguém?

- Olha, acreditar nisso, eu não acredito não – disse Eduardo – Mas se juntar as peças você será o principal suspeito

- E porquê?

- Porra, tu sai pra buscar a mina, a mina volta sem você e de repente do nada, assim “pá” o Hugo, o cara que o Gus narrou a morte, aparece morto? É estranho...

- Pessoal, amanhã é sábado, a gente estará mais de boa, vamos conversar disso depois – disse Feitosa – Hoje acho que já deu.

Cada um foi para sua casa, em uma noite fria e estrelada, o oposto do começo do dia.

V – Um dia de luto

“ O quanto um assassinato pode libertar uma alma? Alguns dizem que todos nós temos direito a matar uma pessoa, seja por qual sentimento quiser, mas apenas um”

Emma estava na porta de sua casa, a noite era cheia de neblina. Ela avistava de longe alguém vindo com uma blusa de capuz, ela não conseguia distinguir quem era. Aquilo se aproximou dela e sem que ela pudesse toca-lo ou falar com ele, a entidade entrou em sua casa. Emma correu em direção dos gritos de sua irmã e mãe...

- Emma! Acorde! - Emma desperta em sua cama ofegante e soando frio – Você está bem?

- Estou sim, foi só um pesadelo

- Tem certeza?

- Tenho sim, Ana

- Então está bem, eu, Laurindo e a mamãe vamos ao mercado e depois ao enterro do Hugo, quer vir com a gente?

- O que, o Hugo? Não foi sonho?

- Não, e se eu fosse você me afastava do Dico, e dos amigos dele

- Ana, você está viajando...

- Eu me afastei dele, por um motivo, sabe, cheio de pensamentos em mortes, sempre triste, e desde que ele chegou aqui essa vila...

- Ana, talvez você não o conheça direito

- Ou talvez, você não o conheça – Ana se levantou da cama de Emma – Bom, estamos indo, te amo, real!

- Também te amo, real! – Emma vê sua irmã sair com seu namorado e sua mãe – Hora de levantar.

Emma então belisca um pedaço de pão, toma um café com leite e começa a pensar “O que houve ontem? Era uma sexta tão tranquila, meu, isso não pode ser verdade. Por mais que o Hugo fosse um babaca, lambedor de saco dessa gente, jamais Dico, ou alguém deles fariam mau a ele” Enquanto Emma se perdia nesses pensamentos, seu celular vibrou, era mensagem de Eduardo.

“Gatinha, você está bem?”

“Estou sim e você?” – respondeu ela no celular

“Estou aqui na sua porta”

“Já saio”

Depeche Mode – Policy oh Truth

Emma vai até sua porta e recebe Eduardo com singelo beijo no rosto.

- O que aconteceu ontem? – Perguntou ela

- É meio complicado, neh?

- Como assim?

- Você não se lembra?

- Lembro até a hora da casa do Gus, mas depois parece que acordei aqui, com flashs de policia e o Dico sendo um assassino?

- Não foi bem assim gatinha, não da pra saber se foi ele, e ninguém ainda sabe disso

- Você está me deixando confusa

- É tarde demais para mudar os acontecimentos, é tempo de encarar as consequências, as coisas poderiam ser diferentes e você sempre vai se perguntar como!

- O que você está dizendo?

- Oxi, eu não disse nada – Eduardo se espantou.

Emma balançou a cabeça e percebeu que aquilo tinha vindo de sua cabeça...

- Gatinha, você está bem de verdade?

- Estou sim, deve ser a ressaca ainda

- Bom, passei só pra saber como você estava, tenho que ir ao mercado comprar coisas para pizzaria e depois vou ao enterro do Hugo, quer vir comigo?

- Não, estou de molho hoje, obrigado.

Eduardo então vai embora, e Emma pensa “mas até os diálogos desse lugar são iguais, o que está acontecendo”

Lucio chega de moto na casa de Dico: - Dico! – chamou Lucio

- Pelo amor de Deus, não grita meu nome aqui! – Disse digo saindo para atende-lo

- E por que não?

- Puta que pariu, você sabe o que aconteceu aqui há 15 anos, se descobrem que sou filho dele...

- Ah mano, para de ser bicha, quero falar sobre ontem!

- Eu também, entra aqui...

Os meninos entraram. Dona Mariana estava a preparar um almoço e viu os garotos irem para sala.

- Bom dia meninos, vocês viram o que aconteceu ontem?

- A gente ficou sabendo, mãe

- As pessoas daqui, estão acusando vocês sabiam?

- O, dona Mariana, com todo respeito, nós estávamos na casa do Gus, e isso a gente tem como provar, essa velharada aqui adora ficar falando da vida dos outros.

- Essa velharada, senhor Lucio, vai acabar com a vida de vocês! Você, o Dico, e os outros tem que tomar tenência!

- Mas mãe, nós não fizemos nada!

- Parece que estou vendo seu pai aqui, para! É exatamente como há 15 anos.

- Do que você está falando?

- Nada, só não quero vocês em confusões, afinal foi por isso que voltamos pra cá Dico – Dona Mariana volta para a cozinha.

- Dico, deixa eu te perguntar uma coisa – Lucio estava muito sério – Sei que não é da minha conta a questão do incêndio que seu pai acabou morrendo e fez vocês irem embora, mas porquê vocês voltaram de São Paulo? E o principal, por que ninguém pode saber de quem você é filho, ou que moram aqui? O que está acontecendo nessa merda?

- Pra falar a verdade, eu não sei, minha mãe disse que é porquê lá em São Paulo, eu estava me perdendo e que como o incêndio aqui causou muita euforia, ela não quer que ninguém saiba que voltamos.

- Mas não é estúpido, alguém não pode reconhece-la? Você tudo bem, era criança, ninguém vai te associar, mas ela...

- É por isso que ela quase nunca sai, eu não sei onde isso vai parar, mas... – Dico é interrompido pelo toque do celular de Lucio, era o Gus.

Após alguns segundos de conversa, Lucio diz: - Parece que esse dia de luto não vai acabar hoje

- O que houve?

- Parece que no enterro do Hugo, aquelas velhas disseram que fomos nós os assassinos, o Gus pediu para irmos a casa dele, sobe na moto! Vamos pra lá. Você tinha algo para esconder, deveria ter escondido, não deveria?

- Esconder o que?

- Você está louco, quem falou de esconder?

Dico balança a cabeça como se tivesse delirando: - Nada, viajei aqui.

Os dois subiram na moto e foram para a casa de Gus. No caminho Dico olhava a vila que cada vez mais se tornava insuportável e pensara “como um lugar desse consegue prender todos?”

VI – Mau presságio

“O quanto as escolhas podem te frustrar? As vezes nem foi o que a gente escolheu, mas o que apareceu, então devemos viver”

Dico e Lucio chegaram à casa de Gus, que estava em seu portão os aguardando.

- Maninhos, entrem aqui que o papo é sério – disse Gus

- Mas e sua mãe? Não vai reclamar?

- Ela foi ao mercado, só meu irmão que está no quarto

Os garotos entraram e foram à sala

- Bom, eu fui ao enterro do Hugo, o Feitosa também estava lá. A mãe do Hugo olhou para gente e gritou que fomos nós, cara foi uma vergonha enorme, minha mãe chorou e o Feitosa me disse que se possível hoje mesmo vai dar no pé daqui.

- Falando nisso cadê ele?

- Ele foi para casa com a mãe, eu disse que estaríamos aqui – a campainha tocou, era o Feitosa. Gus correu para abrir o portão.

- A questão é a seguinte – começou Feitosa – Dico, manda a real...

- Você quer saber se fui quem matou o Hugo?

- Não, quero os números da mega sena

- Palhaço! Gente, eu não matei ninguém, por que vocês estão desconfiados de mim?

- Bom, deixa eu ver. O Gus narrou a morte dele, de repente você vai “buscar” a Emma, ela aparece sozinha, você chega 20 minutos depois dela e quando a gente foi embora, olha só que engraçado, o Hugo estava morto e o mais interessante ele fora enforcado e teve seu pênis cortado, então Dico, se você quer saber o porquê dessa desconfiança, digo que não sei.

- Ele foi morto assim mesmo? – Perguntou Lucio – Parada errada essa!

- Parada errada? Parada sinistra

- Não fui eu! Porra, eu juro que não foi – Dico respira fundo – Preciso ir ao banheiro!

- Vai lá

Antes de ir ao abrir a porta para o outro cômodo, Dico voltou e disse:

- Vocês acham que realmente que fui eu, não é? Agora só faltam achar que eu entrarei no facebook dele e vou escrever “Oi gente, sou eu o Hugo que morreu, mas tava vivo só pra avisa que a próxima a morrer será a Dona Solange, quem mandou ela reclamar das bagunças na rua, vai toma paulada na cabeça”

- Dico...

- Porra é sério? – Dico não acreditava que seus amigos acreditaram nisso, ele foi ao banheiro.

- O que vocês acham – perguntou Gus

- Olha, não sei – respondeu Lucio – Nós ficamos muito tempo longe, mas o fato do cara voltar com a mãe dele do nada pra cá e esse segredo das pessoas não poderem saber e quem ele é filho é estranho, mas tem o lado que ele só confiou isso pra gente, então eu espero que não tenha sido ele.

- Gente, só falem mais baixo

Dico, abre a porta e diz: Eu to indo nessa, não tem cabimento essa situação

- Dico, espera!

- Fui.

