Carta de uma jovem morta...(parte 2)

Eu fiquei a noite inteira naquele hospital, pensando no que o médico acabara de me dizer, quando ele falou que ela havia levado um tiro, eu fiquei pasmada, fiquei parada de pé e o médico saiu, eu senti que havia perdido alguem muito importante para mim, mas não sabia o porque de me sentir assim...

Eu fiquei assim até as 3 da madrugada (tecnicamente já não é mais noite hehe), a enfermeira não deixava eu vê-la, acabei dormindo no banco de lá, eu não tinha para onde ir mesmo. Sonhei que eu estava em uma casa, grande, bonita, nunca havia estado lá, ouvi muitos gritos, mas por mais que eu corresse para ver eu não achava, era alto, como se estivesse do meu lado, mas não havia ninguém, continuei procurando, corri para tudo quanto é lado, até que passei em frente de um espelho, fiquei paralisada de medo, eu vi a garota, toda ensanguentada, com a roupa toda rasgada, insinuando ter sido rasgada a mão, ela olhava para mim e gritava, pedia socorro, mas era um espelho, bati no espelho achando que ela apenas um vidro, mas não se quebrava, de repente uma sombra com silhueta de um homem aparece e bate na cabeça dela e o vidro se quebra mostrando a parede que havia ali, isso me fez acordar de susto, eu acabei caindo no chão, toda suada, como se realmente tivesse corrido. Isso me assustou demais, por que eu tive esse sonho? Por que?

Decidi ir até o quarto onde ela estava, mas num era fácil, havia duas enfermeiras no corredor do quarto dela, quando uma saia a outra ficava, eu tinha que bolar algo.

Fiquei prestando atenção como elas agiam, quando uma saia demorava mais ou menos 15 minutos, ai voltava e saia a outra, eu achei que não ia conseguir, até que no quarto ao lado o 205 um garoto chamou a enfermeira, deixando o corredor vazio, era a minha chance, a garota ficava no 207, foi difícil passar pela porta do 205 pois a enfermeira ficava olhando para a porta o tempo todo, e a outra já estava voltando, teve uma hora que eu vi uma brecha e entrei no quarto 207. Ela estava muito machucada, o rosto estava muito inchado, um terço do seu cabelo (onde estava o machucado) foi raspado, ela estava muito mal, havia um tubo na sua boca, para fazê-la respirar, eu fiquei olhando para ela, não pensei em mais nada, apenas fiquei pensando, até que eu falei:

__Por que eu fico tão preocupada com você?O que quer de mim? Eu nem ao menos sei o seu nome...

Eu encostei a mão nela e senti uma dor tão forte no braço que me fez cair no chão, era como se alguem estivesse me cortando, na mesma hora eu olhei no meu braço, e o que eu vi fez minha alma branquejar... estava escrito Victória, isso me arrepiou inteira, eu fiquei abobada, olhei para a cama dela e ela estava imóvel do mesmo jeito de que quando eu entrei, do nada eu senti de novo a mesma dor no braço só que era diferente, olhei no meu braço e o corte com o nome havia sumido, eu sai daquele quarto o mais rápido possivel, a enfermeira me viu, mas não me parou, corri até chegar a portaria e acabei trombando com um cara, era alto, cabelo moreno, olhos da mesma cor. Pedi desculpas a ele, e fui pegando as minhas coisas que acabaram caindo no chão, ele me ajudou e eu me desculpando:

__Me desculpe, eu sou uma desastrada...

__Não se preocupe, está aqui as suas coisas.

Eu peguei e coloquei na mochila, ele estava com uma cara de choro, ele então entrou no hospital, eu estava para sair quando eu ouvi ele dizer a atendente:

__Por favor, você pode me informar qual o quarto que minha irmã está, seu nome é Victória Miestra, ela sofreu um acidente de carro e me ligaram, vim o mais rápido que pude.

A atendente olhou para ele e ficou com uma cara de bunda, encantada com a beleza do rapaz, e respondeu para ele:

__Quarto 207.

Eu ouvi aquilo e voltei rapidamente e perguntei a ele:

__Você é irmão da moça do acidente?

__Sim por que?

__Fui eu que liguei para o hospital, e acompanhei ela até aqui, menti que era prima dela para me deixarem ficar.

__Você é a moça que a trouxe, sabe de algo?

__Ela está mal, em coma para eu ser mais precisa, não sei se ela aguenta.

Ele olhou para mim e me puxou dizendo:

__Vem comigo.

Eu fiquei um pouco apreensiva, pudera, com o que acabara de me acontecer, mas acabei indo.Enquanto andávamos eu fiquei perguntando muitas coisas para ele:

__Qual o seu nome?

__Gabriel.

__Como o anjo né?

__É e o seu?

__Lucia...Lucia ninguém.

__Nenhuma pessoa pode se chamar ninguém.

__Eu posso, sempre fui tratada assim, adotei o nome, Lucia ninguém.

Acho que ele ficou com vontade de rir, mas com a irmã internada ficava meio difícil, quando chegamos no corredor a enfermeira veio até mim tentando me expulsar, mas Gabriel deu um jeito:

