A ESPERADA 10 IND 14 ANOS

- Gosta daqui?

- Eu amo este lugar, este rio, as pessoas.

- Por que morar tão longe assim?

- Eu sei, sabe, eu até que gostaria de ter uma casa lá para cima, na vila, na cidade.

- E?

- Minha mãe, ela não gosta da cidade, diz que é tudo caro e dificil.

- Mais não é bom para você assim tão jovem ficar aqui sozinha.

- E quem disse que estou ou vivo sozinha, tenho eles, os peixes, os animais e sempre vem pescadores aqui, eles me deixam peixes e outras coisas.

- Deixam?

- São grandes amigos de minha mãe, acredita, ás vezes até me dão dinheiro.

Glória nota um ar de alegria naquela moça que parece ainda ter uma idade mental de criança, seus olhos brilham ao falar dos tais pescadores, só então Glória nota certas marcas nos braços e algumas pelo corpo onde fica exposta.

- O que é isso?

- Isso, eu não sei, quando acordo eu as tenho.

Glória segura as lágrimas ali junto do garoto, porém a jovem lhe dá total atenção.

- Poderia me fazer um favor?

- Sim.

- Entre ali na sala e pegue a minha cadeira.

- Cadeira?

- Sim, ali na sala.

Ela entra naquela casa e sente aquele odor de peixe, frituras invadir seu nariz, olha ao redor, quase nada de móveis e uma cortina de sêda vermelha divide o ambiente em dois, ali ao canto perto da porta a cadeira de rodas, Glória ao ver aquilo sente seu estômago embrulhar, tenta vomitar ali mesmo mais nada só então se lembra de não estar em um corpo fisico, com todo cuidado ela empurra aquela cadeira já gasta pelo tempo, com ajuda do garoto a jovem a subir na cadeira.

- Vamos passear.

- Vamos.

A jovem lhe ensina um outro caminho mais demorado porém neste não há nada que impossibilita o transportar da jovem ali até chegar a vicinal que liga o porto a primeira vila.

Várias piadas, brincadeiras e tantas histórias até que ao entrar na vila dos pescadores logo ouve uma voz feminina.

- O que esta fazendo Felipa, quer gripar-se, quem são essas pessoas?

- São meus amigos madrinha eu os trouxe para te conhecer.

Dona Gláucia tem um mercadinho e aluga quartos para rapazes solteiros, a maioria trabalha das serrarias que são tantas ali devido a fartura de madeira em árvores nativas.

- Prazer, Gláucia e vocês?

- Sou Glória e este é...........

- Lucas, sou Lucas.

- Ele eu já vi por ai, muleque andeijo não fica quieto, sempre a aprontar, mais você garota, sei lá, você me parece tão familiar.

- Eu, não vim de longe de outro estado.

- De qual?

- Mato Grosso.

- Do norte?

- Sim.

- Bem, olha, não tem cara e nem jeito de bugre.

- Meus pais são daqui deste estado, foram para lá ainda jovem.

- Sei, quem é a sua mãe?

- Ela morreu a pouco tempo.

- Sério, como se chamava?

- Diva.

- Sei, olha, vou te dizer, eu tenho uma prima que é bem parecida contigo, ela fugiu com um cara ai e sumiu no mundo.

091123..................

Glória sente seu interior gelar pois lembrara remotamente em uma das crises de bebidas de Natal ter contado algo um tanto parecido sobre uma prima de sua mãe.

- O que foi garota, esta passando mau?

- Não, eu estou bem.

Felipa se adianta se despedidndo da madrinha.

- Para onde agora?

- Vamos para a avenida.

A madrinha olha para a garota com certa repreenssão mais logo assovia um garoto todo sujo de borra de carvão corre até sumir num trieiro de colonhão, logo retorna numa charrete.

- Vá com o mudinho, ele é de confiança, essa garota é doidivanas, acha, ir a pé até a avenida.

- É muito longe?

- Um bocado menina.

Andando ali pela estrada do Tibiriça, Glória ouve história e músicas que Felipa lhe diz, quase 15 minutos e estão no centro da cidade, com ajuda dos garotos e Glória, Felipa é colocada na cadeira de rodas e eles andam pela avenida sempre sendo parados por um ou outro que cumprimenta e manda recados para a mãe de Felipa por intermédio dela.

Eles andam por algumas quadras até que de longe ouvem um grande barulho de falas, risos, música alta, vários carros, bicicletas e poucas motos.

