A MALDIÇÃO DA VILA - CAPÍTULO III

III – Pizzas especiais

“Em um sonho podemos ser quem quisermos? Então, porquê Dico acorda todas as noites gritando por ajuda, as vezes somos atormentados até em nosso descanso”

A sexta-feira, amanheceu nublada, mas sem frio. Hoje é dia de missa as 20hrs na nossa igreja, Hoje é o dia de nossa salvação...

- Mãe, desliga isso, a senhora já não é católica o suficiente?

- Ta vendo Gus, é por isso que não gosto que você ande com esses maltrapilhos

- Nossa, e o que isso tem haver?

- Se eu souber, que vocês andam fazendo cultos

- Vai começar? Sabe que essas pessoas daqui adoram falar dos outros

- Então que não seja de você! Porquê se não, você vai começar a ir a missa comigo e com o seu pai

- Mas mãe...

- Mas nada! Agora vai se arrumar porquê você tem que deixar seu irmão na escola antes de ir ao trabalho

- Você sabe que o Félix já tem 17 anos, neh?

- É 16, e não quero meus filhos largados! Como esses seus amigos

Gus apenas dá as costas chama por Félix, e saem de casa. Não era um caminho nada longo, afinal a vila era percorrida a pé em 20 minutos se não houvesse a parada no Aloisio.

O dia seguiu tranquilo, monótono e sem surpresas. Ao saírem para fumar, viram Hugo e seus amigos tomando alguma coisa no bar do Aloisio.

- Veja só, os caras estão no bar à essa hora, e essas velhas não falam nada!

- Ah Gus, sem maldade? Quero que se foda...

- Você está estranho, foi por causa das conversas de ontem, sobre aquela sua super ideia?

-Não e sim, esse lugar está me causando tanto ódio que não sei explicar nem o porquê me veio uma ideia dessa na cabeça, as vezes me sinto culpado...

- Não fica assim maninho, eu gostei da ideia, não para exercer – eles deram uma pequena risada – Mas daria uma ótima história.

- Ai é que está! Eu não quero escrever a história, eu quero ser a história! Mas nesse lugar eu só serei mais um bosta, como todos...

- Fica em paz, a gente vai sair dessa vila.

- É essa calma que me preocupa, estou aqui há 2 meses e não aguento mais, você está aqui há 22 anos Gus!

- Você acha que é fácil?

- Às vezes vocês fazem parecer que sim...

Gus faz um gesto com a cabeça pensando “Se é o que acha”, mas a verdade é que Gus também estava cansado de tudo aquilo, e quando Dico contava sobre como era São Paulo, Gus brilhava os olhos e tinha cada vez mais vontade de sair daquele lugar, mas era como se uma energia o colocasse ali, sempre ali.

Por volta das 19hr se encontram; Dico, Gus, Feitosa e Lucio.

- Precisamos comprar a cerveja agora, pois tudo aqui vai fechar em 30 minutos para irem à missa – Disse Feitosa.

- Nem me fale, Gus que hora que a sua mãe sai de casa? – Perguntou Lucio

- Daqui uns 30 minutos, eles sempre chegam um pouco mais cedo lá

- O Eduardo, disse que vai fazer a pizza especial pra gente e vai entregar a hora que a gente der um salve

- Ele não vai à missa?

- O Eduardo? Mas fácil eu ir do que ele

- E a Emma?

- Vai sair com uma amiga, lá no Rael e depois disse que se der encosta.

Os meninos então pegaram dois engradados de cerveja, tinham exatamente duas horas para comer, beber e fumar na casa de Gus. Ao se encaminharem para a casa de Gus, são abordados por Leandro, uns dos amigos de Hugo

- E ae rapaziada! Vocês não vão à missa?

- Ta doido? Hoje é dia de pizza, você vai?

- Vou sim, a família é sagrada parça, queria que o Hugo pensasse assim, também

- O pau no cu não vai? – Perguntou Lúcio

- Vai nada, esse louco diz que fica de sexta rezando de casa, mas a gente sabe que o que ele faz é ficar chorando pela Emma – Todos caíram na gargalhada – Bom, vejo vocês depois. Leandro seguiu seu caminho á igreja e os meninos para a casa de Gus.

Ao chegarem na casa de Gus, parecia tudo tranquilo e vazio...

- Beleza gente, a casa ta livre, hora do som e vamos começar! – Todos abriram uma cerveja e brindaram.

- Gus? – Uma voz surgiu abrindo a porta da sala

- Félix? O que você está fazendo aqui? Não era pra estar na missa com a mamãe?

- Ele diz mamãe – Sussurrou Lucio para os outros

- Fica quieto Lucio, Félix a mamãe não pode saber da cerveja, vai lá pro seu quarto!

- Mas porquê? Eu tenho 17 anos já! Eu quero participar!

- Você tem 16, e a mamãe não quer isso, mais pra frente...

Félix fechou a porta emburrado.

