RETORNO DO ESPIRITO 19

Boa noite a todos, pois será sempre noite em Kadath.

A projeção é algo difícil de explicar para as pessoas que não possuem um mínimo de conhecimento ou até mesmo alguma crença espiritual. Todas as religiões, eu disse todas tem, ou teve algum contato com essa realidade paralela, podemos assim chamar. Neste conto vou relatar o dia que tive que retornar para o castelo de Clingsor como Lorde Kronos, porém neste ambiente demoníaco muitas vezes as ideias precisam ser imposta pela força, coisa que agora me falta, devido a acontecimentos recentes. Como então manter minha patente perante o exercito? Simples, desde que não precise, basta falar...

- Boa noite senhor!

Sou saudado na entrada, respondo apenas com um aceno de cabeça. Prossigo meu caminho em direção a um lugar onde sei que não encontrarei ninguém. Bom, pelo menos achei que assim seria.

- Boa noite meu senhor.

Era uma das pessoas sonambulas que perambulam fazendo os afazeres comuns de uma cidade da era medieval.

- Boa noite. O que faz aqui? Saia!

Sou atendido prontamente. Adoro essa parte onde eu mando e eles obedecem. Não estou me sentindo bem para me portar como um cavalheiro. Sem energia etérea nem pra manter um dialogo civilizado. Preciso ir embora e encontrar um lugar para me esconder até que o hábito volte ao monge. Na última visita eu lutei, contrariei os mestres e feri alguns outros. Passado é passado. Agora estou aqui unido por forças antigas que me obrigam a retornar e retornar como um ciclo maldito e interminável. Cansaço e tédio são os companheiros da vasta escuridão das ruelas, como se todos dormissem eternamente. Alguém caminha ao meu lado, silencioso, sem intenção de atacar ou me prejudicar, parece apenas estar curioso.

- Apareça!

Nos mundos infernos ou comandamos ou somos comandados. Uma entidade de uma força gigantesca aparece do meu lado fazendo com que o ar em volta mude. Ficou denso com cheiro e cor diferente.

- Boa noite Kadatiano, Sou emissário do conselho e sugiro que você me acompanhe para algumas orientações.

A criatura disse isso e já se virou. Como uma leve brisa passou pela minha cabeça me virar e ir embora na outra direção. O pensamento não tomou forma e a criatura já estava a dez centímetros de distancia do meu rosto. Em um movimento tão rápido que meus olhos não conseguiram acompanhar.

- Você não tem energia para me enfrentar.

Ele tem razão sobre diversos aspectos. Um emissário é uma entidade que possui diversos dons sobrenaturais, pois cuida da escolta de alguns membros quando solicitado pelo conselho de anciões, os caras mais assustadores que já vi. É claro que não quero problemas com eles e nem com o conselho.

- Não vou enfrentar ninguém criatura. Apenas achei que poderíamos adiar.

- Não. Não podemos e não vamos.

Entramos em uma espécie de carruagem confortável, mas de aspecto fúnebre sem abertura para enxergar a parte de fora. Andamos por muito tempo e paramos em algum lugar desse grande mundo espiritual negro. Não conversamos não nos olhamos e mantive meus pensamentos silenciosos. A carruagem deu um tranco e parou bruscamente.

- Desça! Chegamos a Erebos. Peço que se mantenha próximo a minha sombra para que você não se perca e mantenha o silêncio é importante. Olhe para baixo e só fale quando te pedirem.

Fui conduzido por um corredor com uma iluminação fraca, gelado e as paredes pareciam grudentas com aspecto de parede de fosso. O corredor parecia não ter fim e uma sensação de desespero começou a tomar conta do meu corpo, comecei a ouvir vozes, no inicio baixinhas depois foram intensificando. Eram pedidos de socorro que vinham de dentro das paredes. A criatura rapidamente interviu:

- Não escute as vozes dos condenados, você pode enlouquecer. Preste atenção aos seus passos e guarde seus pensamentos, já estamos quase lá.

Um salão imenso se abriu aos meus olhos e a energia mudou como acontece quando a trindade demoníaca de Kadath está junta.

- Que bom que sabe quem somos, renegado.

Tentei falar, mas por algum motivo nada, nem pensamento saíram de mim. Comecei a me desesperar.

- Quando eu permitir você fala. Por enquanto preciso que nos escute e grave cada detalhe do que vou lhe passar.

Vivemos em um mundo de guerra e como você deve saber somos entidades que servem ao equilíbrio, além do mais você é um dos nossos soldados e o treinamos com técnicas de guerrilhas magicas, as mais diversas. Ensinamos magia e defesa psíquica, ou seja, te damos aquilo que você achava necessário para “andar” por aí. Agora como uma troca, iremos pedir alguns favores que como você sabe não poderá recusar. Tatuamos em seu corpo as insígnias, plasmamos as armas. Você voltará a treinar, mas agora com a elite da estratégia de guerra. Precisamos que você treine seu corpo físico para que ele aguente e se adeque as duras missões que você irá realizar.

Fui liberado com um aceno de mão e a criatura se colocou na minha frente, sem conseguir nem falar mal daqueles vermes astrais, saí. Mesmo corredor, mesmo fedor, mesma carruagem. Mantive-me em silêncio, sem vontade de falar. Uma historia surgiu em meus pensamentos, a de um garoto que fez escolhas erradas e que quando cresceu se deparou com as consequências dessas escolhas.

Fui conduzido de volta ao castelo de Clingsor ou Kadath. Entrei em silêncio, meu coração apertado de saudades que não conseguia explicar. Espero suavemente o encontro dos meus corpos e retorno a minha cama, retendo em minhas lembranças o máximo da experiência que consigo. Olho o relógio na cabeceira marcando três horas da manhã.

kronos
Enviado por kronos em 28/05/2018
Reeditado em 28/05/2018
Código do texto: T6348986
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