O QUE EU VIA DA MINHA JANELA

Da janela do meu quarto, eu via um casarão de dois andares.

As janelas tinham cortinas finas e sempre a mesma hora comecei a observar coisas e movimentos muito estranhos.

O Cômodo que sempre me chamava atenção, nunca estava iluminado totalmente, ficava sempre na penumbra.

Fui ficando curiosa com o passar dos dias. As cenas sempre me deixavam tensa e amedrontada.

Quase sempre eram dois vultos... Aproximavam-se e afastavam-se parecendo acariciarem-se ... Porém o que me deixava estarrecida, eram os objetos pontiagudo e uma corda que um dele sempre tinha em seu poder.

Juntava-se e afastava-se, um vulto do outro como em ritual muito estranho. Parecia uma tortura , pois um deles empunhava um objeto esquisito e depois o afastava, e por vezes o outro caia, mas logo era erguido rapidamente.

Cada vez mais eu pensava em um jeito que me fizesse descobrir , o que era toda àquela encenação.

Seriam dois amantes que se encontravam todos os dias ali, furtivamente?

Comecei a maquinar um plano. Tinha que ser perfeito, convincente e na mesma hora em que tudo se passava.

Tive uma grande idéia. Disfarcei-me em vendedora de cosméticos, pois tinha visto umas moças saindo do casarão, muito bem vestidas e maquiadas. Então pensei:

A mulher , de certo , compraria ou pelo menos escolheria alguns produtos pra melhorar a sua aparência.

Coloquei o plano em prática. Pedi à minha prima, alguns dos seus produtos e junto com os meus, arrumei uma maletinha muito atraente.

Fui ao meu quarto para aguardar o momento adequado!

Esperei por algum tempo e nada de movimento. Será que logo hoje, não iria ter encontro?

Comecei a ficar tensa. Já estava quase tendo um ataque de nervos, quando notei a presença dos dois vultos.

O meu coração quase saiu pela boca. As minhas pernas começaram a tremer. Respirei fundo e fui para a minha averiguação... Ah !... De hoje, aquele mistério não passava!

Sai rapidamente... Parecia eté que tinha asas!

Cheguei à porta do casarão... Estava tensa, mas sabia que tinha que me calmar.

Pensei no quanto era extraordinário e decisivo aquele momento e então, toquei a campainha.

Parecia uma eternidade. Ninguém aparecia... Resolvi tocar novamente, mas antes alguém abriu a porta. Quase morri de medo. Porém a senhora que me atendeu era de uma doçura tão grande que me encantou e me acalmou também. Falei o que vinha fazer e para meu espanto, ela quis ver o que eu estava vendendo. Fez-me entrar.

O cômodo estava na penumbra. Mandou que sentasse.

O telefone tocou e ela pediu-me licença e foi atender o chamado no outro cômodo.

Comecei a acostumar a vista e... Que assombro!

Quando olhei para janela, vi através dela, o meu quarto!

Que sorte pensei. Olhei atentamente tudo que tinha no salão. Os móveis eram antigos e em estilo colonial.

A senhora voltou e trouxe um castiçal, com duas velas grandes.

Disse-me que estavam com problemas na fiação elétrica.

Imaginei que era um pretexto, pois há tempos aquele cômodo estava às escuras... Ah! Mas tudo bem... Estava justamente na hora em que tudo acontecia.

Comecei a demonstrar os cosméticos e ao mesmo tempo observava o ambiente.

Em um desses momentos, olhei em direção ao lugar, onde da minha janela, eu assistia sempre ao mesmo tumulto...

Observei atentamente e vi o vulto que parecia estar se escondendo como se tivesse sido pego de surpresa e não houvesse tempo para se ocultar. Será?

Olhei mais fixamente... E não acreditei no que vi . Não podia ser!... Era inacreditável!

Acabara de descobrir quem era aquele vulto misterioso. Eu nunca poderia imaginar uma coisa daquelas...

Sim, o que eu, por tanto tempo tinha ficado a imaginar, aquelas coisas que me deixavam deveras tensa e amedrontada, aquelas cenas de horror... Nada mais era do que...

...Uma costureira com seu manequim!