Dico abre o portão e vai embora, os meninos acharam melhor deixa-lo sozinho. Dico caminhava e começou a pensar “Não fui eu, está certo que eu tive aquele apagão olhando para a igreja, que foi o que me atrasou, mas eu não sai dali da frente, por que minha disse que está lembrando de 15 anos atrás? Por que eu odeio tanto esse lugar? Bem idiota eu me perguntar, como se as respostas fossem surgir do nada, preciso de uma cerveja para tirar esse mau presságio”

Na casa do Gus, os meninos estavam conversando quando chega uma mensagem de Emma para o grupo “olhem o face do Hugo, agora!”

- Não pode ser – Lucio abriu o facebook, era a primeira notificação – Puta que pariu!

- É brincadeira não é?

- Veja vocês mesmo

“Oi gente, sou eu o Hugo que morreu, mas tava vivo só pra avisa que a próxima a morrer será a Dona Solange, quem mandou ela reclamar das bagunças na rua, vai toma paulada na cabeça”

- Mas foi exatamente o que ele...

- Não Dico, Não!

Pelo celular:

“Cadê o Dico?” Perguntou Emma

“Ele saiu daqui há uns 20 minutos, ele estava puto sobre nossa desconfiança”

“e porquê ele não responde aqui? Alguém liga pra ele”

“O Feitosa acabou de tentar, está na caixa postal”

“Vamos atrás dele”

Os meninos saíram atrás de Dico, eram 15hrs e a missa de sábado iria começar

- Há algum comentário na publicação? – Perguntou Gus

- Nada, esse povo está indo a missa de novo, ninguém vai olhar essa publicação até...

- Até que a missa acabe...

“TIM FEEHAN – Wheres the Fire”

Enquanto os garotos procuravam por Dico, Dona Solange uma senhora de 60 anos estava em sua casa terminando de se arrumar para ir a igreja.

- Ai meu Jesus, esqueci de tirar a roupa do varal, e se chover? Não deve ter problema, a chuva é abençoada pelo nosso senhor Jesus, amém.

Um barulho fora ouvido pela senhora que se assustou imediatamente, a velha andou até a sala e viu a porta escancarada. Ela caminhou até lá e encontrou Dona Teresa passando em frente a sua casa.

- Vai à missa, Teresa?

- Vou sim

- Espera que eu vou com você, só vou terminar de arrumar as coisas.

- Vai rápido mulher, não quero me atrasar!

Pela vila, Lucio voltou para pegar a moto e assim procurar mais rápido, mas a moto não funcionava “só pode ser brincadeira” Lucio olhou e a corrente da moto estava destruída

- O pessoal, venham dar uma olhada aqui – os garotos chegaram

- Meu Deus, será que foi o Dico?

- Porra, mas se fosse ele era só a gente ter ficado aqui, mas que merda está acontecendo?

“Conseguiram achar ele?” era Emma por mensagem

“Ainda não”

“Vão rápido”

Dona Solange fecha a porta da sala para terminar de se arrumar, chega ao seu quarto e olha para o retrato de Jesus que havia na parede. Ela agradece e abre uma gaveta em seu criado mudo para pegar seu terço, era uma cama de casal antiga, tudo naquela vila era antigo.

“Pronto, já peguei tudo, estou pronta para ir” Foi seu último pensamento. Uma paulada fora dada por trás.

Dona Solange cai já desfalecida em sua cama, e o que se podia ouvir do quarto eram apenas os barulhos de madeira quebrando ossos, os ossos do crânio de dona Solange, o Sangue espirrava e manchava todas as partes do quarto. A última paulada manchou o retrato de Jesus.

- Já sei – disse Gus – Como a gente é burro! Vamos para casa de Dona Solange

- Boa!

Os três correram em direção a casa de dona Solange. Na porta da casa da falecida velha senhora estava Teresa

- Solange! Vamos logo, nós estamos atrasadas! – Mas não havia resposta nenhuma, Teresa achou estranho e começou a bater na porta – Solange! Solange! – Nada de respostas.

Teresa então tenta abrir a porta e consegue, pois, estava destrancada. Entrou na casa e começou a chamar por sua amiga, sem nenhum sinal de vida, começou pela sala, foi ao banheiro, entrou na cozinha, olhou pela janela para a lavanderia e nada. “Onde essa mulher se meteu?” Ao olhar para trás viu a porta do quarto entre aberta e foi olhar lá.

Os garotos chegaram na porta da casa da Solange e o que eles escutaram não foi um grito de horror, foi um grito que até hoje ninguém sabe decifrar, um grito que arrepiara a todos os meninos.

- Devemos entrar?

- Que pergunta Gus – respondeu Feitosa já adentrando o local, os meninos foram juntos.

Ao entrarem no quarto viram dona Teresa em choque, logo em seguida olharam para o corpo em cima da cama. Gus foi o primeiro a vomitar

- Santa mãe de Deus – Lucio saiu do quarto.

Feitosa olhou fixamente e viu que o corpo de dona Solange estava segurando um terço na mão direita, o rapaz fez o sinal da cruz e saiu do quarto.

Lá fora, os três sentados e o pensamento era o mesmo “Dico”

VII - DESCONFIANÇA

A polícia chegou no local, os três garotos estavam sentados na calçada era por volta das 17hr

- Vocês de novo em uma cena de crime? – Perguntou o policial – Vamos ver o que vocês têm a falar dessa vez

- O que aconteceu, foi... – Feitosa foi interrompido na hora pelo policial

- Aqui não, na delegacia!

As pessoas da vila que estavam saindo da missa se aglomeravam ali e viam dona Teresa numa unidade de socorro e os meninos entrando na viatura e haviam alguns comentários como “eu falei que são eles, os satanistas” e outros como “ta acontecendo de novo” “depois que aquele menino estranho veio pra cá isso tudo começou a acontecer”

No outro canto da vila, Emma e Eduardo encontram Dico sentado na “pedra do desejo” essa pedra fica escondida no final da vila e poucas pessoas conhecem aquele local.

- É o Dico ali? – perguntou Eduardo

- É sim!

Emma e Eduardo se aproximaram de Dico que parecia estar em estado de transe

- Dico! – Gritou Eduardo – Acorda, vagabundo!

Dico desperta assustado

- Oi, tava viajando aqui nos pensamentos

- Nos pensamentos ou em uns assassinatos?

- Ah Du, vocês também não...

- Também não? Porra desceram a paulada na velha agora pouco e de novo você era o único que não tava, não atendeu celular, como é que fica?

- Fizeram o que?

- A dona Solange foi assassinada, Dico, com pauladas na cabeça – completou Emma – O Facebook do Hugo foi invadido e narrou a morte dela.

- Isso não pode ser verdade

- Não pode ser verdade? Dico, essa fita ta errada – falou Eduardo

- Gente, eu sai da casa do Gus, passei no Aloisio, peguei uma cerveja e vim pra cá, não fui eu, mas que porra...

- O Lucio mandou mensagem, eles estão indo pra delegacia...

- Puta que pariu! Vamos pra lá

Os três saíram da “pedra do desejo” e foram para a delegacia, no meio do caminho foram conversando sobre as coisas que estavam acontecendo, Dico estava realmente transtornado com tudo que estava acontecendo, porque quando Emma mostrou a mensagem escrita no perfil do Hugo no Facebook, era igual ao que ele disse na casa de Gus, era muita coincidência.

Na delegacia estavam sentados na frente do escrivão; Feitosa, Lucio e Gus. Eles estavam aguardando o sistema voltar para conseguirem prestar os depoimentos. A publicação de Hugo estava criando força e haviam vários comentários envolvendo “satanistas” “cultos” “fim do mundo” as pessoas realmente naquela vila ficaram atormentadas.

O delegado chamou os três garotos em sua sala...

- Muito bem, quero entender melhor o que os senhores estavam fazendo na casa da vitima

- Estávamos na casa do Gus – começou Feitosa – e quando saímos a moto do Lucio estava quebrada, parece que alguém fez isso, então saímos para procurar a pessoa quem fez isso.

- Concordam que é meio estranho, segundo assassinato e vocês estão lá de novo, fora que existem varias queixas de você de um tempo pra cá, sobre perturbação e até de cultos satânicos

- Senhor, a gente não faz nada demais, paramos pra entrar na casa, pois ouvimos um grito horrível de lá de dentro, a porta estava aberta, o que acha que faríamos? Antes não tivéssemos entrado, porquê a cena que vimos...

Gus se lembra e vomita no chão

- Que nojo – falou o delegado – Porra, se controla moleque! Santos! Chama alguém pra limpar essa merda!

Emma, Eduardo e Dico chegaram à porta da delegacia...

- Bom, é o seguinte, não nada que concretizem que vocês tem algo haver com esses dois crimes, essa vila ta uma loucura com a postagem da vitima de ontem falando da vitima de hoje, eu vou ficar bem de olho em vocês! Podem ir, mas ninguém sai dessa vila até acabar esse inquérito.

Os meninos saíram da delegacia e viram na frente os outros três

- E então, o que aconteceu? – Perguntou Emma

- Vamos andando – respondeu Lucio – Daqui a pouco a gente fala disso.

Os seis foram andando em direção a casa de Emma, todos estavam em silêncio ao dobrar uma esquina Dico foi falar alguma coisa, mas e surpreendido por Lucio o segurando pela gola da camiseta e o jogando contra parede.

- Seu arrombado! Nós quase fomos presos por sua causa, seu assassino de merda!

