O OVO DA SERPENTE

Nova Tókio.

Atravessando a órbita troiana, Alan retomou o rumo, acelerando para recuperar o tempo perdido. Celebrara 39 anos no dia antes de partir e nos últimos quinze anos ajudara a desbravar o sistema, participara em toda luta, em toda grande façanha.

Hoje talvez contribuíra para mais uma página, talvez cantada no futuro por algum poeta. Começava a perceber que vivia uma época heroica de cavaleiros andantes espaciais. Mas nem suspeitava que muitas aventuras, alegrias e dissabores ainda lhe esperavam.

Tinha saudade da Terra, que sabia desgarrada, ferida, moribunda.

Na solidão do vazio que separava Júpiter do cinturão de asteroides, o homem derramou uma lágrima pelas lembranças. Tornara-se um andarilho quixotesco que pretendia acabar com a Nova Ordem Mundial, o que não era tarefa para um homem só.

Talvez, se achasse uma bela mulher... Mas nenhuma poderia substituir a siriana que estava em viagem à sua estrela e talvez nunca voltaria. Precisava outra mulher para amar, mas na Terra ele achava isso impossível, teria que ser num mundo novo, onde esquecesse a tigresa...

Não sabia ele que esse mundo novo o estava esperando além da Terra.

*******.

10 de abril de 2019. (190410)

Quando o navegador solitário chegou ao cinturão de asteroides, coincidiu com a passagem de Ceres. Dois caças CH-2 apareceram na tela.

–Piloto! Identifique-se!

–Coronel Sarrazin da Hércules; procedente de Saturno, indo para a Terra.

–Tenente Bachín da Analgopakin. Seja bem-vindo. Quer esticar as pernas?

–Quero sim, tenente. É bom estar entre amigos.

Escoltado pelos caças, o coronel pousou. Em seguida desceu da nave ainda vestindo a armadura que não tirava nem para dormir, a pistola marciana na perna direita e o laser xawarek de cinco milímetros na esquerda.

Deslocou-se com cautela na gravitação infinitesimal até a entrada da cidade subterrânea. Quando atravessou as eclusas, sentiu o choque enjoativo da gravitação artificial.

–Pode abrir o capacete, coronel – disse Bachín.

–O ar aqui parece doce de morango...

–Celebro que nosso ar lhe satisfaça. Vai ver o governador?

–Vou cumprimentá-lo brevemente antes de abastecer a nave e repor munição, depois pretendo descansar. Ainda tenho muita viagem pela frente.

–Será atendido, coronel. Siga-me, por favor.

Bachín desceu por uma rampa até um dos numerosos túneis que perfuravam o planetoide como um formigueiro. Alan foi atrás, na gravitação quase normal, balançando as pistolas com ar de pistoleiro do faroeste.

Fuchida tinha uma pilha de papéis na mesa e oito pessoas na ante-sala. Ainda assim, saiu do gabinete e apertou a mão de Alan na porta da sala.

–Bem vindo, coronel!

–Prazer revê-lo, governador. A última vez foi na Lua, se não me engano.

–Foi. Na INDEVAL antes da partida da Ikeya Maru.

–Vejo que está ocupado. Não quero atrapalhar. Voltarei com tempo para tratar dos assuntos importantes. Preciso cuidar de minha navezinha.

–Como queira – disse Fuchida, aliviado.

*******.

A AR-1 atinge 11.000.000.000 de kms sem reabastecer; mas Alan combatera e precisava repor munição e mísseis. Mandou carregar armamento e deutério. Depois ordenou uma revisão completa que supervisionou por quatro horas.

Depois, com a nave em condições, Alan pegou roupa limpa e foi à casa de banhos.

Nova Tókio era composta por maioria de japoneses. Ofurô, sauna e massagem eram quase uma religião. Três horas no salão deixaram-no como novo. Uma linda japonesa atendeu suas mínimas exigências e depois da massagem, ajudou a vesti-lo.

–Como é seu nomezinho, beleza? – disse Alan, vestindo a roupa interior.

–Miko, meu senhor.

–Bonito! Alcance-me o traje, por favor. Solteira?

–Sim, meu senhor.

–Há muito que mora aqui? As botas...

–Desde antes da guerra, meu senhor.

–Demais para ser solteira. O cinto e as pistolas... Tem família?

–Não, meu senhor. Vim sozinha; meus pais morreram na fome de 2012.

–Sinto muito, de veras.

