Eu e Salem

Salem nunca saíra de mim e eu jamais sairei de Salem...

A madeira estala enquanto as chamas de fogo lhe consome. Sobre o céu negro de Salem, agora acinzentado pela fumaça da fogueira, lembro-me que há muito tempo a Deusa se revelara a mim e eu juraria fidelidade eterna ao seu nome.

Agora, sob esse mesmo céu o terror assola a cidade, fazendo de vossas filhas, ó gloriosa Deusa, vitimas de homens sem piedade. Homens santos, com as almas cheias de maldade.

Olhos ímpios admiram o espetáculo na praça central. Aos poucos as chamas me consomem, torturando corpo e alma de maneira infernal. Sinto-me contorcer no centro da fogueira, enquanto rogo uma praga para todos que se habituaram a essa cegueira. Cegos pelo ódio, pelas mentiras destes homens pagãos, cegos e adestrados, obedientes como um cão.

Minha visão turva, que aos poucos ia se perdendo, me concede uma benção antes que eu abandone este mundo. Vejo surgir no céu a Deusa mãe e o Deus Cornudo. Pobres pecadores de almas podres e mentes puritanas. Agora não serei apenas eu, mas toda Salem arderá em chamas!

Enfim, posso descansar em paz e para selar a minha praga eu digo “Amém! Salem nunca saíra de mim e eu jamais sairei de Salem..."