EXPLOSÕES SOLARES

I

Tudo transcorria normalmente na estação. A gigantesca obra da ciência humana mantinha-se em órbita estacionária e tudo corria dentro dos padrões estabelecidos pelas equipes da engenharia espacial e dos demais técnicos e cientistas que integravam os diversos departamentos da NASA.

Desde os planos iniciais até a atual fase de execução do Projeto “Estação Orbital Multinacional”, tudo havia correspondido ao esperado.

Era um engenho gigantesco elaborado por um grupo selecionado de cientistas das mais diversas áreas do conhecimento humano, procedentes das mais famosas Universidades americanas, europeias e asiáticas. Neles estavam envolvidos governos de nações do “Primeiro Mundo” e figuras importantíssimas do setor financeiro internacional.

A tripulação em atividade havia substituído a anterior há quinze dias apenas. Os tripulantes experimentavam sentimento de valorização pessoal por terem sido reconhecidos pelos dirigentes do plano como os mais capazes para a eficiência do intento.

As comunicações entre os tripulantes funcionavam perfeitamente e, da mesma forma, os contatos entre a estação e os setores de rastreamento, em terra, fluíam sem qualquer contratempo.

Todos os circuitos internos cumpriam com as finalidades para as quais foram projetados e construídos. Monitores, que se espalhavam por todas as partes, exibiam as indicações propiciadas pelos sensores externos e internos, com as devidas interpretações dos computadores de altíssima geração.

As equipes se revezavam em turnos de oito horas cabendo a cada qual uma folga de dezesseis horas, nas quais podiam dedicar-se a quaisquer outras atividades como as de lazer, contato com os familiares em terra, cuidar pertences pessoais, leitura, conversas e outras amenidades.

Alguns estavam fixados nas telas da TV ouvindo as notícias do mundo, assistindo partidas de jogos, torcendo por seus clubes preferidos, enquanto outros se distraíam com os joysticks manobrando para ultrapassar etapas nos jogos virtuais.

Boa parte dos tripulantes estava em seus aposentos tratando de tirar uma boa soneca para dedicar às próximas horas no comando de seus postos. Havia, ainda, os que cuidavam da higiene pessoal e alguns mais que tratavam de dar uma passada pelos refeitórios e matar a fome que também existe no espaço.

Os relógios atômicos indicavam, dezessete horas, quarenta e dois minutos e quinze segundos do dia vinte e cinco de setembro de um ano cuja soma dos números, na prova dos nove, era três.

Exatamente, nesse momento, os equipamentos de segurança interna soaram, em coro, anunciando que alguma irregularidade surgira a partir do exterior da estação.

Imediatamente, como o previsto para situações de alarme, todos os que se encontravam de folga, dirigiram-se para as posições estabelecidos pelas ordens técnicas e cuidaram de se dedicar às tarefas adicionais, necessárias nesse tipo de situação.

Os instrumentos indicavam que uma onda de energia magnética incomum, mas de intensidade moderada, havia atingido a estação e toda a estrutura da mesma. As indicações também tinham referenciais de que esse tipo de energia estava com suas emissões em ampliação.

Rapidamente a troca de dados entre a estação e a NASA produziu informações que relacionavam esse acontecimento inusitado a gigantescas explosões solares que estavam sendo captadas em todos os laboratórios astronômicos espalhados pelo planeta.

Segundo os cientistas as explosões solares, crescentes, eram de tal magnitude que um campo magnético, sem possibilidades de mensuração, estava envolvendo, não só a estação mas todo o planeta. Não se sabia ainda quais seriam as conseqüências disso ou se o fenômeno solar diminuiria a ponto de retornar ao seu estado normal de atividade.

Enquanto o mundo científico se debruçava sobre cálculos de alta complexidade inserindo dados nos computadores, algo aconteceu de muito estranho no interior da estação. Um colapso total e definitivo em todo o sistema de geração e alimentação de energia elétrica, seguido de um forte cheiro de circuitos elétricos queimados, interrompendo toda e qualquer possibilidade de comunicação entre seus membros ou da mesma com o Planeta Terra.

