Quando ha luz nas sombras - capitulo 1(sombras na sala de estar é o prologo)

Não sei por que me dou ao trabalho de pensar sobre isso; a inutilidade de tudo é tão obvia, não tenho conclusões e mesmo que tivesse não resolveria muito, não virarei um espiritualista de uma hora para outra apenas por que comecei a enxergar coisas estranhas, dentro de expectativas racionais eu deveria procurar um medico.

Provavelmente me dirá que estou tendo surtos de psicose ou algo assim.

Num momento tenho uma vida normal em outro vejo sombras andando por todos lugares pessoas acompanhadas dessa sombras e tudo ficando mais confuso.

Vou ver o Davis, ele sempre foi metido a esotérico deve conhecer alguém com quem eu possa conversar.

O problema não é só conversar; será que pode parar?

Não gosto muito disso, mas também não me assusta, de alguma forma é como se eu já tivesse visto tudo isso; em um sonho, tudo parece um sonho chato que não acaba.

Por que o ônibus sempre atrasa quando estamos com pressa?

Isso é irritante, ir ao mercado e acabar o troco, ir comprar qualquer coisa e derrepente se ver preso a uma fila sem sentido que não anda nem desenrola e quando resolve andar algum idiota puxa uma assunto sem graça que você sem a menor vontade confirma para tentar anular aquele relacionamento de fila que não tem a menor utilidade. Detesto papo-furado.

Isso me lembra quando eu tinha que ir ao banco todos os dias, eu levava um livro ou um game para ninguém me encher de baboseiras sobre a fila ou o clima, por que as pessoas simplesmente não cuidam cada um de sua vida sem tentar ser sociável?

Merda! Esses motoristas idiotas sempre passam do ponto que peço para pararem, as vezes parece um complô para me irritar, qualquer dia compro uma moto e paro de andar de ônibus, ta mas como com o salário de fome que ganho irei comprar alguma coisa que não seja comida e esses trapos que chamam de roupa? Droga de sociedade pilantra, nasci vendo gente pilantra enganando os outros e tudo não muda é uma porcaria de mundo onde ninguém liga pra nada a não ser o próprio rabo, mas na hora de praticar o mal, todos cuidam de todos, escrotos.

Bom, e agora? Eu toco a campainha que não sei onde fica, eu bato palmas...será que; hei, ola Davis, você esta ocupado?

- Não, eu estava esperando você.

- Como?

- Sonhei que você precisava de uma ajuda e estava vindo, então esperei.

- Ta brincando?

- Já me viu brincando?

- Tem razão, você sempre me assustou com essas coisas.

- Serio?

- È mais nunca falei nada, não parece certo dizer que as pessoas assustam você, não é?

- HAHAHAHHAHAHA, relaxa, to acostumado a me chamarem de muita coisa, estranho é quando as pessoas me acharem normal.

- Pois é, cada um se acha normal, caras que pagam para apanhar, cheiram calcinha e coisas do tipo mas no dia-a-dia são eles os caras normais, que durante a noite são tudo, menos aquele tapete comportamental de moralidade.

- È, você sabe do que estou falando. Por falar em você sabe, eu sei o que esta acontecendo com você.

- Mas eu nem disse nada ainda.

- Não precisa, nunca precisou, eu só achei que demorou para acontecer.

- Como assim?

- A primeira vez que eu te vi eu sabia que você tinha sensibilidade, só não entendi se você já sabia ou se saberia, a noite em uma visão vi você recebendo a abertura de seus olhos, isso tem umas duas semanas, logo depois eu sabia que você me procuraria afinal na visão era eu que enxotava seus olhos, então eu sabia que poderia te dizer algumas coisas, conforta-lo, mas, é só. Ontem depois do sonho e da forma como sonhei sabia que hoje você viria.

- Como?

- Coisas que o tempo nos ensina, experiência, vida, esse tempo que recebemos para gerar ou destruir algo.

- Que?

- Relaxa, divaguei um pouco. Mas vejamos, aceita um chá? Café?

- Aceito uma vodka, tem?

- Não, eu prefiro me manter sóbrio, sabe? Tenho uma tendência q me descontrolar, sou melancólico demais para poder consumir qualquer coisa que libere essa tendência depressiva. Você deveria pensar sobre isso, essa sua insatisfação pode ser um bom começo para depressão.

- Não, eu não tenho esse problema, as vezes fico melancólico mas lembro que vivemos em uma tonelada de merda que não tem como não sentir o cheiro então deixo tudo pra lá.

- É, você sempre faz isso. Bom então vamos lá. O que você esta vendo esteve ai a sua vida toda, de alguma forma passamos a maior parte de nossas vidas ignorando tudo.

- Como assim?

- Calma deixe eu concluir depois você questiona, ok?

- hu-hum.

- Então, o mundo esta cheio de entidades, boas e não tão boas, todas as sombras que você agora consegue ver de alguma forma são espíritos, não de pessoas nem de alienígenas ou coisas do tipo, apenas espíritos, uns com funções especificas como as que você viu no trem, como os que você vê nas ruas atormentando as pessoas. De alguma forma eles podem fazer isso, mas não conseguem tomar o corpo delas. Perguntas?

- Como você sabe o que vi no trem?

- Acabei de ter uma visão sobre isso.

- Assim? Simples?

