O mistério da ponte

Há mais de 20 anos Luciana sempre vinha, todos os dias, e ficava por uma hora e 40 minutos sobre a ponte, olhando o percurso do rio. No começo, o povo do povoado que ela morava achava que era por simplesmente gostar de contemplar a natureza.

Com o passar do tempo, as pessoas acostumaram a ver Luciana todos os dias sobre a ponte. Já não dava mais importância e até achavam uma atitude normal. Apesar deste fato estranho, a moça era uma pessoa exemplar, trabalhava como assistente social em um hospital onde ajudava todos os que precisavam. Só se ausentava na hora do almoço; podia estar fazendo sol ou o maior temporal, não importava, Luciana estava lá sobre a ponte. Algumas pessoas mais próximas de seu convívio social, até perguntava, o porquê da moça ir a ponte todos os dias, mas nunca obtiveram respostas.

As flores que ela plantava na beira daquele pequeno riacho, havia se tornado um lindo jardim. O incrível que em uma seqüência de uns 30 metros só havia plantado pés de girassóis, que ainda deixava o lugar mais maravilhoso. As pessoas vinham, tiravam fotos, até um canal de televisão de uma das cidades mais importantes do país vieram filmar sobre a história da jovem da ponte.

As autoridades de Girassol, como era chamado, o pequeno povoado, achava tudo aquilo maravilhoso, por que o resto do pais iriam falar da cidade. Nos bate-papos das esquinas, comentava-se que Luciana era uma santa, pois tudo o que ganhava era repartido entre os menos favorecidos. A sua casa, que mais parecia um mausoléu abandonado, onde escondia tantos mistérios, ninguém entrava. As pessoas mais antigas comentavam que os pais de Luciana foram embora com suas cinco irmãs, deixando apenas Luciana e seu irmão doente. Apesar de ser uma das jovens mais lindas da cidade, nunca teve um namorado, mesmo sendo grande o numero de seus admiradores.

Uns cinco anos atrás houve na cidade comentários que seu irmão também havia indo embora, ninguém nunca mais ouviu falar de Mario. Os vizinhos se preocupavam pela moça ficar sempre sozinha naquela casa tão antiga, mas por dentro o que ninguém sabia é que aquela casa era maravilhosa, tinha uns 20 cômodos enormes e um jardim encantador, só com flores brancas, bisbilhoteiros que subiam no muro para espiar, chegaram à conclusão que as flores brancas simbolizavam a pureza de Luciana.

Em uma tarde de setembro um jovem de sorriso marcante adentra o hospital, parecia um príncipe encantado de um conto de fadas, os olhos de Luciana vão ao encontro do jovem, que também sentiu uma atração enorme pela moça. Os dois ficaram paralisados por alguns instantes, quando a enfermeira chefe entra e pergunta “Vocês já se conhecem?” Ambos se assustam, João Victor responde que não, a enfermeira os apresenta e comenta que Luciana é assistente social do hospital e que João Victor é o novo médico. Depois daquela tarde os dois se tornaram amigos inseparáveis, a moça até se esquecia de ir à ponte coisa que nunca havia acontecido.

Em uma tarde Luciana decide não querer mais ver João Victor. O rapaz fica transtornado com a atitude da moça, a qual ele não entende, mas decide respeitá-la, fazer sua vontade apesar de estar completamente apaixonado pela jovem. Na semana que se seguiu, vários assassinatos aconteceram pela cidade, numa freqüência de uma vítima por mês, contudo, nunca descobriram quem era o criminoso.

Naquela semana o assassino extrapolou e matou sete pessoas, uma por dia. O incrível é que ninguém nunca encontrava os corpos, apenas um bilhete escrito com o sangue das vitimas e como um carimbo, deixava as digitais das pessoas que nunca mais eram encontradas. João Victor preocupado com aquela serie de assassinatos e por quase não ver Luciana durante a semana, decide ir a sua casa.

Na sua residência, nota que a porta estava aberta, então entra na sala, chama pelo seu nome o qual não é correspondido. O jovem fica encantado com a organização da casa, anda por um corredor enorme e vê um quadro com um foto enorme de Luciana. Ele deduz que ali é o quarto da jovem. Apesar de ser frio e solitário ele sai do quarto, anda mais um pouco, vê uma porta entreaberta e entra quando ascende à luz, quase cai de susto, várias cabeças dentro de vidros. Cabeças de homem, mulheres e crianças e dois bebes todos decepados. “Mas onde estaria o resto dos corpos?”. De repente uma pancada na cabeça, o jovem desmaia e quando acorda está preso, amarrado com algemas e cordas nos pés, quando de repente entra alguém com a roupa toda preta, segurando uma faca.

Ele pensa ser de Luciana e a pergunta o porquê daquilo tudo, quando Mario vai enfiar a faca no peito de João Victor, Luciana tira uma arma da bolsa e descarrega sobre Mario que cai morto no chão.

Ela desamarra João Victor e começa a contar toda a sua historia, fala que seu irmão começou matando toda a sua família e daquele tempo para cá uma vez por mês fazia uma nova vítima e enterrava os corpos a beira do riacho, e guardava as cabeças, pois para ele, representavam troféus que ele colecionava. As flores brancas que Luciana plantava eram para enfeitar os corpos e cada girassol significava o número de vitimas do irmão. O que Luciana não sabia e que João Victor quando esteve no seu quarto leu uma espécie de diário, onde estava escrito tudo, o que Mário havia se calado, ou seja, nunca havia denunciado a irmã, pois a amava demais.

A moça, de um anjo se transformou em demônio, e João Victor, ninguém nunca mais ouviu falar, as cabeças foram encontradas e o corpo de Mário, com uma arma na mão, como se tivesse se suicidado, se perguntava, onde está João Victor, vivo ou morto, o que ninguém imagina é que Luciana é assistente social em outra cidade e que se tornou novamente a moça da ponte da região.