Isso equivale a dizer que a estação, a partir daquele momento e sem que os tripulantes soubessem, se transformava em um gigantesco exemplar de lixo espacial. Todas as atividades entraram em colapso e isso conduziu o pessoal a discutir sobre medidas alternativas que pudessem amenizar a situação providenciando alguma forma de colocar os geradores de emergência em funcionamento, pois os mesmos não entraram em ação da maneira automática prevista.

Providenciadas inspeções iniciais, os relatórios davam conta de que não havia mais nenhum gerador em condições de suprir as necessidades de energia elétrica. Todos se encontravam com os circuitos queimados, quer dizer definitivamente inoperantes.

Da mesma maneira, todo e qualquer equipamento construído a partir de circuitos eletro-eletrônicos estava definitivamente danificado, não havendo a menor possibilidade de recuperação. Simplesmente, a estação havia se tornado em sucata espacial.

Passada a primeira fase do susto e comprovada a situação em que o pessoal se encontrava, iniciavam-se as especulações sobre o que poderia ter acontecido.

Foi nesse momento aterrador que um dos membros do Grupo de Física Espacial, o Dr. Fisher, transmitiu aos circunstantes as suas suspeitas que, de suspeitas não tinham mais nada, pois era a mais pura constatação científica:

-- Os princípios mais elementares da Física nos ensinam que a eletricidade pode ser produzida através de vários processos. Dentre eles, o que nos interessa, é aquele em que é produzida através de um “campo magnético variável”.

Esse procedimento é o adotado nas usinas hidroelétricas, nos geradores estacionários ou não, nos motores eletromagnéticos de todos os tipos e em todos os outros tipos de máquinas que usam, para seu funcionamento, energia elétrica proveniente de alternadores móveis ou estáticos.

Explicando melhor, o fenômeno se processa desta maneira: Quando um campo magnético variável é forçado a cortar um circuito elétrico fechado o movimento alternativo do campo faz induzir, no circuito, uma tensão igualmente variável que determinará o surgimento de um fluxo de elétrons periféricos em direções alternadamente opostas. A esse fluxo de elétrons chamamos de “corrente elétrica alternada” ou C.A..

Simples essa explicação quando se trata de um campo magnético manipulado cientificamente e sob absoluto controle do operador. No entanto estamos tratando de um campo magnético de grandeza descomunal produzido pela emissão de energia das explosões solares que, nesse caso, ultrapassara toda e qualquer expectativa ou previsão dos nossos laboratórios.

Imaginemos, agora, o que ocorreu em todos os circuitos elétricos da estação a partir da ação da onda magnética imensurável que atravessou os circuitos eletrônicos de todo o nosso equipamento, desde o mais grosseiro ao mais sofisticado! Podemos concluir que os danos causados são irreparáveis. Estamos, verdadeiramente, “Lost in Space!” Entenderam? Já podem perceber que pelo colapso da energia ficaremos, definitivamente, mergulhados na profunda escuridão que vocês constatam, sem possibilidades de retrocesso. Olhem para fora, pelas escotilhas, e verão que o Sol não mais está emitindo luz para os planetas que orbitam ao seu redor...

-- E aí, Dr. Fisher? Qual é a nossa situação? Ou melhor, quais as nossas possibilidades aqui na estação, diante desse quadro? Perguntou a especialista em dados criptografados.

-- Bem Srtª. Summers! Na verdade nossa situação, a perdurar esse impasse, não é nada confortável. Suponho que tenhamos pouco tempo para discutir o futuro, pois como sabemos, aqui em órbita não temos oxigênio e esse é um componente vital para a nossa sobrevivência. Como os equipamentos produtores de oxigênio e pressurização estão inoperantes, considero que dentro em pouco tempo, mergulhados nesse extrema escuridão, em breve estaremos rodeados de gás carbônico o que nos levará a um final desagradável.

