DEUSES E DEMÔNIOS

PARTE1 - A CIDADE FANTASMA

Acordei em um ambiente escuro. Meu corpo todo dolorido e minha cabeça parecia enorme e não conseguia pensar direito. A pouca luz no local vinha de uma pequena janela ao alto na parede. Estava vestido apenas com um avental que um dia fora branco. Tentava entender onde estava, mas minha mente estava confusa. Havia uma tosca mesinha ao lado da cama, com uma jarra com água e um copo. Tentava levantar-me, mas a dor não deixava que me movesse. Percebi que havia outra cama e que havia alguém sobre ela. Era uma mulher e mal eu conseguia ver sua silhueta. Estava sentada e me observava.

– Como você está? Perguntou. Sua voz feria meus ouvidos como uma distorção sonora.

– Você me conhece? Perguntei. Eu falava com dificuldade como nos pesadelos em que não conseguimos articular direito as palavras.

– Sim! Respondeu ela.

– Você não lembra?

– Não lembro de nada, nem de quem eu sou. Que lugar é esse?

– Cuidado! Fale baixo. Ela aproximou-se e sentou-se com alguma dificuldade a beira da minha cama. Estava com a cabeça enfaixada e obviamente também estava bastante machucada. Estamos numa clínica e somos vigiados. Você é Rodrigo um piloto de Nova Terra e eu sou Maira.

– Devo estar com amnésia, não lembro de nada.

– Não! Você não está com amnésia, apenas drogado.

– Drogado? Mas, por quê?

– É uma longa história, fique calmo. Precisamos encontrar um meio de sairmos daqui. Ele virá daqui a pouco e lhe aplicará uma nova injeção.

– Ele quem?

– O médico respondeu ela. Eles estão mantendo-nos fora do ar por alguma razão, já devíamos estar mortos.

– Mas por quê?

– Nós temos algo que eles querem. Está na nave que usei para fugir.

– Nave? Fugir de quem?

– Calma vamos tentar sair daqui primeiro depois eu conto tudo. Você não lembra de nada?

– Não! Apenas alguns flashes, mas não fazem sentido.

– É o efeito da droga. Em mim não funciona, mas eu finjo e assim evito coisa pior.

– Eles estão vindo! Finja que está dormindo.

O médico entrou no quarto, parecia mais um açougueiro do que um médico. Trazia uma seringa na mão direita e um chumaço de algodão na outra mão. Percebi dois homens ao lado de fora da porta, deveriam ser os seguranças. Ele aproximou-se e levantou um pouco a manga da minha camisa. Neste momento apesar da intensa dor eu agi com a maior rapidez possível. Segurei o pulso dele e desferi um ponta-pé em seu estômago. Ele curvou-se e eu arranquei a seringa de sua mão. Maira então bateu violentamente quebrando o jarro d´agua em sua cabeça. Eu saltei para a porta onde um dos homens entrava e ataquei com um soco em seu estômago. Ele revidou, mas consegui me esquivar e dei-lhe com a mão em riste em seu pescoço. Ele desabou então enfiei a agulha no pescoço e injetei o líquido. Maira estava engalfinhada com o outro, mas agora eu tinha a arma que havia tomado do meu oponente. Ele soltou-a quando viu a arma apontada para sua cabeça. Eu estava com medo de desmaiar tal a dor que ainda sentia. Era como que meus ossos estivessem todos quebrados, mas tínhamos que sair dali a qualquer custo. Maira pegou a arma do outro homem. O médico estava desmaiado e o guarda que havia me atacado estava fora de combate.

– Vamos! Falei ao outro segurança. Você vai nos tirar daqui ou comece a rezar.

– Ok! Não me mate! Venham por aqui. Falou apontando para o corredor. Enquanto isso, Maira pegara nossas roupas em um armário e enrolara com um lençol. O escuro corredor terminava em uma porta pesada que dava para um túnel. O guarda seguia a nossa frente e não se enxergava quase nada apesar de uma pequena lanterna de mão que ele usava para iluminar o caminho. Depois de uma longa caminhada vislumbrava-se uma abertura com uma grade por onde entrava a luz externa.

– A porta é antiga e sinto muito, mas vai dar para um abismo e será complicado sair por lá, mas é o único jeito. Falou o guarda. Daqui a pouco eles saberão o que aconteceu e sairão à procura de vocês. Finalmente chegamos à grade que possuía uma pequena abertura central. A fechadura enferrujada não apresentava dificuldade, pois seria difícil escapar por ali, mas era nosso único caminho. Quebrei a fechadura com a arma e olhando para fora, a impressão que dava era de que não conseguiríamos sair por ali.

– Ok, falei, vamos nos vestir e usar os lençóis e os jalecos como corda. Logo abaixo dava para perceber uma saliência, que serviria como uma plataforma para tentarmos escalar as rochas. Foi complicado trocar de roupa e controlar o guarda ao mesmo tempo, mas ele parecia não se importar muito. Por via das dúvidas eu o amarrei ao canto da grade. Ele apenas me olhava.

– Você tem como entrar em contato com alguém? Perguntei. Tem um comunicador no meu bolso.

– Ok! Você espera até sairmos. Vou deixar aqui no chão. Não terá dificuldade para soltar-se. Não temos nada contra você, apenas queremos ir embora daqui.

– Rodrigo! Falou Maira, nossas roupas são infláveis e isso vai ajudar.

– É verdade, nem havia pensado nisso. Abaixo corria um riacho, mas havia muitas rochas e apesar de as roupas possuírem esse recurso, não adiantaria se nos esborrachássemos nas pedras. Conseguimos uma corda razoável emendando os panos.

