A MISTERIOSA VERONA Final

II

Dennis permaneceu sentado saboreando o lanche sem tirar os olhos da porta dos banheiros. Ela teria que sair, ou não! De fato o tempo passou e não aconteceu nada. Tomou finalmente o rumo de casa. Descansar como? Os acontecimentos dos últimos dias giravam em sua cabeça e ele apenas aguardava novas manifestações. Seja lá o que estivesse ocorrendo deveria ter uma razão. Parou em uma banca de revistas e decidiu comprar um exemplar do New York Times. Para sua surpresa não havia a noticia da Morte de Rebecca Simpson na primeira página. A data estava correta. Era a mesma edição do jornal. Como isto era possível? Pegou o celular e ligou para o inspetor Siqueira.

– Você está com o jornal ainda?

– Que Jornal? Respondeu Siqueira.

– O New York, a noticia da morte de Rebecca Simpson, lembra?

– Sim, mas não há esta notícia.

– Inspetor, deixe de brincadeira, o senhor me mostrou a notícia.

– Você anda vendo coisas, vá para casa descansar.

Ele parou o carro. A voz do inspetor soava como algo distante.

– Alô! Você ainda está aí?

Ele desligou. Estava perplexo. O que afinal estava acontecendo? Agora além dos sonhos tinha visões ou estava vendo as coisas a partir de um ponto de vista irreal? O que mais iria acontecer? Não tardou muito parou o carro para comprar cigarros, pensava em deixar de fumar, mas como as coisas estavam acontecendo, acabava fumando muito mais do que o normal. Voltou para o carro e então, nova surpresa! Quase não percebera a presença de Verona tranquilamente sentada no banco do carona.

– Você? De onde diabos você saiu?

– Calma! Você saberá mais tarde.

– Ok! Agora ele estava bravo.

– O que está acontecendo afinal? O que você tem a ver com os sonhos e tudo mais?

– Espere! Você é parte de um projeto que irá mudar o futuro.

– Mudar o futuro? Mas por quê eu?

– Porque você é parte deste futuro. Eu só pretendia contar quando a missão estivesse no fim, mas você precipitou tudo. Não é hora de revelar tudo ainda, mas você ainda terá sonhos e visões até que a missão se complete. Apenas confie em mim.

– Ok! Você de alguma forma domina a minha mente, me faz ver coisas e me faz ter sonhos que são como realidades e não sonhos.

– Calma! Você não matou Rebecca Simpson. Você estava em sua casa, dormindo. Lembra?

– Claro, você sabe tudo, mas quem é você e de onde afinal você é?

– Ok! Eu vim do futuro.

– Do futuro? Claro e eu sou o Tarzan como vou saber de futuro? Fala sério. Você invade a minha mente e me faz ver coisas irreais.

– Seria muito complicado explicar a você agora. Relaxe, mais tarde você irá entender, por enquanto apenas siga vivendo. Confie em mim.

– E lá eu tenho outra escolha?

– Apenas seja discreto. Não fique por aí assustando as pessoas ou passando por louco. Ok? Dizendo isso ela abriu a porta do carro e saiu, jogando-lhe um beijo. Ele a seguiu com o olhar. Ela dobrou a esquina andando calmamente como qualquer pessoa. Ele ficou parado, nem adiantaria segui-la porque provavelmente não a veria.

Dennis chegou em casa eram quase 16:00 h. Preparou um drink, ligou a TV e Jogou-se no sofá. Agora pelo menos sabia algo, restava relaxar e tentar dormir. Não falaria nada a Ana. Não era bom preocupá-la. Isto poderia prejudicar a gravidez. Se algo lhe acontecesse havia uma apólice de seguros e ela ficaria com seu salário integral da polícia.

Ele abriu a bolsa do equipamento fotográfico. Retirou com cuidado o pequeno bloco de anotações. O diário de Ariadne. Havia lido tudo e estava estarrecido com as acusações que a garota fazia à Rebecca Simpson. Pensou em publicar, mas mudou de idéia. Rebecca estava morta, mas ela era apenas a líder do cartel, claro que havia mais gente por trás. Então resolveu ir até a fundação. Apresentou-se na recepção e pediu para falar com Ariadne, ele a havia fotografado e prometera trazer-lhe umas cópias.

– Sinto muito, ela foi adotada por um casal de San Diego, você quer ver os papéis de adoção?

– Não! Não será necessário. Falou Dennis despedindo-se. Sentou-se ao volante e ficou pensando.

– Claro que esta história de adoção é chute. Eles a levaram para outro lugar até que atinja a idade. 14 anos segundo o diário. Preciso agora detonar com esta tal fundação e achar um jeito de localizar a garota.