Devemos entender que estamos sem comunicação com a NASA, de modo que não sabem o que está acontecendo conosco. Evidentemente, em razão disso, cuidarão de enviar o ônibus espacial com equipe de resgate para nos socorrer e nos conduzir ao planeta. Não acho que possamos reconstruir tudo isso em alguns dias; isso levará meses, talvez...

Considero que devemos pensar nos agravantes da situação, lembrando que, a partir de agora, estamos em um sistema brutal de racionamento de oxigênio. Nada de movimentos bruscos ou de falatórios desnecessários. Também teremos que racionar as reservas de água potável e os alimentos terão que ser consumidos crus e sem ser aquecidos. Acender fogo aqui, agora, é temeridade, pois é menos oxigênio que sobrará para nossos narizes. Esqueçam os equipamentos sob seus controles e tudo o mais que requisite energia elétrica. Todos teremos que aguçar e depender do nosso sentido do tato...

Vamos nos dedicar a atividades de baixo consumo e deixemos que nossos metabolismos reduzam a velocidade para que possamos resistir o maior tempo possível.

De qualquer modo, lembremo-nos que o Comandante possui meios de aliviar nosso sofrimento, se for o caso perdermos a chance de voltar aos nossos lares para o convívio com nossos parentes, lá em baixo.

II

Os homens da NASA podiam prever o que estava acontecendo com a estação orbital e o seu pessoal. Sabiam, também, o que estava destinado a eles, dentro de pouco tempo, questão de dias, talvez. Mas, a tripulação em perigo não tinha a menor ideia do que estava acontecendo nas estações de rastreamento e nos demais setores do projeto, em todos os quadrantes do planeta Terra.

A onda magnética que atingiu a estação também atingiu o planeta e provocou, igualmente, a destruição de todos os tipos de engenhos eletro-eletrônicos em qualquer lugar em que se encontrassem. Assim, também, a Terra inteira assumia colapso idêntico ao que a onda magnética havia proporcionado aos equipamentos da estação, inclusive o envolvimento na total escuridão.

Todos os tipos possíveis e imagináveis de comunicação via radiofrequência ou digitalizada entraram em colapso. Rádio, TV, telefonia, redes de computadores, enfim, todo o mecanismo utilizado para as atividades da humanidade entrou em colapso irrecuperável. Em questão de poucos minutos todo o avanço tecnológico e científico da sociedade humana moderna foi paralisado. Parecia o início da catástrofe do milênio; a falência da tecnologia e da sociedade tecnológica. Para grandes massas confessionais o mundo estava mergulhado nos dias de escuridão que que falavam as Escrituras e profecias...

Daquele dia fatídico em diante uma catastrófica transformação aconteceria na superfície do planeta. A Terra estava literalmente desprovida de mecanismos que pudessem gerar eletricidade. Com isso estamos nos referindo, também, às usinas geradoras de energia que, desde então, de nada mais serviriam.

Fábricas e todo o tipo de indústria haviam virado um grande estoque de sucata. Bancos viram paralisados todos os meios de transferência de dados e não mais haveria transações. Simplesmente, num apagar de luzes, foi-se, também o brilho do “sistema econômico financeiro mundial”. Não havia mais quem pudesse pagar ou receber dinheiro.

Postos de gasolina, supermercados, lojas de departamentos, e todos os estabelecimentos destinados à indústria e ao comércio estavam assustadoramente desabastecidos e sem qualquer esperança de retorno às atividades...

O mundo entrava em crise, e o caos imediatamente se ia instalando. As pessoas envoltas em sentimentos funestos pareciam não entender o que se passava e, muito menos, o que estava por vir...

Hospitais paralisaram seus procedimentos, trens e todos os demais veículos de transporte deixaram, definitivamente, de circular. As pessoas saíam, pelas ruas, enlouquecidas clamando misericórdia a Deus, aos seus santos de fé.

Bandos de meliantes saíram de seus redutos e assaltavam, indiscriminadamente, homens, mulheres, velhos e crianças. Sem dó nem piedade, despojavam todos de tudo o que tivessem. Sabiam que somente os mais fortes sobreviveriam e a força bruta era a ferramenta possível.