- Calma – Feitosa foi separar a briga

- Calma o caralho! Esse filho da puta fez a gente quase ir preso, a gente não pode sair da vila por causa dele! Por quê você não contou a verdade na delegacia!

- Eu não disse a verdade porquê não existe uma ainda, Dico, você matou a Solange? E toma muito cuidado com o que você vai falar, porque eu não defenderei nenhum assassino!

- Pessoal – Dico se recompunha – Eu não matei ninguém, eu entendo a desconfiança de vocês, eu também teria, mas eu juro por tudo que vocês mais acreditam não fui eu, eu preciso que vocês acreditem em mim!

- Sabe que é difícil né parça – era Eduardo quem falava – Bom, eu vou te dar um voto de confiança, mas bem pequeno, porque gosto de você, mas na próxima eu te entrego

- Todos nós meu, isso ta fugindo do controle – Emma ainda era incrédula nas coisas que estavam acontecendo – Olha Dico, se você fez isso você é um monstro!

- Você não acredita em mim, não é mesmo?

- Eu não sei em que ou no que acreditar, só não faça mais se foi você!

- Gus?

- Maninho, foi o que o Eduardo disse, se acontecer de novo a gente te entrega.

- O que eu posso provar que não fiz nada, querem ficar 24 horas ao meu lado para ver que não fiz nada?

- Amigão, aqui ninguém é baba de ninguém – Lucio quem dizia – Você é bem grandinho já, o recado ta dado.

Ao ficarem quietos todos olharam para o mesmo lado, à esquerda, e viram alguém de blusão e capuz.

- Ta olhando o que arrombado? – Lucio gritou, a pessoa virou as costas e saiu correndo – Vamos atrás desse filho da puta!

Os seis foram correr atrás, mas ao virar a outra esquina onde a pessoa entrou, já não havia ninguém.

- Como é possível?

Dico tem uma lembrança de quinta quando viu alguém muito parecido com a vestimenta daquela pessoa na rua, mas preferiu ficar quieto. Emma se recordara de seu sonho com alguém muito parecido também.

- Rapaziada, isso aqui ta ficando sinistro demais – Era Eduardo quem falava – Vamos embora que o ambiente aqui ta pesado e já está escurecendo, tenho que abrir a pizzaria.

- Vamos logo – Disse Dico, enquanto caminhavam ele olhou para trás e viu alguém apontando para o lado, e dizendo cuidado, Dico se perguntara mentalmente “Essa pessoa não me é estranho, ela está apontando para o Gus” em uma piscada a pessoa desapareceu “essa pessoa parece meu pai”

VIII – DESEJOS NÃO REALIZADOS

“As vezes precisamos desejar não o que queremos, mas sim o que necessitamos e muitas das vezes o que queremos não é necessidade”

Em frente a porta de Gus, estavam Emma, Lucio e o próprio. Eduardo havia ido para a pizzaria e Feitosa e Dico foram embora juntos.

- Se o Dico está matando essas pessoas, a gente tem que fazer alguma coisa – dizia Lucio – Olha minha moto como ficou!

- Calma maninho, você não sabe se foi ele mesmo

- Porra, é muita coincidência, como pode não ser ele?

- Não é estranho que ele tenha saído muito antes da gente, e quando saímos para procurar por ele a sua moto ficou assim?

- Ueh, ele ficou esperando e depois fez isso

- Mas ai que eu boto uma fé que não foi ele, não daria tempo de ele fazer tudo isso, ir lá matar a Solange e desaparecer

- Gente – Emma quem falava – Eu e o Eduardo o encontramos na “Pedra dos desejos” Ele estava estranho como se estivesse hipnotizado, sabe? Real, eu me assustei e quando perguntamos o que ele fazia ali, ele olhou com uma cara tão sincera e disse que queria que sua inocência sobre a morte de Hugo fosse provada

- É mas e a da Solange

- Quando contamos sobre esse assunto, ele parecia realmente não saber de nada, Lucio!

- A pedra dos desejos fica longe da casa da Solange, não daria tempo e ele chegar lá – Gus quem dissertava – E outra coisa que me faz dar um voto de confiança nele, as roupas dele estavam limpas, não é estranho que uma morte daquelas não tivesse espirrado sangue em suas roupas? Havia sangue até no quadro de Jesus...

- Que horror gente – Emma estava espantada

- Vamos parar de falar disso porquê o Gus vai vomitar!

Do outro lado da vila, estavam Dico e Feitosa chegando na residência de Dico

- Dico, toma cuidado cara, seus pensamentos as coisas que você está emanando estão acontecendo, não estou dizendo que é você, apesar das suas prosopopeias eu não acredito que você faria umas coisas dessas. Tem que entender que é muito estranho esse segredo que sua mãe e você escondem, tudo que está acontecendo

- Cara, eu não sei que segredo é esse, eu voltei pra cá contra minha vontade, minha mãe fala que é por causa do meu pai, e que a vila aqui não suportava nossa família, eu a abordo as vezes, mas ela nunca fala a verdade.

- Você precisa tomar atitudes cara, logo chegarão em você e eu espero que...

- Eu vi meu pai hoje – Dico atropelara a frase de Feitosa

- Que?

- Quando vimos aquela pessoa de blusa e fomos atrás, na volta quando eu olhei para trás e eu juro que vi meu pai me dizendo “cuidado” e apontando como se fosse para o Gus.

- Dico, presta atenção nas coisas que você ta falando! Você ta dizendo que Gus é o assassino? Você está louco?

- Não estou dizendo isso, nem sei se era para o Gus, podia ser a Emma que estava do lado, e se um deles forem o próximo, e se for um aviso?

- Cara, cadê sua mãe, vou falar com ela – Feitosa era meio risonho nesse sarcasmo.

- Ela não está, todo sábado essa hora ela sai e volta por volta da meia noite, a bichinha quase nunca sai também, deixa ela...

- Eu estava brincando, mas sério se cuida, e não faça nenhuma burrada!

- Pode deixar! – Dico entrou em sua casa

Feitosa então seguiu para sua casa.

Na porta da casa de Gus, os meninos ainda conversavam

- Já são 22hr gente, vou para casa – disse Emma

- O Gus, sua mamãe não vai te chamar pra dentro?

- Não cabecinha de esquilo! Minha mãe nem está em casa, ela saiu com meu irmão

- Parem vocês dois!

- Gus! – uma voz grossa – Entra!

Todos deram risada

- Minha mãe não está, mas meu pai sim – Gus estava encabulado

- Fica em paz, vamos embora!

Ao se levantarem todas as luzes da vila se apagaram

- Vixi!

Ascenderam novamente, se apagaram, e se ascenderam, se apagaram e se ascenderam

- Mas que merda é essa? – Perguntou Lucio

Na Pizzaria, Eduardo sente uma enorme energia pesada com esse apagar e ascender de luzes

- Porra é essa? Eu nem usei nada hoje, isso é muito sinistro

Feitosa andava pela para sua casa quando acontecera isso e em sua mente escutou o grito de Teresa mais uma vez “isso ta errado”

Dico estava em sua casa fumando um cigarro e a cada piscada via alguém em sua frente, uma piscada viu seu pai, na segunda Hugo e na terceira Solange. Os corpos eram deformados como as mortes que tiveram, seu pai estava queimado, Hugo enforcado com um pênis na boca e Solange com a cabeça amassada, e eles apontavam para a janela

- Que é isso? – Dico se assustou muito e saiu de sua casa correndo, ao chegar em seu quintal, as entidades ali estavam paradas “UM, DOIS, TRÊS” Dico sente uma energia pesadíssima e cai desacordado. Assim como Emma, Lucio, Gus, Eduardo e Feitosa

Numa casa um pouco distante ainda na vila escutava-se um velho rezando “Senhor, proteja os assim como me protegeu durante todo esse tempo, eles precisam acabar com isso” A chuva começou forte com raios que clareavam como se fosse dia, as luzes acabaram.

O velho olhou para sua vela e ela se apagou, um raio clareou sua casa e atrás dele havia alguém de blusa e capuz e por trás mais sete entidades encapuzadas de túnica.

- Demorou, mas chegou sua hora! Moutinho – Antes que o velho pudesse fazer algo além de arregalar os olhos, a pessoa de blusa o agarrou e tudo ficou escuro.

Em São Paulo...

- Alô?

- Dênis?

- Fala tio

- Preciso que venha aqui para vila

- Fazer o que nesse fim de mundo?

- Estamos com problemas, sua mãe está morrendo

- O que?

- Venha logo...

O Telefone desligou, as luzes do quarto de motel que estava apagaram, piscaram “UM, DOIS, TRÊS” e antes que pudesse terminar seu pensamento “O que meu tio Monti...” desacordou.

IX - DESPERTAR

“O quanto é necessário para que acordemos para a vida e deixemos toda a fantasia dela para trás? A realidade é mascarada entre histórias não vividas.

Eduardo acordou em sua cama, ao abrir os olhos pensou “Eu não estava na pizzaria? Não usei nada ontem”. Se levantou e foi até a cozinha, olhou fixamente para o armário e teve flashs de uma noite chuvosa e algumas falhas de energia elétrica “não eu realmente não usei nada, eu não deveria é estar aqui”. Pegou o celular e mandou uma mensagem no grupo.

“Pessoal, estão todos bem?” A notificação de mensagem acordou Gus.

Gus estava em sua cama, leu a mensagem de Eduardo e respondeu “Por aqui, tudo na paz”. Mas Gus sabia que não estava tudo na paz, afinal e não se lembrava de como fora parar na cama.

