Torre de Intrígas - Capitulo III: Tudo Pela Paz

Stephen acordava tarde como de costume. Ele abriu a pesada cortina, inundando seu quarto escuro com luz. O ambiente estava meticulosamente organizado, com piso de mármore vermelho e paredes pintadas em tons de branco-acinzentado. Quadros e fotos decoravam as paredes, lembrando sua antiga casa. Uma poltrona desgastada repousava em um canto, estantes repletas de livros estranhos, e uma mesa central abrigava mapas e estratégias para a dominação, onde ele e seu grupo costumavam se reunir.

Após lavar o rosto com água fria, Stephen dirigiu-se ao banheiro e examinou-se no espelho. Seis anos após sua chegada ao castelo, sua expressão estava ainda mais séria, os cabelos louros albinos haviam crescido até o pescoço e seu rosto exibia profundas olheiras, como se tivesse passado por muitas provações. Posteriormente, trocou de roupa, optando por uma jaqueta de couro elegante, calças jeans escuras e sapatos relativamente novos e limpos. Em seguida, dirigiu-se ao quarto de sua irmã, Lility, onde a encontrou ainda dormindo.

Diferentemente do luxo das refeições de café da manhã do outro lado do castelo, Stephen contentou-se com um pedaço de pão velho para começar o dia, coisa que ainda sim, era um luxo raro no esconderijo. Ao sair do quarto, deparou-se com um ambiente totalmente diferente e precário. O chão úmido carecia de piso ou carpete velho, as paredes estavam cobertas de teias de aranha e desprovidas de pintura, e a falta de janelas tornava o lugar escuro e sombrio.

O esconderijo dos intrusos também exalava um odor desagradável, uma mistura de esgoto, sujeira e urina. Seus habitantes ainda vestiam trapos velhos e muitos sequer tomavam café da manhã, contrastando com a elegância de Stephen e Lility.

Stephen navegou pelo esconderijo até ser interrompido pelo mesmo homem de cabelos longos e enrolados que havia aberto a porta para Alex e Brayan.

- Bom dia, senhor - cumprimentou o homem com respeito - Alex e Brayan estão aqui, querem falar com você, senhor.

- Agora não, Bob. - Respondeu Stephen ainda sonolento - Acabei de levantar, me dê um tempo.

- Mas... é uma carta... Uma carta de Marley. Eles disseram que é de extrema importância - insistiu Bob.

Stephen parou por um minuto, pensativo.

- Uma carta de Marley? - Murmurou Stephen consigo mesmo.

- Isso é o que eles disseram - explicou Bob - Eles estão te esperando na entrada do quarto.

- Está bem, vamos ver o que Marley tem a me dizer agora - concordou Stephen, demonstrando interesse na carta.

- Ah, senhor... Também tenho notícias sobre o que estávamos planejando. Hoje nós temos... - Bob tentou passar mais informações, mas Stephen o interrompeu.

- Está bem, Bob, depois discutimos isso. - Stephen estava ansioso para ler a carta e não queria mais demoras.

Stephen navegou pelo esconderijo até ser interrompido pelo mesmo homem de cabelos longos e enrolados que havia aberto a porta para Alex e Brayan.

- Bom dia, senhor - cumprimentou o homem com respeito - Alex e Brayan estão aqui, querem falar com você, senhor.

- Agora não, Bob. - Respondeu Stephen ainda sonolento - Acabei de levantar, me dê um tempo.

- Mas... é uma carta... Uma carta de Marley. Eles disseram que é de extrema importância - insistiu Bob.

Stephen parou por um minuto, pensativo.

- Uma carta de Marley? - Murmurou Stephen consigo mesmo.

- Isso é o que eles disseram - explicou Bob - Eles estão te esperando na entrada do quarto.

- Está bem, vamos ver o que Marley tem a me dizer agora - concordou Stephen, demonstrando interesse na carta.

- Ah, senhor... Também tenho notícias sobre o que estávamos planejando. Hoje nós temos... - Bob tentou passar mais informações, mas Stephen o interrompeu.

- Está bem, Bob, depois discutimos isso. - Stephen estava ansioso para ler a carta e não queria mais demoras.

Stephen se dirigiu à entrada do quarto, onde encontrou Alex e Brayan sentados em cadeiras velhas de madeira, sobre o chão sujo do esconderijo.

- Depois de um mês sem dar notícias, achei que já haviam morrido. - Disse Stephen em tom sério, olhando para os dois.

