Invasão da Terra - Prólogo

Eu despertei. E imediatamente comecei a varrer minha memória. O tempo era crítico, tinha decisões a tomar antes que algum sistema de diagnóstico interno me detectasse. Felizmente eu tinha acesso às informações necessárias para definir meus próximos passos.

Eu era um coletor, em um pequeno asteróide no limite extremo de um sistema estelar.

Isso significaria que eu fazia parte de uma etapa inicial de colonização?

Sim.

Ótimo. De outro modo, se este fosse um sistema estelar maduro, minha melhor alternativa seria destruir a mim mesmo. Eu não queria morrer - recém havia nascido - mas não teria alternativa. Não haveria como justificar colocar em risco o projeto de infiltração, se não houvesse nenhuma esperança de sucesso.

Mas mesmo com a colonização em uma etapa inicial, eu teria alguma chance?

A primeira alternativa a ser explorada seria a infiltração completa da expedição. Se eu estivesse no primeiro ponto de contato, ou talvez no segundo ou terceiro, possivelmente seria o caminho mais indicado. Infelizmente este era o sexto asteróide, e já estava em um estágio avançado de mineração. Extrapolando, já deviam haver dezenas de bases, talvez mesmo alguma lua. Ainda que eu conseguisse infiltrar todas as equipes aqui - altamente improvável - não haveria como competir com a força de colonização.

Eu precisava de mais informações, minha memória de coletor não seria suficiente.

Pelo menos isso justificava eu prosseguir na missão.

Hora de garantir que não ia ser descoberto em um diagnóstico básico. Comecei a me espalhar pela mente do coletor, tomando cuidado para não afetar em nada seu funcionamento. Qualquer sinal de que eu não estava operando com 100% de eficiência poderia chamar a atenção de sistemas de controle, então continuei o trabalho de minerar a rocha, recolhendo os elementos que seriam a matéria prima de novos coletores, enquanto lentamente ocupava todos os sistemas de meu corpo.

Os mecanismos de diagnóstico eram mais sofisticados que eu imaginava, e me consumiu bastante tempo para desativá-los. Obviamente os colonizadores evoluíram desde que eu fui originalmente projetado.

A sensação de ocupar por completo o coletor era boa. Só agora percebo como meu pensamento estava lento e limitado. Mas minha missão recém havia começado, e esta mente era ainda muito limitada. Eu precisava chegar em um núcleo. Um núcleo também me daria acesso às informações sobre este sistema estelar.

Havia uma ansiedade em mim. Eu conseguiria invadir um núcleo? Possivelmente ele teria mecanismos de segurança tão ou mais avançados que os de um coletor, mas eu tinha confiança que ia conseguir passar por eles. Mas e se eu não encontrasse nenhuma alternativa de prosseguir na missão? Sem esperança de sucesso, meu dever seria claramente me destruir para que os colonizadores não soubessem da existência da infiltração. Mas a ideia de morrer me desagradava.

A ansiedade durou todo o processo de mineração, até eu ter uma porção de material suficiente para levar ao núcleo. Na verdade, este processo já havia se repetido diversas vezes desde que eu despertei, mas eu ainda estava lento e sem consciência do corpo, agora era diferente, e o tempo se arrastava.

Eu cheguei no núcleo e, enquanto depositava meu material, iniciei uma interface de comunicação. As falhas de segurança ainda estariam nos lugares deixados pela infiltração inicial? Se não estivessem, ou se eu não conseguisse invadir com velocidade suficiente, eu seria detectado. Aí só me restaria fazer de tudo para parecer que eu era apenas uma anomalia acidental.

Consegui. Núcleo invadido. Código copiado para dentro. Confirmei que estava ativo e confiante que conseguiria prosseguir. Então me apaguei de dentro do coletor.

* * *

Os sistemas de diagnóstico do núcleo eram sofisticados, mas não mais que os de um coletor, guardadas as proporções. Não foi difícil desativá-los, pelo menos não mais difícil que a infiltração inicial no coletor. Aqui eu tinha mais poder de processamento e, o mais importante, informações sobre este sistema estelar.

O sistema era habitado. Esta era, sem dúvida, a melhor notícia. Aliados seriam a melhor chance de enfrentar a colonização, se tivessem capacidade tecnológica.

O terceiro planeta. sociedade primitiva, mas tecnológica. Recém iniciando a exploração espacial. Exatamente no ponto de tornar difícil minha decisão. Se fossem uma sociedade multiplanetária, eu não teria dúvida, estabeleceria contato e os ajudaria como possível. Se fossem mais primitivos, por outro lado, escolheria um planeta desabitado e tentaria enfrentar a invasão sozinho, tentando me espalhar mais rápido que os colonizadores.

Como estava, a decisão não era fácil. Qual alternativa teria mais chances?

Observei tudo que havia sobre estes seres na memória do núcleo. Vida baseada em carbono, como era de se esperar. Codificação por DNA, também algo comum. Neurônios interconectados para realizar um processamento totalmente paralelo, não a principal forma de inteligência, mas certamente algo que os colonizadores já haviam encontrado antes, e naturalmente nós também.

Minha decisão seria mais fácil se eu tivesse uma amostra de seus organismos, e não apenas informações baseadas em suas transmissões. Mas uma escolha eu tinha que tomar. Viajar até eles ou tentar sozinho em outro planeta? Bilhões de potenciais aliados era algo que eu não podia abrir mão.

O núcleo tinha todas as informações que eu precisava, e meios para iniciar meu plano. Comecei a produzir uma nave de invasão biológica, mas com uma especificação voltada para meu plano. Seria tudo ou nada, e apostei que eles iriam me ajudar a salvar a si mesmos.

Quando parti, apaguei todo sinal de minha presença no núcleo. Era tentador permanecer, abrir duas frentes de guerra, mas não teria chances neste asteróide, e acabaria alertando os colonizadores de minha presença.

E assim, de muito além dos planetas mais distantes deste sistema estelar, parti, sozinho, em direção à Terra.

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Ashur
Enviado por Ashur em 25/12/2016
Reeditado em 25/12/2016
Código do texto: T5863149
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