- Bom dia, neném

- Mãe? Que horas são?

- 8:30h, acordou cedo para um domingo, também indo dormir as 22hrs

- Sério?

- Cheguei e você já estava capotado na cama.

- Nossa, eu não me lembro

- Bebeu de novo com aqueles flagelos? Já te disse que não quero você andando com...

- Não mãe! Eu não bebi, eu estava aqui na porta de casa, só não lembro de ter vindo dormir

- Sei! Bom, o café ta na mesa, levanta e vai comer, meu gordinho!

- Eu não sou gordo mãe! Olha aqui meus músculos!

Assim, Emma, Lucio e Feitosa também despertaram e responderam que estava tudo bem, mas o que eles não sabiam é que todos eles haviam desmaiados na noite anterior, entre conversas quem tocou no assunto foi Lucio: “Mas gente eu estava na porta da casa do Gus e acordei aqui em casa, alguém lembra o que houve?” Uma chuva de mensagem começou no grupo com todos concordando e se questionando, até que Emma perguntou: “E o Dico, ele ainda não respondeu”

“Pessoal, acho que vocês vão querer saber dessa notícia” Quem escrevia era Feitosa “O Seu Montinho acabou de ser encontrado morto em sua casa”

“Ta de brincadeira, Cadê o Dico?” Lucio perguntava

Na casa do velho Montinho estavam as duas viaturas estacionadas e uma unidade do IML.

- Acha que aqueles jovens tem algo a ver com esse assassinato, senhor?

- Pra falar a verdade, eu acredito que nem dos outros dois eles tenham envolvimento

- Ta falando sério?

- O que eu vou falar é meio que sem sentido, mas há 15 anos acontecera algo parecido aqui na vila, seis pessoas foram mortas, todas de idades distintas, sem ligação. Existia um homem que era acusado de bruxaria aqui na vila, não me lembro o nome dele. Bom a vila o acusou e como na era medieval, queimaram o homem, sua esposa e seu filho.

- Meu deus!

- Eu tinha vinte anos na época, tinha acabado de entrar na polícia, não conseguimos controlar essas pessoas que são devotas a Deus, mas eu agora tenho certeza, aquele homem era inocente.

Dico acorda em sua cama, pega o celular e vê que está de novo sem bateria, põe o aparelho para carregar e vai até o banheiro e se da conta “espera, o que aconteceu ontem, foi sonho?” Meio atormentado abre o armário de pega sua escova de dentes, ao fechar vê um rosto desfigurado “Vai besta” disse a aparição. Dico se assusta e grita “Caralho”

- Filho, você está bem? O que houve?

- Nada mãe, só me assustei

- Fica fazendo essas merdas, depois fica vendo espirito no banheiro!

- Mãe

- O que foi?

- Eu não disse que tinha visto espirito...

- É – Mariana meio que titubeou – Mas está na cara que viu uma assombração

- Se a senhora estiver escondendo algo de mim...

- Para com essas paranoias moleque, eu hein!

- Então porquê, você não me conta sobre nada? Por que voltamos? Como foi que o meu pai morreu? Por que ninguém pode saber que voltamos? O que está acontecendo?

- Não está acontecendo nada! Eu já disse que São Paulo estava fazendo mal para você! Quer saber por quê ninguém pode saber que estamos aqui? É porquê seu pai foi assassinado! E se souberem que voltamos, você será morto!

- O que? Que história é essa?

- É isso mesmo, você não queria saber, tá dito, deixa alguém saber que você é filho de Marcos, logo todas essas mortes serão atreladas a você e ai eu quero ver.

- Então, porquê voltar pra cá? Vamos embora dessa merda!

- Filho, aguenta essa semana, por favor, semana que vem juro que vamos - “Dico!” era um grito na porta da casa – Já não falei pra avisa-los que não gritem aqui! Vai logo atender.

Dico abre a porta e estavam lá os cinco amigos

- Precisamos conversar! – Disse Gus

- Já vou

- Vai logo arrombado! – Gritou Lucio

- Filho está tudo bem aí?

- Está sim mãe! – Dico olhou para os outros – Espera eu pegar minhas coisas!

Dico entrou e pegou sua carteira e seu celular: - Mãe! Eu já volto! – Dico fechou a porta e se juntou aos outros cinco.

Começaram a andar e Eduardo já abordou em sequência: - Antes de qualquer presta atenção que a gente pode te dar, você tem cinco minutos para falar o que você fez ontem

- Ontem? Mas o que houve?

- O tempo ta correndo sangue bom

- Eu voltei com o Feitosa, entrei em casa tomei uma breja e depois...

- Depois o que?

- Eu não me lembro, mas acordei hoje na minha cama – Dico começa a ter flashs da noite, onde via os três espíritos, os apagões, parecia que estava lá de novo...

“Dico, Dico, Dico!!!!!!!” Dico despertou: - Eu vi meu pai, Hugo e Dona Solange, eu sai correndo conforme as luzes piscavam, eu cai no quintal

- Ele desmaiou igual a todos nós, não foi ele, eu disse! – Comentou Feitosa

- Não fui eu o que? De novo?

- Seu Montinho está morto – Falou Emma

- Como assim?

- Ele morreu ontem a noite, nessa mesma hora em que desmaiamos

- Como assim desmaiamos? Vocês também viram os espíritos?

- Não, mas eu me lembro de ter escutado algo como “UM, DOIS, TRÊS” – Disse Gus

Todos olharam e responderam ao mesmo tempo “Eu também”

Os garotos caminhavam ao bar de Aloisio, o estresse estava alto entre eles, entre a desconfiança que cercava à Dico e o despertar do que realmente poderia estar acontecendo, mas o que estaria acontecendo? Existia mesmo uma maldição naquele lugar? Era tudo coincidência? Dico era mesmo o assassino? Todos se perguntavam naquele momento o que diabos havia naquele lugar, talvez fosse mesmo o próprio diabo que estivesse ali.

X – COISAS ESTRANHAS

“Quando perdemos o controle entre o passado e o futuro, coisas estranhas começam a acontecer. Como sentir falta de uma vida que nunca foi sua”

Os meninos chegaram ao bar do Aloisio, pegaram suas cervejas e foram para o seu local que sempre estava vazio, provavelmente as pessoas não gostam daquele lugar pelo fato dos meninos do “culto” ficarem ali. Ao abrirem as primeiras garrafas, fizeram um brinde bem baixinho “Que tudo se resolva”.

Leandro estava com mais alguns amigos e viu a cena

- Vou pilhar aqueles filhos da puta!

- Leandro, deixa disso, os caras mexem com magia negra! Fiquei sabendo que um deles tem o livro de São Cipriano em casa

- Quero que se foda! – Leandro levantou e foi em direção aonde estavam os garotos – Como estão meus amigos? Brindando a morte do seu Montinho?

- Leandro, isso não é hora pra brincadeiras desse tipo!

- Até você Eduardo, o que te fez entrar nessa? Foi pra ganhar mais dinheiro pra pizzaria?

- Cala a boca Leandro

- E você Emma? Entrou para que? Pra ser a mais desejada? Pra pagar as groselhas que você...?

- Mano, para!

- Olha só, Dico! O mestre da depressão, o senhor das trevas, o cara que perdeu a irmã dessa ai para um velho de 40 anos, talvez você seja O ASSASSINO!

- Sangue bom, da uma olhada aqui – Leandro olhou e só viu o punho de Lucio acertando sua cara. A Briga começou e os três amigos de Leandro se levantaram para ajuda-lo, as pessoas se afastaram e o bar virou verdadeiramente um ring. Aloisio foi tentar apartar a briga e levou uma de direita no maxilar de um dos amigos de Leandro.

Um dos meninos estava de frente com Gus: - Bora dançar gordinho!

Gus se enfureceu: - Eu não sou gordo! Olha aqui meus músculos! Hahaha, esse aqui é irmão desse! – Gus então pula em cima do rapaz e começam a brigar no chão

Aloisio olhou e disse: - Amigão, você tem que parar de arrumar essas confusão – E deu uma cabeçada na cara do moleque.

Eduardo estava possesso quebrou uma das garrafas e iria fincar na cara de Leandro, uma mão o segurou firme, era Dico: - Não faz isso!

Leandro se levanta e antes de voltar é impedido por um rapaz que acabara de chegar no local, Aloisio tira Gus de cima do outro.

- Que porra é essa! Esse aqui é meu bar e se alguém vai brigar, vai ser comigo seus cabeça gorda! Eu quero todo mundo fora do meu bar, agora!

Os meninos foram se recompondo, o rapaz que segurou Leandro, fora até Aloisio fez uma pergunta e o que ouviram foi só a resposta de Aloisio: - Mas não é possível que só tem confusão aqui!

Dico ao ouvir foi até eles.

- Está tudo bem?

- Ta tudo ótimo, Dico, vai embora daqui!

- Então tá bem

- Dico? – O Rapaz quem perguntava

- Eu

- Não se lembra de mim?

Dico olhou fixamente, no fundo sabia que não lembrava, mas mesmo assim disse: - mais ou menos...

- Sou eu Denis

- Denis, lembro de um Denis quando eu era pequeno

- Sou eu mesmo, neto do seu Montinho, vim pra cá porquê ele me ligou ontem dizendo que minha mãe não estava bem...

- Eita...

- O que houve, o que aconteceu?

- Não quero estragar o reencontro de ninguém, mas vocês podem conversar em outro lugar? Chega dessas coisas estranhas aqui no meu bar.