No rastro dessa catástrofe, os interruptores instalados nas paredes dos edifícios, fábricas, lojas do comércio, supermercados, postos de abastecimento de veículos, hospitais, bem como toda a espécie de aparelhos ou equipamentos que funcionavam à base da energia elétrica perderam a finalidade.

Sem energia elétrica, os sistemas de transmissão de dados ficaram inoperantes. Em conseqüência, ficaram inservíveis os cartões de crédito, os caixas bancários, a movimentação de dinheiro, cobranças, pagamentos e tudo o que dependesse ou se relacionasse com o sistema econômico-financeiro, em todo o planeta.

Sistemas inteiros de controle de tráfego aéreo, ferroviário, rodoviário, marítimo e seus correlatos, entraram em falência definitiva... Navios e aeronaves, em rota, ao perderem contato com as estações- rádio e torres de controle tendo, igualmente, seus instrumentos de bordo inoperantes, perdidos, ficavam à deriva ou caíam pela falha nos seus sistemas motrizes, de geração e distribuição de energia.

Os mecanismos de segurança ficaram anulados, ensejando a evolução da desordem social, com o início da formação de grupos de assaltantes e saqueadores intimidando e matando, sem piedade, para a obtenção daquilo que ainda lhes pudesse apresentar alguma utilidade. Era o caos instalado! Não havia mais em atuação, nenhuma instituição do Estado que estava sendo alvo de reengenharia pelos avanços do Globalismo e da Nova Ordem Mundial... ONU e demais organizações anteriormente voltadas para esse fim deixaram de existir, no mergulho da escuridão...

A desorganização do aparelho de segurança, tanto policial quanto militar, quebradas as regras e dissolvido o senso de hierarquia, derivou para alguma coisa antes impensável.

Esses estamentos, desorganizados, motivados pela necessidade de lutar pela sobrevivência, passaram a utilizar os meios anteriormente dedicados à segurança pública, para as suas investidas contra a população desvalida que, célere, ia na direção da miséria que se aproximava.

O desabastecimento definitivo indicava o início de uma era de fome, de impossibilidade de deslocamento a distâncias maiores, de impotência generalizada, de medo e de sofrimento.

O refúgio da intimidade doméstica, já se transformava em um dos maiores perigos. Os saqueadores sabiam que nas residências poderiam encontrar, ainda, muito do que desejavam para a própria sobrevivência. Assim, ao invadir, já atiravam em quem estivesse na linha de visada...

Hordas raivosas invadiam supermercados, lojas de toda a ordem, em busca de gêneros alimentícios, medicamentos, ferramentas manuais, roupas e agasalhos e, principalmente, qualquer tipo de arma ou de instrumento passível de oferecer algum grau de proteção individual.

Não havendo combustível, não havia tráfego, inclusive, o de ambulâncias. Dessa forma, os feridos nos assaltos, bem como os mortos ficavam estendidos pelas ruas, sem um destino previsível.

Esse era o início da tormenta que se abateria sobre a humanidade, por conseqüência do acendramento das atividades solares. A onda magnética persistia e sua ação provia a manutenção da paralisia global.

III

Há alguns anos antes, astrônomos e cientistas da NASA, e de países mais interessados nas pesquisas sobre as atividades cósmicas, haviam descoberto prenúncios de que as atividades solares iriam, num crescendo, gerando a possibilidade de uma influência devastadora nos destinos da Terra.

Esse trabalho da Agência resultou na elaboração de um plano secreto, elaborado por um grupo de países detentores de recursos financeiros e científicos adequados, cujo objetivo era associar os conhecimentos tecnológicos obtidos pela ciência na área da Engenharia Genética e associá-los à experiência, já concretizada, das viagens interplanetárias.

