UM DIA DE CÃO

Era uma sexta-feira, quase igual a qualquer outra.

Digo quase, pois havia um certo clima de esperança no ar e eu me apegava a ela com unhas e dentes.

Fazia frio e chovia bastante, fazendo com que o ar ficasse bem mais limpo e fácil de respirar, mas pra mim, estava sufocante.

A manhã passava tranqüila, sem novidades. Mas dentro de mim havia um turbilhão de dúvidas e perguntas sem respostas imediatas. Será que ia conseguir o que desejava tanto?

Dei a minha aula tentando não me distrair com os meus pensamentos conflitantes. Meus alunos, não tinham culpa dos meus problemas pessoais. Tinha que deixar tudo isso fora da minha sala.

Lia com eles , um texto sobre a amizade e logo começamos a debatê-lo.

A maioria deles achava maravilhoso ter amigos verdadeiros, mas um menino que até então se conservara calado, falou não acreditar na amizade. Ela lhe chegava sempre de modo interesseiro.

Conversamos bastante sobre o assunto e falei-lhe das minhas experiências positivas e negativas também.

Falamos sobre os vários modos de amizade e comentei com eles que eu havia descoberto outro tipo de amizade. Ela era cativante e incondicional. Aquela que não escolhemos, mas sim, somos escolhidos por alguém, que por vezes, nunca vimos pessoalmente e talvez jamais veremos.

Todos sentiram que estava falando de amigos virtuais.

Tinham muitas estórias para contar. Algumas muito alegres e outras decepcionantes, mas muito interessantes.

Aproveitei o momento, para sensibilizá-los mais um pouco, sobre o tema e disse-lhes que sempre tento ajudar alguém, numa hora em que estiver na pior, pois quando alguma pessoa não tem nada de bom, que nos aproxime dela, é que teremos de fazer de tudo pra melhorá-la, pois está muito fragilizada pela infelicidade do momento e precisando muito da sua mão amiga.

Até o nosso amigo tristonho, concordou que valia a pena tentar e deixar os preconceitos de lado.

Comentei com eles que devemos ajudar ao próximo, mesmo que esse próximo não esteja tão perto assim da gente. Eles riram e concordaram com essa consideração.

Continuei a aula, mas tinha horas em que minha mente vagava com o acontecido daquela manhã e tinha um sobressalto. Respirava fundo tentando voltar à calma tão necessária...

Estava nesse estado de aflição, quando a porta da sala se abriu repentinamente! Que susto! Eu falei sem pensar. Entrei em pânico. Não conseguia segurar mais a minha angústia. Senti que era a notícia tão esperada!

Oh!...Meu Deus! Será que tinha chegado o final daquela tortura?

Os segundos de expectativa pareciam intermináveis... Mas quase sem voz, temendo o pior, perguntei com grande esforço, o que não tinha a coragem de escutar, tal era o medo daquele desfecho.

Foi quando a secretária da escola falou:

- Era da sua casa, a cachorrinha que a senhora salvou do atropelamento, está bem, não corre mais risco de morrer!