- Não é simples, mas vejo quando preciso ver, aprendi durante os anos que se passaram que não vejo o que quero, não consigo saber de segredos que me tragam vantagens, vejo apenas o que me é dado. Entende?

- Por isso não vejo nada sobre uma boa parte das pessoas que estão nas ruas? Das que conheço?

- Uma parte sim, outra não, veja, algumas coisas você vê, outras você escolhe não ver, ao que me parece quando nós gostamos de alguém, seja amigo ou qualquer outra coisa é como se nós colocássemos um filtro para não ver, mas se for algo importante a mesma força que nos da a visão revela o que precisamos, as vezes em um momento que parece tardio, mas, nunca é tardio.

- Ta, você ta me dizendo que sou uma espécie de vidente?

- Não, não uso esse termo, estou te dizendo o que disse no inicio, você tem uma sensibilidade, que possivelmente irá aumentar, não sei quando nem como, mas a ver pelo rapidez que você cresce, talvez seja muito breve.

- O que? Como assim, cara você esta me deixando confuso com tudo isso, quer dizer com crescer que ainda vai piorar?

- Piorar? O que você chama de piorar?

- Esse papo de crescer é que irei ver mais coisas?

- isso, talvez outras coisas também.

- Mas por que? Por que isso acontece?

- Eu não sei, nunca soube, eu apenas tentei ser diferente por algum tempo e percebi que não adianta.

- Que? Eu não estou gostando nada disso.

- Você acha que eu gosto? Você acha que me sinto importante? Você acredita que saber que você iria chegar aqui hoje para me perguntar coisas e outros fatos que ocorrem todos os dias, pessoas que sei que irão ter câncer daqui algum tempo, pessoas que vejo morrerem anos antes que aconteça, viciados, tudo. Tem dias que vejo tudo em todos e não posso fazer nada! Você acredita que gosto? A impotência de saber e nada poder fazer só me deixa cada vez mais melancólico e triste, se me rendo a esse sentimento talvez eu nunca mais saia de uma garrafa! Entende por que não bebo?

- Cara, você não esta exagerando? Essa coisa de saber, saber , ver, por que? Por que você é assim?

- Nós, e muitos outros, como eu já disse, não sei. Sei de pessoas que não suportaram a falta de uma resposta e deram um tiro na cabeça, você pode acreditar que é médium e freqüentar um centro, ou que é um santo e ir a igreja, acredito que nada disso ira te responder nada. As pessoa estão presas a certas regras que impede que enxerguem alem do que a religião lhes dita. Acha que já não falei com todos eles? O que me deram? Confusões e respostas moldadas. Não acredito que ninguém possa te ajudar, cada ser é único, temos semelhanças todos com cada um, mas somos diferentes, meu caminho não pode ser o seu, não tem como.

- Mas, o que faço?

- Não sei, se eu soubesse como resolver alguma coisa eu não moraria em uma casa medíocre no meio de coisa alguma, concorda?

- Cara, não sei...

- O que? Deixa, cara vai viver, deixe acontecer, não se preocupe com nada. A vida ainda é a melhor professora para tudo, você não tinha que trabalhar?

- Cara! Você tem razão, eu deveria ir pro trabalho, mas, não hoje, preciso pensar um pouco, você me disse muita coisa que não sei o que achar, é tudo muito estranho, eu olho pra você e... sei lá; cara, é tudo muito estranho, agora mesmo, eu olho pra você e vejo tudo a sua volta brilhando, sabe como um sol? Expandindo luz de si? Você esta todo assim como aquele papo-furado de áurea, sabe?

- Sim, o que mais você vê?

- Nada.

- Respire e me olhe com calma, relaxa, tente não pensar em nada, apenas respire devagar, respire e relaxe, sinta o ar, a brisa que entra pela janela, feche os olhos por um segundo para você apenas relaxar, abra os olhos aos poucos e me olhe com bastante calma, sinta cada respirar seu deixe o ar fluir em você.

- Eu vejo você brilhando, seu corpo brilha com bastante intensidade, não nas mãos, suas mãos são como luvas escurecidas elas brilham menos, os seus ombros tem uma mancha em cada ponta, no meio do seu peito você brilha com intensidade, mas , sua cabeça parece faltar um pedaço, do lado de seu olho esquerdo tem uma fenda totalmente negra, e seus pés brilham em um tom esverdeado, sua casa inteira é só sombras, as luzes parecem vir dos cantos e...

- Chega.

- Como?

- Já me disse o bastante.

- cara minhas mãos estão tremulas, e meu rosto esta formigando, por que?

- Energia, talvez, talvez seja por que você não tem costume de relaxar.

- Mas... o que quer dizer? Relaxar é uma espécie de chave da visão?

- Não, relaxar é a chave de tudo.

- Cara... preciso vir mais aqui para falar com você.

- Eu não tenho mais nada pra te dizer e amanha começo um curso que ira me ocupar durante boa parte do dia. Mas, quando for possível conversamos mais, talvez eu aprenda mais com você na próxima vez.

- Aprenda? Você sabe muito bem que não sei de nada.

- Mas já vê muita coisa, pouca gente consegue ver tanto de alguém como você me viu.

- O que eu vi?

- As luzes são coisas que parte sei explicar, parte não, quando eu descobrir tudo eu explico, ok?

- Beleza, mano nem sei o que fazer, ou; cara obrigado, vou nessa e...

- Tome um ônibus para o centro, senta em uma praça e relaxe bastante, tente aprender a respirar.

- OK.