A descoberta das células-tronco, a Inteligência Artificial, o Transhumanismo, as Impressoras 3D e as possibilidades que a manipulação científica abriria para um futuro próximo foi levada a sério por grupos de interesse, com vistas a um segundo programa bem mais complexo. Estavam desenvolvendo meios de levar os avanços tecnológicos da Genética, para outro planeta.

A ideia foi acelerada quando foram descobertos os dados que deram motivo às previsões sobre as futuras atividades solares, com a ampliação do campo de manchas. Isso acelerou a construção e o envio para uma órbita estacionária ao redor da Terra, da “Estação Orbital Internacional”. Consórcio de países diretamente envolvidos no projeto, sob o controle de miliardários e empresas multinacionais de grande porte.

A divulgação do evento, em si, nada atrapalhava o que estava oculto. Enquanto os povos se engalanavam com a mais nova “conquista aeroespacial” do homem, os verdadeiros intentos estavam sendo concretizados, com segurança.

A Estação Orbital, depois de atingir seu ponto no espaço, além de atender aos objetivos secundários, de conhecimento geral, cumpria, igualmente o outro lado, o lado secreto. Seria uma espécie de ponte para onde os cientistas e demais técnicos envolvidos deveriam ficar sediados, até que pudessem ser transportados para Marte.

Depois de controvérsias que duraram anos de investigações, sondas e satélites artificiais comprovaram a existência de vastos lençóis de água no subsolo marciano. Isso foi, ainda, a confirmação de que alguns tipos de vida bacteriana medravam por lá o que ensejava a instalação de uma colônia humana que abriria as portas para as atividades científicas de interesse da Terra.

Nesse período acentuaram-se, na Terra, os registros policiais sobre o fenômeno “negligenciado” das abduções. Pessoas desapareciam sem deixar vestígios e muitas davam conta de que seres de outras origens estavam por aqui fazendo experiências e raptando humanos.

Muitos desses casos foram reais, pois há menção disso em vários documentos à disposição de quem se interessar. Além disso, há livros publicados e os ativistas da Ufologia tem explicações de sobra para justificar o fenômeno.

Mas, aproveitando-se dessa nebulosa situação, houve o rapto e a descerebração de muitas pessoas que foram conduzidos para Marte, para a construção da “colônia”, a fim de que fossem criadas as condições para a sobrevivência humana e, com isso, o avanço das experiências genéticas da ciência terrestre.

Outro fator de aceleração do plano foi desencadeado quando surgiu a gritaria de organizações religiosas contra a questão da manipulação das células-tronco e do avanço das experiências genéticas com seres humanos.

A gritaria aumentou mais, ainda, quando os noticiários da mídia informaram que, na Europa, geneticistas conseguiram criar um zigoto sem a utilização de espermatozoide ou de óvulo. Isso queria significar que a ciência humana já poderia reproduzir, em laboratório, seres humanos ou seus clones. A atividade sexual reprodutiva, enfim, cientificamente superada!

O fundamentalismo religioso botou a boca no mundo invocando questões de ordem ética ou moral, indagando se o “ser” assim desenvolvido seria “provido ou desprovido de alma? Com que finalidade seriam criados esses seres? Para atuarem como escravos? Religiosos invocando preceitos confessionais e juristas se esvaindo em palavrório rebuscado, ressuscitando o a língua morta do Lácio cuidavam de ampliar a narrativa.

Enquanto a querela se desenvolvia nos púlpitos e nos jornais, os cientistas patrocinados pelos organismos diretamente interessados, estavam sendo encaminhados para as atividades na Estação Orbital. De lá partiriam para Marte encontrando, já estabelecidas, as condições necessárias ao desenvolvimento do restante do projeto, ou seja, a criação, por manipulação genética, de seres humanos, em laboratório, sem a necessidade do intercurso sexual, ou da associação de células masculinas e femininas em procedimento laboratorial. As impressoras 3D pareciam ser uma ferramenta importante ao avanço do objetivo.

Assim, em absoluto sigilo, o projeto foi desenvolvido em um lugar secreto, com o conhecimento restrito a pessoas rigorosamente qualificadas. Sobre elas, havia pressões psicológicas, superlativas, que as impediriam de abrir qualquer linha a respeito do que pretendiam os organizadores.

