ASSOCIAÇÕES ( EREBOS 2 )

Gritos !!

Sou despertado por gritos assustadores, minha cabeça doe, quando tento virar para olhar ao meu redor. Estamos sendo assaltados por coisas que se movem e atacam a caravana, destruindo as celas de alguma forma e retirando as pessoas. Eva, minha acompanhante de cela coloca o dedo entre os lábios pedindo silêncio. Encosta sua boca em meu ouvido e fala:

- Já vai acabar, procure não se mexer para não ser confundido.

Em poucos minutos o silêncio toma conta do ambiente e aos poucos consigo ver os atacantes saindo de dentro da bruma. Um deles inspeciona as carroças de prisioneiros quando chega na minha ele olha Eva diretamente nos olhos e fala:

- Como conseguiu escapar da prisão Cha El ¿ Não, não quero saber! Guarde para o general.

- Chool, vejo uma oportunidade aqui, você poderia me libertar e fingir que eu não estava aqui.

- Você acha que nos importamos com você Cha el ¿

O tal de Chool ao dizer isso quebra o cadeado deixando a cela aberta.

- Vá embora! Eu não direi nada a ele se me prometer sumir dessas bandas. Assim ficamos quites, e leve esse aí com você também ou ele será torturado.

Eu já estava abrindo minha boca quando Eva ou Cha el sei lá o que; Fez o mesmo gesto de antes, tinha uma certa urgência e pavor em seu movimento dessa vez, decidi obedecer em silêncio.

- Obrigado Chool você não vai se arrepender.

Dizendo isso Eva me pegou pelo braço me forçando a correr e saímos tropeçando pelos pedaços de madeira deixados pelos atacantes. Chool nos observava até uma certa distância. Corremos durante muito tempo na bruma, cegos. Ela Já estava ficando cansada, puxou o meu braço e parou.

- Preciso parar para recuperar o folego.

- Nem sei por que estamos correndo.

Respondi sem interesse.

- Você é algum tipo de idiota ou o que¿ Você não sabe onde está não é¿

- Minhas lembranças foram apagadas com tudo que eu sabia, tenho alguns vislumbres.

- Como se lembrar de um portal.

- Sim, isso também.

- Vou tentar resumir pra você. Estamos no mundo astral, como caminhantes, ou seja, lá como você chama os projetores. Nossos corpos estão deitados em nossas camas enquanto estamos aqui e você de alguma forma fez merda nesse lugar pra ser jogado em Erebos, assim como eu.

A informação de alguma forma não era novidade para mim, não causou o espanto que Eva esperava.

- Você ouviu o que eu falei, ou não sabe o que é¿

- Registrei a informação e de alguma forma não é novidade para mim.

- É claro que não, você estava preso em um lugar onde os piores lixos são deixados para serem expurgados de sua consciência e retornarem, quem sabe, melhor.

Voltamos a correr como se nossas vidas dependessem dessa corrida. Eu conseguia sentir o medo como se pudesse tocar, e após alguns passos minha cabeça explodiu em dores.

- Você se lembra de algo Lança, antes de entrar em Erebos, qualquer coisa que possa fazer você não morrer ou voltar¿

Vasculhei minha mente enquanto corríamos. Nada, absolutamente vazia. Conseguia correr com certa facilidade, acredito que poderia até mesmo ir mais rápido, forcei um pouco e estava arrastando Eva que parou e ficou me olhando.

- Temos que nos separar, estou com medo! Pois me lembro do por que fui enviada a Erebos.

Paramos próximo a uma árvore.

- Eu servia a um mestre, sou devota de um lugar e fui punida como ninguém deveria ser, eu deveria ter esquecido tudo que aconteceu, mas em uma certa noite roubei um certo feitiço de proteção e por roubar de minha casa fui açoitada, humilhada e escravizada por muitos dias até que me julgaram e enviaram para lá.

- Pelo visto, você não esqueceu por ter usado o feitiço que roubou¿

- Pelo visto, você sabe mais do que fala não é¿ Você já começou a se lembrar¿ As suas lembranças retornarão aos poucos, caso queira saber.

- Por que estamos correndo se o seu amigo disse que não dirá nada¿

- Ele mentiu. Nesse momento está organizando uma caçada e avisando a todos que eu escapei.

Acho que minha cara de surpresa deve ter ficado evidente.

- Temos pouco tempo e não posso me esconder com você. Vou deixar você em um lugar e você se vira daí. Ok¿

- Não tenho escolha, então ok!

Continuamos correndo até a paisagem mudar, as brumas ficaram mais claras como se estivesse amanhecendo. Decidimos acampar nesse local para descanso. Deitamos cada um de lado procurando uma pedra pra escorar a cabeça. Sabíamos da necessidade do descanso, então sem delongas apagamos. Pelo menos acreditei que ela tinha dormido, acordei com um som terrível e um cutucão nas costelas.

- Acorda escravo!

Era o Chool e outros cavaleiros mal-encarados, levei umas boas pancadas antes deles me levantarem, pois minha cabeça estava doendo mais do que as pancadas.

- Onde aquela vadia está¿ Para que lado ela foi, se não está com você.

Um dos homens que acompanhava o senhor sorriu chegando próximo e dizendo bem alto para que os outros ouvissem:

- Responda apenas o que for perguntado escravo e quem sabe você viverá.

Por que esse verme estava falando tão alto¿

- Não sei onde ela está. Não sei para que lado ela foi. Estava dormindo.

