A PAIXÃO, O PECADO E A SAUDADE

E tudo aconteceu num dia do mês de março, do ano de 2005, numa bela manhã de sábado. Precisando comprar dois controles de vídeo game para substituir os controles antigos dos seus filhos menores, André saiu de casa lá pelas 9 horas da manhã. Pegou o 1º coletivo e foi rumo ao centro da cidade de Manaus. Chegando ao centro, começou a andar pelas lojas e pelos camelôs à procura de um preço melhor. O destino já o observava na próxima esquina. Eis que uma jovem fazia divulgação de sua religião naquela esquina. E ao ver passando o transeunte André, tentou pará-lo e tomar sua atenção para difundir religião. André, por ser um homem bem educado e também pelo porte físico da jovem senhora, prontamente parou e, aí que foi perceber o quanto era bonita aquela moça. Paremos um pouco para descrever o histórico de André: 30 anos de idade, 1,80 de altura ,85 quilos de peso, casado, pai de 3 filhos, uma menina e dois meninos. No auge dos seus trinta anos, André era um desportista nato, praticava vários esportes, tinha um belo físico, bem distribuído, corpo atlético. Tudo isso e mais um emprego razoável que lhe permitia estar sempre bem vestido, era sempre paquerado pelo sexo oposto, jovens, jovens senhoras e senhoras de meia idade e de mais idade também. André se dava ao privilégio de aceitar ou não as paqueras dirigidas a ele. Às vezes, mesmo perdidamente apaixonado pela sua esposa, André tinha que se dobrar aos caprichos do seu destino, e o envolvimento com outra pessoa do sexo oposto nem chegava a arranhar o seu casamento. E assim caminhava para frente. Então, voltando ao sábado de março de 2005, André parou para dar atenção ao que aquela jovem tinha para ele. Ela primeiro se apresentou, dizendo que se chamava Marlene, e estava tentando passar para outras pessoas a palavra evangélica tentando também trazer mais pessoas para a sua religião. André, como bom católico, não se deixou levar pelo momento, mas estava impressionado pela beleza daquela mulher. Então resolveu André dar margem ao que a jovem senhora lhe relatava, dando a ela total atenção ao ponto de a conversa sair do caminho da religião para uma conversa quase particular. Marlene também se deixou levar pelo momento e não se importou em esticar a conversa com aquele homem atraente, educado, bem vestido, cheiroso. Tudo isso fez com que Marlene mudasse o rumo da conversa inicial. Conversa vai, conversa vem, estavam em uma lanchonete, tomando um suco com um salgado que André fez questão de convidá-la, o que foi prontamente aceito por ela. A conversa chegou ao ponto de Marlene dizer que era também casada, tinha 2 filhas, uma com 9 anos e a outra com 7 anos, que tinha feito cirurgia e não queria mais ter filhos, as duas lhe eram suficientes, que o marido era católico e não se importava que ela divulgasse sua religião no centro de Manaus. Assim e ali começava uma relação de amizade aberta entre os dois, mas lá, bem no fundo, ambos sabiam que existia algo que só o tempo iria dizer a ambos o que era. André estava encantado com Marlene, disse a ela o que estava realmente fazendo no centro da cidade e perguntou se podiam conversar mais a respeito da religião dela, e talvez quem sabe até pudesse fazer uma visita à igreja que ela freqüentava. Marlene prontamente aceitou a proposta de André e lhe passou um número de telefone, dizendo a ele que quando tivesse interesse de visitar a igreja dela que ligasse sem receio. André registrou no seu celular o número do telefone dela. Despediu-se cordialmente como um cavalheiro, mas por dentro a vontade era de dar um longo beijo na boca daquela mulher que conhecera naquele dia e que mexeu profundamente com ele. Histórico de Marlene: idade, 32 anos, altura 1,70, 62 quilos, esbelta, de cor branca, curso superior em Serviço Social, evangélica, casada desde os 19 anos. Passados exatamente uma semana, André morrendo de vontade de pelo menos ouvir a voz de Marlene, criou coragem e ligou e para sua sorte do outro lado da linha aquela voz macia e carinhosa atendeu, era Marlene. André imediatamente foi dizendo que estava ligando para marcar um local para visitar a igreja dela. Marlene lhe respondeu que estava quase não mais acreditando que ele ligaria, mas se prontificou a aceitar e marcou o local daquele novo encontro. André chegou ao local 30 minutos antes do marcado. Logo chegou Marlene. Foram então conhecer a igreja dela. 30 minutos depois a conversa não era mais sobre religião, era sobre a vida dos dois, e como estavam sozinhos, na secretaria da igreja, pois Marlene era a principal secretária da igreja e ficava também com as chaves além dos pastores responsáveis. André levantou-se em direção a Marlene dizendo que perto dela parecia que a paz redobrava, que ela transmitia alguma coisa que fazia bem a ele, que se sentia muito bem quando estava perto dela. E para sua surpresa, um tanto timidamente Marlene disse a ele a mesma coisa. Ambos ficaram se olhando, calados, e foram se aproximando até um sentir a respiração do outro em seu rosto. Olho no olho, nariz com nariz, boca com boca. Deu-se então o primeiro beijo entre eles, quase roboticamente o beijo, mas o suficiente para mostrar a ambos que dali pra frente muita coisa iria mudar. E mudou. Os beijos se transformaram em carinhos, os carinhos foram ficando mais ousados e a ousadia se transformou em ato de sexo. Uma vez, duas vezes por semana, até cinco vezes por semana, só não aos sábados e domingos. Desenvolveu-se entre eles uma paixão imensa, muito grande. Vária ligações telefônicas por dia de um para o outro para amenizar aquela vontade de ter o outro bem perto. Uma coisa não mudou entre ambos. A sinceridade de falar para o outro o que estavam sentindo no momento. E muitas foram as vezes que eles se falavam da família de ambos, sempre dizendo um ao outro que tudo era maravilhoso entre eles, os momentos, os carinhos, o sexo, mas a família estava acima daquele sentimento de paixão que sentiam um pelo outro. Marlene sempre dizia que cometia aquele pecado levada pelo destino, que tudo aquilo já estava escrito, mas sempre se arrependia quando fazia suas orações a Deus, mas não podia ainda se desfazer de tudo que já tinha acontecido entre eles, que se culpava por ter mais idade que André, que tentou inúmeras vezes acabar de vez com aquele romance proibido, mas a paixão era maior e mais forte e o pecado prevalecia. André por sua formação e por ser mais levado às coisas mundanas da vida também já tinha tentado colocar um ponto final naquele caso apaixonante, para ele era apenas um caso, que no princípio deveria ser passageiro, deveria, mas já estavam caminhando para 3 anos. Então ambos tomaram uma decisão. E só duas pessoas maduras, conscientes tomariam. Não deveriam mais olhar para trás, esquecer tudo o que haviam acontecido de bom entre eles, fazer o possível e o impossível para que tudo continuasse da maneira como eles viviam antes de se conhecerem, já que o relacionamento dos dois nunca chegou ao parceiro conjugal de cada um. Feito o acordo, marcaram o dia para a despedida. E assim aconteceu. No dia marcado para o encontro, André se alinhou da cabeça aos pés, dizendo para si mesmo que o fim de tudo seria no mais alto nível, que Marlene merecia uma despedida de rainha e muito mais. Já Marlene, dentro de sua simplicidade, vestiu um vestido apenas bonito pois sabia que André sempre a elogiava, estivesse ela vestida ou despida. E o encontro daquele dia aconteceu, como sempre, somente os dois sabiam o que faziam às escondidas e faziam da melhor maneira possível. Depois das horas de prazer que ambos se entregaram, estava chegando o momento de dizer adeus, e o adeus deveria ser para sempre, e quem começaria a despedida. André virou para um lado da cama e sentiu uma vontade imensa de chorar, de voltar atrás e desfazer todo aquele acordo que talvez no futuro fosse machucar mais ainda do que estava machucando naquele momento, mas se recompôs, voltou para o lado de Marlene e disse que se tivesse que voltar no tempo, voltaria para viver tudo de nôvo entre ele e ela. Marlene apenas sorriu e disse para André que se pudesse voltar no tempo, apagaria tudo o que houve entre os dois, e continuou dizendo que apesar de tamanha a felicidade que viveu naqueles momentos com ele, também sofreu, pois sabia que um dia toda aquela felicidade roubada de alguém teria que ter um fim, ela apenas continuava por não ter força suficiente para dizer adeus definitivamente, mas aproveitou a primeira oportunidade que ambos se deram ao conversar sobre o possível acordo de colocar um fim em tudo.