Enquanto, na Terra, os países se deblateravam nos organismos internacionais, em razão das disputas políticas, comerciais, e ideológicas, as pessoas se dedicavam ao trabalho, na busca do conforto, da realização pessoal, do reconhecimento, do poder, e tudo o mais que o consumismo pudesse oferecer.

Fora isso, a segunda meta das massas era o lúdico. O prazer e a diversão estavam na linha de ponta das pessoas, e para isso, o instrumento mais perfeito era o da mídia.

A TV, se encarregava de anestesiar quase todo mundo com seus programas propositalmente elaborados, principalmente, exibindo mulheres seminuas, em gestos provocantemente sensuais, bem como novelas e filmes e programas contendo mensagens destrutivas aos conceitos e valores tradicionalmente consagrados.

A par disso, as festas de grande monta, as várias modalidades esportivas, incentivadas e exploradas por grandes interesses econômicos, davam a nota final da grande anestesia. Todo o tipo de esporte vicejava nas telas da TV por assinatura e o futebol era a ferramenta de proa. Enquanto os torcedores se digladiavam pelas ruas e estádios, grandes somas de dinheiro corriam pelas contas e bolsos de grandes empresas multinacionais e jogadores guindados ao nicho das celebridades...

Passaram-se os anos e os projetos com relação à implantação da Colônia Humana em Marte foram coroados de êxito. Instalados todos os recursos necessários ao trabalho e à sobrevivência, aos poucos, foram chegando determinadas classes de pessoas para permanência definitiva. Dentre essas pessoas, algumas pertencentes a famílias nobres ou de influência econômica na Terra.

Vieram políticos importantes, empresários eminentes, grande número de banqueiros internacionais, militares expressivos, especialistas de alto nível em todas as áreas de interesse para a manutenção das condições vitais na Colônia.

Essas pessoas estavam, todas, informadas do que estaria para acontecer com a Terra, no ápice dos distúrbios causados pela intensificação do magnetismo gerado pela atividade solar e da total escuridão em que estava envolta. Em Marte estariam todas a salvo, o que não ocorreria se ficassem aqui...

Quando estavam se desencadeando os acontecimentos catastróficos, prenunciando um final de ato dramático para a humanidade terrestre, tsunamis, degelo dos polos, abalos sísmicos e movimentos telúricos de grande porte, aconteceu o lapso energético a que nos referimos no início da nossa história. O Sol havia dado o seu grito de guerra..

Enquanto, na Terra, as massas testemunhavam as “tribulações” de que falavam as Escrituras, em Marte, a TV anunciava que os laboratórios da Colônia haviam conseguido estabelecer a “criação”, em série, de “seres humanos clonados a partir de células tronco”.

Por questões de ordem superior, os seres criados em laboratório, não tinham capacidade de reprodução. Isto é eram de uma espécie humana primária e infértil. Tal decisão tinha fundamento na necessidade de impedir que o número dos clones, com reprodução descontrolada, excedesse em muito o número dos integrantes da “elite terráquea” possibilitando uma inversão na polaridade do poder o que seria catastrófico.

Aqui, os vulcões explodiam em lava, cinza e fumo. Os eixos do orbe entravam em reversão. As geleiras se derretiam qual manteiga e elevaram terrivelmente o nível dos mares, alagando cidades inteiras por todo o litoral dos quatro continentes. Os tsunamis vinham, um atrás do outro, auxiliando a entrada das águas terra adentro. Abalos sísmicos, tufões, maremotos, vendavais e a radiação ultravioleta se encarregavam de ajudar no tempero tenebroso em que se debatia a humanidade.

Por fim, pelo Cosmo inteiro, ouviu-se uma atordoante explosão! A Terra deixara de existir, fragmentada em zilhões de pedaços, dando origem a um novo cinturão de asteroides.