Ana encontrou a porta aberta e deu de cara com Dennis deitado ao lado do sofá, um copo de bebida virado e ele contorcendo-se. Acordou assustado quando ela o tocou.

– Querido, o que há com você? Outro pesadelo? Porque não está trabalhando?

– Há! O Raul voltou e o Siqueira me deu uma folga. Ando muito cansado. Além disso temos a Ariadne, uma nova estagiária.

– Está bem, vou preparar um banho e depois quero você dormindo. Você precisa descansar.

Ariadne! A estagiária. Seria a mesma garota? Droga onde isto tudo vai parar? Agora pelo menos sei que Verona está por trás disso tudo. Eu matei Rebecca? Verona diz que não, mas eu sinto como se estivesse lá e realmente tivesse atirado nela. Agora Ariadne. Certo ela não deve saber de nada. Não esboçou qualquer reação quando me foi apresentada. Mas a semelhança com Verona? Não! Não é possível que seja a mesma pessoa? Esta história de futuro! Verona veio do futuro. Por quê? Por que eu tenho algo a ver com o futuro? Foi o que ela disse. Ok, vamos acelerar tudo isso. Dennis então resolveu comprar um sonífero, tentaria dormir o mais possível. Não seria difícil arranjar com o Dr. Aquino uns dias de licença do departamento.

Já se haviam passado dois anos desde que Dennis estivera na fundação para falar com Ariadne. Ele estava fazendo a manutenção de hábito no equipamento fotográfico, eram cerca de 08:00 pm nos Estados Unidos, tocou o celular. Ele reconheceu a voz de Ariadne.

– Sou eu, lembra de mim?

– Claro! Como vai?

– Escute! Estou ligando do banheiro. Existe uma casa na esquina da 5ª com a 7ª. Chegue as 11:00 pm. Na portaria vão te pedir a senha, diga”ninfa”. Quando lhe apresentarem as garotas, me escolha. Estarei aguardando, há! Vão te cobrar U$ 300,00 adiantado. Beijo.

Dennis conferiu o dinheiro, tinha na carteira exatos U$350,00, deveria dar, ainda tinha o cartão de crédito. Conferiu a arma, uma pistola automática. Na hora marcada estacionou na 7ª e dirigiu-se ao local. Tocou a campainha, uma porinhola se abriu.– Senha por favor!

– Ninfa. Falou Dennis.

– Acompanhe-me, falou a recepcionista, uma loura e tanto. Ela então o levou para um reservado decorado no mais puro estilo oriental. Cada uma das garotas passava e o beijava e dizia o nome. Como combinado ele escolheu Ariadne. Ela estava linda e tinha um sorriso nos lábios ao vê-lo.

– Quarto 117, falou a loura entregando-lhe as chaves.

Chegando ao quarto Dennis sentou-se na cama e Ariadne sentou-se bem junto dele.

– Ok! Vim tirá-la daqui. È isso que você quer?

– Sim! Por isso te liguei. Tem uma arma?

– Sim! Quantos seguranças?

– Deixa ver, há esta hora, só o da portaria. Ainda é sedo.

– Ok! Vamos sair. Fique atrás bem junto a mim ok?

Dennis empunhou a arma e saíram pelo corredor que levava à portaria. Ao vê-lo com a arma na mão a loura ficou ainda mais branca.

– Ninguém se mexa. Falou Dennis apontando para o segurança junto a loura. Neste momento de uma porta lateral surgiu um outro segurança armado. Dennis não teve dúvida. Um tiro certeiro o pôs fora de combate. Neste meio tempo o outro segurança sacou a arma e atiraram quase ao mesmo tempo, mas por frações de segundo Dennis foi mais rápido e o tiro o atingiu de raspão no ombro esquerdo. O segurança rodopiou e caiu mortalmente ferido.

– Se alguém mais se mexer, vai juntar-se aos outros. Falou Dennis arrastando Ariadne para a porta.

– Rápido entre no carro. Eles virão atrás de nós.

Mal havia dado partida, Dennis viu pelo retrovisor um carro que saia de uma garagem contígua a casa, em alta velocidade. Começou então uma alucinada corrida pelas ruas da cidade. Eles estavam perto e atiravam. Dennis respondia. Quando eles já o alcançavam e tentavam emparelhar para atirar com maior precisão, Dennis fez algo inesperado. Simplesmente aplicou os freios com tal violência que o carro quase rodopiou. Quando eles perceberam a manobra já estavam em cima da sinaleira fechando. Então um caminhão em alta velocidade atingiu o carro deles em cheio. Houve uma explosão e tudo virou chamas. Dennis havia parado no limite da sinaleira e então simplesmente virou a direita e continuou desta vez dirigindo calmamente.

– Ufa! Foi por pouco. Exclamou Ariadne chegando-se mais e tentando beijá-lo.

