OS DIAMANTES DE ZEUS

CAPÍTULO 1º – A QUEDA

Voávamos já sobre a região de Casanare sobre a Colômbia e o pequeno avião, um pequeno jato executivo, oscilava devido ao forte vento. O semblante preocupado do piloto me indicava que estava preocupado com algo.

– Estamos perdendo combustível. Temo que tenhamos que procurar um lugar para pousar.

– Como assim? Perguntei já preocupado também. Nunca tivera medo de voar e é algo a que já estava bastante acostumado. Mas aquela região não parecia o melhor lugar para pousar. Via pela janela um rio serpenteando entre montanhas de mata densa entremeada de rochas e áreas inóspitas. Neste momento o pequeno avião, sacudia e trepidava muito. Começamos a perder altura e uma queda parecia iminente. Mas de certa forma o piloto ainda o controlava e procurava descer mais para visualizar alguma área que permitisse o pouso. Estávamos entre Gaivotas, uma vila ecológica localizada nas imediações do departamento colombiano de Vichada, Foi fundada em 1971 por Paolo Lugari que montara um grupo de engenheiros e cientistas em uma tentativa de criar um modo sustentável de viver em um dos menos hospitaleiros climas políticos e geográficos da América do Sul, e Santa Rosalia bastante distante dali. Foi muito rápido. Repentinamente começamos a tocar o topo das árvores e um forte estrondo foi a última coisa que ouvi. Quando acordei, a cabeça doía-me terrivelmente e sentia também muita dor no peito e nas pernas, mas estava inteiro. O avião estava destruído totalmente, com pedaços da fuselagem e de asas espalhados por toda parte. Mal podia mover-me e lembrei-me do piloto. Arrastei-me até onde estava e a visão que tive não deixava dúvidas. Estava morto. A cabeça fora literalmente esmagada e havia muito sangue. Fiquei por um tempo recostado a uma árvore analisando a situação. Estava vivo, mas, com sérios problemas. Procurei o celular nos bolsos, mas, não encontrei deveria ter caído. O rádio do avião, simplesmente virara um emaranhado de fios e galhos e parte do sistema elétrico já nem existia. Contato com o mundo exterior seria a partir dali uma tarefa impossível. Mesmo que tentassem localizar o avião por GPS, não haveria como detectar o sinal. Mesmo com dificuldade, procurei localizar minha mala e uma mochila. Havia na mala alguns pacotes que somavam R$ 250.000,00. Iria com certeza precisar de dinheiro. A noite aproximava-se e eu começava a me preocupar seriamente. Encontrara no avião um kit de primeiros socorros que me ajudou com algumas escoriações e num resto da fuselagem alguns pães, embutidos e enlatados e até duas garrafas de vinho tinto ainda inteiras. Sabia que teria de andar, sem saber ainda para onde. Descartei da mochila e da mala, todo o excesso só conservando algumas roupas, o dinheiro e outros objetos pessoais que poderiam ser útil, como minha arma, uma pistola automática de 15 tiros que esperava não precisasse usar. Meu laptop estava quebrado, mas o HD ainda deveria estar inteiro, havia ali 150 GB de dados e minhas rotinas dos programas de controle financeiro e muitos outros. Depois de reorganizar a mochila, descartei a mala e pus o pé na estrada. Estrada? Não. Só mata e pedras enormes. Procurava um lugar alto de onde pudesse visualizar algum povoado ou alguma casa que fosse. Depois de uma boa caminhada morro acima tudo que consegui ver ao chegar ao topo era o rio serpenteando entre as montanhas. Deveria haver por ali, algum sinal de vida como um rancho de pescador ou coisa assim. Comecei então a descer em direção ao rio. Estava ainda longe e teria ainda de andar bastante. Em meio a decida, havia uma rocha imensa que se projetava para o que parecia ser uma clareira. Contornei a imensa pedra e de fato havia uma clareira de onde se via a entrada de uma caverna. Mas o que chamou a atenção foi a figura inconfundível de um rancho de madeira, construído ao abrigo da saliência na rocha. Pelo aspecto a casa deveria estar ali a bastante tempo. Uma curva do rio passava bem próxima, cerca de uns 100 m. Aproximei-me da casa e subi uma escada em direção ao que deveria ser a porta dos fundos. Não estava trancada, apenas uma taramela simples de madeira. Bati por delicadeza, pois não havia sinal de vida e ao abrir a porta a presença de muito pó e teias de aranha demonstravam que a muito tempo não andara ninguém por ali. Nada mal pensei enquanto colocava a mochila sobre a mesa da cozinha. Havia uma geladeira e lâmpadas no teto, então deveria haver um gerador. O fogão era a lenha e uma lareira de pedra no canto direito ainda ostentava restos de cinza e carvão. Havia um quarto com cama de casal, com um guarda roupa grande, mas havia somente roupas masculinas. Uma sala com uma mesa com duas gavetas e duas poltronas de couro. Quem quer que morasse ali, deveria ter saído as pressas e não voltara até então. No fundo do pequeno corredor entre os quartos, havia um alçapão. Levantei a tampa e deparei com uma escada que levava a um compartimento no porão.

