Carta de uma jovem morta...(parte final)

A cada passo que eu dava era de uma possível chance de escapar, mas que diminuia ao sentir os passos dele, eu corria, mas parecia que ele não se cansava, cada vez correndo mais rápido atrás de mim, e eu nesse maldito espelho, meu mundo estava ao contrário, mas significando a mesma coisa, eu corri até o jardim, e ele veio atrás, conseguindo me derrubar, ele me virou e eu olhei para aqueles olhos de demônio, e quando eu olhava eu via um flash daquela garotinha, do mesmo jeito que eu estava, eu fiquei apavorada, ele começou a passar a mão em mim, e eu via ele fazer do mesmo jeito com a garotinha, e ele ia falando:

__Não se preocupe querida, eu vou cuidar de você.

Eu fiquei com tanto medo e com tanta raiva que não sei onde eu arranjei forças e consegui bater na mão dele, derrubando o facão, em seguida eu bati minha cabeça contra a dele e ele caiu para o lado, eu sai desnorteada, e corri, mas ele se levantou, pegou um pedaço de madeira e veio atrás, eu entrei na casa batendo a minha mão com tudo na porta, e fui subir a escada, pois no quarto eu poderia me esconder, mas ele conseguiu me alcançar, e puxou a minha perna, eu me segurei na barra de ferro da escada, e eu só consegui escapar, pois um pedaço da minha calça rasgou, e eu corri em direção ao quarto de Gabriel, mas quando tentei entrar não consegui, a porta estava aberta, eu olhei para o espelho em frente e gritei, ele estava atrás de mim, e eu de repente vi a garotinha no outro lado do espelho, ela olhava para mim como eu olhava para ela, e a silhueta negra atrás dela começou a se formar e vi que era o pai de Gabriel, do mesmo jeito, estava acontecendo com nós duas, ele vinha devagar, queria brincar comigo, o jogo psicopático dele, e enquanto eu via a garotinha eu via ele atrás, e um pensamento rápido me fez entender tudo. Aquela garotinha sou eu.

Um sentimento de dor vinha me consumindo, eu realmente entendi o que Victória queria me dizer, bom uma parte, ainda não consegui entender porque ela me disse acorde, será que eu estou dormindo? Tudo isso é um sonho? Então por que não acordo? Ao pensar nisso uma voz ecoou no meu ouvido:

__É porque você não tentou.

Eu fiquei parada e nesses segundos eu percebi que tudo isso era loucura demais, talvez Victória estivesse certa, mas eu não podia bobear, de repente eu senti o Francisco do meu lado, mas quando eu percebi já era tarde, ele me nocauteou.

Quando acordei eu senti minhas mãos amarradas, havia um pano na minha boca, eu não sabia mais o que fazer, se aquilo é sonho como eu poderia estar vivendo isso? sentindo isso. Eu tentei me soltar, mas estava muito apertado os nós, não consegui, ele me amarrou na cama de Gabriel, como eu queria dar um chute bem forte no saco dele e o ver contorcer no chão como uma minhoca no asfalto. Eu me debatia naquela cama, até que eu ouvi um barulho de algo rasgando, era o pano que ele me amarrou (já que não tinha corda, foi o lençol mesmo), eu continuei puxando e cada vez rasgava mais(era no braço direito), era só uma questão de tempo até ele terminar de rasgar, eu me desamarrar e sair dali, mas não consegui a tempo, ele entrou no quarto e veio com tudo em cima de mim, estava com uma faca na mão, deitou sobre mim e começou a falar:

__Sabe querida, você não sabe como me deixa feliz__Falava enquanto passava a faca na minha blusa cortando-a devagar__Eu fiquei esperando você muito, muito tempo.

__Miserável__Falei isso enquanto eu cuspia na cara dele__você é desprezível, matou o seu filho, e provavelmente sua filha também, que criatura você é?

__Há querida, logo se juntará com eles.

__ME SOLTA__Gritei em plenos pulmões__Tira as mãos de mim, seu desgraçado.

__Cala a boca__Ele bateu na minha cara, deixando um pouco de sangue escorrer pela minha boca__Eu vou te deixar tão nas nuvem que você vai implorar por mais.

Ele terminou de cortar a minha blusa, mas eu consegui fazer com que ao lençol que prendia minha mão direita rasgasse, e consequentemente consegui nocalteá-lo com um vaso que havia ao lado da cama, desamarrei o outro braço, tirei a mordaça da minha boca e corri. Eu não sabia o que pensar mais, apenas de sair dali e entender o que Victória disse, suas palavras não paravam de ecoar na minha cabeça, acorde... acorde, isso não parava de aparecer em minha mente, acordar de que?

Cheguei até a escada, mas ele me alcançou (caraca, veio e gordo e mesmo assim corre como uma mula, como esse veio consegue correr tanto, deve ter foguete no rabo) ele pulou com tudo em mim e caímos escada abaixo, fiquei totalmente desnorteada, minha cabeça sangrava muito, via as coisas embasadas, quase apagadas, mas deu para ver ele se levantando (Que merda, esse cara não morre, aff morre diabo) Ele ficou em pé e olhou para mim, vi atrás dele Victória em pé gritando

__Acorde, você irá entender tudo, acorde.

Ele olhou para ela e disse:

__Ela é minha.

Ele em seguida veio para cima de mim e me pegou pelo pescoço, me levantou no ar (cacetada, o véio tem força) e enquanto eu batia na mão dele e me contorcia sufocada ele olhava para mim com uma cara de tarado da esquina e disse:

