Entre anjos e demônios

As ruas escuras dessa cidade fedem a prostituição. Há um prostíbulo em cada esquina imunda em meio essa podridão e, como se não bastasse, os poderosos se divertem com a pureza de criancinhas inocentes.

Quando a noite cai, toda escoria da humanidade passa a perambular por entre os becos e ruelas que formam essa selva de pedra. E quem presta atenção a esse odor mórbido que faz o ar pesar, percebe o cheiro de enxofre, que não deixa duvida de que andamos entre demônios.

Homens e mulheres saem das sombras, como monstros numa caçada infernal. Sem regras, sem limites, apenas a diversão satânica, numa mistura de sexo, drogas e uma dose extra de violência. Mortes, estupros e dilacerações são tão comuns quanto o nascer de cada dia.

As sarjetas mais parecem valas, com sujeira misturada a indigentes em decomposição. Nem mesmo os ratos e baratas que infestam qualquer cidade imunda, ousam a dar cara por aqui; e mesmo os mais peçonhentos animais se tornam inofensivos diante destes predadores imortais.

O céu é sempre negro, a lua e as estrelas parecem se apavorar e até mesmo Deus e os seus anjos parecem ter se esquecido deste lugar. As trevas reinam em absoluto e, a cada noite, do mal renascem os herdeiros de seus frutos.

Durante muito tempo caminhei por entre esse caos, percorrendo cada sombria rua, cada beco sem saída, despindo essa cidade maldita, até vê-la completamente nua. Ah, eu posso afirmar: “Eles me temem”. Posso sentir pelas suas respirações ofegantes quando passo, pelo suor que lhes escorre, ou pelos olhares a seguir meus passos. Eles cheiram a bebês medrosos diante a minha presença. Como que se todos temessem que pior do que essa cidade pudesse ser minha sentença. Mas eu posso entender esse temor, pois jamais poderiam imaginar, que de todo mal que eu poderia ter sido, seria, eu, um anjo... O mais belo anjo decaído.

Essa cidade me pertence e, essa noite, eu sinto sede e fome. E, essa noite, essa cidade sentirá toda dor das chamas que me consome!