meu primeiro contacto

Nem nuvens nem desejo delas.

O escuro as vezes nos faz ter medo.

Medo de que?

Sabe? Eu tinha medo do escuro, tinha medo de tudo, uma noite fui me deitar, era uma noite comum, ate eu me deitar.

O medo nunca tinha me feito vitima, é que naquela noite foi diferente.

Eu devia ter uns 6 anos, minha irmã mais nova havia nascido, Rosangela, tudo era festa menos pra mim, afinal o que um menino de 6 anos com pouca atenção dos pais vai comemorar com o nascimento de alguém?

Mas tudo bem; eu não teria que reclamar, ela era ate um bebe lindinho, eu não tinha ninguém para perceber ate ela nascer.

Foi em uma daquelas noites, onde ninguém te ouve nem quer ouvir, lá estava eu cansado de tentar ganhar atenção dos pais, ela ganhava tudo, eu ate que não me importava tanto. Ela era diferente. Eu nunca tinha visto um bebe ate então.

Esse negocio era um verdadeiro mistério para mim.

Foi numa daquelas noites que eu então vi.

Não a bebe, a mão.

Eu deitei-me, como em qualquer noite.

Fui ate minha cama, deitei e fiquei olhando para as telhas, telhas velhas, telhas de barro.

Eu não tinha sono, e fiquei lá olhando pra elas. Ate q eu tive a impressão de ela aumentarem de tamanho, como se estivessem inchando, eu não sei o por que, mas tudo aumentava de tamanho, o quarto, as telhas, meus pés.

O quarto inteiro parecia mover-se.

Mas eu estava calmo.

O teto começou a aumentar de tamanho.

As coisas não pareciam normais.

E eu continuava ali, olhando.

Não para algum lugar nem coisa, apenas para o alem de meus sonhos e pensamentos. O teto era um espelho de lugar algum.

Então começou a aumentar, sabe?

Vinha ao meu encontro, o teto aumentava e diminuía. Ate abrir uma fenda.

Ela ia aumentando.

Aumentando ate chegar a um buraco sem fim.

Foi quando uma mão começou a aparecer.

Cheia de sangue.

Ela vinha em direção ao meu rosto.

Eu não tinha como me mexer.

Nem como me defender de algo assim.

Ela chegou.

Eu gritei.

Gritei tão alto que minha garganta amanheceu doendo.

Eu não tive um único segundo de paz naquela noite. E ninguém me ouviu gritar, ninguém me ouviu chorar.

Sozinho, assim fiquei.

Assim permaneço ate alguém me compreender....

Não adiantava dizer pra minha mãe o que aconteceu, nem pra mais ninguém... guardei meu segredo, eu e a mão de sangue.

Amanheceu o dia, ninguém sabia do meu grito, nem de nada, e eu jamais contei.

É um de meus segredos.