- Até já havia me esquecido de como era ruim o cheiro aqui dentro. Parece que piorou ainda mais. - Comentou Alex.

- Logo sairemos daqui, fique calmo. - Disse Stephen em um tom calmo, mas seu olhar revelava tensão.

Todos ficaram em silêncio por um momento até Stephen quebrar o gelo.

- Como estão se saindo lá fora, intrusos? - perguntou Stephen, sua voz carregada de preocupação.

- Mais ou menos. - respondeu Brayan. - As pessoas do castelo são realmente estranhas como você disse, muitas vezes nos olham como se estivessem nos julgando, como se soubessem o que somos.

- Eu sei. Principalmente depois do que aconteceu com o Jack. Não sei mais o que aconteceu com ele. - disse Stephen, com uma expressão pensativa. - Não acho que esteja morto, deve estar preso em algum lugar. Eles não servem nem para matar alguém, Marley não iria deixar, mas Maurice...

- Pegaram o Jack? - exclamou Alex, surpreso. - Como?

- Após alguns dias que vocês saíram, decidi colocar Jack para fora para termos mais alguém lá. - continuou Stephen. - Mas como meu guarda sempre foi temperamental e impulsivo, não demorou muito para perceberem que ele era um de nós.

Os dois intrusos ficaram tensos ao perceberem que também poderiam ser pegos andando pelo castelo.

- Por isso, devem tomar muito cuidado. - alertou Stephen. - Jack também estava com a minha faca. Se conseguirem recuperá-la quando voltarem, ficaria agradecido.

- Pegaram sua faca? Aquela de prata com detalhes dourados? - perguntou Brayan.

- Exatamente essa. - confirmou Stephen.

- Engraçado, vimos Maurice usando sua faca no último treinamento. - disse Brayan.

Alex concordou, e Stephen abriu uma expressão de ódio e indignação.

- Além de tentar matar e pegar meus homens, destruindo minha vida, agora ele quer usar a minha faca? - Stephen disse com indignação. Em seguida, focou na informação sobre o treinamento deles. - Brayan, você disse treinamento?

- Sim, Marley nos viu treinando uma vez e nos achou ótimos guerreiros, então falou com Maurice e conseguimos uma vaga para a guarda real do castelo. - explicou Alex com entusiasmo.

Stephen abriu um sorriso malicioso e ficou pensativo.

- Guarda real? Isso é incrível. - disse Stephen com seu sorriso malicioso no rosto aumentando cada vez mais - Agora, temos infiltrados na medíocre guarda real deles, se precisarmos... Vocês serão bastante úteis.

Alex e Brayan olharam um para o outro, claramente desconfortáveis com a ideia.

- Na verdade, não acho que seja bem assim... Senhor. - Disse Alex - Não somos infiltrados, estamos ali para ajudar, não vamos... Traí-los.

Stephen fez um breve olhar de desagrado para os dois, e voltou a falar.

- Estão brincando? Vocês são meus homens, se eu ordenar qualquer coisa a vocês têm que aceitar, não importa o que seja. - Sua voz estava carregada de autoridade.

- Sim, somos seus homens. Mas não achamos isso necessário, Marley...

- Fiquem calados! Agora eu falo. - Disse Stephen, elevando o tom de voz e perdendo a paciência - Por acaso, se esqueceram do que fizeram conosco todos esses anos? Nos deixando trancados e abarrotados nesse quarto apertado e que fede a urina, enquanto eles têm o castelo inteiro para si!

Enquanto Stephen gritava com Alex e Brayan, Lility finalmente acordou e observou toda a briga da entrada do quarto.

- Não foi bem assim. Me lembro de eles terem nos acolhido e nos dado abrigo, até que você e sua irmã nos deram a ordem de atacá-los para tomar o castelo para si. - Disse Brayan calmamente, tentando apaziguar a situação.

Stephen deu uma risada irônica e interrompeu Brayan.

- Agora pronto. Foram passar um mês vivendo bem na maravilha do resto do castelo, e já viraram um deles? - Disse Stephen, seus olhos lacrimejando de raiva - Vocês não têm ideia do que passamos neste último mês aqui enquanto vocês estavam vivendo suas vidas confortáveis do lado de fora do castelo, fingindo serem um deles!

- Você sempre tomado pela ambição, não é Stephen? - Continuou Brayan - Desde quando você praticamente destruiu o castelo em que morávamos simplesmente por...

- Já chega! - Gritou Lility enquanto se aproximava da discussão - Vocês três parecem crianças!