- Não vejo problemas do seu irmão ficar com a gente – dizia Feitosa – Ele já tem idade de saber o que é certo ou errado

- Feitosa, você e o Dico acham que é a mesma coisa aqui e lá sem São Paulo, mas não é, eu sei o que estou fazendo!

- Ah foda-se! São 20hr à missa começou, e aqui vai começar o som!

“Enigma – Sadness”

Dico, tirara sarro com o começo da música...

Enquanto isso em frente a Igreja, que era amarela com sua cruz de cor vermelha, as pessoas se cumprimentavam como se fossem bons samaritanos, parecia um amor verdadeiro entre eles, perguntavam de suas famílias, riam, alguns já antes da missa falavam mal das vestimentas dos outros. Os sinos tocaram e todos entraram naquele lugar sagrado, cheio de pinturas lindas de santos e de Jesus.

- É uma pena um lugar tão belo e sagrado ser maculado por pessoas tão vis e hipócritas

- Ah você quer falar de hipocrisia, Dico?

- Lucio, por isso não frequento missas, sei de minha hipocrisia e sei que se Deus existir, eu não preciso busca-lo em algum lugar, porquê ele está em mim!

- Cara, esses assuntos são muito abrangentes – Feitosa, tinha sua convicção – Falar disso, não leva a nada e outra, ontem mesmo estávamos falando de assassinar alguém, cara que loucura é essa?

- Então você lembra?

- Se eu lembro? Eu tive até pesadelos com isso – risadas – Porra num dia estamos falando de matar e no outro usando o nome de Deus, Que porra é essa?

- Sei lá, a gente imaginar um crime, botar medo nessa vila, seria interessante – Dizia Gus – Poderíamos escrever uma história

- Então vai, Gus! Vamos ouvir como seria, e quem morreria?

- Vamos começar com Hugo?

- In nomine de Christ, amem!

- Olha esse Dico, eu fico me perguntando como é que ninguém te levou ainda! – Risadas – É sério, você acabou de falar em latim para agradecer que aconteça uma morte!

- Ah, Feitosa...

- É sério, Deus e o diabo devem ter muita raiva de você, por isso te deixam aqui

- Pesado – disse Lucio – Mas o Dico, é meio filho da puta mesmo, não é? E o Gus está a cara dele

- Ah vai se fuder seu baixinho! – Gus quem exclamava

- Pelo menos não sou gordo

- Eu não sou gordo, eu sou forte!

- Ou, chega vocês dois, vai Gus conta como seria essa história...

- Espera aí, que o Eduardo chegou com a pizza.

Os garotos então foram até o portão abrir para o Eduardo...

- E ai rapaziada, chegou aquela pizza especial “pá nois”

Todos entraram e o assunto foi meio que esquecido, Eduardo disse que trombara Emma com sua amiga no Rael e que ela viria depois, começaram a lembrar de quando o Dico chegou na vila.

- Não entendo o porquê vocês voltaram para cá

- Parece uma maldição, sempre tem algo ou alguém aqui que faz a gente voltar, Edu.

- “Seh loko” se eu conseguisse sair daqui eu não voltaria mais

- Mas ai é que está, já perceberam que todos falam isso?

- Ai, o Dico come a pizza especial e já começa nessas brisas do Seu Moutinho...

- Então vai Gus, ainda quero saber sua história...

- Vamos lá, imaginem vocês agora que o Hugo tá lá na casa dele agora, e de repente alguém entra lá – o restante prestava atenção como se estivesse na história – Ai, ele escuta o barulho e vai perguntar se é a mãe dele que chegou da missa, imagina aquela voz fanha dele – todos riram – Então ai ele vê que não tem ninguém, acha que foi coisa da cabeça dele e de repente alguém com um fio, ou algo do tipo começa a enforca-lo e ele com aquela voz fininha começa a se estrebuchar parecendo um porco, e antes de morrer o assassino corta o pau dele e põe na boca dele.

- Cara, não que ele não merecesse – dizia Eduardo – Até concordo, mas você deveria passar em um psicólogo, isso ai é pesado.

- Pessoal, a Emma mandou mensagem e pediu se alguém pode ir busca-la no Rael – disse Lúcio, cortando o assunto...

- Eu vou – Disse Dico

- Ah, você vai, então? – Brincou Gus

- Vai começar? Vai lá então...

- To brincando maninho – Um barulho de que alguém havia pisado no quintal – Que foi isso?

- Gus, se você chamou alguém pra matar a gente, Eu mato você – Lucio quem brincara com isso, os meninos saíram e não havia, ninguém

- Ai ta vendo, é o que dá, um fala de assassinato, o outro agradece em latim – Feitosa quem dissertava – Queriam o que?

- Vocês viajam demais – Eduardo, ria muito.

- Bom vou lá, alguém vai comigo?

- Vai na fé Dico, a gente espera aqui, vai que tem um assassino – todos riram

Dico então sai, impressionante como naquela vila não havia quase carros, a vila estava deserta, muito porquê 80% deles estavam na missa.