Canções de Aliens Distantes - Parte I
Eu deveria ser capaz de tirar alguma informação dele, era a teoria. Meu período infiltrado na Hegemonia Fin me daria uma percepção única, me permitiria compreender o pensamento do lendário comandante Zacheus Allnat Badrick, talvez mesmo conquistar sua confiança.
E, é claro - embora nunca fosse dito - não colocaria em teste minha fidelidade ao império.
Por isto eu estava ali, na prisão mais segura já construída pela raça humana, frente a frente com a maior ameaça que o império já enfrentou. Não fiquei impressionado.
- Comandante Badrick, meu nome é Arnold Smith - eu falei, cumprimentando-o com um aceno de cabeça. Ele me aguardava sentado em uma cadeira, uma mesa vazia à sua frente. Fazia 30 anos que ele estava naquele espaço, preso em uma área de menos de vinte metros quadrados. Um campo de contenção separava-o por todo este tempo do mundo externo e - neste momento - também de mim.
- Uma visita - ele falou - fazia muito tempo que ninguém vinha me ver pessoalmente - Transmissores captavam sua voz e transmitiam para fora, o som também bloqueado pelo campo. Eu sentei em uma cadeira igual a dele, do lado de fora de sua cela. O início era promissor, eu temia que ele nem reagiria à minha presença, como havia feito com tantos outros no passado.
- Deve ser monótono passar tanto tempo sem ninguém para conversar, comandante - ele apenas encolheu os ombros.
- Sua última visita foi há três anos. Você passou doze sessões sem dizer uma palavra, ao ponto que o Doutor Ling simplesmente desistiu de tentar conversar.
- O Doutor Ling me aborrecia. Eu disse que não iria mais falar com ele.
- E, como resultado, você ficou sem falar com ninguém por três anos - ele encolheu novamente os ombros.
- Você percebe, comandante, que se eu não conseguir algum progresso com você, provavelmente vamos deixá-lo novamente sozinho em sua cela, talvez para sempre.
- Então, garoto, suponho que você vai ter que ser mais interessante que o Doutor Ling.
- E o que fazia o doutor ser tão desinteressante, comandante? Na verdade, não só ele, mas todos que tentaram conversar com você, pelo que sei.
- Conversar? - o comandante deu um sorriso - eles primeiro me torturaram, me dissecaram, me examinaram de todas as formas possíveis. Conversar foi apenas uma tentativa de desespero, quando todo o resto falhou.
- E como você está se sentindo, depois de tudo que lhe fizeram?
- Você também me aborrece, garoto. Pensei que, depois de todo este tempo, pelo menos iriam mandar alguém interessante. Volte para seus chefes e diga que eu não tenho nada para falar com ninguém.
"droga", pensei comigo mesmo, "parecia que as coisas estavam indo bem". Eu precisava despertar seu interesse de alguma forma.
- Deve ser difícil viver em um corpo que não é o seu, não é, comandante? Um corpo, de certa forma, alienígena? - ele nem olhou para mim, estava olhando o vazio agora. Os relatórios diziam que ele passava a maior parte do seu tempo assim.
- Eu também habitei um corpo que não era meu. Eu vivi meses em um corpo alienígena, dentro da Hegemonia Fin - ele me olhou rapidamente, quando mencionei a Hegemonia, mas depois voltou a fitar o vazio. Curiosa esta reação, a Hegemonia não era conhecida quando ele foi preso, trinta anos atrás.
- Eu poderia lhe falar sobre meu período entre eles. É uma pena - eu me levantei - como você não quer conversar, acho que não tenho nada para fazer aqui. Receio que não voltaremos a nos ver. Na verdade, receio que você não voltará a ver ninguém.
Eu estava me virando para ir embora quando ele falou: - espere.
Eu me virei.
- Fale-me sobre a Hegemonia.
- Não vou falar nada, comandante, se você também não vai falar. Não vim aqui para distraí-lo de sua monotonia.
- Vamos fazer o seguinte, garoto: você me fala da Hegemonia, de seu período entre eles, e eu vou lhe contar sobre os Harins. Vou contar coisas que seus chefes estão há trinta anos esperando ouvir.
Eu me sentei novamente, e comecei a lhe contar sobre os Fin.
E assim começou a minha primeira conversa com o lendário comandante Zacheus Allnat Badrick, o traidor da humanidade.
...continua...
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