- Ta bom – disse Dico – Denis, bora ali com a gente

Ao ver Denis se aproximar dos garotos, Leandro indo embora disse: - Recrutaram mais um pro culto, seus malditos!

Eduardo armou a mão de novo, mas o Gus o segurou: - Chega, já foi demais por hoje – Eduardo abaixa a mão, mesmo contra sua vontade.

Ao saírem do bar foram para perto da casa de Emma que era a mais próxima. Dico apresentou Denis, que era um garoto que brincava com todos na época de criança, todos se lembravam, um dos outros.

- Eu sai daqui para morar com meu pai aos 5 anos – Dizia Dênis – Só voltei para esse lugar, porquê meu Tio Avô, o Montinho me ligou ontem dizendo que minha mãe estava morrendo

- Parça – Quem dizia era Eduardo – Não é querendo ser portador de notícia ruim, mas não foi a sua mãe que faleceu.

- Como assim?

- Olha, o que o Eduardo está querendo dizer é que quem morreu ontem foi seu tio avô – era Emma quem falava.

- Mas que horas?

- Dizem que foi por volta das 21:15 – respondeu Feitosa – Eu passei pelo local e escutei um dos policias falando.

- Mas isso está um tanto errado

- Por que?

- Ele me ligou as 22:15

- Às vezes os policiais se enganaram

- Ou as vezes somos nós que estamos nos enganando – Disse Dico – Nada está fazendo sentido aqui, o seu Montinho me disse daquela maldição, e nada me tira da cabeça que isso tem muito haver

- Pelo amor de Deus, Dico!

- Olha, eu não estou entendendo nada – respondeu Dênis

- Vamos tentar explicar, mas tem que entender que muitas coisas estranhas estão acontecendo – disse Lucio – Então aguenta.

Começaram a explicar tudo que estava acontecendo desde a brincadeira no bar na quinta-feira até o presente momento daquele domingo, claro que era difícil Denis acreditar em tudo que estava ouvindo, afinal de contas tudo levava a crer que fora Dico, o assassino.

- Bom, levando pelo lado racional das coisas, estamos diante do homem que matou essas pessoas, inclusive meu tio

- A grosso modo sim, mas não foi ele – Disse Feitosa

- Como não?

- Ontem, eu encontrei Dico desmaiado em seu quintal e o levei para seu quarto

Todos olharam de rabo de olho

- Que? – perguntou Gus – Mas você não disse que...

- Eu sei o que eu disse, mas a verdade é que não desmaiei...

- Bom, eu não sei o que está acontecendo aqui, eu senti algo muito ruim quando cheguei nessa vila, e com razão, agora preciso ir ver minha mãe e saber o que está acontecendo.

Denis entra em seu carro e vai embora...

- Acha que ele acreditou? – perguntou Gus

- Eu espero que sim, se não seremos presos – respondeu Eduardo

Ao andarem Dico pergunta baixinho pra Feitosa: - Porquê mentiu dizendo que me levou pra casa?

- Ou era isso, ou ver o cara te encher de porrada antes de denunciar a gente

- Faz sentido.

Os garotos deixaram Emma em casa e foram para a casa de Gus.

XI - HERANÇAS

“Quantas coisas nos perguntamos o porquê de acontecer conosco, será alguma herança deixada por alguém que as vezes nem conhecemos?”

Os garotos estavam na porta de Gus, conversando sobre os acontecimentos. De certa forma aquilo os cansava, imaginar três dias de assassinatos, delegacia, culpa, mistério...

- Porra, a gente podia falar de outro assunto não? – Quem perguntara era Eduardo

- Tem que entender que é difícil a gente falar de outra coisa, quando tem gente morrendo onde moramos – respondeu Gus

- Gus! – lá de dentro Félix o chamava – A mamãe mandou você entrar...

- Ih, Gus – Falava baixinho, Lucio – Sei não seu irmão hein.

- Ta querendo dizer o que com isso, baixinho?

- Acho que ele ta querendo dizer que teu irmão coça a barriga de outros homens com as costas – respondeu Dico

- Cala á boca aí assassino que ninguém ta falando com você

- Gente, quanta agressividade...

- Vou entrar, amanhã é segunda-feira e vamos ver se tenhamos um dia normal!

Despediram-se, Eduardo e Lúcio foram para um lado e Dico e Feitosa para outro.

O tempo passou e já era 23hrs quando Gus escuta de novo em seu quintal o mesmo barulho de antes “que porra é essa?” Gus se levanta e vai até o quarto de Félix para perguntar se ele havia ouvido o barulho, mas para sua surpresa, Félix não estava na cama.

- Félix? – Gus olha para a janela e vê um vulto pulando o muro.

Gus, então pula a janela e tenta seguir o vulto, ao conseguir pular o muro para o terreno ao lado, uma pessoa é avistada por ele trajando um blusão de capuz “Não pode ser” pensou Gus.

Dico e Feitosa estavam na pedra dos desejos

“PINK TURNS BLUE – PRESSURIZED”

- Feitosa, a gente se conhece há uns 15 anos?

- Mais ou menos isso, por quê? Quer resolver algumas coisas do passado? – os dois riram

- Não, isso a gente deixa pra outra oportunidade, mas com tudo que tem acontecido. Me sinto muito pressionado

- Cara, não se sinta assim, sabemos que não foi você que matou essas pessoas, ou pelo menos acreditamos que não – singelo sorriso

-Não é só isso, e eu tenho a certeza de que não fui eu. São as coisas da minha família, minha mãe cheia de segredos sobre meu pai, a questão do incêndio.

-Já tentou conversar?

- Não, Feitosa – Dico era sarcástico – É claro que sim, e parece que ela sabe mais do que fala e se realmente eu tiver alguma herança maldita, ou nós...

- Como assim nós?

- Por que depois de tantos anos voltamos pra cá? Lembra quando em São Paulo nós conversávamos sobre o que sentíamos que parecia que esse lugar nos chamava?

- Nossa, isso você desenterrou, mas eu lembro bem...

- Pois é, não vejo como saudades isso e sim como um mal presságio

- Você está se pressionando, Dico – Feitosa dava um trago em seu cigarro especial e passava ao Dico

- Sei lá, as vezes eu me sinto a procura de uma alma na ausência da minha – um trago forte – Uma memória desesperada de toda felicidade que procuro, mas eu sinto o que nos espera, são coisas terrivelmente perturbadas, quão excitante pode ser a vida que levamos?

- Cara, você tem que maneirar nesse cigarro – Feitosa tossia e ria – Já disse que as vezes você brinca com coisas muitas sérias e que tem a ver com os outros, você entra na mente dos outros como se fosse algo natural, e isso mexe com eles.

- A verdade é que eu não consigo mais parar com isso, e olha quantos problemas me trouxe...

- Mas por que então você faz?

- Diversão, tédio, falta de ter alguém.

- Dico, tem pessoas morrendo e acreditando realmente nessa história, você precisa parar! – O Celular de Feitosa tocou, era Lucio.

- Feitosa, você está com o Dico

- To sim!

- Abre o facebook ai no perfil do Hugo

- Não pode ser – Feitosa via a marcação Leandro Fontes.

- O que aconteceu? – perguntou Dico, olhando para o celular de Feitosa – Meu Deus!

- Vamos pra lá, agora! – Feitosa desligou o celular – É muita prepotência e é mórbido narrar há morte de alguém e deixar que os outros leiam isso antes de acontecer, não é?

Os dois vão em direção a casa de Leandro...

Gus tentava de forma afastada seguir a pessoa de blusão, que se movimentava muito rápido, como deixara seu celular no silencio para seguir a entidade, ele não sabia nada do que estava acontecendo. Próximo à casa de Leandro a entidade desapareceu de sua vista!

- Mas que como? Cadê?

Dentro da casa de Leandro, o rapaz estava com sua arma carregada e com o celular.

“Acham que vão me matar seus satanistas? Podem vir!”

Eduardo e Lucio iam de um lado para a casa de Leandro e do outro iam Dico e Feitosa do outro.

- Emma! – falava Lucio no celular – Vai acontecer de novo! É o Leandro

- Meu Deus, precisamos chamar a polícia!

- Pode chamar! Mas não venha pra cá!

- Não precisa nem falar, vocês também não têm que ir lá!

- Já estamos a caminho!

Gus na porta da casa de Leandro, escuta um disparo vindo de dentro...

XII – VERDADE OU SUICIDIO?

“O quanto um assassinato pode ser encarado desta forma quando alguém já está morto por dentro em vida?

- E agora entro ou não entro? – Se perguntava Gus

- Acho melhor – a voz era de Dênis

- Dênis, o que você está fazendo aqui?

- Em que mundo você acha que eu não saberia de toda a história que está acontecendo? – O rapaz puxou da arma.

- Você está armado?

- Eu sou policial

- Ta de brincadeira?

- Fica aqui, eu vou entrar e ver o que está havendo – Denis adentrou a casa.

Feitosa e Dico estavam chegando e avistaram Gus na porta da casa de Leandro

- Gus! O que está fazendo aqui?

- Galera, teve tiro lá dentro. Denis chegou aqui e entrou para ver o que está acontecendo

- Denis?

- Sim, o rapaz que encontramos mais cedo no bar, ele é policial – Outro disparo.

- Vamos!

- Mas ele pediu para não entrar!

- E você acha que vamos ficar esperando aqui?

- Olha Feitosa, se o Gus falou, acho melhor ficar aqui mesmo, e outra é perigoso deixar o menino aqui sozinho

- Muito corajoso você hein, Dico!