Alan, de armadura parecia um cavaleiro medieval. Amarrou os coldres nas pernas para facilitar o saque, enfiou a roupa interior suja dentro do capacete, que colocou debaixo do braço e despediu-se de Miko.

–Até breve, princesa – disse antes de beijá-la na boca.

Miko, deslumbrada, não disse nada.

Ficou parada, olhando o sólido guerreiro que se dirigia à saída, balançando as pistolas.

*******.

Nova Tókio, Ceres, 11 de abril de 2019. (190411)

Depois de dormir oito horas seguidas sem sobressaltos, o coronel estava como novo. Dormira na nave estacionada no hangar de visitantes para não perder o costume, contra o desejo do pessoal da colônia, que deram festa e jantar na noite anterior.

Desta vez Fuchida estava desocupado e pôde recebê-lo com chá e café.

–Consta-me que os antárticos apreciam café.

–Está certo, governador. É muito gentil de sua parte.

–Conte-me como está Saturno.

–Nossa base principal é a Cidadela, uma fortaleza que construímos em Rhea; nos acompanham marcianos, troianos, ranianos, hiperbóreos, taonianos e xawareks.

–Fale dos taonianos.

–São nossas principais forças de trabalho, sobreviventes de Ran. Titã é

próspero e equilibrado, como gostaríamos que a Terra fosse. O imperador Tao é descendente do último imperador de Ran e deseja restaurar o império. Claro que para isso precisamos naves estelares... Mas estamos trabalhando nisso.

–Tudo isso numa pequena lua...?

–Pequena? Titã é melhor do que Marte. Gelado, porém saudável, quase não há vírus nem bactérias; os nativos são fortes e saudáveis; há bastante alimento e minério.

–E os xawareks?

–São náufragos de guerra há mais de dez mil anos, chegaram de Sírio e se adaptaram a morar no subsolo de Japeto, onde prosperaram.

–Como eles são?

Alan Claude então percebeu que Fuchida não recebera os informes de Júpiter sobre a expedição forçada a Saturno.

–Os xawareks são felinos humanoides de carbono, parecidos conosco. São fortes e briguentos, porém honrados. Aldo fez a paz entre eles e os taonianos.

–Fascinante.

–Mas conte-me, governador, o que tem feito em Ceres?

–Cavamos como toupeiras. Conseguimos cumprir nossos prazos, temos amplos estoques de minério para ser enviado a onde for preciso, construímos esta cidade subterrânea, onde moramos relativamente bem... E tenho dois bisnetos.

–Parabéns.

–Gêmeos. Nasceram de minha neta Chiyoko e seu marido Patrick Cabot.

*******.

A conversa abordou assuntos diversos, informação técnica e estatística.

É claro que Alan não sabia que esses gêmeos eram filhos de Aldo e a jovem japonesa; ninguém sabia disso em Ceres. E Chiyoko não o revelaria a ninguém.

–Agora me fale do ser que encontraram hibernado, governador.

–Sabemos que é da raça dominion. Foi hibernado de novo por própria vontade. Até que foi bom, eu tinha outras preocupações com a guerra.

–E agora que parece que a guerra terminou, o quê o senhor pretende fazer?

–Estou à espera do raniano hibernado de Pomona.

–O príncipe Angztlán. Mas vai demorar, está em Ganímedes.

–Então não tenho mais nada a fazer, coronel.

–Permita que eu o veja. Preciso elaborar um informe.

–Não há problema, coronel. Cumpra seu dever.

*******.

Na cripta do demônio.

Alan e Bachín saíram ao vácuo, a cem metros dos hangares e chegaram à base da pirâmide semidestruída por meteoros ao longo dos milênios. A eclusa estava desativada. Bachín mexeu num painel e o túnel iluminou-se. A gravitação os fez descer devagar ao local arqueológico mais importante de Ceres.

–Por quê o suporte de vida aqui dentro está desligado?

–Por segurança. Esta é a câmara, coronel – disse o tenente Bachín.

–Assim que esse é o danado...! – disse Alan iluminando a janela transparente.

–Com toda sua sinistra fama – disse Bachín.

–Um dos maiores assassinos do universo.

–Sim, coronel. Provocou a destruição de Ran. Ainda é perigoso...

–O quê...? Só pode estar brincando!

–Não brinco assim, coronel. Não está morto dentro do sarcófago. Tenho medo dele, tem poder de controlar mentes, ao que sei.

Alan Claude ficou sombrio.

–Tenente... Quanto tempo ele esteve acordado?

–Varias semanas, coronel.

–Consta-me que ele mesmo pediu para ser congelado de novo; me engano?

–Pediu, sim.