CAPÍTULO 2º- SOBREVIVÊNCIA

Logo à entrada em uma prateleira havia uma lanterna de mão que ainda funcionava. Liguei a lanterna para explorar o lugar e, com efeito, havia um gerador e ainda funcionava também. Havia ainda uma lata grande de óleo ainda quase cheia. Perfeito, pensei. A bateria estava descarregada, mas havia uma de reserva ainda com carga suficiente. Troquei a bateria e liguei o motor. Depois que o motor estabilizou após algumas tossidas, subi de volta para preparar algo para comer. A geladeira ainda continha alguns alimentos já estragados e daria algum trabalho para limpar. Mas o armário ainda continha, sal, açúcar, café e alguns enlatados além de uns pães caseiros bolorados. Enfim deu pra misturar um pouco do que trouxera com o que encontra na casa e consegui matar a fome. Depois de limpar e tirar o pó inclusive da cama, arranjei-me como pude e adormeci. No dia seguinte, mais familiarizado com o local, tratei de limpar tudo e torna-lo habitável, não sabia ainda quanto tempo ficaria por ali. Fui até a barranca do rio e havia um pequeno trapiche ao qual estava amarrado um pequeno barco. Tinha os encaixes para um motor, então deveria haver algum por ali. O barco estava cheio dágua, mas parecia ainda em condições. Depois de limpo. Sem os musgos e areia do fundo, mostrava ser um ótimo barco com todas as qualidades exigidas para um bom desempenho. Como não encontrei o motor na casa, resolvi explorar o interior da caverna. A entrada era relativamente estreita, mas o local internamente, era bastante amplo e o teto alto o suficiente para permitir que se andasse com naturalidade. Alguns fios circundavam a parede direita, fazendo supor que havia mais para explorar. Uma curva para a direita levava a uma outra sala ampla onde se viam mesas, armários e ferramentas diversas. Alguns utensílios me chamaram a atenção, pois identificavam com precisão um laboratório de refino de coca. O motor estava sobre um cavalete coberto com plástico preto. Eu precisava ir ao povoado, Gaivotas me parecia ser o mais próximo dali. O rio embora em seu maior percurso fosse bastante caudaloso, naquele local era mais calmo e continuava assim por uma distância razoável. Pouco antes de chegar a Gaivotas, chamou-me a atenção uma pequena vila a margem do rio, possuía apenas algumas casas e uma espécie de empório, um tipo de armazém destes que tem de tudo um pouco. Não desejando chamar muito a atenção, tratei de suprir o barco com mantimentos suficientes para uma temporada indefinida. Embora levasse dólares, surpreendeu-me a fácil aceitação do nosso Real. Um velho, com cara de poucos amigos me atendeu mecanicamente, sem fazer perguntas embora me observasse meio desconfiado. Voltei ao rancho e embora ainda estivesse com muitas dores, principalmente no joelho esquerdo ainda bastante inchado, levei uma eternidade para rebocar os mantimentos subida acima. Finalmente, após conseguir ajeitar tudo, consegui um tempo para descansar. Trouxera alguns jornais e havia em um deles apenas uma nota sobre o desaparecimento do avião, mas, não tinha sido localizado. Sobre mim não havia nada e nem deveria, pois na verdade eu estava fugindo e planejara cuidadosamente a fuga, apenas não contara com o destino forçado. Eu havia sido contratado para criar os softwares de gestão financeira de um grupo de investidores de Brasília. Logo ao tomar conhecimento das planilhas de controle até então utilizadas, percebi que se tratava de um covil de trambiqueiros e contraventores de toda espécie. Havia uma farta distribuição de propinas a servidores públicos e políticos, financiamento ao tráfico e aplicações em empresas fantasmas destinadas a lavagem de dinheiro. Grandes conglomerados internacionais faziam parte do esquema e uma das minhas principais funções era a criação de um software capaz de “legalizar” o caixa 2, sem que o fisco o percebesse. Já estava arrependido de ter aceitado o emprego, mas, o salário era bastante compensador. Algum tempo depois, planejei uma maneira de sair fora. Não estava disposto a ser preso como cúmplice da maior organização criminosa que já vira. Acordei tarde. Dormira como uma pedra e estava já bem melhor. O inchaço do joelho quase desaparecera e não sentia mais as dores no peito. Já se haviam passado 3 dias desde que o avião caíra e nada havia acontecido. Precisava agora rever todo o plano, afinal havia dois milhões de dólares me esperando em uma conta na Suíça. Estava absorto em meus pensamentos, quando ouvi um ruído característico de um avião se aproximando.

CAPITULO 3º – A VISITA INESPERADA

Olhei pela janela ainda com a xícara de café em uma das mãos e dei de cara com um destes aviões de passageiros de porte médio, um jato comercial voando muito baixo, de lado e com uma das turbinas em chamas. Mas que diabo, pensei. O que há por aqui? Logo ouvi o estrondo de uma explosão. Pronto, caiu mais um. Peguei um facão e a arma, e saí correndo na direção da explosão. Logo ao alcançar o topo do morro, um rolo de fumaça negra indicava a direção da queda. Aproximadamente a uns 500 m à esquerda de onde caíra o meu avião. Acelerei o que pude, correndo quando possível ou apenas apertando o passo. A visão não era nada agradável, havia pedaços de corpos e do avião, abrindo uma clareira de uns 300 m de comprimento. A explosão que ouvira era com certeza da turbina que se soltara com a queda e explodira. A aeronave estava partida em vários pedaços espalhados por toda parte, misturadas a corpos retorcidos, malas abertas, rodas e sei mais o que. Acho que está todo mundo morto, duvido que alguém tenha escapado disso aqui. Continuei examinando o local a procura de algum sinal de vida. Nada. Havia um pedaço, do que deveria ser a área das últimas poltronas e ao me aproximar, um lindo par de pernas emergia de uma saia preta que tinha uma parte presa a uma das laterais do banco. Não via o resto do corpo, envolto por algumas moitas. Com o maior cuidado aproximei-me e completou-se a visão de uma mulher jovem, morena, deveria ter no máximo vinte anos e era sem sombra de dúvida a coisa mais linda que já vira. - Não! Pensei.

-Deus! Isso é desperdício, por favor! Ela estava desacordada, mas respirava com alguma dificuldade e além de uma mancha avermelhada na face pouco abaixo do olho esquerdo, não apresentava outros sinais de ferimentos. Um verdadeiro milagre, pensei. Vou tirá-la daqui.