– Vamos com calma! falou Dennis.

– Você é menor e precisamos encontrar um lugar seguro pra você.

– Hora! Deixe de bobagem, você até pagou pelo serviço, lembra?

– Ok! Vamos para o meu apartamento e lá veremos o que fazer. Hei você disse que era só um segurança.

– A Dina! Deve ter acionado o alarme.

Dennis não sabia por quantas horas havia dormido. Acordou com Ana a acariciá-lo e trocaram beijos que foram esquentando até tornarem-se ardentes e apaixonados. Então ao final de uma intensa seção de sexo estavam ambos exaustos e nem uma boa ducha foi capaz de evitar que voltassem a dormir pesadamente. Ana dormiu logo, mas Dennis ainda se manteve por um bom tempo pensando sobre o que estava acontecendo. Até estava ficando interessante inclusive com tiroteio e perseguição como nos filmes de ação.

Tudo isso tinha a ver com algo no futuro que teria alterado suas vidas. Restava dormir e sonhar. Isto lhe permitiria montar o quebra cabeças. Os sonhos pareciam ocorrer em uma ordem cronológica e como em uma novela ele agora ansiava pela próxima seqüência. O que iria acontecer agora?

Verona surgiu repentinamente às suas costas quando cortava a barba após o banho matinal.

– Ok! Vamos lá. Esta é a parte mais importante da sua missão. Daqui duas horas na estação central do metrô. Um cientista será baleado. Você não chegará a tempo de evitar, mas você receberá dele algo muito importante. Veja esta foto.

– Este é o tal cientista?

– Sim!

– Pegue o objeto que ele vai lhe entregar e traga para mim. Dennis obedeceu, não adiantaria discutir com Verona. Chegando à estação Dennis desceu as escadarias correndo o mais que podia. Naquela hora o movimento limitava-se a um ou dois passageiros por estação. De arma em punho corria tentando visualizar algo. A plataforma estava completamente vazia. Então ouviu um estampido. Correu em direção ao local de onde vieram e dois vultos saíram em disparada. Dennis viu então o velho cientista caído junto à parede. Dennis então atirou duas vezes, mas não conseguiu acertar os fugitivos que já estavam longe. Um filete de sangue corria do peito do velho.

– Filho! Estou ferido seriamente.

– Vou chamar por socorro!

– Não! Não adiantaria de nada. Estou mortalmente ferido. A voz do velho estava quase inaudível.

– Olhe atrás do meu calcanhar esquerdo. Há uma pequena saliência metálica no sapato.

– Sim! Estou vendo.

– Puxe-a para a esquerda.

– Ok!

– Agora pegue o pequeno envelope. Leve isto para o endereço grafado por dentro. É muito importante para o futuro da humanidade.

– Porquê eles atiraram no senhor?

– Porque não encontraram o que procuravam e você apareceu. Agora vá! Dizendo isso a cabeça pendeu e o velho morreu. Dennis apressou o passo. Saiu por uma fenda lateral onde havia uma porta de emergência. Chegando ao apartamento Verona o esperava sentada tranquilamente assistindo TV.

– Aí está o seu brinquedinho, mas o velho disse pra entregar no endereço aí dentro.

– É o meu endereço.

– O que tem aí?

– Um chip que vai mudar o mundo! Vai mudar muita coisa e curar doenças como a AIDS e Câncer. Vi permitir viagens no tempo e deslocamento entre universos paralelos. Agora relaxe, sua missão terminou. Ela então deu-lhe um longo beijo e saiu.

Acordou ouvindo a voz de Ana.

– Querido! Como se sente?

– Muito bem! Estou com uma baita fome. Que horas são?

– 22, Puxa! Você dormiu uma noite e um dia inteiros.

Claro que no resto da noite faltou sono então os dois tiraram o atraso. Ana havia trabalhado o dia todo e adormeceu logo. Dennis resolveu descer e procurar na biblioteca, algo para ler. Ao acender a luz deparou com a figura de Verona sentada no grande sofá cruzando as pernas, abriu a bolsa e tirou um maço de cigarros Dunhill. Ofereceu um a Dennis. Falando.

– Ok! Chegou a hora! Meu nome você sabe, tenho 25 anos e venho realmente do futuro. 2024. Houve uma evolução muito grande. Em 2024 os computadores alcançaram um nível de sofisticação ainda não imaginado. A principal evolução aconteceu com o sistema de memória capaz de utilizar partículas ambientes como extensão da memória. A partir do atual acelerador de Adrons e as experiências com a recriação do Big Bang principalmente em 2012 os cientistas começaram a entender como funcionam realmente os universos paralelos e as dimensões adicionais que hoje ainda não são conhecidas, embora já existam sistemas de games com assessórios que permitem sua manipulação a partir do ambiente, sem fios ou cabos. Isto foi apenas o ponta pé inicial. Em 2024 a evolução permitiu não somente o uso do ambiente como memória adicional, como o entendimento do tempo e o deslocamento entre os universos.