- É, e outra se der errado lá dentro como eu acho que vai dar, quem vai continuar as ações aqui?

- Dico, Dico! Não é possível, do que você está falando?

- Não sei! Alguém de deu um cigarro recheado de Hash! Não sei nem o que to fazendo aqui, que por mim eu taria comendo uma pizza lá no Du.

- Feitosa, apesar do Dico ser um calhorda, depressivo, mau caráter, desiludido, desempregado...

- Ei, aqui eu ainda não estou desempregado!

- Ah, verdade. Então, acho melhor escuta-lo e não entrar!

- Bom, eu não vou deixar ninguém morrer! Não desta vez!

- Falou o herói – Sussurou Dico

- Oi?

- Nada Feitosa, Vamos entrar nessa merda! To doido pra me foder mais ainda.

- Eu também vou!

- Não Gus, você fica ai caso aconteça algo!

Dico e Feitosa então entraram na residência. Ao entrarem estavam as luzes piscando e muitas das coisas na sala reviradas, Feitosa fez sinal para Dico ficar em silencio e esse segurou uma gargalhada. Dico passou para entrar na cozinha e viu uma lata de atum

- Cara, a quanto tempo que eu não como uma dessa...

- Pelo amor de Deus! Está tendo um assassinato aqui!

- Mas eu to com fome! – Estrondo vindo do cômodo de cima, Feitosa pegou uma faca.

Os meninos então começaram a subir a escada, e estava muito estranho pois tirando o barulho, a casa estava em silêncio absoluto

- Feitosa, aqui não está muito quieto pra estar acontecendo o que está?

- Tá estranho, Ali, o barulho veio daquele cômodo, vamos lá

- Eu não gosto disso, se aquele puto do Lúcio vir com aquela história que fui eu...

- Olha ali, caralho! É o Leandro

Leandro estava encostado no pé da cama com um ferimento de faca na barriga

- Mas não foi tiro? Sabe o que será engraçado Feitosa? Você explicar porquê está com essa faca na mão e ele ferido com uma faca – Uma mão no ombro de Dico – Ahhhhh

- Cala a boca! – Denis é quem estava lá – O que vocês fazem aqui? Eu Falei pro gordinho lá fora que não era pra entrar!

- Ele não é gordo! Ele é forte!

- Dico, fica quieto, por favor! Denis, nós entramos porquê ficamos preocupados, estão acontecendo algumas coisas estranhas por aqui

- Estou sabendo por cima, o assassino parece não estar mais por aqui, vamos lá para fora aguardar chegarem as viaturas

- A viatura você quer dizer, não é? Cadê o Dico?

Dico estava descendo as escadas indo para a cozinha “Eu vou comer aquele atum e foda-se” Ao adentrar na cozinha Dico viu uma pessoa de blusa azul e capuz mexendo perto da lata.

- Ou! Não mexe na minha lata de atum! – A pessoa virou, o rosto era escuro, mas Dico viu alguma semelhança com alguém que a conhecia – Espera, eu te conheço! – A pessoa estava com uma faca na mão e correu para atacar Dico. Denis e Feitosa escutaram e desceram rapidamente.

Dico tentava segurar o ataque e enquanto tentava se defender pensava “Feitosa, filho da puta, se eu tivesse ficado lá fora eu estaria suave, nunca mais fumo Hash na minha vida” Uma facada resvalou em seu ombro. Denis viu e atirou, pena que tropeçou na escada e errou o tiro, mas mesmo assim fez a pessoa largar Dico e correr de volta para a cozinha, passou pelo armário e pegou algo e pulou a janela.

- Dico, você está bem?

- To sim Feitosa, pegou de raspão

Denis entrou na cozinha e a pessoa já havia saído, Feitosa e Dico chegaram também: - Desgraçado, levou minha lata de atum!

- Dico, qual o seu problema?

- O meu? Eu estou chapado, esfaqueado e com fome, qual é o seu problema em não querer ter esperado lá fora?

- Chega vocês dois, toma esse pano e pressiona até chegaram as viaturas, que por sinal já eram pra ter chegado...

Lá fora, Eduardo e Lúcio chegaram e viram Gus...

- O que está acontecendo Gus, o que está fazendo aqui? Cadê os outros?

- O Feitosa e o Dico foram atrás do Denis para tentar ajudar a impedir a morte do Leandro!

- Conseguiram?

- Não sei Lúcio, tenho duas bolas, mas nenhuma delas é de cristal

- Está estressado? Vai toma no seu cu!

Gus estava apavorado pois vira que a pessoa de blusa azul já havia saído do local, mas nada fez porquê estava em choque de quem poderia ser. As sirenes começaram a serem ouvidas cada vez mais de perto e de dentro da casa saíram os três...

- E ai gente, o que aconteceu?

- Aconteceu o que está sempre acontecendo, gente morrendo, eu...

- O que o Dico quer dizer é que o Leandro está morto

- Foi tiro mesmo?

- Não Gus, o primeiro disparo foi tentativa de se proteger, e o segundo foi meu, mas aquela coisa fugiu

- Aquela coisa? Como assim?

- Enquanto aquilo atacava o Dico, eu vi algo sobrenatural ali e até tropecei na escada

- Caralho parça! – Eduardo estava um pouco incrédulo

- Se eu não estivesse tão chapado, eu diria que conhecia essa coisa – quem afirmava era Dico.

- A policia chegou, daqui pra frente deixem comigo...

A viatura chegou, do carro desceram os dois policiais

- Todo mundo na parede! Vocês estão presos!

- Freitas, sou eu o Denis, nós...

- Foda-se! Aqui você não é polícia, larga essa arma agora! – Denis largou

Enquanto os seis estavam no muro sendo algemados, Lucio disse: - Que bela forma de resolver tudo, hein amigão.

- Ai ai, meu braço – Dico estava sendo algemado.

- Que porra essa no seu braço?

- Ele foi esfaqueado, Freitas! Pelo assassino de verdade

- Seu nome é Freitas? – Dico é quem perguntava

- É sim, Tenente Freitas, por quê?

- É que faz um tempo que está acontecendo tudo isso, e só agora que ouvimos seu nome

- Cala á boca! – Gus abaixava a cabeça.

- Vocês todos terão muito a explicar!

- Tenente? – Era o outro policial

- Fala!

- A vítima lá dentro ainda está viva...

XIII – CERTEZAS

“O quanto nós preferimos a convicção? É melhor a convicção da derrota, ou a dúvida da vitória?”

Na delegacia...

- Quero muito saber o que os senhores faziam DE NOVO na cena de um crime. Sério, o que passa na cabeça de você? – Os garotos tentavam se explicar, e só se ouvia barulho – Calem a Boca! Um só vai falar!

- Quem de nós fala? – Perguntou Gus

- Eu falo

- Não, eu falo

- Espera, quem vai falar sou eu!

Novo burburinho, Freitas estava possesso com aqueles garotos, no fundo ele sabia que não eram eles, mas era obrigado a tomar essa atitude, por tanta inconsequência deles.

- Chega! Vai todo mundo pra cela, até vocês se acalmarem!

Os meninos foram levados a cela...

- Olha só, parabéns! Estamos presos, que maravilha – Quem falava era Dênis

- Ah, ai está dizendo o cara que disse que tinha um plano – Lucio retrucou

- Eu sou policial seu zé, se vocês não tivessem aparecido, nada disso teria acontecido...

- De que vai adiantar agora reclamar gente? – Gus quem falava – A merda agora já ta feito, e minha mãe vai me dar um pau.

- Calma gente! A Emma vai nos ajudar – Disse Dico tocando no curativo em seu braço

- Você ainda está lesado de Hash não é?

- To falando, ela não estaria na história a esmo...

Bar do Rael...

- Uhul, churrasquinho! Amo!

- E ai Emma, cadê os meninos estranhos que você anda?

- Sei lá, eles vivem se metendo em confusão

- Fiquei sabendo que eles acabaram de ser presos

- Doidera né meu? Real...

Na Delegacia...

- Vai ajudar sim, Dico. Confia...

- Então vocês é que são os escolhidos dessa vez? – uma voz soou do fundo da cela

- Oxi, tem mais gente aqui? – Perguntou Eduardo – Ei eu te conheço, você não é o Big Richard, o carteiro aqui da vila?

- Olha, é ele mesmo – todos concordaram

- Vocês todos estão amaldiçoados – a voz de Big Richard estava lesa

- Tão vendo? O Montinho falou a mesma coisa! – Dico esbravejou

- Você não está vendo que ele está bêbado, Dico?

- Eu estou bêbado, mas sei o que estou falando...

- Eu já ouvi demais – Lucio não aguentava mais – Me tira daqui!

- Calem a boca, seus moleques aloprados! E se quiserem sair com vida dessa, é melhor me escutarem.

- Acho melhor a gente sentar – sussurrou Dico para Feitosa. E assim fizeram.

- Essa história começa há uns anos, eu tinha mais ou menos a idade vocês quando aconteceu. A vila sempre foi religiosa, e até demais, porém em meados dessa época surgiu um culto em paralelo o que não agradou o pessoal aqui. As pessoas que seguiam esse culto eram hostilizadas e tratadas como adoradores do diabo...

- Isso soa familiar?

- Fica quieto, não interrompa o homem...

- Bom, o problema é que provavelmente eles eram, pessoas começaram a morrer assassinadas e sem motivo aparente, é claro que a culpa caiu toda em cima desse culto. Esse culto tinha sete famílias envolvidas...