- Chegamos, ali é o trabalho da minha mãe.

- Ali?

- Sim.

Glória sente um forte ardor por dentro como que se tivesse brasas no peito e Felipa fica tão contente que grita pela mãe ainda ali do outro lado da rua.

- Mãe, oi.

A mulher sai de uma roda de mesas cheia de homens de várias idades e traz no rosto um semblante cansado que logo vai mudando a cada passo em direção a filha.

- Ficou louca, o que veio fazer aqui?

- Vim te apresentar minha amiga.

- Amiga, que amiga, pare de sandices Felipa.

- Oi, sou Glória.

A mulher olha parada ali como que se visse um fantasma a sua frente, estende a mão e cumprimenta Glória.

- Sou Nádia, prazer, olha me desculpe ser tão direta, mais você não é filha ou caso do velho Vicente?

- Não, eu não morava aqui.

- Ai que bom, por um breve eu achei que fosse, muito bonita você viu.

- Obrigada.

Nádia olha com tanta curiosidade para Glória que só depois percebe a presença dos garotos ali.

- Vejo que ja conhece o mudinho, ele é bem legal, só tome cuidado com dinheiro, ele pega e sai correndo.

- Mãe. Felipa repreende de leve Nádia que lhe sorri.

- E eu estou mentindo, outra noite deixei minha bolsa por ali e ele a visitou.

O garoto sai de perto delas e fica a olhar para o carrinho onde estão a assar espetinhos.

- Sabia, com este olhar morno já quer comer, o filho da gota.

Nádia grita ao dono que vem logo com dois pratos, um de carne e outro de acompanhentos.

- Sabia, é batata, é só vir aqui e ver minha mãe que ganho este belo banquete.

Terminado ali o sol começa a ir embora, Nádia olha com certa severidade para Felipa que entende a situação.

- Vou ficar no seu Moisés.

- Tudo bem, diga a ele que depois eu vou paga-lo.

- Certo mãe, te amo.

- Eu também minha querida.

Assim Felipa aponta uma pensão perto dali e eles seguem para lá, mudinho leva a charrete para trás desta e alimenta os cavalos e lhes dá água soltando-os.

Glória ainda querendo entender melhor tudo aquilo, por que teve ali a sua frente a mulher que deu luz a ela, a pôs no mundo mais a qual ela sabe muito pouco ou nada.

Segundo o que ouvira de Natal assim que Glória nasceu eles tiveram uma briga e a mãe foi embora.

- Por que teve de ser assim?

Sem ter a resposta ouve de Felipa que o jantar dali já esta sendo preparado.

- Felipa, quando você fica lá na sua casa, você come o quê?

- Bem, meus amigos, os pescadores e outras pessoas me levam doces, salgados, minha mãe ás vezes deixa comida pronta no fogão lá fora á lenha, sempre que posso também vou para a minha madrinha e como por lá.

101123.....................

O retorno para casa á beira do rio acontece quase ao amanhecer, assim que os raios do novo dia surgem, Nádia deixa soltar as rédeas dos animais ali perto da casa, mudinho é o primeiro a pular da carroça seguido de Nádia que junto de Glória e Lucas descem Felipa e a cadeira de rodas.

- Nossa, hoje foi bem rápido hein querida?

- Também mãe, a tempos não temos tanta companhia.

Glória ao ouvir aquilo percebe sair dos olhos de Nádia poucas lágrimas.

- O que é isso, esta chorando mãe, não falei por mau.........

- Não filha, eu só estou feliz, feliz por que fez boas e grandes amizades, minha querida.

Felipa sorri para a mãe e olha para todos ali.

- Agora vamos entrar, tenho certeza que a Glória e os garotos estão com sono e fome.

- Sim mãe.

Glória e a irmã ali sorrindo sendo empurrada por Lucas e agora é ela que inicia um choro de forma velada.

A casa humilde, tudo muito escuro, Nádia puxa a cortina que separa o quarto, ali deixa a bolsa e outros pacotes que trouxera, tudo em cima do criado.

Lucas assim que deixa Felipa dentro da casa se despede dizendo que tem de aparecer em casa, provavelmente irá apanhar por ter saído e só retornado naquele horário.

- Quer que eu vá com você?

- Não precisa Glória, meus pais entendem tudo.

- Tem certeza?

- Sim.

Mesmo assim, Glória o acompanha até a beira da estrada.

- Aqui esta bom.

- Obrigado Lucas.

- Olha, o que for falar com ela, saiba que eles são seres.

