TEBAS
 
Nada!… não daria para dizer a data com exatidão. Algo em torno de séc. XIV, séc. XV. O último cruzado se fora havia tempo; Lavoisier ainda estaria distante.
Ao pé de uma pequena colina, de aspecto quase piramidal, uns quinze quilômetros a sudeste de Tebas, Grécia, elevação essa onde se viam inúmeros ciprestes, oliveiras e arbustos da vegetação mediterrânea, mas não a encobrir o pedregal, Leônidas, o pastor, recontava a Pétros, o jovem filho de seu senhorio e meeiro, como encontrara o local da entrada da caverna.
–  “É difícil chegar ali, por causa das escarpas. Só fui, mesmo, pelo cabrito que se desgarrara. Mas por alguma outra razão, as pessoas não vão ali – o chão, ainda que pedregoso, parece pouco pisado.”
Pétros captava pontas do pavor que Leônidas sentira ante a curiosidade de entrar ali – o velho pavor ante o desconhecido.
– “Por isso então é que nós vamos!”, dito com rompante desafio juvenil.
A entrada da gruta dava logo para um declive, permitindo fácil passagem, como se houvesse pressa em chegar ao fundo. Curiosamente, fazia-se apenas penumbra. Menos que cem metros adiante, o túnel se alargava em uma câmara, havendo nova porta no oposto; porém, guarnecendo a entrada desta, pousava uma estátua de Palas Atena, em convidativo gesto de “Entre!”; em seu ombro direito, empoleirava-se um corvo inquieto, com grasnares em grego. Ninguém sabia, mas os antigos já diziam que esse corvo era antigo, que sabia de tudo a acontecer, uma forma simples, todavia eficaz, de oráculo. Quem caminha guiado pela intuição tem em mente o passo seguinte.
– “Podemos entrar?”
– “Vocês já estão dentro; sigam o seu destino e deixem as preocupações para a volta.”.
– “Como assim?”.
– “Se houver uma volta, claro.”.
– “Há tanto risco assim? Poderemos perder-nos e não voltar?”.
– “O passado pode menos que o futuro.”, isso dito entre enigmático e professoral.
A etapa seguinte do túnel era iluminada por um amarelo intenso, sem que se soubesse qual a sua fonte. Não muito longa – quinhentos metros adiante –, ela dava acesso a um grande pavilhão, também iluminado em amarelo. Ao centro, havia um sólio, singelo, mas não menos impotente. Dominando-o, estava a “entidade”.
Tal não era, definitivamente, humana; mas também não era ET. O que lhe parecia menos, ou mais, era ser etérea. A feição e a função eram qual uma potestade, pelo garbo de que se cingia.
Ladeando o trono, havia duas colunas encimadas por respectivas esferas malhadas – pareciam globos terrestres. Entre estas, fluía o indizível, uma quase substância diáfana, uma corrente em tudo semelhante ao ar quente que sobe da areia do deserto, como se água, miragem de um oásis. Aos extremos, dois imensos archotes, ejetando labaredas, agora nas cores magenta e ciano, que produziam exótica maquiagem no rosto da entidade. De um deles emanava o todavia; do outro, o talvez.
(…)
– “Meu nome é Tempo – sou anterior a qualquer coisa; aliás, garanto qualquer anterioridade, mesmo aos deuses.”.
(…)
– “Entre essas esferas, flui o tempo e eu o comando. Da esfera da esquerda, emerge o futuro, que flui e mergulha na outra esfera, como passado.”.
– “Um sentido inverso, então?”.
– “Não, não. Isso não é o correto – é mera ilusão. O futuro alimenta o passado e não vice-versa.”.
(…)
– “Podemos visitar os túneis?”,
– “Por suposto. O processo de vocês teve início na entrada à caverna. Agora é apenas escolher qual dos túneis – entendam, é uma escolha sua! Lembrem-se da advertência no átrio: o passado pode menos que o futuro. A sua única chance é acertar; nunca, reverter. Saibam que, pelos túneis, vocês não viajam na vastidão da Geografia, senão na lonjura da História. Tendo esse domínio temporal, é bem assim: se subirem, vocês se dirigirão ao futuro; se descerem, retrocederão ao passado – poderá haver escolhas a fazer, na jornada.”. Mas, acima de tudo e a cada instante, comecem por exercitar o seu senso crítico, para melhor discernirem entre as essências do passado e do futuro e para que não sejam mais um eco no meio dos ecos de milhões de cabeças, repetindo-se o tempo todo, ou, por outro lado, que não sejam a presa dos mais canhestros cometimentos, inesperados. Achando algo significativo, não se deixem fascinar pelo ‘por quê?’, mas se entreguem de alma aberta e reflexiva ao ‘para quê?’.”.
Os túneis eram três saídas – e apenas saídas – do pavilhão, todas ornadas de um pórtico, com a inscrição do respectivo destino. No da esquerda, estava escrito: “Suméria, zigurates”. No do fundo, escrito: “Tebas, pirâmides”. No da direita, “América, pirâmides inca (Pirâmide da Cidade Sagrada de Caral – Peru) e asteca (”Pirâmide do Sol – México).
Pétros, sempre liderando, deixou-se emocionar e motivar pelo nome Tebas, talvez supondo algum retorno mais fácil. Eles enveredaram por esse túnel do meio, sempre luz amarela, e constataram que a distância não era de tantos quilômetros – após breve caminhada descendente, avistaram a entrada/saída do túnel (ou o que tal lhes pareceu). Esperaram cessar a ofuscação da novamente luz solar e foram visualizando um extenso vale, região plana, muito distinto de sua Tebas. De tanto em tanto, ruínas não familiares a entremear magníficas pirâmides de base quadrangular e feitas de imensos blocos de pedras. Uma gigantesca esfinge contemplava, impávida.
 
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2. Pirâmide do Sol – Teotihuacán – México Com 71 metros de altura e 223 metros de cada lado, é uma das pirâmides mais altas do mundo todo. Foi construída entre os anos 1 e 150 d.C. por uma civilização que deixou poucos vestígios além das grandes construções. É o maior monumento de Teotihuacán, que foi uma das maiores cidades pré-hispânicas mesoamericanas. O nome “Teotihuacán” é de origem asteca e significa “cidade dos deuses”. Astecas encontraram a cidade já em ruínas e fizeram dela cenário de alguns de seus mitos fundamentais – o local já era destino turístico e místico antes da chegada dos espanhóis ao continente (Eljaivan/Wikimedia Commons)
 
12. Pirâmides da Cidade Sagrada de Caral - Peru A cidade mais antiga de todo continente americano fica a 200km a norte de Lima, no Peru. Foi habitada de 5.000 a.C. a 1.800 a.C.! No final dessa época, se estima que a cidade tenha sofrido com secas, fome e doenças que forçaram seus habitantes a procurar outro local para viver. A descoberta do sítio arqueológico em 1905 muda teorias sobre o aparecimento das antigas civilizações do Peru (que se acreditava  tivessem começado por volta de 1.500 a.C.). As construções monumentais que mais se destacam são 5 das 32 pirâmides do local, o Templo do Anfiteatro e O Templo do Altar Circular – elas datam de 3.000 a.C., a mesma época que as pirâmides começaram a ser construídas no Egito. A maior das pirâmides de Caral tem 28m de altura e arqueólogos continuam trabalhando no local para desvendar seus mistérios. (Xauxa/Wikimedia Commons)