- É, mas nós somos seis

- Tem certeza?

- Emma...

- Por que vocês acham que não conseguem mais sair daqui? Por quê quem de vocês saiu, voltou e sem explicação aparente? Vocês carregam a maldição do que não foi concretizado na última tentativa

- Como assim Big Richard?

- Nós seremos os próximos a morrer?

- Se vocês tivessem sorte sim, mas o destino de vocês é muito pior...

- Para de falar groselha seu velho!

- Groselha? – Big Richard se aproximou e todos viram sua face, um olho estava cortado – Ao final dessa madrugada, vocês dirão o que é groselha...

- Tá e como você sabe de tudo isso? – A luz piscou enquanto Feitosa fazia a pergunta

- Vocês estão soltos! – Freitas estava abrindo a porta da cela – Acabaram de encontrar o carteiro assassinado

- Mas ele está aqui

- Vocês usam drogas demais, sabiam? Eu devia manter vocês presos aqui por isso

- Mas é verdade – os garotos olharam e não havia ninguém na cela além deles.

- Se eu ver vocês na rua, eu mesmo mato vocês

- Desculpa a pergunta, mas como foi que ele foi morto? – perguntou Dênis

- Uma facada no olho esquerdo e pendurado num gancho

Os garotos arregalaram os olhos...

- O que foi? Parecem até que viram um fantasma. Saiam daqui e lembre-se! Pra casa! – Os garotos viraram as costas indo embora e Freitas sussurrou para si – Se estiver se desenhando o que eu acho que está, tenho dó do que vai ser queimado vivo.

XIV – O Começo do fim

“Quantas coisas começamos e não terminamos por vários motivos, dentre eles o medo, a insegurança, a dúvida. Será que é tão difícil assim terminar um ciclo?”

Assim que os meninos saíram da delegacia, olharam em volta, a vila não parecia mais a mesma. A vila estava deserta, com marcas de abandono seculares.

- Tem certeza que essa é a vila que a gente mora? – Perguntou Eduardo.

- Alguma coisa errada não está certa, olhem os celulares – Feitoza quem falava – Estão todos sem sinal também? – Todos concordaram.

Começaram a andar pela vila, uma pequena nevoa pairava sobre, e não havia ninguém nas ruas.

- Vamos voltar para a delegacia? – Lucio estava um tanto assustado.

- O Freitas foi bem claro, vamos para casa e dormir, eu já estou cansado disso – Dico, estava transparecendo uma fadiga imensa. Guz percebeu e um pensamento veio em sua cabeça “Logo você terá que libertar a gente, Dico. E você precisa conseguir”

- Guz? Guz?

- Oi gente, nossa viajei aqui, perdão.

- Tá doidão é?

- Toma no seu cu, Lucio.

Ao andarem mais um pouco viram uma mensagem escrita a sangue na parede “Ser sincero com você mesmo ajudará você a sair disso”

- Essa mensagem está escrita com sangue – Denis, chegou perto e tocou – E é sangue fresco!

- Você decifrou isso tendo que tocar na parede ou vendo o corpo da irmã da Emma ali pendurado? – Eduardo tinha um pouco de deboche em sua fala – Dico, sorte que está aqui com a gente.

- É – Dico deixou escapar um sorriso, e logo ficou sério de novo – Triste perda.

- Seu arrombado! A mina ta pendurada ali, morta, com um gancho fincado na cabeça, suspendendo ela, e você não está nem ai? - Lucio estava possesso de raiva mais uma vez – Você sabe o que é ter empatia, Dico?

- Sei, sim e você que que eu faça o que? Que eu diga que eu sinto muito? Eu não sinto tá bom? Talvez essa fosse a única morte que queria, é isso mesmo. Todo mundo tem o direito de errar, e eu errei, tá bom? Feliz?

- Só lamento por você

- Ah pro inferno! – Dico começou a andar

- Dico, espera! – Guz correu atrás dele – Espera, ta louco?

O sino da igreja começou a tocar...

- Mas que porra é essa? – Feitoza mal conseguia enxergar a torre da igreja

- Deixa eu adivinhar, a gente vai pra lá

- Melhor seguir aquele filho da puta! – Denis sacou sua arma e começou a correr em direção ao encapuzado de blusa – Espera! – um disparo.

- Corre, corre!

Os garotos corriam atrás da entidade a perseguição era intensa, eles nem viam como a vila estava, e nem percebiam o cheiro de putrefação que ficava mais forte ao se aproximarem da igreja.

- Guz, eu não aguento mais isso, Isso está me consumindo demais, parece que esses três dias aqui vem sendo meses.

- Calma! Dico, falta pouco! A gente vai conseguir – Outro disparo de Denis.

- Dico, se lembra da nossa conversa ontem? – Feitoza perguntava ofegante de tanto correr.

- Lembro!

- Não esquece dela no final, tá?

- Mas por que...

A entidade parou, estava em frente a igreja. Denis sacou sua pistola e foi atirar, mas as balas acabaram: - Agora fodeu! – Denis largou a arma.

- Vamos no soco! – Gritou, Lucio.

- Não vão a fazer nada – Uma voz feminina conhecida por eles quem falava.

- Essa voz...

Sete pessoas apareceram atrás da entidade encapuzada, todas as sete de túnicas pretas com o capuz escondendo o rosto.

- Isso aqui está parecendo um pesadelo – Eduardo falava – Olha quando isso terminar, eu vou largar a pizzaria e vou começar a trabalha com eventos, o quanto mais longe eu ficar dessa vila é melhor!

- Quem são vocês?

- Quem somos nós? Quem são vocês, garotos!

- Não reconhecem as vozes – disse outra voz feminina – Estão assustados

- Está na hora de dormir meninos – Era mais uma voz feminina, porém essa era mais rouca

- Dico, essa ai parece a voz da sua mãe, neh?

- Por que?

- Parece que fumou três maços de derby

- Depois que não tenho empatia, neh?

- Calem a boca! – O sino da igreja tocou forte, as luzes se apagaram e os garotos caíram desfalecidos ao chão

XV – Sinceridade

“O quanto esconder sentimentos de você mesmo pode machucar, as vezes de coisas boas criamos maldições, o melhor das coisas é final e não o começo”

Dico abriu os olhos e estava em um lugar escuro, ele não conseguia enxergar nada e nem sentir nada, não havia chão, não havia teto, havia apenas nada e ele pensou em meio ao medo “o nada é maior que tudo” como disse uma vez sua professora.

“Eu conheço esse lugar, eu já estive aqui, muitas vezes por sinal”

“Sim, Dico, muitas vezes e com muitas outras pessoas as vezes”

“Carteiro, você? O que você está fazendo aqui?”

“Eu é que te pergunto, você poderia ter trazido uma gostosa pra cá, bom se você fizesse isso íamos ter o marcham do Brazzino 777 e eu não ia querer ver isso. É bem escuro aqui, neh?

“Tem que ver no inverno”

“Dico, Dico, o que acha está fazendo afinal? Veja tudo o que está acontecendo, as coisas saíram de controle, não foi?”

“Sim, eu não sei como posso acabar com isso, eu estou com muito medo de enfrentar, eu vejo que estamos a um passo do fim, e não sei como enfrentar”

“Você sabe como enfrentar, você só não quer, você mesmo disse é medo, não é não saber” O carteiro e o Dico andavam em meio a escuridão e algumas lacunas de luz se abriam mostrando algumas imagens “O que são essas lacunas, Dico? Suas lembranças?”

“Sim, essas são as lembranças que mais sinto falta”

“Interessante, e essa aqui com essa garota, você parece bem jovem, tinha o que uns 13 anos?”

“Eu tinha 15, engraçado você perguntar sobre isso, porque foi a partir dessa lembrança que tudo começou, foi a partir disso que comecei a me trancar aqui cada vez mais conforme o tempo”

“Mas aqui é tão vazio e solitário, e essa lembrança aqui? É você olhando o mar?”

“Sim, foi um pouco antes de tudo isso começar, foi final de 2021, eu tinha tantos planos para 2022, e essa lembrança foi o dia que eu fiz meu planejamento”

“É complicado, mas e aquela caixa vermelha” O carteiro se aproximava dela.

“Não toque nela, por favor”

“Por que?”

“Porque ai está presa toda a realidade e eu não sei onde está a chave para abrir”

“Dico, você sabe onde está, você só não quer abrir. Você sabe o que deve ser feito para a maldição acabar, você e só você sabe”

“Mas eu mudei, eu não queria falar mais sobre, eu mudei nesses três dias”

“Três dias aqui, são meses na realidade, muita coisa muda mesmo, inclusive seus sentimentos que você esconde de todos. Dico está na hora de quebrar a quarta parede, você já fez muito, agora é a hora de destruí-la”

“Eu não consigo entender”

“Só a sinceridade pode te salvar”

“ Isso foi o que eles escrevera na parede com o sangue da irmã da Emma, porquê eles escreveriam o que os fariam perder”

“Porque talvez eles não queiram ganhar e deixa de ser bom quando quem começa dar medo são os criadores e não suas criaturas”

Uma luz apareceu

“Que luz é essa?”

“Essa luz, Dico, é a volta para a maldição da vila, você pode ir e acabar com isso, ou continuar trancado aqui vendo essa mala de realidade encher sem você ver, e a hora que ela explodir, bem não haverá mais nem esse local seguro”

Dico respirou fundo, olhou para mala vermelha.

