Confissão de um Pároco

Naquela época eu era moço e nem pensava em celibato, não passava pela minha cabeça a palavra celibatário; menos ainda, na existência de um Deus onipresente e misericordioso. Para mim, Deus era mitológico. Aqui para nós: permaneço com essa dúvida martelando minha consciência nesse dia de lua cheia.

Mas o que tenho para contar é que tudo aconteceu, depois de umas cervejas e o pandu cheio de porções de calabresa acebolada com torradas, minhas mãos suaves bulinaram as pernas calejadas dela. Maciez e rugosidade se alternavam. Melosamente, minhas subiam de desciam, devaneavam naquelas pernas hirsutas. Quando, inescrupulosamente, suas mãos encaminharam as minhas, mais acima. Para um lugar sereno, porém duvidoso. E elas passearam por uma floresta felpuda, que aparentava ser nativa. Intocada. Firme. Dura. Verdejante. Parecia, uma APP (Área de Proteção Permanente) claro; afinal, porque eu seria ingênuo em acreditar nisso, se naquela época já havia tanta destruição ambiental! Ateavam fogo sem dó... matando cobras, aranhas, lagartas, lagartos, camundongos. Velas acesas, eram velas apagadas; ou o contrário? Não me lembro.

Seguindo: tive medo. Um medo medonho. De repente, retrai-me e tirei as mãos de lá rapidinho. Algo havia me mordido. Sei lá o quê! Mas a pergunta foi: "que fonte será aquela, que de seus olhos minam água? Será que faz sentido na vida o devaneio de buscar água na cacimba do vizinho"?

Estou contando esse pecado para o Recantista, porque não tenho coragem de confessar para outro irmão de crença; de minha crença, óbvio. Hoje celebro a salvação, celebro a renovação espiritual, para redimir do erro, do qual não deveria ter saído. Para ser moderno, é melhor pactuar com o diabo, do que com Deus.

Deus não permite a mentira, a fornicação, a desonestidade, a corrupção, o injusto, o ganancioso. Em se tratando de ingenuidade, Deus é pior do que eu. Honestamente, quem é Deus...? Pois, sempre ouço no meu confessionário, que a culpa é do outro. Lá, frente à frente comigo, ninguém assume nada. E a minha santa culpa? Tanto a minha como eu, somos um santo padre do pau oco.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 23/06/2017
Reeditado em 24/06/2017
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