- André quis dizer mais alguma coisa, mas não conseguiu, apenas disse que ela estava coberta de razão, que entre eles ela sempre foi a razão e ele a paixão, ele sempre foi a vontade de amar, e ela ousava demais se entregando a um pecado carnal. Depois sem dizer mais nada, começaram a vestir suas roupas roboticamente, para que não houvesse um aumento de dor em cada coração na saída. E assim aconteceu, cada um seguiu o seu caminho, Marlene voltou o seu tempo integral para a sua religião, tentando recuperar ao máximo tudo o que perdeu dentro de sua igreja, mesmo nos momentos em que a saudade vinha fazer-lhe uma visita ela se fazia de forte e assim conseguia passar o tempo. Saudade ela sentia, lembrar ela lembrava, mas o acordo que fizera com André era de não voltar atrás, para não atrapalhar a vida do outro talvez. Já André, voltou a malhar desesperadamente para recuperar a forma física invejável que despertava inúmeros suspiros entre as mulheres, também para diminuir uns quilos acrescidos durante quase 3 anos de intensa paixão, de vontade de pecar, de realizar seus sonhos com uma mulher maravilhosa da alta qualidade de Marlene. André de vez em quando passa pela esquina da rua onde há alguns anos atrás conheceu Marlene, talvez com a certeza de que ela voltará ali para ser reencontrada de novo por ele. Marlene vive a sua vida em família recuperando o tempo em que ela mesma diz ter roubado a felicidade que pertencia a uma outra mulher e não a ela. A nossa vida é mesmo assim, repleta de paixões repentinas, de amores proibidos, de casos passageiros, também é cheia de pecados e de saudades, depois a gente chora ou sorri quando tudo passa.

Manaus, 19 de maio de 2008

Marcos Antonio Costa da Silva