- Não vou esperar porque duvido que chegue algum socorro urgente, pensei enquanto começava a cortar alguns galhos para improvisar uma maca. Havia bastante material para as amarrações e improvisei um trenó para levá-la para casa. Tive medo ao colocá-la na maca, mas não gemia nem dava qualquer sinal de dor. Coloquei-a firmemente presa a maca e iniciei penosamente o caminho de volta. Havia encontrado uma mochila junto a ela e como estava com roupas e objetos femininos, calculei que fossem dela. Mas, se não fosse não faria diferença, pois a dona não sobrevivera. Aliás, a minha inusitada visita era a única sobrevivente. Levei um tempo enorme para colocá-la na cama. Era realmente linda, possuía um corpo escultural, um par de pernas perfeitas uma boca sensual e devia possuir um par de olhos maravilhosos que agora estavam fechados. Cílios generosos e sobrancelhas bem feitas completavam a moldura de uma indescritível beleza. Chamei-a várias, sem obter sucesso, estaria em coma? Não sei. Mediquei-a com o que havia na caixa de pequenos socorros e dei-lhe uma injeção de antibiótico. Os batimentos cardíacos estavam normais e a respiração parecia ir aos poucos melhorando. Conversava com ela enquanto lhe dava com uma colher na boca, porções de uma bebida láctea com polpas de frutas. Depois iria preparar uma canja de galinha ou algo equivalente. Ouvira dizer que uma pessoa em coma ouve e entende tudo então falava palavras de conforto e carinho para mantê-la tranqüila, se bem que não conseguiria mover-se. Ao examinar o conteúdo da mochila, deparei com uma carteira com vários documentos cartões de crédito a uma carteira de identidade. A fotografia embora não lhe fizesse jus a beleza, sem dúvida era dela. Bianca Álvarez Zapata Brasileira, 22 anos, nascida na cidade do Rio de Janeiro etc. Entre outros papeis e objetos, uma ordem de extradição da embaixada brasileira a pedido da justiça mexicana. Pensei no que aquela figura tão meiga e maravilhosa havia se metido. Bem, seja como for estava ali agora e eu a observava enquanto separava algumas roupas e outros badulaques comuns às bolsas femininas. Claro, eu a desejava, não havia como não sentir nada diante de tanta exuberante beleza. Dava vontade de deitar-me ao seu lado e toma-la em meus braços assim mesmo. Mas, não o faria. Algo estava acontecendo comigo. Nunca uma mulher havia me fascinado de tal forma. Eu estava completamente apaixonado, não importa o que pudesse ter feito. Foram mais 2 dias em que eu me revezava em fazer o serviço de casa, cozinhar e medica-la. Na manhã do terceiro dia, levantei-me e depois do banho fui para a cozinha preparar algo para comer. Foi então que ouvi,

- Hei! Você aí! A principio não identifiquei de onde vinha o chamado, mas, corri para a porta do quarto.

CAPÍTULO 4º – O DESAPARECIMENTO DE BIANCA

Ela estava sentada na cama, com maravilhosos olhos verdes quase azuis me fitando.

– Graças a Deus, falou,

- Não é aquele cretino. Onde estou e quem é você?

– Você está em minha casa.

– Morreram muitos? Perguntou ajeitando o lençol que escorregara. - Você foi a única sobrevivente. Respondi.

- Mas agora me diga quem é o cretino a que você se referiu.

– Ah, um idiota, chato.

- Não se preocupe, eu vi o mandado de extradição. O cretino era o policial encarregado de sua guarda, correto? Mas fique fria aqui ninguém vai encontrá-la. Ficou calada por um momento e depois perguntou

– Há quanto tempo estou aqui?

– Três dias, respondi. Você está bem?

– Sim, respondeu

- ainda me doem as costas, um pouco as pernas e me sinto meio zonza.

– Quem é você? Perguntou.

- Meu nome é Alberto Franco. Sou programador. Ajudei-a mover-se até o banheiro e mesmo meio cambaleante pediu

– Me arranja uma toalha?

– Claro respondi, tem certeza que pode fazer isso sozinha?

– Claro, respondeu com um sorriso enigmático.

– Me alcança a mochila também. Depois de um longo banho emergiu do banheiro e empurrando com o pé as roupas sujas e ainda enrolando a toalha nos cabelos, andou em minha direção, mas perdeu o equilíbrio e tive de ampará-la nos braços para evitar que se estatelasse no chão. Assim com sua cintura envolta pelos meus braços, ela olhou-me nos olhos e senti sua mão em meu pescoço. Então me curvei e beijei-a demoradamente e assim ficamos um longo tempo. Depois eu a carreguei até a cama e lentamente comecei a remover a saída de banho notando que não havia nada por baixo. Ela vagarosamente desabotoava minha roupa e sua língua roçava a minha fazendo-me deseja-la loucamente e apesar da dor que com certeza ainda sentia, entregou-se completa e febrilmente entre beijos e carícias, fizemos amor intensamente, saboreando cada momento com avidez. Depois ficamos um bom tempo deitados fumando e trocando carícias. Depois resolvemos discutir de que maneira sairíamos dali.

– Tenho um amigo em Bogotá que tem um helicóptero e ele pode nos tirar daqui.

– Ok, não quer me contar em que se meteu para estar sendo extraditada? Perguntei.

– Roubei um diamante de um árabe e vendi para outro. Acontece que o árabe lesado, é muito importante e aí fui presa no Brasil e extraditada para o México. O resto você sabe, o avião caiu e aqui estamos.

- Certo, como você vai entrar em contato com seu amigo?

- Vamos ver se meu laptop ainda funciona. Está na mochila e o único meio de me comunicar com ele é por e-mail.

– Ok, vamos ver se o meu HD ainda funciona, tenho muitos arquivos importantes ali.

– Certo, falou, mas, você não me disse ainda como veio parar aqui. Contei-lhe então que meu avião caíra quase no mesmo local, sem falar é claro, dos motivos de minha viagem.

– Você tem dinheiro? Perguntou, precisamos pagar o piloto.

– Não se preocupe. Respondi,

- Tenho o bastante ali na minha mala. Para nossa sorte o laptop dela ainda funcionava e o meu HD parecia ainda em bom estado. O resto do dia levamos entre arrumar a bagunça, namorar e eu consegui anexar meu HD ao laptop dela embora tivesse que ficar pelo lado de fora. Ela enviou mensagem ao tal piloto e fomos dormir. Na manhã seguinte, Acordei cedo e percebi que ela não estava na cama. Levantei e fui para a cozinha, não havia ninguém. Chamei por ela e não obtive resposta. Voltei ao quarto e ao examinar minha mochila, só havia R$ 50.000,00, 200 haviam desaparecido. Corri para a margem do rio, mas, o barco ainda estava lá. Voltei e fui inspecionar a caverna. Talvez ela estivesse apenas tentando me pregar uma peça. Mas não a encontrei. Puxa! Que idiota que fui. Ela roubara um diamante e bem poderia ter roubado o dinheiro, mas, como saiu dali sem que eu visse? Estava ainda dando tratos à bola, quando a silhueta de 3 homens à porta da caverna, me deixaram bastante preocupado. Eram policiais, sem dúvida. – O senhor está prezo. Falou o policial do meio que deveria ser o capitão ou algo assim.