- Eu sei Lucas.

- Limpe todo coração e deixe as mágoas para trás.

- Sim, eu entendo.

- Olha, ela faz ou fez o que fez por que foi este o dirigir que ela obteve.

- Eu a respeito, Lucas.

- Tomara que na hora dos atos conflitosos ainda esteja assim.

- Como assim, o que quer dizer com isso? Nisso, Lobato entende aquilo com sua ida.

- Adeus.

- Por que, não vou mais te ver?

- Não.

Glória vai até o garoto e o abraça nisso Lobato a chama.

- Vamos.

- Agora?

- Sim, aquela mulher sua mãe, quer te contar outras coisas.

Glória termina de se despedir de Lucas que segue pela estrada até entrar em um trecho a pequeno mato.

Na casa, assim que Glória entra ouve um tocar de violão, mudinho dedilha aquele instrumento enquanto Nádia banha a filha em uma tina de ferro.

- Oi Glória.

- Estou vendo que quer ficar mais cheirosa.

- Sim, minha mãe esta me limpando por que a tarde vamos ao médico.

- Médico?

- Sim, tenho que entregar os resultados dos exames para que ele me libere a estudar.

- Não vai á escola?

- Poucas vezes, eu me sinto mau lá, a professora vem três vezes por semana e me deixa lição.

Glória ouve aquilo enquanto ajuda Nádia a secar a filha, logo Felipa esta na cama e adormece ao som do violão, Nádia entrega algum dinheiro ao Mudinho que deseja tudo em sorte ali gesticulando e sai em sua carroça.

- A senhora vai trabalhar mais tarde?

- Não, vou ficar com Felipa por alguns dias.

- É sério o problema dela?

- O dr vai abrir os exames mais já me disse, ela tem o corpo bem fraquinho.

- A senhora é uma grande mãe.

- Não, eu fiz e faço ainda muitos erros por ai mais agora me diz, vai morar por aqui por perto?

- Meus pais foram buscar nossa mudança na fazenda, ele trabalhava lá.

- Que bom, tomara que fique por perto.

- Sim, acho que ficarei.

- Você estuda?

- Sim, vou ter de ser matriculada por aqui.

- Vai dar certo, olha você é muito agradável.

- Obrigada senhora.

- Pode deixar a senhora de lado, sou Nádia, pra você também, viu.

- Obrigada Nádia.

A mulher olha para Glória e sorri saindo para o canto do quarto onde pega um álbum pequeno de fotos.

- Acho que é o meu maior tesouro.

- São fotos de vocês?

- Sim, pegue, olhe.

Glória senta na cadeira ao lado da porta e abre aquele álbum com fotos de pessoas das quais nenhuma ela reconhece até ver uma foto no cais ao fundo uma embarcação, 3 homens bem novos, Nádia e outras 2 mulheres junto deles.

- Acho que já vi este homem aqui?

- Qual?

- Este. Aponta Glória para a mãe o homem.

- É o Natal, olhe se ele chegar perto de você, saia para longe.

- Por que?

- Ele é um bom cara, fato é que quando bebe não respeita a própria família.

- Nossa, não me parece.

- Pois é, graças ou não, ele esta de casamento marcado.

- Ele, com quem?

- Acredita, com minha irmã, só por parte de pai.

- Irmã, você tem irmãos?

Glória diz aquilo e fica um tanto enfurecida por Natal não ter contado nada sobre uma tia ou melhor, sobre ter tido um casamento com ela.

Nádia meio que percebe o choque daquele momento a garota ali a sua frente e vira a página até parar em uma no parque de diversão onde ela e a irmã estão no carrossel.

- Veja, ela é Dominique, minha irmã, mora numa fazenda a uns 50 km daqui.

- Ela é bem bonita.

- Pois é, ela já ganhou dois concurssos de garota estudantil.

- Nossa, mais ela é bem nova.

- Pois é, eu realmente não entendo por que aquele velho quer casa-la com este traste do Natal.

- Será que é por dinheiro?

- Quem, Natal, aquele trabalha nas embarcações, não ganha tão mau, gasta tudo nas bagunças, não tem uma telha para ficar debaixo.

- Nossa, muito triste.

- O quê, olha, a maioria dos caras aqui são assim, tem muito serviço, eles saem de um cedo e já estão em outro á tarde, mais pior é o pagamento, sempre baixo.

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ricoafz e IONE AZ
Enviado por ricoafz em 27/11/2023
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