CAPÍTULO IV

     Com grande esforço Rita conseguira arrastar o pequeno ferido até o seu carro. Ela estava com as roupas sujas de sangue e de lama mas não se importava com isso. O medo também tinha dado uma trégua e embora chovesse muito ela estava tranquila, segura do que estava fazendo.
    
Num último esforço colocou o menino no banco de trás e entrou no seu carro. O plano era sair dali o mais rápido possível, subir pela rampa mesmo na contramão e na via expressa conseguir socorro. Ou então  seguir até o próximo retorno e voltar em direção ao hospital que ficava no outro lado da pista.
   
Não tinha muito tempo pois sabia das consequências e dos riscos que o menor estava correndo por ter perdido tanto sangue. Suas chances de sobreviver eram mínimas mas, ela estava determinada a salvar aquela vida e nada faria com que desistisse do seu intento.
    
Continuava chovendo e não havia ninguém a vista. Nenhum movimento e nenhum carro passavam por aquele local. Ligou o motor e o barulho confundiu-se com o da moto que dobrava a esquina.
    
Rita não vacilou, sabia que eram os bandidos voltando. Pisou fundo no acelerador fazendo com que o carro praticamente saltasse da calçada e embicou em direção a rampa.
    
A rua estava com pouco volume de água, o que facilitou   para que ela arrancasse em alta velocidade. Os bandidos perceberam que algo estava errado e sua primeira reação foi a de atirar em direção ao carro e em seguida, sair numa perseguição desenfreada...

    
Roni já estava na via expressa em alta velocidade, no sentido contrário ao que Rita pretendia seguir. Ao longe avistou as luzes de uma patrulha e acelerou o carro ainda mais. Ao emparelhar com o veículo da policia, fez sinal pedindo socorro. Os dois carros pararam mais adiante...

   
Dois carros da policia , num total de quatro policiais, entraram no viaduto. Pelo rádio tinham sido alertados para o que estaria acontecendo, isto é, um provável sequestro de uma jovem enfermeira naquela perigosa favela. Perceberam que bem à frente, um enorme caminhão da limpeza urbana municipal seguia no mesmo sentido, em alta velocidade...

    
Os marginais estavam enfurecidos. O motoqueiro que estava pilotando praguejava e jurava que iria matar com as próprias mãos quem estivesse dirigindo aquele carro. O homem que estava como passageiro, atirava a esmo sem poder firmar a pontaria, visto que estava drogado e embriagado. Era um verdadeiro milagre que não tivesse caído. E a chuva continuava intensa...

   
Rita entrou na rampa de subida numa velocidade que jamais tinha arriscado dirigir. Naquele momento ela só pensava em salvar a própria vida e a do menino ferido, que continuava gemendo, assustado com toda aquela correria.
     
Ela mal divisava o que estava a sua frente e só pensava em chegar logo ao viaduto e de lá, com a maior velocidade possível chegar à via expressa e depois ao hospital mais próximo.
   
De repente ela deu um grito agudo. Ouviu a buzina estridente de um enorme caminhão que crescia na sua direção e os faróis daquele veículo fizeram com ela perdesse o controle do carro por alguns instantes...

    
Roni foi aconselhado pelos policiais a voltar para casa, pois naquele momento nada poderia ser feito por ele. A policia já tinha sido notificada e estava a caminho da favela para as buscas. Inconformado e não muito tranquilo Roni concordou em voltar para casa e esperar pelas informações sobre Rita...

   
O motorista do caminhão levou um susto quando percebeu o carro que subia a rampa na contramão e numa velocidade absurda. Pisou nos freios e tocou a buzina com toda força. Em seguida fechou os olhos preparando-se para a terrível colisão...

   
Por puro instinto Rita pisou ainda mais fundo no acelerador e ao chegar ao fim da rampa fez uma ousada curva cantando pneus e foi por questão de centímetros que não colidiu com o caminhão. O carro sacolejou violentamente mas não tombou e segurando firme no volante ela continuou dirigindo com toda firmeza. Seu coração quase saiu pela boca...

   
O caminhão conseguiu parar bem na entrada da rampa. Sentia-se no ar um forte cheiro de borracha queimada e o motorista suava frio. A mesma sorte os motoqueiros não tiveram. Não tinham como parar e o choque foi inevitável.
   
Um deles foi atirado longe e morreu na hora. O outro, desmaiado e muito ferido ficou caído ao lado do caminhão.
   
Os carros da patrulha estacionaram logo atrás e os policiais saltaram de arma em punho. Um dos bandidos realmente estava morto e o outro agonizava...

   
Rita conseguiu chegar ao hospital e já era esperada na porta por médicos e enfermeiros plantonistas. Imediatamente levaram o garoto para a sala dos atendimentos de emergência para os primeiros socorros. Ela chorava e amparada por uma enfermeira sentou-se numa cadeira na recepção. Em seguida outra enfermeira veio examiná-la. Rita só queria um telefone para se comunicar com Roni...

   
O telefone tocou e Roni atendeu angustiado e com o coração aos pulos. Tranquilizou-se e esboçou um pequeno sorriso quando ouviu a voz da sua amada. Ela estava bem e ficaria em repouso até o amanhecer, só por medida de precaução.
   
Quando acordasse e estivesse se sentindo bem, uma ambulância a levaria para casa. Contou rapidamente o que tinha acontecido, lamentando apenas que o menino que ela trouxera para o hospital não tinha resistido aos ferimentos e acabara de falecer.
   
Ela abaixou o tom da voz e disse ao namorado que esperava encontrá-lo em casa quando chegasse. Aí, tomariam uma xícara de chocolate quente e iriam se deitar novamente...



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FIM

                 
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        ...os capítulos foram publicados originalmente de 08 a 11/04/2009...







(...imagem google...)
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 06/06/2018
Reeditado em 06/06/2018
Código do texto: T6357127
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