– Posso saber por quê? Perguntei.

-Tráfego de drogas e roubo de U$ 2.000.000,00, serve pra você? Tentei argumentar, mas ele não quis saber e mandou me algemar. Fui conduzido a um helicóptero distante uns 200 m dali. Agora eu estava realmente complicado, Bianca sumira com o meu dinheiro e eu estava preso, acusado de roubo e tráfico. Como ele sabia que eu havia roubado o dinheiro? Se ele sabia, algo estava errado. Então o pessoal da empresa. sabia onde eu estava. O Capitão Potreros, como se apresentou, me disse que eu havia sido rastreado por satélite e a ordem de prisão havia sido solicitada pela polícia brasileira.

– Tenho direito a um advogado? Perguntei.

- Você está em território colombiano amigo. Você será extraditado e lá poderá ter seu advogado. A cela era simples, felizmente eu estava só e além de uma cama e uma mesinha, não havia mais nada. Meu dinheiro, o que sobrou fora evidentemente confiscado junto com a minha arma.

CAPÍTULO 5º - A SURPRESA

Na manhã seguinte, o desjejum constituía-se de café, dois pãezinhos de trigo, com manteiga, queijo e mortadela, (detesto mortadela). Ao terminar o lanche, percebi o carcereiro girando a chave da porta.

– Bom dia Sr. Alberto, o senhor tem visita. Um sujeito empertigado e bem vestido, com pinta de advogado, era um advogado.

– Sr. Alberto, sua fiança já foi paga. Peço-lhe que me acompanhe, seus pertences estão comigo inclusive o seu dinheiro. Saímos para o pátio, onde um carro preto aguardava. Além do motorista, um cara enorme parecido com o incrível Hulk, dos quadrinhos, gentilmente abriu a porta traseira. O advogado deu ordem e partimos.

– Para onde estão me levando e quem é você? Perguntei ao advogado.

– Meu patrão quer falar com você e, por favor, não faça mais perguntas. Saímos de Bogotá e viajamos mais de duas horas por estradas vicinais de chão batido até um aeroporto particular encravado em meio a uma fazendola aparentemente de criação de gado. Um jatinho executivo esperava pronto para partir. A estas alturas, nem perguntei para onde íamos. Embarcamos e alçamos vôo. A bordo uma garçonete muito bonita, ofereceu um uísque e fiquei com meus pensamentos enquanto apreciava a paisagem pela pequena janela. Pensava em Bianca e no por que do seu desaparecimento. Como saíra dali e porque levara o meu dinheiro. Parecia tudo muito estranho. Fui preso e solto misteriosamente sob fiança, paga por algum benfeitor do qual nada sabia. Na outra ponta do avião o advogado falava com alguém ao telefone e vez por outra me olhava. Chegando ao Brasil, percebi que estávamos sobrevoando a cidade de São Paulo e em breve pousamos em uma pista secundária de Congonhas onde outro carro preto aguardava. Rumamos novamente para destino ignorado, saindo da cidade, tomamos o rumo de Santos. Em meio ao caminho, desviamos para uma via secundária e foram mais umas duas horas de viagem, sempre por estradas alternativas. Finalmente chegamos à entrada e um sítio e rumamos para um palácio implantado no meio de um campo belíssimo com uma grama bem cuidada. A entrada de um majestoso palacete guardado por seguranças e câmeras de vídeo em quantidade exagerada, fazia supor que quem morava ali, com certeza não era nenhum pobretão. Fomos introduzidos à uma sala ampla, decorada em estilo medieval com poltronas de couro e uma grande escrivania de Mogno. Uma mulher sentada diante da mesa, virou-se lentamente e com um sorriso zombeteiro anunciou.

– Oi querido! Tudo bem? Bianca estava sorridente, como se nada tivesse acontecido. Minha primeira reação foi de saltar sobre ela, mas, me contive.

– Espero que você tenha uma explicação para o fato de ter me abandonado e fugido com meu dinheiro.

– Darei todas as explicações, mas, antes quero apresentar-lhe uma pessoa. Como se estivesse esperando a deixa, ele entrou na sala. Aparentava entre 55 e 60 anos, cabelos já grisalhos, tipicamente um empresário bem sucedido.

- Este é Theodore Álvares Zapata, presidente da THAZ Empreendimentos, meu pai. Falou Bianca, apontando para o velho.

– THAZ? A empresa que eu... Theodore me interrompeu.

– A empresa que você trabalha e da qual, roubou dois milhões de dólares.

– Pega leve pai, lembre-se que é o homem que eu amo. Falou Bianca.

- Sente-se senhor Alberto. Devo informá-lo de que dois milhões, foi uma quantia irrisória. Mas, não se preocupe. Eu preciso de você e Bianca vai lhe passar tudo. Você deve estar cansado.

- Bianca, leve o Alberto à seus aposentos e providencie para que repouse, agora sumam da minha frente pois tenho muito o que fazer. Chegamos ao quarto, uma cama de casal, tudo decorado com luxo e muito bom gosto.

– Desculpe sair daquele jeito. Falou Bianca me beijando,

- Ok, mas me diga como saiu e porque a filha de um mega empresário roubou um diamante.

– Bem. Quando você me disse seu nome, liguei pro meu pai. Antes pus uma pequena dose de sonífero no seu café para que não acordasse logo. Você foi contratado pelo seu conhecimento em programação. Papai precisa de você, porque é o único com qualificação pra fazer o serviço. Quanto ao diamante, eu havia brigado com papai. Não aprovo o que ele faz. Aí ele me cortou os cartões de crédito e me deixou sem grana. O Árabe havia comprado o diamante de meu pai, mas, não pagou a segunda parcela de U$ 15.000.000,00. Numa festa no palácio dele no México, ele se apaixonou e me mostrou a jóia. Dei-lhe um sonífero apanhei o diamante e fugi. O resto você sabe.