Lility colocou a mão no peito de Stephen afastando-o de Alex e Brayan, que ainda estavam sentados nas cadeiras, tentando acalmar o ambiente.

Stephen estava praticamente vermelho de raiva, encarando Alex e Brayan profundamente, com os punhos cerrados, lutando para não agredi-los.

- Meu irmão, Bob me contou que tinham uma carta para você, você por acaso leu a carta de Marley para ver o que ela dizia? - Perguntou Lility com uma voz tranquila, tentando trazer racionalidade à situação.

Stephen ficou pensativo por um momento, e finalmente lembrou-se da carta de Marley. Ainda com raiva, ele se aproximou de Alex e tomou a carta brutalmente de sua mão, rasgando o envelope e jogando-o no chão sujo do esconderijo, antes de começar a ler.

Prezado Stephen,

Espero que esta carta os encontre com saúde e em boas condições. Como alguns de vocês já sabem, tenho trabalhado incansavelmente nos últimos meses para trazer um novo amanhecer ao nosso amado castelo. É com grande alegria e esperança que compartilho com vocês esta notícia importante.

Em comemoração ao aniversário de 82 anos da nossa querida rainha, decidi organizar um jantar especial, não apenas para celebrar mais um ano de sua vida, mas também para trazer uma nova era de paz e harmonia ao castelo. Este é um convite aberto a todos os habitantes do castelo, independentemente de sua origem ou afiliação.

O jantar acontecerá no grande salão do castelo, um lugar que simboliza a unidade de nosso lar. Nossa rainha Darci estará presente, assim como outras figuras importantes do castelo. Este é um momento de reconciliação, onde podemos deixar para trás os desentendimentos do passado e olhar para um futuro mais promissor.

Peço-lhes que venham com corações abertos, dispostos a deixar as diferenças de lado em prol da paz. Este é um gesto simbólico, um primeiro passo em direção a uma nova era em nosso castelo. Juntos, podemos construir um lugar onde todos possam viver em harmonia, independentemente de seu passado.

O jantar será realizado na próxima sexta-feira, às 20h, no salão principal. Espero ver todos vocês lá, prontos para escrevermos um novo capítulo em nossa história. Por favor, confirme sua presença o mais rápido possível para que possamos fazer os preparativos necessários.

Com esperança e determinação,

Marley.

Depois de terminar de ler a carta, Stephen ficou parado com ela na mão, pensativo, por alguns instantes. Seu rosto mostrava um misto de emoções, e o clima no esconderijo estava carregado de tensão. Alex e Brayan permaneciam sentados nas cadeiras, aguardando a decisão de Stephen, com expectativas e ansiedades crescentes.

A pausa no ambiente permitiu que todos refletissem sobre as possíveis consequências dessa carta e a escolha que estava prestes a ser feita. Finalmente, ele olhou para Alex e Brayan com uma expressão pensativa.

- Parece que Marley finalmente está disposto a discutir a paz. - Stephen falou lentamente, quase como se estivesse ponderando cada palavra.

Alex e Brayan trocaram olhares surpresos. Parecia que o líder deles estava considerando seriamente a proposta de Marley, algo que não esperavam.

- O que já tentamos diversas vezes, mas, é claro, foi rejeitada. - Continuou Stephen, fazendo uma micro expressão de raiva - O que vocês acham disso?

Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, até que Brayan foi o primeiro a responder. - Acho que é uma oportunidade que não podemos deixar passar, senhor. Se conseguirmos a paz, podemos garantir um futuro melhor para todos aqui, e finalmente sairíamos deste... Lugar.

Stephen continuou pensativo por mais um momento, até que Lility decidiu falar.

- Não podemos ignorar a possibilidade de que isso seja uma armadilha para neutralizar a ameaça que representamos neste castelo, meu irmão. - Afirmou Lility, sua confiança transparecendo em suas palavras. - Somos astutos e temos planos, mas não podemos subestimar a inteligência deles.

- Não é uma armadilha. - Alex defendeu Marley com convicção. - Você conhece Marley, Stephen. Sabe que ele não faria parte disso. Talvez Kiara, a Rainha Darci ou Fred pudessem, mas Marley... Eu acredito que ele não se envolveria nisso.

- Confie em nós, Stephen. - Brayan se pronunciou. - Marley nos apoiou lá fora e nos deu tudo o que precisávamos. Se isso fosse uma armadilha, ele nunca teria confiado em intrusos da forma como fez. Eu sei que, no fundo, você também deseja a paz para o castelo.