Os homens começaram a rir e se cutucar

- Que espécie de homem dorme como se fosse um bebê quando está sendo perseguido¿

- O mesmo homem que não se importa.

Levei uns bons socos, deveria doer, mas não sinto nada. Os homens que estavam montados portavam uma chibata por baixo da sela. Recebi algumas chibatadas. Enquanto estava apanhando uma figura com uma capa passou pelo meu campo de visão, as chibatadas pararam.

- O que está acontecendo por aqui lacaios¿

O novo visitante tinha uma voz sussurrada, que ao ouvir uma sensação de pavor se apossou de todos. O senhor se adiantou

- Estamos açoitando esse infeliz para retirar informações, pois eles fugiram juntos.

O visitante levantou uma mão e todos se ajoelharam. Ele se dirigiu próximo de onde eu estava com um caminhar sutil, roupas em tom cinza com uma capa de mesmo tom, bonito até. Olhou dentro dos meus olhos como se procurasse algo, parece ter encontrado, pois se afastou.

- Preciso continuar te açoitando, irmão¿

Não sei se poderia fingir ou se conseguiria enganar ele.

- Quero informações sobre Cha el. Você tem consciência de mais para um simples escravo, porém não estou atrás de você, sei que está fingindo dor. Não tenho tempo para jogos.

- Ela me abandonou enquanto dormia senhor, me disse que iria procurar um senhor, não me disse o nome e nem quem era.

- Só isso escravo¿

- Que me lembre sim, senhor.

- E quanto ao senhor Chool que soltou vocês dois¿ por que não me disse nada sobre ele¿

Os olhos do pobre Chool lacrimejaram sem controle, poderia jurar até que ele sujou as calças.

- Fui orientado a falar apenas o que me perguntarem ou iriam me matar senhor, gosto de minha vida. Chool nos soltou para nos caçar, assim disse a tal de Cha el.

O visitante gargalhou e pediu que me desamarrasse.

- Você vem comigo escravo, a partir de agora será meu escravo até que eu encontre a Cha el. Quanto a vocês desapareçam, antes que eu mate a todos.

Não consegui ver para onde eles foram de tão rápido que a ordem foi obedecida. Como se eles tivessem virado a própria bruma. O visitante desceu do cavalo apontando em minha direção.

- Monte no meu cavalo você não parece estar bem. Entendeu¿

Fiz que sim com a cabeça. Montei no cavalo me segurei o melhor que pude, pois o visitante estava correndo ao lado do cavalo em uma velocidade tão alta que não dava pra discernir a paisagem a nossa volta. Apaguei. Quando voltei os sentidos estava sendo observado de perto pelo visitante.

- Meu nome é Rubio, sou um caminhante, membro da ordem dos cavaleiros do astral, a mesma ordem que Cha el era antes de ser enviada ao mundo do esquecimento como retribuição e bondade.

Minha cabeça estava doendo, mas eu me sentia melhor.

- Não entendo como fazer as pessoas esquecer algo seja um ato de bondade.

- Somos como folhas, de vez em quando, nosso criador erra e precisa apagar certos deslizes para que continuemos exercendo nosso papel sem ser assombrado pelos nossos erros. Você se encontrou com Cha el depois que ela saiu de Erebos¿

- Um interrogatório Rubio, mais sutil e engenhoso que chibatadas devo admitir. Pergunte logo o que quer saber, pois não tenho nada com ela e só quero sair daqui.

- Para ir para onde¿

Foi uma verdade nua e crua, pois até esse momento não tinha pensado nem de onde tinha vindo quanto mais ir a algum lugar. Minha cara deve ter sido horrível após a pergunta, pois o tal de Rubio gargalhou mais uma vez.

- Ainda não sei escravo como consegue ficar consciente sem divagar, talvez Cha el tenha lhe ensinado algum truque que não devia. Você fica comigo enquanto decido para onde ir.

- Como um homem livre¿

- Por acaso está amarrado aí¿

- Então por favor senhor, me chame de Lança.

- Esse é o seu nome¿

- É o que eu lembro.

Rubio parou me encarando por um período maior do que eu gostaria.

- Então você estava em Erebos junto com Cha el e ela te tirou de lá! Garota forte.

- Você que disse!

De alguma maneira Rubio empurrava minhas emoções e retirava as verdades como se me lesse, era melhor falar para ele antes que ele me fizesse falar e eu não ganhasse nada com isso.

- Você irá ajuda-la quando a encontrar¿

- Depende Lança, se ela me devolver o que roubou.

Ele estava sutilmente me fazendo falar de novo, que astuto. Não vou cair de novo. Sorri pra ele e ele retribuiu. O silêncio me assustou.

Minha cabeça doeu tanto que me fez ajoelhar e perdi os sentidos mais uma vez. Acordei com um leve toque no ombro. Olhei em volta esperando a vista se adaptar e vi Rubio em posição de combate, completamente imóvel.

- Você acordou¿ Já era hora. Tem alguma coisa nos seguindo, escondendo seus rastros, se ocultando, mas deixando que eu perceba. Você faz parte de alguma ordem oculta que eu deva saber irmão¿ Acho melhor você se abrir comigo.

Me levantei para responder e meu corpo não me obedeceu como esperava. Gritei e desmaiei mais uma vez.

kronos
Enviado por kronos em 18/07/2019
Código do texto: T6698982
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