– E onde eu entro? Perguntei.

– Bem, meu pai é um homem muito influente na América latina participando inclusive em decisões de governo de diversos paises. Mas, muita coisa ele está fazendo contra a vontade, devido ao rapto de minha madrasta. Ela foi raptada em Zurich, quando fazia o que mais gosta, gastar dinheiro. Um tal Zeus, assumiu o rapto e fez uma série de exigências, obrigando meu pai a fazer coisas que ele não quer. Zeus, parece conhecer todas as organizações de meu pai e como cada uma funciona. Ele está transferindo muito dinheiro das empresas, para laranjas espalhados em todo o mundo. Meu pai acha que este dinheiro, vai financiar guerrilheiros na América e aumentar o poder do tráfico que já não é pequeno. Envolver a polícia seria suicídio. Então, Sua missão será descobrir quem é esse Zeus, onde se esconde e a partir daí, nós temos gente para libertar minha madrasta e então podemos acabar com ele. – Ok, como ele passa as instruções? Perguntei.

CAPITULO 6º – A SENHA

- Por e-mails em diversas contas diferentes de serviços grátis.

- E qual é o plano?

- Bem, queremos além de desmascarar o Zeus, Roubar a grana dos laranjas dele e transferir para os nossos.

– Puxa! E você acha que vai ser fácil?

– Claro que não, mas sei que você será capaz disso.

- Ta! E o que vão fazer com a grana?

– Bem, isso você verá mais tarde, mas, não se preocupe. A sua parte já está garantida.

- Vou precisar de quatro computadores e um servidor de grande capacidade. Precisarei rastrear todos os e-mail e senhas armazenadas nos servidores dos provedores de e-mails de todos esses endereços.

– Ok, os nomes dos laranjas eu tenho. As contas dos meus laranjas eu tenho também. Você terá que rastrear as contas dos laranjas deles.

- Isto não é muito difícil. Argumentei.

- Ok, vá agora descansar que eu vou preparar uma sala pra você com tudo o que pediu.

– Ok, quero também uma cafeteira elétrica, café e açúcar.

– Ok, sorriu ela saindo apressada. Me joguei na cama e fiquei um bom tempo analisando a situação. Rastrear esse cara não ia ser fácil. Ao usar provedores de e-mail diferentes ele simplesmente tornava complicado determinar qual o endereço de seu esconderijo. Mas era possível determinar o DNS de cada um e talvez encontrar uma pista na senha. Acordei com Bianca deitada ao meu lado me acariciando.

– Dormiu bem?

– Claro já estou recuperado e... agarrei-a e arrastei para baixo das cobertas e assim consumimos o resto da noite matando as saudades e recuperando o tempo perdido. Na manhã seguinte, a minha sala, parecia uma extensão do pentágono, com uma infinidade de computadores interligados em rede e conexão via satélite. Foi um trabalho exaustivo e que exigia horas de análises de bilhões de dados. Primeiro isolei todos os emails que estavam assinados pelo nome Zeus. Agora precisava encontrar as senhas. Mais dois dias de trabalho para descobrir que a senha era a mesma em todas as contas, (SUEZ 300959) Bem, Suez era o mesmo que Zeus invertido e o número deveria ser uma data de nascimento. Não sei porque, mas tive uma intuição. Bianca entrou na sala para chamar-me para o almoço e enquanto andávamos, perguntei. – Como se chama sua madrasta?

– Suely Emmanuel Zapata é claro, mas, porque você quer saber? Por nada, apenas curiosidade. Claro que nascia uma suspeita. Depois do almoço, voltei para o trabalho, e agora trabalhava em uma rotina capaz de rastrear o nome da madrasta em toda a rede mundial. Não demorou para descobrir que ela possuía endereços e contas bancárias em vários países europeus. Comparecia a muitas festas em locais caros e badalados e desta forma era um alvo fácil para alguém que a quisesse seqüestrar. Para mim estava ficando claro que Zeus e suez, era a mesma coisa. Obviamente ou Zeus era a própria Suely, ou ela estava sendo manipulada. De qualquer forma, não iria dizer nada a Bianca. Agora os computadores trabalhavam transferindo valores entre contas bancárias e o tamanho do número final me espantava, era muito dinheiro, embora as transferências fossem em pequenos valores para não causar suspeitas. Resolvi então informar os endereços onde supostamente Zeus poderia ser encontrado e deixar que a surpresa acontecesse. Seria complicado para Theodore e Bianca, aceitar que Zeus e Suely fossem a mesma pessoa. Comecei então a trabalhar com essa hipótese, mas as investigações feitas pelo pessoal do Theodore, davam em nada. Passaram-se duas semanas sem que se conseguisse qualquer pista do paradeiro de Zeus. Começava a suspeitar que minha teoria pudesse estar errada. E se outra pessoa a tivesse realmente raptado e estivesse fazendo tudo como se fosse ela? Zeus conhecia bem as empresas e certamente conhecia também a família. Para agir dessa maneira teria que ser alguém próximo, mas quem? Que diabos, eu sou programador e não detetive. Mas confesso que o mistério mexia com minha imaginação e então resolvi investigar um pouco mais, começando pelo próprio palácio da família, afinal eu tinha transito livre. A casa possuía vários escritórios e acomodações para o pessoal do Theodore. Comecei pelos escritórios de pessoas ligadas a ele. Havia escritórios de contabilidade, manutenção e advocacia. Este era o escritório do tal advogado que fora me buscar na Colômbia, Juarez Ferreira. Examinei papeis sobre a mesa, mas eram documentos normais de contratos e litígios legais que Theodoro deveria ter em grande quantidade. Já estava por abandonar o local, quando algo me chamou a atenção. Uma caixinha de fósforos desses de propaganda, de um motel em Zurich. Guardei no bolso e continuei uma inspeção inclusive em um laptop que estava sobre a mesa. Não havia senha e abri normalmente. Uma listagem rápida mostrava que seu dono viajava bastante, principalmente para a Europa. Havia também endereços, e contas bancaria na Europa. Agora a coisa estava ficando complicada. Porque, este cara viajava tanto e quais seriam esses endereços?. Fiz um back-up do hd dele em meu pen-drive. Saí do local e fui para minha sala. Agora eu tinha uma nova linha para investigar. Me parecia estranho que o advogado da família tivesse tantas viagens e tantos contatos na Europa. Precisava encontrar as respostas. O mistério ficava agora maior e iria exigir muita paciência e muitas horas de investigação. Quem era Zeus? Suely? O advogado? O próprio Theodore? Não! Theodore, não fazia sentido. Bianca? Um frio me percorreu a espinha só em pensar que ela pudesse estar envolvida nisso. Mas afinal ela havia roubado um diamante de U$30.000.000,00. Havia me roubado R$200.000,00. Mas eu nem queria acreditar nesta hipótese.

