A BAILARINA

Elizia era uma jovem alegre e tímida. Era a quarta de cinco filhos. Sempre fora menosprezada pelos irmãos por a considerarem desajeitada, sem graça, não muito inteligente. Era dispersa, sempre a última a chegar aos acontecimentos. Seu sonho era ser bailarina, mas ninguém dava importância e caçoavam dela quando, timidamente, ensaiava alguns passos no fundo do quintal da casa com seu radinho de pilhas na Rádio Universal, onde tocavam músicas clássicas.

Dormia com a irmã mais velha no quarto e quando essa pegava no sono, abria seus livros em que tinham histórias de bailarinas e ficava a imaginar ser uma delas.

Seus pais muito ocupados com seus afazeres, nem percebiam o dom de Elizia.

O tempo foi passando a vida de Elizia tomou outros rumos.

Aos 18 anos mudou de cidade e começou a trabalhar numa loja de tecidos. No seu caminho passava pela Academia de Ballet e parava para olhar as alunas a dançar. Seus olhos brilhavam e sempre uma lágrima caia ao pensar que não tinha realizado seu sonho.

Certo dia uma das alunas que já a havia observado na calçada, veio conversar com ela e queria saber o motivo dela sempre estar ali. Elizia contou seu desejo de criança, embora nunca tivesse tido uma aula sequer. A moça a convidou para entrar e a levou à professora que gostou da sua história e mandou que ela demonstrasse o que sabia. Arranjaram-lhe uma sapatilha e aquela criança do quintal retornou ao seu gesticular. Encantados com seus modos suaves e certeiros, a professora a inseriu na turma e todas cotizaram para pagar a mensalidade da nova aluna.

Revezando entre o trabalho e o ballet, Elizia foi crescendo no seu aprendizado. Saia correndo do trabalho ia para a dança e a noite no seu quartinho alugado ficava treinando até altas horas da madrugada.

Sua primeira apresentação foi no Teatro Colizier, o mais famoso do Estado, e sua família, orgulhosa, estava presente na platéia. Todos vieram se desculpar com Elízia por não terem compreendido o seu dom.

Embalada pelas sinfonias de Chopin, Bethooven, Mozart, Elizia calçou para sempre suas sapatilhas, que em homenagem à melhor aluna da Academia, foram dependuradas na galeria do Teatro.

Ana Amelia Guimarães
Enviado por Ana Amelia Guimarães em 23/08/2018
Reeditado em 23/08/2018
Código do texto: T6427662
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.