mamão 01

Shopping Tijuca, um dos maiores da Zona Norte do Rio de Janeiro. Um lugar que está sempre cheio, seja de jovens ou de idosos. Numa sexta, 18h, estava mais do que cheio. Adolescentes em turmas, crianças com seus pais, casais de todas as idades. Porém, uma confusão no primeiro piso levou à interdição e ao fechamento do local.

O medo parece ter se alastrado rapidamente. Pessoas correndo, as mais calmas andando rapidamente, e um burburinho levantava hipóteses para o acontecido. Umas, plausíveis; outras, nem tanto.

- Será algum vazamento de gás por aí? Será arrastão?

- Não, não! É aquela profecia! O shopping vai desabar!

Ninguém ouviu barulho algum. Não foi tiro. Não foi explosão. Não foi porrada. Foi alguma coisa no banheiro, pois, de repente um cheiro horrível se instaurou e o saldo foi dois desmaios – um segurança que passava por perto e um usuário. Uma fita de segurança, daquelas da Defesa Civil, isolou a área. Temendo a probabilidade de um ataque terrorista, algum gás venenoso, a direção mandou que se fechasse tudo.

Uns dois dias depois, técnicos examinaram o banheiro masculino do primeiro piso e acharam um papel garranchado com o seguinte:

Limpeza: 7,0

Material (papel higiênico, ducha, sabonete, papel toalha): 7,6

Privacidade (trinco, altura da porta): 8,0

Conclusão: vocês precisam melhorar!

Ass.: Mamão.

No verso do tal papel, estava escrito algo que pareciam ser os componentes, a receita de um bolo. Um bolo bem natureba, diga-se de passagem. Cobrava-se 2 reais por fatia. Os profissionais envolvido nas operação preferiram descartar essa parte e atentarem mais para as notas dadas às condições do banheiro. Afinal, o que seria aquilo? Até agora só sabiam que não fora um ataque terrorista ou algo do gênero, alguém “só” havia soltado um daqueles caprichados na privada.

Numa reunião com a direção do shopping, representantes de um órgão especial da polícia discutiam quem poderia ter cometido tal “atrocidade”. Lembraram de uma reportagem do Globo Repórter em que apareciam pessoas que utilizavam da criatividade e de um alto grau de especialização para surpreenderem no mercado de trabalho. Havia um sujeito especialista em avaliar hotéis. Alguma empresa o contratava, ele hospedava-se em determinado hotel e enumerava qualidades e defeitos do estabelecimento. Será que um especialista em banheiros, em sanitários públicos prestou um serviço ao Shopping Tijuca?

As primeiras medidas tomadas foram quanto à melhora dos sanitários. Todos passaram a ter uma limpeza impecável, papel higiênico dos mais macios, trincos funcionando, ducha higiênica com água quentinha, sabonete líquido, papel toalha e tudo do bom e do melhor. Tinha até música ambiente no banheiro, com um ar condicionado geladinho.

A vigilância aumentou no local. Seguranças uniformizados e à paisana tomavam conta de tudo e de todos que por ali circulavam. Muitas pessoas deixaram de usar o banheiro, provavelmente pelo medo de um novo “ataque”. O burburinho continuava, e as hipóteses continuavam cada vez mais absurdas para o que acontecera:

- Sabe o que foi isso aí? O Shopping Iguatemi vive vazio, deve ter sido alguém de lá que mandou soltarem aquele troço! Assim, o movimento diminui por aqui e aumenta lá!

- Pra mim isso foi coisa de gente do shopping mesmo. Algum funcionário revoltado ou alguém que não agüenta mais tanto movimento, aí mandam uma dessa pra esvaziar tudo um pouco.

- Ah, cara, na minha opinião foi uma jogada de marketing. Desse jeito o Shopping fica em evidência, pode ver que apareceu em tudo quanto é jornal, portal de noticiais e tal...

Cabe lembrar que câmeras de vigilância também foram instaladas em todos os sanitários. Alguns colocaram-se imediatamente contra tal atitude, visto que a privacidade estaria ameaçada e o youtube cada vez mais visitado.

O movimento no shopping diminuiu um pouco nos primeiros dias após o ocorrido. Passadas algumas semanas e com algumas atitudes tomadas pela direção, o movimento voltou ao normal. Nada como um estacionamento gratuito e o preço do cinema lá pra baixo. Alguns aproveitadores se deram bem com a situação, como o dono de um barzinho em frente que passou a cobrar 25 centavos pelo uso do seu banheiro.

Algumas pixações com a inscrição “Mamão” e o desenho da fruta espalharam-se pela cidade. Estudantes de história idealistas declararam apoio a seu criador, mesmo sem conhecê-lo, visto que ele passou a representar uma agressão a um dos maiores símbolos do capitalismo. Atacar McDonald? Espalhar cartazes do Mv-Brasil pela cidade? Nada! A onda agora era cagar bem fedido em banheiro de shopping.

Depois de um mês, quase ninguém mais falava do tal ataque ao banheiro. Entretanto, um novo ataque na cidade aumentou a cautela de todos e trouxe o assunto de volta. Oh, não, o Mamão voltou!

Continua!