Enquanto isso, lá na Colônia, em Marte, os clones humanos, que nada sabiam sobre a existência de outros planetas, sistemas ou universos, acendiam velas, e ofereciam sacrifícios às suas "divindades criadoras”.

Alguém escreveu num livro, que os “deuses criadores do homem de Marte” vieram dos céus. Por isso, os cientistas e funcionários da NASA passaram a ser adorados pelas suas criaturas.

Depois, os “deuses” foram cuidando de nomear, dentre suas primeiras crias, grupos de indivíduos escolhidos para atuarem como sacerdotes, tratando de manter as crias fiéis, dóceis e cumpridoras dos seus desígnios.

Cabia, ainda, aos sacerdotes atuar como “intermediários” entre os “deuses” e os homens da “humanidade marciana". Algum tempo depois, apareceram várias congregações sacerdotais cuidando de manter os fiéis alinhados no fervor e tementes às suas divindades.

Tempos mais tarde, os sacerdotes foram criando doutrinas, dogmas e religiões. Como eram vários, “os deuses”, houve muita discórdia entre eles e essa discórdia arrastava, também, os clones, seus seguidores...

Assim começaram as dissidências entre os "homens de Marte"... Eles nada sabiam sobre a Terra e o que havia acontecido com o planetinha azul, seu final infeliz, e que os seus “deuses” eram, na verdade, homens daqui do terceiro planeta do Sistema Solar, a maioria, cientistas de elevado conhecimento.

Os desentendimentos entre os “deuses” produziram, igualmente, dissidências entre os povos seguidores, de tal forma que as populações da humanidade marciana foram se dividindo, e cada grupo dedicado à adoração de um determinado “deus”. Através desse processo, foram aparecendo “deuses nacionais” além de outros de menor importância, “os deuses tribais” e também, deuses da natureza, da fertilidade, etc...

Foi quando um dos “deuses” de maior envergadura planejando tornar-se o principal regente do Planeta Marte, desenvolveu uma linhagem de clones, agora dotada de sexos definidos, portanto, podendo se reproduzir, aumentando as hostes de adoradores a seu serviço.

Essa “divindade” aproveitando-se do sucesso da sua criação, proclamou-se “deus” de um determinado povo e, com ele, se atirou em encarniçadas refregas, contra os demais, visando a dominação total da humanidade de marciana.

À medida que o tempo ia passando, as “divindades” acabaram se interessando pelas fêmeas da estirpe humana que criaram e, com elas, tiveram filhos. Esses filhos passaram a ser vistos pelas populações marcianas, como “reis-deuses”, ou “semi-deuses”.

Tais reis entronizaram, em seus povos, as primeiras noções de estado, nação, hierarquia, tributos, direitos, deveres, etc... Com essas medidas, mantinham sob controle sobre eles, bem como a sua subserviência.

A isso seguiu-se um longo período de conquistas, crescimento, prosperidade e riqueza dos povos porém, sempre mantido o litígio devocional o que assegurava as investidas entre os deuses e nações em busca de prevalência...

Ainda não temos informações de como prosseguiu essa história. No entanto, como estamos falando de descendências de seres humanos terráqueos, é bem possível que a história que venham a escrever, “no futuro”, seja “a imagem e a semelhança” da nossa própria História.

Isso, somente o tempo poderá nos dizer, um dia, se Marte, tal qual a Terra, não vier a explodir sob o efeito da exacerbação futura das manchas solares e das ondas do magnetismo a elas atrelado.

Por enquanto, o que se sabe é que, a "humanidade marciana" foi desenvolvida com o suporte do DNA do homem terrestre. Assim, tudo indica que poderá estar contaminada com as questões ideológicas terrestres.

Parece que alguém está escrevendo um livro contando como foi “a criação” por lá e como foi a atuação do DNA humano sobre a "humanidade marciana". Da Estação Orbital soube-se que se encontra perdida, no espaço, integrada ao Cinturão de Asteroides em que a Terra foi transformada....

Amelius
Enviado por Amelius em 10/06/2013
Reeditado em 14/03/2022
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