– Ok! E o que isso tudo tem a ver comigo?

– Calma! Eu chego lá. Primeiro você precisa entender como é possível que eu tenha voltado aqui e tenha envolvido você. Você tem agora, 25 anos. Estamos em 2011, correto? Bem, até os 19 anos você viveu nos estados unidos. Você fazia o curso de fotografia na faculdade e trabalha como free-lancer para uma revista periódica. Em uma destas reportagens, você foi fotografar uma fundação que recolhia meninas de rua. Esta fundação pertencia à Rebecca Simpson. Ariadne tinha então 12 anos. Você foi fotografá-la entre outras meninas, mas ela era esperta e sentiu que poderia confiar em você. Ela tinha o habito de xeretar e ouvir atrás das portas. Descobriu que Rebecca não era o que aparentava. Embora morasse em uma casa modesta. Rebecca comandava um cartel de traficantes e possuía várias boates para onde levava as garotas a partir de 14 anos. Na verdade a fundação funcionava como um sistema de triagem. Ariadne tinha um diário que entregou à você.

– Ok! Como eu não lembro de nada disso?

– Porque você está agora em um universo paralelo. Sua vida prossegue lá, como aqui, só que com uma ligeira diferença. Vamos chamar de universo B, sua vida nos Estados Unidos. Mas o universo B está à frente deste em algumas dezenas de anos. Bem, depois que você leu o diário da garota, você quase publicou, mas resolveu não publicar temendo o que poderia acontecer com ela. Mas Rebecca descobriu tudo e a transferiu para outro local. Você voltou lá e lhe deram a informação de que a garota havia sido adotada.

Neste momento houve a interferência do futuro, conseqüência de seus atos no universo B.

– Que atos?

– Calma, você ainda não chegou lá.

– Espere! Você agora está dando um nó em minha cabeça.

– Você entenderá quando chegar a hora. Esta interferência criou outro futuro paralelo, este em que você vive, mas você continua vivendo no universo B. Como uma cópia, entende?

– Sim! Então os pesadelos são...

– Sim! Uma interferência de seu subconsciente no universo B. Quando tomou conhecimento do conteúdo do diário e voltou à fundação e lhe disseram que Ariadne havia sido adotada e você não acreditou. Você passou dois anos tentando encontrá-la. Então com 14 anos ela ligou pedindo socorro, você a arrancou da boate em um tiroteio e a levou para seu apartamento. Você cuidou dela e conseguiu uma bolsa de estudos no Berkeley College. Então ela conheceu o professor Kepler, o cientista que lhe entregou o chip. Ela era muito dedicada e começou a fazer parte da equipe de Kepler, que desenvolvia os chips revolucionários que temos no futuro.

– Sim! Mas onde entra a parte em que mudei o futuro?

– Isto foi quando você resolveu voltar e matar Rebecca.

– Mas você disse que não a matei.

– Neste universo não, mas no outro sim. Só que no universo B você ainda não nasceu.

– O quê? Mas, como quer que eu entenda?

– Simples. Presente passado e futuro ocorrem ao mesmo tempo. Desta forma, precisávamos conectar sua mente com a da outra dimensão. Então suas ações em um futuro ainda distante mudaram radicalmente sua vida e a de Ariadne.

– Ariadne? Ou Verona!

– Finalmente você entendeu! Verona foi o nome adotado quando me levaram para a boate. Usei-o agora para não confundi-lo nas ações que teria de desenvolver.

– Quer dizer que então os sonhos pararam?

– Sim! Agora você e Ariadne irão trabalhar juntos e... bem! Parando por aqui, suas vidas seguirão tranqüilas.

– Certo então quando voltei do futuro para matar Rebecca, isto alterou tudo?

– Sim, ao matar Rebecca, você mudou o destino de dois universos, este e o B no qual você ainda vai nascer. E quando você nascer lá, tudo será diferente. Não haverá uma Rebecca Simpson causando tanto mal. Então! Sua missão terminou. Fui! A gente se vê amanhã no departamento?

– Claro! Espere! O Jornal, porque estava trocado?

– Hora! Nem tudo é perfeito. Isto foi algum desvio fora de controle. Verona então andou até a porta e desapareceu na noite.

No dia seguinte Ariadne feliz e sorridente tomava lugar ao meu lado. Íamos partir para nossa primeira missão em conjunto. Um questão que envolvia o roubo de uma porca que dera a luz à 18 filhotes de um só vez.

FIM

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 19/02/2011
Código do texto: T2802165
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