__Calma ela é da minha família, minha prima, eu sou o irmão da garota do quarto 207, e a minha prima veio comigo.

Passamos da enfermeira, eu achei um pouco rude, mas engraçado o modo como ele falou, fomos até o quarto e Gabriel abriu a porta, eu vi sangue por todo lado, havia escrito na parede meu nome, o que era aquilo? A Victória estava de pé em frente a cama, e pulou eu cima de mim, isso me fez eu ir para trás e bater minhas costas na parede e em seguida cair no chão. Gabriel assustou-se por eu cair, e ajoelhou-se do meu lado perguntando:

__O que aconteceu? Você está bem?

Eu tinha fechado os olhos com muita força, pois o medo que eu fiquei por ver Victória me atacando foi enorme, não queria abrir. Gabriel então me falou:

__Abre os olhos, por que está no chão, está sentindo alguma coisa?, abra os olhos, olhe para mim...

Eu abri os olhos e me surpreendi, não havia mais sangue, as paredes estavam limpas e Victória estava na cama, e em sua volta o sentimento de morte. Gabriel me ajudou a levantar, dei a desculpa que minha pressão abaixou, também pudera, talvez fosse isso realmente, não comi nada o dia inteiro, pois quando eu estava em casa minha mãe me dava uma comida que eu poderia denominar como não comestível. Eu fui até a ponta da cama dela e fiquei olhando apenas pensando o que era aquilo que estar acontecendo comigo, eu não conseguia raciocinar, apenas olhar, como a lua na noite, Gabriel olhava para sério, como se estivesse engolindo a dor, eu sabia como era aquilo. Decidimos descer, pois percebi que Gabriel estava ficando branco, talvez se eu não tivesse proposto isso ele teria desmaiado lá. Fomos até o refeitório, nos sentamos e pedimos uns salgados, em seguida começamos a conversar:

__Gabriel você está bem?

__Estou, é que ver Victória desse jeito me deixou chocado.

__Pelo menos você tem alguem para se preocupar.

__Você não tem ninguém?

__Tenho sim. Tenho um pai que nunca olha na minha cara, gordo feito uma baleia; Uma mãe que deve me odiar pois faz de tudo para eu ficar mal e um irmão que me odeia, gordo como meu pai, nunca se sabe o que ele pode aprontar, eu era a garota que todo mundo odiava.

__Nossa, se eu comparar sua vida, eu diria que é parecida com a do Harry Potter.

__É isso que eu vivo dizendo para mim, só que ele teve sua vida melhorada, amigos, virou um bruxo e eu? cadê a minha carta de Hogwarts... acho que é muita ficção na minha cabeça.

__Nossa que loucura.

__Desculpe eu não sou assim é que minha familia me enlouquece, estou a ponto de explodir de nervoso, como por exemplo, minha mãe, me dá qualquer gororoba que tiver em casa, feijão azedo, arroz mofado, algo de mistura um relaxo só, e ainda ela mistura canela, eu odeio canela, e além disso eu sou alérgica, ela sabe disso e coloca canela, acho que ela quer que eu morra logo.

__Vida complicada.

__Por isso que eu fugi, tenho dezoito anos mesmo, posso fazer da minha vida algo diferende do que ser o alvo.

Ele ficava olhando para mim com ternura, eu sentia que conhecia ele, mas não sabia o porque. por que as coisas estão acontecendo comigo? Por que a vejo em todos os lugares, desse jeito? Quanto mais eu penso mais eu me perco, depois de um tempo em silêncio eu decidi sair:

__Desculpe eu tenho que ir...

__Quer uma carona onde você mo... aé você me falou que fugiu, não tem lugar para ficar?

__Estou procurando um lugar desde ontem a noite, mas o que eu encontro é apenas salafrários lucrando com dinheiro de gente inocente alugando espeluncas.

__Se quiser pode vir na minha casa.

Eu olhei com um jeito extranho, fiquei com medo e disse:

__Melhor não, desculpe, prefiro ficar sozinha.

__Não se preocupe, eu moro com meus pais.

__Por que eles não estão aqui? Por que só você veio?

__Quando recebi o recado eu não contei a eles. Minha mãe sofre de problemas cardíacos e meu pai está viajando, não se preocupe tem gente em casa.

__Mas quando chegarmos lá o que irá dizer, vai contar a verdade ou inventar uma mentira?

__Vou contar a verdade. Eles precisam saber.

Decidi ir com ele. Eu poderia recusar, mas ir para onde, se ele fosse mal, existe piores no centro, não é bom eu andar lá. Fomos até o carro dele, uma HILUX 4x4, muito linda eu entrei, sentei na frente e logicamente no lugar do passageiro.

Quando chegamos a casa estava silenciosa, a mãe dele havia dormido, ele me mostrou um pouco a casa, fomos até a cozinha e ele preparou um lanche, acho que foi a melhor comida que eu comi, diferente de casa. Ele ia me deixar dormir no quarto de hóspedes, mas sua tia havia visitado e estava dormindo lá, ele então me perguntou:

__Você se incomodaria de dormir no quarto da minha irmã?

Eu não tive escolha:

__Claro que não tudo bem.

Ele me levou até o quarto, nunca vi alguem tratar uma desconhecida dessa forma, eu fiquei estranhando, mas eu estava tão cansada, e a cama parecia me chamar, eu deitei e dormir imediatamente, a cama estava tão macia.

(continua...)

Layla Vimorat
Enviado por Layla Vimorat em 11/06/2011
Reeditado em 14/06/2011
Código do texto: T3028789
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.