–Estranho, muito estranho.

–Por quê, coronel? Sabe algo que eu não sei?

–Fiquei arrepiado. Acontece quando há perigo. Por isso estou vivo.

–Vamos solucionar isso imediatamente – disse uma voz nos fones.

Na entrada do túnel havia quatro seres; armados de lasers.

Como um raio, Alan sacou as pistolas e disparou, desintegrando duas cabeças e arrancando a perna do terceiro. O sobrevivente atirou no tenente, derrubando-o contra a parede de pedra, distraindo o coronel, o que lhe permitiu escapar. Ainda assim Alan viu o número da mochila em termos ranianos.

–Vai atrás dele, coronel! Estou bem!

–Deixe ver sua armadura... Resistiu? Ótimo!

–Vamos atrás dele! – disse Bachín levantando-se.

–Não tenha pressa, ele voltará para me agredir...

Mas logo Alan paralisou-se:

–Não!

–O quê foi, coronel?

–Minha nave! – Alan dirigiu-se ao hangar o mais rápido que pôde.

Chegou a tempo de ver o raniano tentando abrir a eclusa do AR-1.

–Pare aí! – disse Alan levantando a pistola.

O sujeito pulou atrás de uma fileira de tambores vazios, atirando. O coronel confiou na armadura, embora os disparos se fizessem sentir através do metal. Queria pegá-lo vivo. Atirou na arma do outro, que a soltou com a luva queimando. O pulo do coronel, nascido na Terra, planeta pesado, foi certeiro e a luta foi breve, os músculos terrestres dobraram os músculos alienígenas, Alan arrastou o raniano até a entrada da cidade. Bachín chamara seus homens e estes meteram o sujeito pelas eclusas.

–Tirem a armadura dele! – ordenou o tenente.

O infeliz foi literalmente arrancado do traje espacial e atirado no chão pelos astronautas terrestres. Nesse momento chegou o capitão Weiss da Analgopakin.

–Ikol? – exclamou Bachín ao reconhecê-lo.

–O quê aconteceu? – perguntou Weiss.

–Ikol tentou nos matar, capitão – disse Bachín.

–O quê deu nele?

–Não sei senhor. Havia outros três, mas o coronel Sarrazin os matou.

Weiss encarou Alan.

–Lamento lhe conhecer nestas circunstancias, coronel. Seja bem-vindo.

–Pelo jeito não todos gostaram da minha visita.

–Isto nunca aconteceu antes, coronel – disse Weiss, encabulado.

–Quero interrogar pessoalmente o prisioneiro – disse Bachín.

–É todo seu – disse Weiss.

–Eu vou junto – disse Alan, sem perguntar se podia. Ele era uma autoridade.

*******.

Ikol demonstrou ser muito duro. Bachín o amarrara numa cadeira e antes de qualquer coisa, começou esbofeteando-o duramente.

–Para amaciar antes de começar a perguntar – disse.

–É claro – concordou o coronel, que assistia sentado numa escrivaninha.

Dois astronautas armados montavam guarda na porta.

–Por quê tentou nos matar? E porquê quis roubar a nave do coronel?

–Não tenho nada a dizer.

–Você vai falar, desgraçado, ou te mato!

–Me mate. É o jeito de abandonar este corpo e adotar outro!

Então Ikol inclinou sua cabeça para frente e desabou.

*******.

O Demônio.

O ex décimo terceiro conselheiro planejara tudo com cuidado.

Dominaria três infelizes para que o ajudassem, mataria o forasteiro e pegaria sua nave, depois partiria rumo a Júpiter, onde sabia que Angztlán se encontrava. Depois ele o mataria e então começaria a procurar Biltis; a pequena princesa de Ran que estava congelada em algum planetoide do Cinturão.

Mas o plano falhou, não contava com enfrentar tão poderoso guerreiro. Parecia um Cavaleiro do Cosmos, dos que fizeram historia na época gloriosa do império!

Agora, amarrado, castigado, sofria numa carne emprestada; sem poder sair dessa carcaça onde não devia ter-se enfiado. Descobriu a armadilha tarde demais.

Quando o infeliz Ikol morreu por sua causa, anos antes, bateu a cabeça no chuveiro e esmagou certa área do cérebro que os ranianos inferiores

possuem.

Agora, o poderoso Zvar está preso a uma cela de carne. O espírito de Ikol deve estar dando risada do além...

*******.

Ao mesmo tempo em Titã...