CAPÍTULO – 7º – UM PRATO CHEIO

Claro que eu montei um esquema capaz de invadir e rastrear todos os computadores. É impressionante o que podemos encontrar. Um programa capaz de recuperar arquivos deletados, mostrou que nosso amigo Theodore, comandava uma organização capaz de fazer com que a Máfia não passasse de um colégio de freiras. Um império protegido por uma rede de corrupção que o tornava praticamente inatingível. À medida que conseguia ler os arquivos eu me convencia de que não seria fácil decifrar o mistério que envolvia a identidade de Zeus. Nos últimos dias eu permanecia em contato com Salvador Ribeiro, superintendente da polícia federal, que vinha investigando as organizações de Theodore, sem muito sucesso, pois havia cobertura para praticamente todos os atos ilícitos. Uma rede de empreiteiras garantia uma boa parte do faturamento do grupo, atuando indiscriminadamente em toda a América latina. De repente minhas investigações, apontaram para um fato novo, Juarez o advogado trocava mensagens com Suely, com uma intimidade que não deixava dúvidas. Era óbvio que Suely estava traindo Theodore, com o tal advogado. Isto explicava em parte as viagens constantes. Repentinamente um barulho e gritos no corredor ao lado da minha sala. – Seu estúpido! Você acaba de quebrar um vazo de 20.000 dólares! A voz, não era de alguém conhecido, mas era uma voz feminina agradável apesar de irritada. Cheguei até a porta, mas, a dona da voz já havia sumido e continuava esbravejando em direção a outra peça da casa. Na manhã seguinte à hora do café, fui então apresentado a Sulamita Emmanuel Zapata. – Você não me disse que tinha uma irmã, argumentei saudando Bianca que fazia a apresentação. – Sula é filha de Suely, do primeiro casamento. Falou Bianca. - É verdade que você é um hacker capaz de invadir os computadores do pentágono?

– Perguntou Sulamita, dirigindo-me um olhar doce e inquisidor. Era uma linda mulher, loura, com olhos verdes e um corpo de tirar o fôlego. – Bondade sua, argumentei,

- Sou apenas programador, mas invadir o pentágono seria uma tarefa muito complicada. Rimos e então ela aproximou-se falando.

– Gostaria que você desse uma olhada no meu laptop, não estou conseguindo instalar um programa. Voltei para minha sala e não a vi mais durante o resto do dia. Um comunicado do Salvador Ribeiro, informava que havia sido encontrado um corpo enterrado em uma das propriedades de Theodore na europa. Tanto o seqüestro de Suely, como a existência de Zeus, foram mantidos longe da mídia, era apenas de conhecimento interno do grupo. Salvador suspeitava que o corpo fosse de Suely e prometeu me manter informado. O surgimento de Sulamita, dava uma nova vira-volta no caso, pois o seu nome também poderia compor a senha, SUEZ. Uma testemunha estava sendo interrogada por Salvador e seu depoimento iria mudar o rumo dos acontecimentos. Ao final do dia, recebi seu relatório e o conteúdo me deixou espantado. Fui ver o laptop da Sulamita, que me esperou vestida com um leve vestido de seda que torna seus contornos ainda mais sedutores e dois cálices de champanhe.

– Como você quer instalar um programa pirata no Windows Vista? Perguntei.

– Há! Você vai dar um jeito pra mim não? Dizendo isso, ela estava muito próxima e eu podia sentir sua respiração junto ao meu pescoço. Enfiou a mão por dentro da minha camisa acariciando-me o peito e naturalmente minha resistência desfez-se e eu a beijei.

– Não se preocupe, a Bianca foi a São Paulo com o Theo. Me senti como um canalha, mas, como resistir? Foi sem dúvida uma noite memorável. Na manhã seguinte, solicitei uma reunião com Theodore, pois juntando agora o que eu sabia com as informações do Salvador, eu já tinha uma certeza de como tudo havia acontecido. Analisando as transferências de dinheiro de um grupo de laranjas para outro, descobri que o volume depositado nas contas dos laranjas indicados pela Bianca, estavam sendo depositados em uma única conta em nome de um tal Gerald Stain, grande comerciante de diamantes. Salvador estava também colhendo dados sobre as investigações do vôo no qual Bianca havia sobrevivido. Havia aqui um trama complicada e eu não encontrava uma explicação lógica para o que estava acontecendo. Suely estava morta já há algum tempo e portanto Zeus era outra pessoa. Havia vingança e manipulação dos fatos e me intrigava o destino do dinheiro. De qualquer forma, teria que tomar providências, pois a reunião do dia seguinte poderia encerra o caso ou desencadear uma série de acontecimentos desagradáveis. Na manhã seguinte Theodore me chamou para a reunião. Juntei as anotações que havia feito e me preparei.

– Bom dia, saudou-me.

– Bom dia respondi.

– E então o que nós temos?

- Bem, Talvez não seja o que você espera, mas, - Tudo bem, vamos logo ao assunto. Theodore mostrava certa impaciência, como alguém que já estivesse preparado para ouvir uma história que de certa forma já soubesse o desfecho. Grande manipulador, parecia seguro. Era um homem frio e consciente do que esperava quando me contratou.