– Você vai à frente! Falei pra Maira que já se posicionava para a decida. Vagarosamente eu soltava a corda e ela descia escorando-se pela parede.

– Rodrigo! A plataforma é bem estreita, vou tentar agarrar uma raiz para firmar-me, senão, vais ser complicado.

– Ok! Vá com calma. Ela conseguiu e chegou a minha vez, desci vagarosamente com medo que a improvisada corda arrebentasse. Finalmente, ela estendeu a mão me puxando e conseguimos. Começamos então a escalada em diagonal. No estado em que estávamos cada movimento parecia durar uma eternidade. Felizmente ali, as pedras tinham bastante pontos de apoio e em determinado momento deparamos com uma pequena caverna. Resolvemos parar ali para descansar um pouco. Ajeitamo-nos na pequena e acanhada caverna.

– Vamos esperar anoitecer, assim seremos menos vulneráveis. Argumentei, quando uma nave patrulha passava bem perto.

– Agora me diga como viemos parar aqui. Ela me olhou e seus belos olhos de mel já me pareciam familiar. Era uma mulher muito bonita e embora minha memória ainda estivesse confusa, algo me dizia que já a conhecia mais do que estava pensando.

– Bem! Falou ela, eu estava infiltrada entre garotas seqüestradas em Even 4 e Anul, que eram levadas para uma nave e depois negociadas com mercadores ou antros de prostituição. Eu estava investigando o caso e me deixei levar em uma dessas levas. Costumam reunir uma grande quantidade de meninas para esse fim. Eu queria saber onde faziam a entrega. Mas um dos pilotos encarregado de transportar uma caixa com diamantes, resolveu me guardar para ele e me levou para sua nave. Era uma nave pequena de apoio e eu consegui quando ele se distraiu apanhar sua arma e disparei. Mandei o desgraçado para o inferno. Claro que para isso tratei de seduzi-lo. Ele já havia bebido muito e foi fácil. Então acomodei-me nos controles e parti, meio sem rumo. Era uma nave difícil de manobrar e quase bati neste planeta. Tentando desviar de uma montanha eu bati na sua nave e acabamos dentro de uma cratera. Felizmente saímos com apenas alguns arranhões.

– Sei! Nos flashes de memória que me vem á tona vejo uma nave se aproximando e depois uma explosão. Mas ainda não me disse que planeta é este.

– Agora você vai se arrepiar. Este é um pequeno planeta desabitado, usado apenas como escala para encontros entre mercadores ou parada para descansar. Mas deve ter algumas construções como a clínica onde estávamos.

– Certo e porque estávamos lá?

– Bem! Os diamantes estão na fuselagem da nave que eu usei e claro que eles vieram atrás. Nós levamos horas para sair da cratera e depois começamos a andar até que ficamos em uma grande área aberta, então eles nos encontraram e aí, apanhamos muito, mas não abri o bico. Eles não sabem onde a nave está.

– Certo! Mas, voltarão com recursos para localizá-la então nos matarão.

– Talvez não! Eles já sabem que eu estava investigando e acham que você está junto. Eles não sabem da sua nave.

– É! Faz sentido. Vão querer saber o que sabemos e em que pé está a investigação. Precisamos estar fora daqui quando voltarem. Mas não sei ainda como faremos isso sem uma nave.

– Rodrigo, enquanto falava eu observava, veja, naquela direção. Não parece um conjunto de antenas após aquele morro?

– Sim! Você tem razão, há alguma coisa ali. Espero que consigamos tomar uma nave.

– Cuidado, aqui aparece gente de toda espécie.

– Bem daqui a pouco escurece e então nos movemos. Vamos investigar o que há atrás do morro. Estou com fome!

– Tenho umas pastilhas de proteínas concentradas no cinto, se eles não confiscaram. Ela ajeitou-se para acessar o cinto e seu rosto ficou bastante perto e sua respiração muito junto a minha boca me fazia sentir aquela atração quase irresistível não fosse pela situação em que nos encontrávamos.

– Ainda bem que conseguiu fugir, você seria um sucesso entre as garotas. Você é muito bonita!

– É você está mesmo mal mesmo. Puxa! Nem lembra que já passamos por essas preliminares e fomos bem mais além.

Então eu a beijei e ela correspondia além da expectativa. Mas, tínhamos que nos mover e o romance teria que esperar. Felizmente tínhamos ainda algumas pastilhas, a noite caiu e um luar derramou-se sobre a paisagem facilitando as coisas. Descemos dessa vez com menos dificuldades e iniciamos a jornada em direção ao morro. Teríamos que atravessar o riacho, mas agora era o de menos, nossas roupas infláveis ajudariam. Elas possuíam uma segunda camada que podia ser inflada através de um minúsculo compressor preso ao cinto. Foram responsáveis pela segurança, quando batemos. Elas inflam-se automaticamente evitando danos.

Caminhávamos ainda como se estivéssemos bêbados e nos amparávamos um no outro. Acho que andamos umas 4 h até nos aproximarmos do que deveria ser uma pequena cidade Plantada em uma área aberta. Descemos o morro esgueirando-nos através das árvores e ao nos aproximarmos da cidade, paramos para observar Era um aglomerado de prédios altos e modernos com ruas estreitas e bem construídas. Parecia completamente deserta. E eu achava estranho uma cidade assim, no meio do nada. A menos que fosse servir para algo muito especial. Os prédios eram cinzentos e bastante envidraçados. Esperamos um longo tempo, observando. Não havia luz e nada se movia em suas ruas. Provavelmente estava deserta. A estas alturas o dia já vinha raiando quando finalmente conseguimos entrar no estranho conjunto de construções.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 08/05/2010
Código do texto: T2244789
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