...Ruddah a feiticeira madrinha do pequeno Alvin está estudando seu cristal mágico, dentro da sua cabana na aldeia Vurians. Junto dela está o protegido de Alan, o jovem chinês-tibetano Lobsang Dondup, que toma conta de Alvin.

–É estranho, Lobsang. Vejo um espírito. Está chegando. Está perto...

–Vejo a áurea, Ruddah. Ele quer entrar em você!

–Qual é a cor...? Qual é a cor...?

–Amarelo.

–Pegue o cristal mágico antes que caia e quebre!

Lobsang o pegou e Ruddah contorceu-se horrivelmente.

–Ah...! – gritou Ruddah com uma voz que não era dela.

–Ruddah...!

Lobsang não fez nada. Deixou que ela fizesse o que bem entendesse.

–Terrestre...! – disse Ruddah na gíria e voz de raniano inferior.

–Sim fale.

–Sou Ikol Huaski. Oficial de máquinas da Analgopakin; estou sem corpo!

Lobsang abriu a boca para dizer algo, mas a fechou.

–Estou vagando pelo espaço procurando vocês. Quero justiça. O maldito Zvar está no meu corpo, mas não pode sair dele. Só morrendo. Seu poder está fraco e enfraquecerá mais ainda, se aí permanecer.

–O quê devo fazer?

–Destruir seu verdadeiro corpo que está congelado na cripta e exorcizar Zvar do meu corpo, para que eu possa voltar a viver. Você deve avisar seu amigo!

*******.

A morta viva.

Não, Zvar não conseguiria matar o corpo de Ikol sem destruir-se a si mesmo. Não poderia arranjar outro. Só descongelando o seu. Mas era impossível. De repente, Alan sentiu uma mensagem telepática. Reconheceu a presença do seu protegido Lobsang. Captou a idéia geral que o rapaz tibetano transmitia.

–Tenente, não o castigue mais. Deixe-me achar uma solução.

Em duas horas Alan Claude reforçou com tecnologia milkara a tela mental da cela acolchoada onde Zvar estivera alguns anos antes.

–O quê é isso? – surpreendeu-se o governador Fuchida ao vê-la.

–Ikol deve permanecer aqui dentro até destruir o corpo de Zvar – disse Alan.

–Mas coronel... – interveio Patrick Cabot – Não podemos fazer isso.

–Deve ser feito. Zvar está ocupando o corpo desse infeliz.

–Ikol é o preceptor do meu filho Hadime.

–Senhor Cabot – disse Alan, grosseiro – grande porcaria esse preceptor.

–Mas ensinava artes marciais; telepatia e coisas assim...

–E coisas assim; senhor Cabot! Pergunto-me até que ponto seu filho já terá sido contaminado... Isto não será o ovo da serpente?

–Zvar não é tão ruim. Ele foi bom comigo. Ao ser congelado ele me disse...

–O quê foi que lhe disse?

Pat ficou paralisado de horror ao cair na realidade.

–Disse-me que meu filho seria grande, muito grande.

–Governador – disse Alan depois de uma pausa – Tenho que pedir que mande destruir quanto antes o corpo de Zvar.

–Não pode. Extrapola suas atribuições; coronel.

–Isto escapa a sua órbita, Fuchida. É a segurança do sistema que está em jogo aqui. Tenho autoridade como emissário do líder supremo para pedir-lhe que o faça.

–Só com uma ordem dele. Haverá comunicação via Júpiter em dois meses.

–Tire o corpo do Zvar da câmara e coloque-o junto a Ikol na cela. Zvar não deixará seu corpo morrer e desocupará o de Ikol. Este morrerá sem causa aparente e Zvar reviverá. Se faltar energia na cela; ele dominará todos vocês. Claro que não ficarei aqui para ver. Devo seguir viagem. Mas Aldo saberá da sua atitude.

–Ele me compreenderá.

–Tarde demais. Aldo mandará destruir esta rocha. Zvar dominará todos vocês.

O coronel falou por última vez antes de enfiar o capacete.

–Vou embora. Fiquem com sua bomba relógio. Lamento pelo seu filho, senhor Cabot. Já deve estar contaminado. Será o sucessor do diabo.

Alan virou as costas e saiu para o hangar.

–Espere, grande guerreiro! – gritou uma moça correndo atrás dele.

–Miko?

–Não esqueceu meu nome, guerreiro.

–O quê você quer?

–Me leve daqui. Vou aonde você vai.

–A Terra?

–Tanto faz – disse ela, laconicamente.

Alan sentiu a cabeça latejar. Zvar tivera tempo de examiná-lo cuidadosamente. A morte estava nos olhos de Miko.

