(Estórias de trancoso. A farinhada: Um encontro inusitado)

Era tardinha de uma sexta-feira, família toda reunida em volta da sombra do velho juazeiro; provocador das rodas de viola e cantigas de terreiro na residência do Sr. Martins.

Como já de costume nas tardes daquela época, lá por volta de 1910, toda meninada correndo de lá para cá num intenso frenesi; as mulheres fazendo renda e jogando conversa fora; por vezes cantarolando canções que lembravam um romance um amor proibido...

Seu Martins raramente encontrava-se em casa neste horário. Se alguém quisesse encontrá-lo, era só ir até a antiga Casa de Farinha: local onde todos os agricultores daquela pacata terrinha se encontravam. Faziam daquele local bucólico um ponto de encontro e de trabalho. Na verdade muito trabalho! Era ali onde se produzia a melhor farinha da região. O Sr. Martins, assim como os demais, varava noites a fio, torrando a farinha, para em seguida armazenar em sacas de estopa que cairiam no lombo das mulas, que transportariam a carga até a residência da família. Em geral longas distâncias, trechos de mata nativa, arbustos, rios e riachos compunham a paisagem, costumeira companhia ao Sr. Martins na longa caminhada. O coaxar dos grilos quebravam o silêncio e amortecia o barulho dos cascos dos eqüinos nos pedregulhos da estrada. - Cenário do grande encontro-. Foi então no seu retorno, uma noite de sexta-feira que tudo aconteceu:

Era costume da época as cantorias em noite de farinhada especialmente a família Martins. As mulheres ficavam responsáveis pela culinária e ornamentação do terreiro. Os meninos enquanto se divertiam colavam adereços nas panelas de barro; que logo adiante serviria de depósito para os bombons que logo faria a alegria da molecada.

Na casa de farinha, os outros agricultores finalizam o processo manual do beneficiamento da farinha. Seu Martins adiantava os passos rumo a sua residência na companhia das mulas. Enquanto caminhava, tragava o charuto com o mais puro tabaco; a fumaça se misturava com o sereno da noite compondo todo cenário.

Na residência dos Martins o povo já começava a chegar para vê à cantoria que daria o ar de sua graça. A molecada saltando de lá para cá dividindo a alegria com o cantar dos grilos. À noite, a lua cheia assistia a tudo transmitindo um clima ameno, porém instigador. Na fazenda cachoeira era assim, cheia de mitos; cheia de histórias e estórias contadas por seus moradores. Entre eles seu Maneco. Um cabra cheio de mistério; contador de lorotas. Maneco era do tipo que topava qualquer parada. Não fugia de uma boa briga. Gostava de tomar uma cachaça: aquela pura do engenho.

No entanto, Maneco tinha um segredo...

Poeta Evanio Teixeira
Enviado por Poeta Evanio Teixeira em 09/05/2016
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