__Sabe eu consegui acabar com a sua irmã, eu também vou conseguir acabar com você...

Minha irmã? como pode ser isso, que irmã? Isso não pode ser real...a menos que isso seja um sonho, e que eu... eu nem possa estar aqui realmente, e se eu não estou aqui ele também não está, agora eu entendi, eu entendi, finalmente eu enten...__Arrrrrfffff__(puxada violenta de ar) __Cof cof, ahhff, cof__eu senti como se meu corpo estivesse paralisado e voltasse de uma vez, havia muita luz naquele lugar fiquei imaginando __"Agora fudeu, morri__ Mas ai eu ouvi uma voz doce no fim do quarto:

__Filha, ai meu Deus, enfermeira. venha aqui...

Eu estava meio zonza, mas eu consegui ouvir o que estavam dizendo. Eu estava num quarto, sei por causa da cama na qual eu estava deitada, mas não era um quarto de hospital, era de casa, era diferente do sótão que eu ficava, eu não conseguia enxergar direito, mas eu conseguia ouvir, ouvia alguem mexendo no meu braço e uma mulher me chamando de filha, mas a voz dela era diferente da voz da minha mãe, só depois de alguns minutos minha visão voltou e percebi que era Isabelle, a mãe de Victória, mas por que ela estava me chamando de filha? Eu estava ainda tonta, mas tentei levantar, mesmo ela me dizendo para eu não forçar, mas como eu sou teimosa arrisquei e cai em seguida de volta na cama. Dona Isabelle me olhava com uma cara surpresa totalmente feliz, eu olhei para ela sem entender nada e perguntei:

__Por que a senhora está me chamando de filha?

__Vo...você não se lembra de mim? Sou eu, a mamãe, nossa eu sonhei tanto com isso.

__Mas como você pode ser a minha mãe? Se você é a minha mãe...cadê o papai__Eu falei esse final encolhendo-me na cama, com um toque pequeno de desequilíbrio emocional__Ele está aqui?

__Calma querida ele não está a muito tempo, está no lugar dele, na cadeia.

__A quanto tempo eu fiquei assim?

Ela me olhou com muita tristeza nos olhos e me disse:

__A muito tempo...

__Quanto tempo?

__Quer saber mesmo?

__Eu preciso saber.

__Você está aqui ah __Engasgou um pouco nas palavras e de cabeça baixa respondeu__Você está aqui há 8 anos, em coma profundo.

__O que?como pode isso, estou a 8 anos?

__Eu sonhei com esse dia tantas vezes e de manhã acordar e ver que não era real que era mais um dos meus sonhos destruía a minha esperança, mas agora esse dia chegou e você está aqui.

__Mas eu estava viva, tinha uma família que me detestava, você estava lá, mas não era minha mãe, era a mãe de Gabriel e Victória.

__Do que está falando filha?

__Vocês estavam lá, você, Victória e Gabriel.

__Falando nisso__Ela saiu do quarto e gritou__Gabriel, venha cá, temos um milagre aqui.

Eu vi algo que eu achei impossível, era Gabriel chegando na porta com uma cara de surpresa, ele veio com tudo e me abraçou, chorando e repetindo:

__Maninha, ah meu deus, valeu Deus, maninha, maninha...

__Como você pode estar vivo, eu vi ele te matar, com uma punhalada nas costas eu vi.

__Lucia do que está falando?

Isabelle, ou melhor mamãe fez um sinal que deu para entender que eu estava delirando.

__Eu não estou louca, mas se você está aqui, cadê a Victória?

__Mana, eu queria que ela tivesse aqui para ver você acordar, mas...

__Papai a matou não foi?

Ele ficou surpreso quando eu disse isso, e continuei:

__Deixa eu adivinhar, papai atirou nela enquanto ela dirigia não foi?

__Mais ou menos mana, ela estava fugindo dele, pois ela descobriu o que ele tinha feito com você, mas como você sabe disso?

__Ela apareceu para mim, no meu sonho...

__Aquele desgraçado, fazer aquilo com você.

__O que ele fez comigo, ele então...

__Não, ele não conseguiu, eu e mamãe chegamos a tempo, ele para despistar disse que entrou ladrões em casa e bateram nele e você e jogaram os dois pela escada.

Ele dizia isso e eu via as cenas através dos meus olhos, ele então continuou:

__Mas a Victória não sossegou e foi a fundo para saber o que tinha acontecido com você. Graças a ela nós soubemos a verdade, papai foi um monstro, desgraçado, devia morrer, pelo menos está preso servindo de mulherzinha de cadeia. Mas em certa parte não adiantou, pois você estava em coma profundo e Victória acabou perdendo sua vida.

__Ela fez isso para me salvar, se não fosse por ela eu ainda estaria lá, ela veio me avisar, ela com certeza é a melhor irmã do mundo.

__Eu só queria que ela estivesse aqui para te ver maninha.

Eu me inclinei até ele e disse:

__Mas ela está...

Olhei para a porta e a vi em pé, acenando com a mão e sumindo deixando um sorriso em minha boca e um brilho nos meus olhos pela segunda chance.

__Obrigada Victória.

Realmente esse é um bom final, com uma tristeza eu sei, mas para mim é, ou melhor não um final mas um começo, Victória me ajudou, me escreveu uma carta sem palavras, sem papel, sem nada, apenas o amor de irmã, me deu a possibilidade de algo novo, com uma família de verdade, não aquela dos sonhos, familia ruim aquela, que eu descobri que era de um seriado que eu assistia quando criança, quanta coisa eu tive em mente armazenando esse tempo todo, isso que no final me fez crescer, e ser livre.

Layla Vimorat
Enviado por Layla Vimorat em 13/06/2011
Reeditado em 14/06/2011
Código do texto: T3033024
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