–Não há lugar para ti na minha nave – disse o coronel.

Alan sentiu então uma forte pressão no cérebro, a pressão de uma presença maléfica que o incitava a mudar de idéia, a aceitar a moça como passageira.

Mas, antes de responder "sim", sacou a pistola e disparou.

*******.

Zvar não previra que Alan fosse resistente ao seu poder mental.

É lógico que não sabia que fora treinado por Lobsang; um Buda vivente; reencarnação viva e clarividente. O coronel não possuía os poderes do tibetano; porém seu cérebro tinha grande capacidade reflexa de extrapolar; qualidade que tantas vezes contribuíra à sua sobrevivência.

Ao ocupar o corpo da japonesa, transformando-a numa morta viva; esqueceu que os mortos não respiram e têm os olhos dilatados e secos. Alan não teve dúvidas, apontou e disparou antes de ser possuído.

Perante o espanto e horror gerais; o disparo da pistola marciana despedaçou a mulher, atingida no peito. Sua cabeça desprendeu-se e caiu longe. Os pedaços, porém, continuaram mexendo-se e a cabeça caída; disse:

–Por quê me mata, guerreiro? Por quê...?

–Morra! – gritou Alan atirando de novo e destruindo a horrorosa cabeça.

Ainda assim, o corpo tentou se levantar do chão. Novos disparos terminaram de aquietar a pavorosa criatura. O pessoal da base recuperou-se do choque e começou a rodear o local. O governador, com seus guardas, aproximou-se.

–O quê você fez? Assassino!

–Quietos! – disse Alan sacando rapidamente a outra pistola – isto foi mais um truque de Zvar. Miko já estava morta... Uma morta viva!

–É verdade – disse Bachín – a cabeça mexeu-se e falou!

–Vai dar ouvidos á razão, governador? – disse o coronel.

*******.

O ovo da serpente.

Como Alan previra, ao descongelar o corpo de Zvar, Ikol morreu. Encerraram Zvar na nova cela forrada em tela mental reforçada com uma freqüência ultra-alta.

–Seu poder é nulo aí dentro. Muito se passou desde que vocês construíram a primeira tela mental por indicação do príncipe Angztlán.

–Quanto tempo ele deverá ficar aí dentro? – perguntou Fuchida, sentindo sua mente mais leve, suas idéias mais claras.

–Até o príncipe chegar. Ele saberá como lidar com Zvar. Mantenham o nível de energia constante, não cheguem perto e mandem apenas os robôs para alimentá-lo.

–E se o príncipe Angztlán não vier?

–Mantenham-no aí até morrer. É perigoso, astuto e perverso. Sentem suas mentes leves? Ele tentava dominar a todos, mas no corpo de Ikol não o conseguia por completo. A Suprema Confederação executa esses parasitas assim que os descobre.

–Ainda é perigoso aí dentro? – perguntou Bachín.

–Agora não pode ler pensamentos, dominar mentes nem projetar seu espírito fora do corpo... Mas todo cuidado é pouco.

–Obrigado coronel – disse Fuchida – lamento não ter acreditado no senhor.

–Não foi culpa sua. Você estava dominado. Lamento a morte de Miko. Pobre garota! Mas já estava morta. Gostava dela e Zvar leu minha mente e se aproveitou. Outra coisa: conservem o corpo de Ikol. Viverá de novo e talvez não lembre de nada.

–Como é possível?

–Eu sei, governador. Ele não está morto, está em coma.

–Como pode?

–Não pergunte como. O espírito de Ikol está em Saturno e voltará. Ele avisou meu protegido em Titã. Eu sei disso. E você também Fuchida. Agora sabe.

Dito isto, Alan girou nos calcanhares blindados e saiu sem despedir-se. No caminho até o hangar, cruzou com muita gente da base. Entre eles uma mulher japonesa com dois meninos gêmeos de cinco anos; um dos quais olhava para o terrestre com olhos de profundo ódio...

*******.

Continua em FANTASMA DO PASSADO.

*******.

O conto O OVO DA SERPENTE forma parte integrante da saga inédita

Mundos Paralelos ® – Fase II - Volume IV Capítulo 28 Páginas 18 a 24.

e cujo inicio pode ser encontrado no Blog Sarracênico - Ficção Científica e Relacionados, sarracena.blogspot.com O volume 1 da saga pode ser comprado em:

clubedeautores.com.br/book/127206--Mundos_Paralelos_volume_1

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 23/10/2016
Código do texto: T5800307
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.