:::::;;; OS CIENTISTAS TAMBEM AMAM :::::::::OS CIENTISTAS TAMBÉM AMAM

OS CIENTISTAS TAMBÉM AMAM

SMELLO

Os sábios pesquisadores da ciência, viveram durante largos séculos afastados da sociedade. Não havia convivência geral com os que dela participavam, via de regra absorvidos pelos seus trabalhos ou mesmo ocultos para evitar revelações iniciais precipitadas.

Um famoso cientista, pesquisador, que prestava serviços no maior Laboratório do Rio de Janeiro, deparou-se com grave problema no seio da família, sua filha, mais nova, adquiriu uma espécie de meningite, que envolvia o celebro e a medula espinhal. O tratamento que perdurava era o tradicional, sem evolução e incapaz de uma orientação para debelar o mal.

Deslocou-se com toda a família para o município de Teresópolis e ali numa morada rural construiu um aposento em um dos cômodos de dormir, envolvido em uma “bolha” de plástico, com abertura própria para entrada de oxigênio. A debilidade da enferma, em seu sistema imunológico, exigia aquela proteção. Procurou arborizar toda propriedade, com vistas a aumentar a potencialidade oxigênio, melhorando a qualidade atmosférica.

O prédio principal ficava na parte mais alta da serra, em local de difícil acesso, entretanto, com compacta vegetação nativa; algumas das plantas eram cientificamente desconhecidas.

As visitas de botânicos, por isso mesmo, tornavam-se constantes.

O cientista brasileiro, de origem dinamarquesa, atendia por Dr. Hanneman, começou a tratar a filha com certas plantas encontradas nas matas, por ele já conhecidas, especialmente uma chamada “ halvolfia”, utilizado como alucinógeno. A rigidez da nuca começou a ceder, e Hannia já movimentava o pescoço, notando-se a diminuição da inflamação das meninges. Esses fatos começaram a ser divulgados na localidade, a seguir nos grandes jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, por fim na imprensa mundial.

Passado algum tempo, apareceu no local uma senhora humilde empurrando uma espécie de carrinho de criança, adaptado, com um rapaz de 16 anos com idêntico sintoma de Hannia, porém tendo a doença numa fase mais avançada, exteriorizada por cefaléia e consecutivos vômitos, de nome José. Examinado inicialmente pelo Dr. Hanneman, que diagnosticou, não restou outra decisão senão abrigá-lo, primeiro pela dificuldade de lá chegar, depois a descida, tão custosa quanto à subida, em aposento vizinho ao da filha. Mandou imediatamente construir outro abrigo semelhante. Em cada um, antecipando a entrada nas dependências , havia uma cabine esterilizante, que evitava maior contaminação com os doentes.

A afluência de outros médicos começou a aumentar, laboratoristas também vinham e o problema crescia porque o cientista não podia atender a todos, nem hospedá-los. A correspondência aumentava dia-a-dia, principalmente do exterior, acumulando-se sem resposta. Admitiu, inicialmente, um médico laboratorista, uruguaio, Dr.Contreiras, que conhecera no país vizinho, para lhe auxiliar, principalmente na resposta de mais de 100 cartas.

Solicitou a ida ao sítio do gerente de um Banco da cidade e, rapidamente, expôs a situação, precisava construir com urgência dez bangalôs para localizar os visitantes do exterior.

Recebeu do Japão uma carta escrita em inglês, de um casal, ele botânico e sua mulher médica laboratorista, desejosos em vir à Teresópolis tomar conhecimento dos trabalhos desenvolvidos pelo cientista brasileiro. Eram jovens e pediam o acolhimento por 45 dias. Aceleraram o final da construção da primeira casa de madeira e nela ficaram alojados. A maior dificuldade consistia nas refeições. Um serviçal da casa tentou adquirir no centro da cidade, mas não conseguiu. Foi ao Rio de Janeiro e lá fez um estoque para alguns dias.

O botânico, Dr. Fugical tinha um comportamento retraído, passava quase o dia todo nas matas e catalogava todas as plantas para ele desconhecida, recolhendo folhas e frutos encontrados nos respectivos pés. Na oportunidade que surgia comentava com Hanneman a propriedade de cada uma e a possível composição química se desconhecida. Tinha um pequeno laboratório que permitia fazer a análise, muito útil às experiências que pretendia executar, depois de discutir com sua mulher e o cientista brasileiro.