CAPÍTULO 8º – UM ADVERSÁRIO DE RESPEITO

Quando me contratou, você queria além é claro das mordidas nas contas dos tais laranjas, que eu desmascarasse Zeus. Na verdade, Zeus matou Suely. Ela já estava morta quando surgiu a versão do seqüestro. Por alguma razão, Zeus manobrou para colocar as suspeitas sobre o advogado. A Interpol localizou a arma do crime junto ao cadáver de Suely e a bala extraída de sua cabeça conferia. A arma estava em nome de Juarez. Zeus esperava que eu chegasse a óbvia conclusão de que o advogado e Zeus, eram a mesma pessoa, mas cometeu um erro, a caixa de fósforos sobre a mesa, continham impressões digitais diferentes e além disso, Juarez não fumava.

-Você sabia que Juarez e Suely, eram amantes?

Ele ficou calado. Apenas me fitava com um olhar distante.

– Claro que sabia! Você matou Suely, quando descobriu que ela o estava traindo. Então você criou a versão do seqüestro. Colocar bastante dinheiro na conta de Juarez fortaleceria as suspeitas, pois precisava ter um motivo forte. Mas você decidiu matar o Juarez antes que ele se desse conta de tanto dinheiro em seu nome. Juarez devia ter tomado o mesmo vôo em que Bianca sofreu o acidente. Mas, você não contava com a mania que ele tem de perder vôos por atraso. Coincidentemente a empresa que fazia a manutenção da cia. aérea, é de sua propriedade e o funcionário encarregado de sabotar o avião, já está preso. Quando Bianca ligou pra você, você nem sabia que ela estava naquele vôo. Na verdade, a extradição de Bianca era só um despiste. O policial que morreu era apenas um capanga seu. Ela deveria ter decido em Bogotá e depois iria ao meu encontro porque você já sabia onde eu estava. O documento de extradição apenas faria com que ela se aproximasse de mim, com um motivo semelhante ao meu. Ela fugindo de uma pretensa extradição e eu também em fuga. O fato dela ter sobrevivido, apenas alterou um pouco a ordem das coisas. Claro que ao escolher o nome Zeus, inicialmente você lançava suspeitas sobre Suely que estava morta. Não lhe interessava que viesse a público a sua morte. Com Juarez morto, e as evidências apontando para ele, você simplesmente estaria livre de suspeitas. Afinal você tem bastante gente para mascarar qualquer situação.

–Você está louco, como vai provar tudo isso? Falou Theodore.

- Simples, você conseguiu montar um império colossal, graças a sua astúcia e competência. Mas você não é um assassino! Você esqueceu de sua própria mania por câmeras de vigilância que existem em todas as suas propriedades em número abundante. Então, essas câmeras mostram que você estava com Suely na noite em que ela morreu. Como a casa era usada também por Juarez em suas viagens e encontros com Suely, você usou a arma dele que ele deixava sempre lá. Além disso, Juarez não estava no local do crime naquela noite. Por último, você cometeu o erro de mandar algum estúpido capanga enterrar o corpo, e o cara enterrou a arma junto.

– O que pretende fazer? Pergunto Theodore. Parecendo conformado. Neste momento a porta abriu-se e Salvador Ribeiro entrou na sala. Traziam uma ordem de prisão contra Theodore e fazia-se acompanhar por um bom número de policiais. Ele não reagiu, apenas fulminou-me com um olhar de causar calafrios.

– Parabéns, você é muito mais competente do que eu havia imaginado, mas, você não perde por esperar. Vindo de Theodore essa ameaça fazia sentido. Claro que seus advogados e mais um maço de dinheiro o poriam em liberdade rapidamente. Saíram todos e eu fiquei sentado onde estava, imaginando como teria de fazer para escapar de uma vingança. Neste momento, Bianca entrou na sala. Chorava muito, pois havia ouvido tudo em seu próprio computador, porque tratei de gravar a conversa espalhando pelos computadores em rede. Inclusive o de Salvador. Depois, mais calma comentei com ela o que havia ocorrido, pois eu não esperava que Theodore fosse o assassino.

– Ok, você foi brilhante, mas, quero saber como o dinheiro dos meus laranjas sumiu quase todo. Ela estava furiosa! – Hei! Eu fiz o que você pediu. Percebi que o dinheiro estava sendo transferido para um tal de Gerald Stein, pensei que você sabia.

– Nada disso meu amor, você é o único que poderia fazer tais transferências. A verdade é que o meu pessoal está chiando e você tem que saber o que aconteceu.

– Olha Bianca, eu não tenho a menor idéia, a única hipótese é de que um outro hacker tenha invadido o sistema e feito as transferências.

– Pois trate de descobrir quem meteu a mão no dinheiro. Alguém fez isso e para mim foi você. Ainda mais que ouvi um boato de que você e a lambisgóia da Sulamita andaram juntos na minha ausência. Se esse dinheiro não aparecer, garanto que mando te matar. Estou até aqui. Deu uma rabanada e saiu porta fora. Não sei porquê, mas eu não senti nada, parece que naquele momento, Bianca era apenas uma estranha, uma aventura que havia acabado. Melhor assim, pensei. Na verdade nos últimos dias Sulamita não me saia da mente. Aquela noite com ela havia sido algo muito forte e eu já nem sabia a quem realmente eu queria. Na manhã seguinte, só, pois Bianca não viera deitar-se e eu nem sabia onde estava.

_ Dona Bianca viajou para a Europa, informou a servente à hora do café.

– Puxa, nem se despediu. Pensei. Voltei para meu computador e por mais que tentasse não encontrava uma pista do sacana que moveu o dinheiro. O cara era muito bom, pois não deixou rastro. Bem. Eu tinha cumprido a missão, ainda tinha os dois milhões na Suíça e precisava dar um jeito na vida. O celular tocou e a voz de Sulamita, soou como um sussurro nos meus ouvidos.

