Na casa de Pan
Ela que não fumava, havia fumado mais uma vez o último cigarro.
Depois de um dia repetitivo, quando todos estavam, enfim, dormindo, ela se deu ao luxo de ter alguns minutos pra si em baixo da água quente e reconfortante do chuveiro.
Fechou os olhos e esqueceu do mundo lá fora.
O vapor do banheiro parecia mesmo uma bruma envolvente e seus pensamentos a levaram para onde gostaria de estar.
Haviam folhas no chão e árvores a sua volta.
Sentia uma leveza e já não estava totalmente nua, um tecido transparente e suave esvoaçava sobre sua pele e seus pés descalços, tocavam o chão quase levitando.
As brumas se espalhavam pela floresta e fazia tudo parecer doce com os tons do Outono.
Sentiu-se abraçada por um animal com trejeitos humanos e não se assustou.
Tudo era familiar, como estar em casa.
Ela podia ver os cascos e os pelos, mas ele não era rude, era terno e sedutor.
Era bom estar ali, o prazer fazia uma luz linda vibrar por todo o seu corpo. Ele a coroou com uma guirlanda de flores.
Se permitir era a passagem, pois só quem era livre podia entrar.
A sua volta surgiram todos os outros "livres"
Eles usavam roupas como a sua e flores nos cabelos.
Eram jovens, riam, dançavam, beijavam-se, brincavam como crianças rodando e comendo maçãs.
Ela era um deles. Corriam livres e escondiam-se por entre as árvores.
Levantaram-na no ar.
Quando seus pés tocaram o chão, ela abriu os olhos e desligou a água sorrindo.
Um dia ela iria voltar.