A médica-laboratorista, Miura, muito bonita, traços finos, como se estivesse sido esculpida, permanecia no laboratório portátil que trouxera, pesquisando e analisando as plantas colhida por seu marido ou nos aposentos reservados aos dois enfermos, sempre em companhia do cientista, examinando os efeitos químicos dos medicamentos experimentais.

Para descansar um pouco da concentração rotineira e conhecer pequena área da floresta, se afastava do laboratório juntamente com o Dr. Contreiras, que falava fluentemente inglês, facilitando as observações, em paralelo, ele aprendia algumas palavras em japonês.

Depois da abnegação do exame das plantas florestais, o Dr. Fugical propôs implantar um jardim à frente da propriedade com plantas exóticas encontradas nas matas, desenhando um belo jardim, projetado com as comuns, especialmente hortênsias, nativas na região.

Os passeios raros que a Dra. Miura fazia com o Dr. Contreiras passaram a ser mais constantes, nascendo dali uma maior aproximação entre os dois, disse ele: acordei !

Na verdade o uruguaio reunia um tipo atraente, moreno, cabelos escuros, boa altura, cerca de 1,80 m, falava com facilidade o inglês e castelhano, médico, laboratorista e de futuro brilhante. Vestia-se bem e aparentava certa vaidade.

A dra. Miura, como quase todos oriundos do oriente, tipo “mignon”, com cerca de1,60 de altura, linda, de pele muita fina, oriunda de sistemático trato, medica, bióloga, unia-se ao seu marido em profissão, por ele ser botânico e pesquisador.

Simpática, mantinha os trejeitos de japonesa, sutil e muito observadora, tudo queria estar a par do desenvolvimento que o cientista Hanneman vinha obtendo no tratamento da meningite, doença que vinha assolando o oriente.

A ternura de Miura impressionava o uruguaio, a cortesia aumentava com a beleza da médica, além dos olhos alongados, a cor verde sobressaia.

Oito das unidades foram concluídas para receberem médicos e laboratoristas, com confortos relativos, o que fez aumentar o número de visitantes interessados, mormente estrangeiros. Isso, inegavelmente, tirou um pouco da liberdade do casal oriental.

O primeiro a sentir mais próximo um do outro, como não podia deixar de ser foi o médico uruguaio, ao ajudar Miura subir uma pequena elevação no terreno em que se embrenharam. Delicadamente segurou em sua mão para lhe auxiliar, e sentiu uma sensação estranha, era fina como uma seda, macia e quase transparente, tal a clareza da pele. Ela não reagiu, permaneceu de mãos dadas, como querendo perceber a diferença dos ocidentais.

Carinhosamente ele a abraçou, apertando-a contra seu corpo, aproximou seus lábios carnosos do dela; mesmo demonstrando surpresa, correspondeu, sentiu pela primeira vez nascer forte calor inesperado. Fora um beijo afoito, que cresceu no pensamento.

Nesse interregno Dr. Fugical já estava à procura de sua mulher, que segundo uns hospedes e empregados ela se encontrava em companhia do médico uruguaio na parte mais alta da colina. Não foi lhe procurar, aguardou que ela descesse, analisando a chamada “abobrinha do mato”, conhecida também por ana-pinta ou azougue do Brasil. Colheu algumas espécies e perguntou ao guia, do interior, se o povo a utilizava e para que.

Quando se encontraram, o uruguaio não segurava mais a mão da médica japonesa, e ela sem demonstrar qualquer constrangimento, beijou-lhe as mãos e transmitiu um forte abraço, perguntando em inglês que planta era aquela, ele, calmamente respondeu é ana-pinta, irei dissecá-la e verificar sua composição química.

A imagem de Miura não saia da cabeça do Dr, Contreiras, nitidamente deixava transparecer imensa alegria e transbordante amor. Evitou olha-la, poderia deixar-se trair, seus olhos se perderam nos tentadores olhos verdes de Miura. Todavia, não deixou o ensejo de auto-convidar jantarem juntos, justificando que poderiam trocar informações colhidas na caminhada após o almoço.

Miura se apresentou com trajes diferentes, embora mantivesse estilo japonês, vestia longo, com uma faixa colorida na cintura, acentuando sua forma física e o rosto pintado na cor marfim, faziam com que seus olhos resplandecessem ainda mais . Estava exuberante. As atenções de todos os colegas presentes estavam voltadas para ela.