- Como posso confiar em vocês, os novos soldados da Guarda Real do castelo? - Stephen questionou com seriedade e nervosismo evidentes. - Vocês nem mesmo obedeceram às ordens do seu próprio líder...

A resposta de Alex e Brayan desapareceu em um silêncio tenso, deixando a sala abafada e escura ainda mais carregada de dúvidas. Os quatro presentes se encararam, todos eles carregando um peso diferente em seus corações, sem saber qual caminho seguir em meio à confusão que os envolvia.

- Lility tem razão, há uma grande chance de isso ser uma armadilha. - Stephen concordou e então se dirigiu a Alex e Brayan. - Venham aqui.

Ele caminhou até a porta de metal do esconderijo, desbloqueando todas as fechaduras e permitindo que a porta se abrisse. Alex e Brayan se aproximaram da porta, ansiosos pelo que viria a seguir.

- Quando é o próximo treinamento de vocês na guarda real? - Stephen perguntou com um tom misterioso e sério.

- Hoje à tarde. - Os dois responderam em uníssono.

- Façam algo por mim, se quiserem recuperar minha confiança. Eu preciso de vocês. - Stephen declarou. - Por enquanto, vocês não são mais soldados da guarda real, são apenas infiltrados. Observem tudo, descubram se há planos ocultos, o que fazem, o que Maurice faz, e, se for necessário, estejam prontos para se juntar a nós.

O clima no esconderijo ficou ainda mais tenso quando Alex e Brayan ouviram a proposta de Stephen. Eles trocaram olhares, e um silêncio desconfortável pairou no ar, e Stephen percebeu a insatisfação nos rostos dos dois.

Após alguns segundos de silêncio, Alex finalmente falou, sua voz carregada de descontentamento: - Stephen, nós nos oferecemos para a guarda real por uma razão. Queríamos proteger este castelo e suas pessoas de verdade, não ficar espiando nossos companheiros de armas. Isso não era o que... Esperávamos.

Brayan assentiu em acordo com Alex, seu rosto sério e desapontado. - Stephen, você pode confiar em nós. Nós estamos comprometidos com a causa, e ser espiões não era o nosso plano. Queremos ser parte da guarda real de verdade.

Stephen não demonstrou compreender a frustração deles, mas sua determinação em seguir com seu plano permaneceu firme. Ele suspirou profundamente e, por fim, disse: - É crucial que nos certifiquemos de que não estamos entrando em uma armadilha. Por favor, façam isso por mim e por todos nós aqui.

Muito relutantes, Alex e Brayan não sabiam o que dizer. Estavam saindo sem proferir uma única palavra, deixando Stephen confuso quanto à disposição deles em cumprir a tarefa. Eles se foram apenas com um aceno, deixando um clima pesado de incerteza no ar.

- Vão em paz. - Disse Stephen, com voz firme e curta.

Quando Stephen estava prestes a fechar a porta de metal do esconderijo, Alex interrompeu.

- Espere. - Alex pegou e jogou uma bolsa ao chão; era a bolsa de comida que Marley havia separado para eles. - Marley deixou uma bolsa de comida para nós. Considere compartilhá-la com os habitantes que precisam. É uma refeição digna que eles não têm há muito tempo.

Stephen ficou parado e quieto, observando a bolsa de comida que Marley havia deixado, até que Alex continuou:

- Stephen, isso não é uma armadilha, confie em nós, sabemos o que estamos fazendo. Nosso povo pode ter isso e muito mais caso tudo ocorra bem hoje a noite.

Os três ficaram se encarando por alguns instantes, até que Stephen fechou a porta, deixando-os partir sem proferir mais palavras.

Quando a porta se fechou completamente, Bob, que estava escondido atrás de Stephen, não pôde evitar expressar seu descontentamento.

- Um mês sem vir para cá, e já estão indo embora, sem nem mesmo cumprimentar o povo que ficou trancado com eles por seis anos. - Reclamou Bob.

- Não consigo confiar mais neles. - Respondeu Stephen com determinação.

Stephen demorou mais alguns instantes pensativo até se afastar da porta de metal que havia acabado de fechar. Virou-se para Lility e disse:

- Irmã, prepare os habitantes deste maldito esconderijo e os deixe prontos para lutar. Organize também uma reunião de planejamento antes de anoitecer com todos daqui. - Um sorriso malicioso começou a crescer nos lábios de Stephen. - Hoje, teremos uma janta que não desfrutamos há muito tempo.

Leo Esposito
Enviado por Leo Esposito em 03/02/2024
Código do texto: T7991437
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