“Foda-se essa maldição, e esse demônio! Eu vou enfrentar e foda-se o que pensarão depois, eu vou acabar com isso”

“Eh assim que se fala, garoto!”

Dico virou as costas e o carteiro disse “Só mais uma coisa”

“O que?”

“É o Brazzino jogo da galera”

“Palhaço” Ambos riram e Dico adentrou a luz... e foi sumindo

- Dico! Acorde!

- Mãe, nossa que pesadelo horrível, eu – Dico viu que estava preso -Mãe que porra é essa? – Dico começara a olhar em volta, estava na igreja no meio do salão, amarrado em uma maca, assim como todos os outros seis – Mas o que é isso, o que você ta fazendo?

- Xiu, logo tudo vai acabar!

- Eu não posso acreditar nisso, o que você está fazendo?

- Manda teu filho calar a boca!

- Manda a tua filha, ah ela já desacordou.

- Todos já desacordaram – disse a outra voz.

- Espera ai, vocês são nossas mães? Todas?

- Surpreso? – Dizia a mãe de Gus – Veja só – A entidade de capuz azul tirou a toca e era Félix

- Minha nossa – Dico, olhara Gus na maca do lado – Gus! Acorda, Gus, olhava para o lado e para o outro e todos estavam desacordados, alguém acorda pelo amor de Deus!

- Deus não vai te ajudar nessa, filho

- Por que, mãe?

- Porquê nossa deusa, Ashtar está voltando – Era a mãe de Lucio – E ela trará a nossa felicidade através do corpo desse garoto, Félix!

- Eu sabia que esse moleque era fagala – sussurrou Dico

- Não chama meu irmão de bicha! – uma voz saindo do sono, era Gus

- Gus! Você acordou!

- Você não colocou o suficiente pra todos eles dormirem não?

- Devo ter bebido um pouco

- Bom não importa, vamos começar o ritual...

As túnicas foram vestidas, o garoto Félix foi para o altar. A maca de Dico ficou na vertical...

- Dico!

- Guz! – Dico começou a chorar...

XVI – Futuro ou passado?

“Criar seu mundo tem suas desvantagens uma delas é não saber diferenciar o que é passado e o que é futuro, e as vezes os demônios ficam incontroláveis”

- Mãe, por quê está fazendo isso com gente? – Guz gritava – Somos seus filhos!

- É para o bem maior, filho. Relaxe e assista seu amiguinho pegar fogo, enquanto a alma de vocês é drenada para nossa rainha.

- Por favor, parem! – Gritava Dico – Deixem eles, fiquem então comigo!

- Que bonitinho seu filho – Dizia a mãe da Emma – Ele agora quer se importar com os amiguinhos dele.

Dico olhava a sua volta, todos os amigos deitados, desfalecidos e somente Gus acordado: - O que eu fiz?

- Dico! – Gritou Gus – Só a sinceridade com você mesmo pode acabar com isso! Tudo faz sentido agora! Você precisa ser sincero com você mesmo!

A Igreja começou a tremer, e um buraco no chão do altar começou a se formar

- Eu tenho medo Gus, por que tem que ser eu?

A mãe de Denis começou: - As sete almas pecadoras, cada uma com seu pecado capital.. a Soberba (Feitoza) a Avareza (Eduardo) A luxúria (Emma) a Inveja (Denis) a Gula (Gustavo), nesse meio tempo ela interrompida por Gus: - Eu não sou gordo! – Moleque aloprado, fica quieto! A Ira (Lucio) e a Preguiça (Dico). |Junto aos pecados, cada corpo sacrificado nesses dias ao lado. As mulheres traziam os corpos das pessoas mortas nesses três dias.

- Dico, se lembra quando você contou pra mim e me fez jurar que eu não iria contar?

- Para Gus

- É isso, tudo isso começou depois disso, lembra como era antes?

- Por favor, para

- Olha quantas já estão fora, apenas o corpo! Dico! Eles são nossos amigos, Lucio, Feitoza, Emma, Eduardo, EU, o Dênis que até agora eu não sei quem é nessa história

- Eu também não sei!

- Dico, seu pai foi queimado, olha ao chão, temos os corpos do Carteiro! Do Seu montinho, da irmã da Emma, Meu deus como está o Aloiso agora? O Leandro, quantos mais Dico? Nossas mães estão matando a gente! Meu irmão vai vira um demônio, o seu demônio! Não percebe que esse é o fim de tudo? – A Igreja ruiu e uma força negra estava saindo as chamas do chão, e o fogo começou a queimar os corpos no chão – Dico, vamos. Fala o porquê! Tem que ser aqui! Pelo menos aqui!

- Eu não estou conseguindo, Gus. Por mais que eu tenha me preparado é difícil, porque abrir a caixa da realidade, é ver o que realmente está acontecendo.

- Não acredito que estou escutando isso, você prefere tudo isso que está acontecendo aqui? Seus amigos quase mortos, você será queimado vivo e tudo isso pra não ver que todos estão distantes? Você prefere acreditar que eles estão desmaiados? E que ainda temos chance de sair dessa maldição, ilesos? Sinceramente eu também vou desacordar!

- Nossa, seus filhos falam hein – Brincou a mãe do Feitoza

- Gus! Espera, eu vou assumir! – Enquanto isso Félix era possuído pela sombra negra, seus olhos mudavam de cor a cada raio e gota de chuva caída do céu.

- Assume logo, e tira a gente daqui!

- Ok, Eu assumo! Eu errei e errei muito em ter metido vocês nisso, eu não queria que tivesse chegado à esse ponto e quando eu vi era tarde eu já não podia mais voltar e sim, foi muito o porquê de eu gostar da Emma, droga, eu achei que talvez em uma maldição eu pudesse ter coragem de dizer o que eu sinto, mas não consegui, caralho! Eh isso, isso eh acessar a realidade? Eu não consegui! E se ela estiver escutando mesmo desfalecida, nessa maldição eu queria muito um final feliz, onde eu pudesse estar com ela em outro lugar, todos nós, mas eu falhei e por causa disso estamos sendo mortos.

O Silêncio tomou conta do local, Félix estava possuído, após eu tomar o corpo do menino eu olhei para Dico e disse: Eu jurava que você não teria coragem!

Um raio caiu no meio da igreja, a chuva era intensa

- Obrigado, Dico!

E todos os seus amigos passavam para agradecer:

- Você conseguiu, to orgulhoso de você! Em fevereiro eu volto pra gente tomar – Disse, Eduardo.

- É bom saber que nossas quintas possam ao menos voltar a serem leves, a serem quinsteria – Disse Feitoza

- É isso ai maninho, eu fiquei com você até o final e você libertou a todos nós, vamos aproveitar lá fora – Gus abraçou Dico.

- Não vai pensando porquê você teve uma atitude na vida que eu vou gostar de você, continuo o mesmo pensamento e eu faria diferente! Eu ainda acho que você deveria ter ignorado e se tá fazendo isso pra me zoar neh? – Lucio esbravejava. Dico o abraçou e disse – Eu também te amo!

- E cara, cheguei no fim da história e salvei o role – Denis apertou a mão de Dico e saiu.

- Quem é esse cara? – Perguntou Dico aos outros

- A gente pensou que você que sabia, caralho!

Dico olhou e viu Emma... fechou os olhos.

Tudo começou a se esvair, a se fragmentar como se estivesse sendo desfeito, um peso. uma cidade saia da caixa vermelha, tomando forma naquele local apocalíptico. começa a ser um local calmo, como um escritório, não, era um consultório

Na porta estava escrito “Hipnólogo, Leandro Farias”

-1,2.3 – Acorde!

Respiração profunda

- E Então como foi?

- Muito real

- Conseguiu entender tudo o que aconteceu?

- Sim, mas o que eram aquelas vozes no começo de cada sessão?

- Aquelas vozes eram a direção que você queria dar para a quem ver.

- Eu consegui, então finalmente, eu consegui.

- Aqui, sim. Estou curioso para saber, por que uma coisa tão leve e tão boa, levou seu mundo a esse final apocalíptico

- Desse decorrer de três dias...

- Foram 7 meses

- Tudo isso?

- Sim

- Eu comecei com uma premissa, mas no decorrer eu fui me apegando, saca? E mesmo porquê no começo eu queria mesmo que a irmã dela se fode-se

- E por que? Ela foi a única a não falar com você?

- Leandro, Mesmo pra qualquer ficção, existe um limite

- Então está bem, bem-vindo de volta Dico.

Desceram as escadas e na porta, Leandro perguntou: - Foi muito difícil lidar com esse demônio?

- Foi o segundo pior, mas ele cresceu porquê dei forças a ele.

- E agora que está na realidade, vai fazer o que?

Dico começou a andar e disse: - Não sei, talvez mudar de nome, me mudar para um apartamento no centro de São Paulo e enfrentar mais um fantasma...

- Vai levar alguém daqui?

- Acho que não, estão todos muitos cansados...Talvez o Gus, se ele quiser...

- E a Emma? – Leandro ria enquanto Dico colocava os fones e ascendia o cigarro

- Esse ciclo acabou aqui! – Dico deu play na música “Touch the skies” do Pink Turns Blue e partiu

Leandro balançou a cabeça sorrindo e disse: “Esse moleque é pichuruco” Abriu o prontuário e estava a sigla V.F, abriu a outra folha e viu uma folha de cheque.

- Cheque, Dico! Seu arrombado!

Dico agora anda com sua música no ouvido, até saber o resultado de ter quebrado a quarta parede.