Todos trocaram idéias, a incerteza se a origem da doença dos dois tinha origem viral ou bacteriana, sob o primeiro aspecto não havia tratamento específico, poderiam ser provocados por agentes químicos ou células tumorais. Os dois cientistas orientais ali estavam exatamente para descobrir meios de cura desses aspectos, qual o agente etimológico.

O Dr. Fugical já se dava por satisfeito com o material obtido, poderia completar os estudos nos laboratórios de sua terra. Falando não em inglês e sim no seu idioma, sugeriu a Miura que partissem dentro de dois dias. Miura rebateu em inglês que preferia permanecer um pouco mais visando sentir o processo de cura de Hannia e José. Gostaria de se aproximar mais do Dr. Hanneman e iria sugerir, como outros cientistas presentes, que fosse aumentada a capacidade respiratória dos enfermos, pelo oxigênio puro do local ou cilindros concentrados.

O Dr. Contreiras se manteve calado, sem nada opinar, disfarçadamente olhou para Miura que externou suave sorriso. Ambos já não se continham em demonstrações de amor, existente em cada um.

Marcaram se encontrar nas acomodações dos enfermos, após o café matinal. E o Dr. Fugical continuaria sua pesquisa na mata, após prepararia a embalagem do material que levaria, notava-se que a médica ficaria.

Foram comedidos na presença dos doentes e do Dr. Hannemam, porem, trocavam excessivas delicadezas, notadas pelo principal médico, que ao se ausentar do recinto solicitou a presença do uruguaio em seu gabinete.

O casal enamorado não se conteve e trocaram rapidamente um beijo, visando sentirem o aroma do ar reflorescente de suas bocas, cheio de ternura. Marcaram encontro à tarde, às 16 horas no lugar de sempre.

O Dr. Contreiras se intranqüilizou, na expectativa de ir falar com Miura, depois o que desejava Dr. Hanneman ? Foi ao seu encontro, logo que se ausentou das dependências dos pacientes. Ele é que iniciou falando, relembrando ao emérito cientista a recomendação geral de aumentar as reservas de oxigênio para os enfermos.

O Dr. Hanneman lhe disse, eu consegui uma secretaria gabaritada, que conheceu e passou a redigir as correspondências de colegas e leigos interessados nos nossos tratamentos, por esta razão prescindo dos seus serviços, franqueio se ausentar querendo ou permanecer aqui como os demais colegas, porém sem exercer a função pela qual lhe convidei e consequentemente sem remuneração e pagando as despesas normais.

Tal comunicação caíra sobre a cabeça do uruguaio como uma verdadeira bomba e, só pensava como continuar o romance com Miura.

Deixar o local e ir para o centro de Teresópolis seria uma medida desastrosa, ficar ali também sem função, nem direito a participar no tratamento dos internos, seria ridículo e vergonhoso. Esperou o encontra às 16 h para trocar idéia com Miura, embora soubesse que ela não se manifestaria. À hora marcada subia Miura à encosta para se avistar como Dr. Contreiras, que já a aguardava. Avistaram uma relva em que poderiam sentar e até deitarem-se. Chegaram ao local.

Ele, já não agüentava aguardar mais aquele ensejo, segurou as mãos da amada, puxou-a e trouxe ao encontro de seu corpo, carinhosamente, afagou seus belos cabelos, aproximou os lábios dos delas e voltou a sentir a leve sucção que tanto apreciara. Ficaram de lábios colados por alguns minutos e só deixou escapar quando as respirações começaram a ofegar. Seus lábios se tornaram frágeis, só em observar os dela, finos, fascinantes, completavam com a meiga pele que tocara de forma tênue, perfumada, primorosa, sem magoá-la.

Ele demonstrou querer outro beijo, mas ela comedida lhe disse: vamos primeiro conversar.

A atitude concludente, fez entender o comportamento da mulher oriental, trataria inicialmente o assunto de maior significação, depois então prosseguiriam nos gestos amorosos.

Miura começou falando, estou a par da sua ausência, devo lhe dizer, desde logo, que sou solteira e não casada com o Dr. Fugical. Assim procedemos para facilitar nossa vinda ao Brasil. Fomos apenas colegas na Universidade, tenho sim um namorado em Osaca, sem compromisso formal.

A declaração fez vibrar o coração de Contreiras, se mostrou perplexo, fazendo-lhe recordar certos episódios.

Disse então a ela, isso facilitará a nossa situação e o encaminhamento de uma solução. Pensei primeiro ficar num hotel no centro de Teresópolis, depois vi da impraticabilidade, não teria contato permanente com você. Depois pensei que dessa forma se tornaria impossível estar aqui acompanhando a assistência aos enfermos. Estou desnorteado, sem saber como resolver.

