- XI - 

Calmaria

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Capítulo IX: Bruno se junta ao ritual de ‘corpo fechado’.

Capítulo X: Bruno conhece o BunkerLab.

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Estava sentado no banco da praça abraçado com Mônica. Artemísia e Charles conversavam à beira do lago.

 

— Você não acha que eles fazem um belo casal? – Perguntou Mônica.

 

Eu estava distraído: ouvia os pássaros cantarem, as pessoas caminharem, ocupadas em seus afazeres diários, a brisa leve do outono a acariciar a minha face, o abraço de Monica e o seu cheiro maravilhoso. Aquela praça próxima ao BunkerLab, no centro histórico da cidade de Serra dos Cristais, me lembrava muita algumas das belas praças que já tinha passado em BH e em São Paulo. Em nada remetia àquela trama sobrenatural que estava envolvido Era um dos poucos momentos de calmaria. Demorei um pouco para voltar a realidade e prestar atenção ao que Mônica estava falando.

 

— Quem?

 

— Ali, meu amor: Artemísia e Charles. Não formam um belo casal? Pena que ela é super carinhosa e atenciosa com ele e ele é tão frio, calado.

 

— Tem certeza que são um casal?

 

— Certeza, não. Mas se não são estão perdendo tempo! – Riu enquanto me abraçava um pouco mais forte.

 

— Homem geralmente é meio lento para perceber esse tipo de coisa, amor. Pelo pouco que conheço de Charles, ele teve uma infância difícil, as pessoas viviam com medo dele por causa dos seus poderes de telecinese descontrolados.

 

— Verdade. - Ela riu. - Mas você foi bem afoito no nosso primeiro encontro!

 

— Nem me fale! – Ri enquanto coçava a cabeça.

 

— Nossa, estou com uma sede! – Ela falou de supetão.

 

— Pode deixar, minha linda. Vou buscar uma água para a gente. — Levantei e segui procurando uma vendinha ou uma máquina de autoatendimento.

 

Enquanto caminhava, topei com Charles, ruborizado, com um sorriso bobo no rosto e um olhar perdido, quase nos esbarramos.

 

— Tudo bem, cara?

 

— Sim... Bruno. É... Desculpa te perguntar uma coisa assim, do nada. Simplesmente não sei o que fazer nem o que dizer...

 

— Sou todo ouvidos. Se puder ajudar...

 

— Como foi o seu primeiro encontro com Mônica? Como você sabia que Mônica gostava de você?

 

Não pude me conter e gargalhei.

— Desculpa! Rapaz, acho que já contei... não sou exatamente um modelo de comportamento para primeiro encontro. Mas creio que essa pergunta não seja sobre mim. — Olhei-o nos olhos em tom amigável.

 

— Sim, sim... Você sabe... A Artemísia. Eu acho ela fofa, linda, acho que tô a fim dela. Mas não sei se ela só está sendo educada comigo e atenciosa por causa do grupo. Sabe? Ela trabalha em uma floricultura sofisticada, eu ainda estou no início da faculdade, vivendo de bolsa de estudos. Ela é um pouco mais velha, vai que ela me ache um meninão. Não sei... Tenho medo de ela só estar sendo legal comigo, eu dar um passo à frente e estragar a nossa amizade, me entende?

 

— Entendo. Melhor, imagino como seja. — Afinal, me lembrei de como Artemísia foi educada e atenciosa comigo quando fui comprar flores para Mônica, mas achei melhor não comentar nada para não aumentar a insegurança do rapaz.

 

Paramos em frente a um quiosque e compramos água.

 

Eu estava com pena de Charles. Seu olhar me transmitia uma angústia tão grande, uma desolação, uma aflição tão intensa por algo tão simples.

 

Ele estava estático, olhando para Artemísia, que agora estava conversando descontraidamente com Mônica na beira do lago. Ambas estavam sentadas, com vestidos leves de verão. A diferença era que Mônica estava com um casaco e botas de couro, com um vestido floral em tons de vinho, além de ser mais bonita. Artemísia estava com uma boina rosa e uma grande bolsa de crochê, também em tom rosáceo, usava uma sapatilha amarela, que estava ao seu lado, combinando com a estampa floral da sua roupa.

 

Para ele, era uma questão de vida ou morte. Tinha chegado à cidade de Serra dos Cristais a pouco tempo. Nosso pequeno grupo era praticamente uma família para ele. Ele mal tinha contato com a sua família biológica. Temia como se fosse por sua própria vida fazer algo que pusesse em risco aquela amizade.

 

Ali próximo de onde estávamos, havia um gramado com vária pequenas flores rupestres coloridas: amarelas, roxas e brancas predominavam.

 

Entreguei uma garrafa de água para Charles e falei:

 

— Pegue a flor mais bonita desse jardim e dê para ela. Dê essa garrafa d’água também. Só isso.

 

— Mas e se...

 

— Vai por mim, só faz. Vá e vença!

 

Suas pernas tremiam enquanto ia em direção às duas. Chamei Mônica discretamente para deixar os dois a sós.

 

Fingimos que iríamos dar um passeio, mas apenas nos afastamos o suficiente para sairmos do alcance de visão deles.

 

Ao longe, bisbilhotamos o desfecho da história.

 

Charles entregou a flor e a água para Artemísia. Um sorriso brotou nela de orelha a orelha. Seus olhos faiscavam. Ela simplesmente deu um pulinho e roubou um beijo de Charles, que estava imóvel e pálido feito uma estátua.

 

Fiquei feliz. Afinal, ali morria um amor platônico.

 

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Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 03/04/2024
Reeditado em 03/04/2024
Código do texto: T8033857
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