– Oi! Querido, estou nas Ilhas Canárias. Tomei conhecimento dos acontecimentos e parece que há um rebú total. A Interpol está fazendo uma devassa nas contas do grupo e tem muita gente perdendo emprego e indo pra cadeia. Vem pra cá, estou com saudades.

CAPÍTULO 9º – O FINAL

Claro que não esperei um segundo convite. Desmontei o meu sistema todo, afinal não havia mais o que fazer. Arrumei minhas coisas, despedi-me de alguns funcionários e o incrível Hulk, levou-me ao aeroporto. Sulamita estava maravilhosa a minha espera no aeroporto de Madrid. Nos beijamos demoradamente e caminhamos para o carro. Uma Ferrari Testa Rossa vermelha. Um sonho de consumo que eu jamais poderia ter.

– Você está linda, e estou morrendo de saudades.

– Ok, agora, você está livre, eu também e tenho umas surpresinhas para você. Durante o trajeto passamos em revista tudo o que havia acontecido

– Você não me pareceu surpresa com o que aconteceu. Argumentei.

– Olha querido, claro que eu não esperava que o Theo fosse capaz de matar minha mãe. Claro, doeu, mas eu nunca aprovei o casamento dela com ele. Minha mãe era uma mulher muito interesseira e largou meu pai, por causa do dinheiro do Theo. Nós há muito não nos falávamos. Ela só queria saber de festas, gastar dinheiro em viagens e lojas caras. O Theo foi um pai até legal, nunca me negou nada e sempre me tratou bem. Acho que não merecia ser traído desse jeito. Sei que ele nunca foi trigo limpo. Mas, não suportou a traição. Falei de minha preocupação com as ameaças de Theodore, ela riu! – Não se preocupe, ele não fará nada, mesmo porque quando sair estará enfraquecido. O esquema será todo desmontado e a Interpol não brinca em serviço. Basta ver a quantidade de gente que está sendo presa. A esta hora tem até gente de governo sendo detida. Era verdade, no senado já se falava em uma dúzia de CPIS, e isso ia dar pano pra manga.

-Quando falei à ela sobre o dinheiro sumido, desconversou. Tenho algo pra te mostrar mas, primeiro, vamos para casa matar as saudades e deixar esta história para lá. A casa era uma construção moderna e ampla, arejada, bem como eu gosto. Na verdade numa pequena ilha, que acessamos via Ferri boat. Claro que aquela noite foi inesquecível, mas a primeira de uma longa convivência, assim pelo menos eu esperava. No dia seguinte a piscina estava super gostosa e depois de muitas brincadeiras sob e sobre a água, nos jogamos nas confortáveis cadeiras e ficamos namorando um longo tempo. – Querido! Você já viu o saldo da sua conta na Suíça?

– Não! Respondi, nem pensei nisso, porque? Não vá dizer que estamos duros! Ela riu gostosamente e depois me beijou.

-Dê uma olhada depois me fale. Confesso que fiquei bastante curioso, mas, não interromperia o nosso idílio por nenhum dinheiro do mundo. Na manhã seguinte, liguei para o Banco e para minha surpresa havia vinte e dois milhões na minha conta e não os dois que eu depositara. Fui procurar Sulamita, ela estava passeando pelo jardim vestida apenas com uma saída de banho sobre um minúsculo Bikini. .

– Ok, me explica como vinte milhões foram parar na minha conta. – Você mereceu! Mas, nem pense que a Bianca seria capaz disso, muito menos o Theo. Eles iriam apenas perdoar os dois milhões que você roubou.

– Ok, mas, de onde você tirou tanto dinheiro?

– Ora querido, que pergunta indiscreta! Mas, você perguntou ontem sobre o dinheiro lembra?

- Sim, como ia esquecer.

– Pois é, eu também tenho um amigo hacker.

-Caramba! Pensei, que família! Onde afinal eu estava metido?

– Sabe, o dinheiro foi todo transformado em diamantes. Com exceção é claro dos seus vinte milhões. Vendo que eu estava com ar preocupado ela comentou – Não vá dizer que está com ciúmes!

– Ciúmes? De quem?

– Do hacker, mas, não se preocupe, é apenas um grande amigo. Na verdade, descobrimos que a Bianca estava passando o Theo pra trás. Ela trocou a lista dos laranjas sem que o Theo soubesse. Aí eu decidi que era hora de deixar de ser a certinha da família. Transferi tudo pra conta do Gerald, que transformou tudo em diamantes. Trezentos milhões.

– E onde estão os diamantes?

– Venha comigo. Andamos até a piscina e do outro lado havia um pequeno oratório construído de forma artesanal todo incrustado de pedras, com uma estatueta de uma santa. Era quase imperceptível em função de algumas folhagens em volta. Vendo o meu olhar incrédulo, sorriu!

– Ta tudo ali, pra pegar tem que desmontar tudo. Meu Deus, pensei! Essa garota era mais esperta do que eu pensava.

– É isso querido, agora podemos levar a vida que quisermos. Não é legal?

– Claro! Afinal a minha sorte havia mudado radicalmente. Eu tinha agora uma mulher que jamais havia sonhado conhecer, vinte e dois milhões para as despesas básicas e um seguro em diamantes, Os diamantes de Zeus, ou que pelo menos ele pensava que poderiam ser seus. Agora estavam ali, muito bem escondidos. Semanas depois sentei-me a beira da piscina para ler o Jornal e surpreendeu-me uma reportagem. Bianca havia casado com o tal Árabe de quem roubara o diamante.

- E ainda dizia que me amava! Claro que quando viu que seu estratagema para roubar o dinheiro do Theodore havia ido por água abaixo, tratou de proteger-se. Correu direto para o árabe que afinal era gamado por ela. Confesso que senti pena do tal árabe. Pelo menos me livrei de mais uma boa encrenca. Depois de uma olhada pela seção de esportes, uma notícia me deixou preocupado. A manchete dizia.

“ MILIONÁRIO PRESO POR ASSASSINATO, SUBORNO, TRÁFICO DE DRÓGAS E FORMAÇÃO DE QUADRILHA FOGE ESPETACULARMANTE.”

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 25/04/2010
Código do texto: T2217947
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