Miura ouviu, prestou atenção nas palavras do cortejador e proferiu sua decisão:

Com a despedida do Dr. Fugicava o aposento fica apenas ocupado por mim, falaremos ao Dr. Hanneman, sobre nossa aproximação e você poderá ocupar o lugar do botânico que se retira.

Para os costumes dos brasileiros não comportava aquele procedimento, a decisão era esdrúxula, contrariava os habitos nacionais, explicando-lhe ser uma decisão inexeqüível, que o principal cientista não aceitaria. Ela resolveu argumentar, mas serei eu que falarei, inclusive por ter recursos do governo japonês, já pagos até o final do ano. Não é vexatória a minha iniciativa, lá no Japão é comum, todos co-habitantes se respeitam mutuamente.

Na verdejante gramínea, onde se encontravam sentados, deitaram e nela foi possível ensejar mais carinhos e trocas de juras de amor. Tornara-se perfeito o lugar aos dois namorados viverem a primeira aproximação mais sensível aos sentimentos lúbricos. Miura manifestou imensa satisfação, dizendo que nunca estivera tão próxima do prazer da vida, declarando a Contreiras, de forma quase incompreensível, num inglês misturado com japonês e dialetos: “Eu me tornei sua mulher”.

Ele lhe fez ver que nunca esqueceria aquele momento, manteria para sempre na sua mente os encantos que ela proporcionara.

Não foi fácil Dr. Hanneman aquiescer ao pedido de Miura, após muita argumentação, resolveu ceder, sem antes não deixar de tecer sérias recomendações.

Ambos desenvolveram um trabalho admirável, catalogando os efeitos dos medicamentos administrados, suas reações e a evolução da cura da doença. Hannia foi logo a primeira a apresentar sensíveis melhoras, graças as “soluções” feitas pelo botânico japonês, em caráter experimental, com a “ana pinta” ou “abobrinha do mato”, de caráter abortivo, porém com propriedades químicas que combatia um vírus desconhecido.

A planta fez aumentar não só a glicose e a pressão arterial, pela aplicação do “ribonucléico”, ácido que transforma e induz alterações genéticas, sulcado do vegetal pelo Dr. Figicava. O estado do outro doente, José, não apresentava acentuada melhora, entendiam os cientista que decorria do seu estado de desnutrição. O Dr. Hanneman e a médica Miura achavam que Hannia estaria refeita do mal dentro de 60 dias, enquanto José levaria cerca de dois anos, precisava que tivesse o organismo reabilitado, com ingestão de nutrientes, principalmente mel de abelha, que o tornasse mais resistente, cuidando-se, paralelamente, de seu fígado e estomago.

O Dr. Fugical partiu para S. Paulo, a fim de embarcar de volta ao Japão.

Miura aproveitou o sábado e domingo para conhecer o centro de Teresópolis, o “dedo de Deus” e lugares pitorescos, em companhia de Contreiras. Viveram dois dias de ternuras, amores e afetos, como se fosse em verdadeira “lua de mel”. Miura, deu a conhecer ao namorado seu sobrenome Nakachima e Contreiras recompensou-lhe dizendo chamar-se José Contreiras Silvado. Aproveitou a oportunidade para adquirir numa joalheria um atraente brincos de rubi e brilhantes, ainda os anéis de noivado. Ela demonstrou desejo de ir a um templo budista.

Não conseguira, entretanto, fazer uma refeição, por não se adaptar ao tempero dos restaurantes, passou todos os dias a chás e torradas. No trânsito entre pedestre a observação era permanente, até mesmo pela roupa que Miura usava.

Contreiras pensava em lhe levar para conhecer a capital de seu país, desistiu ao imaginar que ela talvez não viesse a gostar, em face do adiantamento de Tóquio e outras cidades japonesas.

Voltaram extenuados ao sítio hospital, cheios, contudo, de amor, que ia aumentando a cada dia.

O romance entre os dois não foi experimental, nasceu da espontaneidade advinda do amor, sentimento que surge no momento certo para unir dois corações.

NOTA: - Trata-se de mera ficção, A terminologia usada não tem fundo científico, nem as citações, de plantas ou medicamentos, são imaginativos, o mesmo ocorre com os personagens, qualquer semelhança é simples casualidade.

smello
Enviado por smello em 02/07/2008
Reeditado em 11/06/2009
Código do texto: T1061024
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